Seguidores

domingo, 18 de fevereiro de 2024

A RELIGIÃO DE UGARIT

 


A religião ugarítica foi formada por várias categorias de divindades, e cada divindade correspondia à forma como o universo e os espaços físicos eram vistos5 . Cada divindade corresponde a um reino cósmico e espacial do universo como interpretada pela população de Ugarit. Nessa estrutura, em termos de divindades, existe divisão entre divindades benéficas, que são representadas antropomorficamente, e divindades maléficas, que são representadas em formas monstruosas, como veremos a seguir, para exemplificar, dois textos de Ugarit. O primeiro descreve Tunannu, um inimigo cósmico, como uma serpente com sete cabeças:

KTU 1.3 III,40–42

Certamente eu a amarrei e a destruí (?)

Eu lutei com a serpente sinuosa,

uma potestade com sete cabeças.

Da mesma forma, o segundo texto descreve Mot relembrando Baal da luta em

que o deus da tempestade derrotou Leviatã em termos muito parecidos:

KTU 1.5 I 1–3

Você matou Litan, a Serpente Voadora,

Aniquilou a Serpente Sinuosa,

Uma potestade com sete cabeças.

Essa distinção entre caos e ordem, deidades benéficas e deidades destrutivas diferenciava, a partir da elite urbana de Ugarit, o centro (ou o lar) e a periferia. Assim, tudo que é urbano, cultivado e cultural, é diferenciado por oposição ao não cultivado, não cultural e periférico. Nessa concepção, o centro significa a ordem simbólica das

 

“Sobre a estrutura das divindades de Ugarit, ver: SMITH, Mark, S. O Memorial de Deus: História,

Memória e a Experiência do Divino no Antigo Israel. São Paulo: Paulus, 2006, p. 134-150.”

 

coisas e dos valores da sociedade. Em Ugarit, como já demonstrado em nossa pesquisa, foi centro cultural de produção de textos, da administração e do ritual.

No centro se encontra a casa, que expressa ao mesmo tempo à proteção familiar e os conflitos domésticos, e também se encontra a terra, patrimônio familiar. A periferia se apresenta como zona de transição entre o centro e as regiões distantes do cosmos, locais de difícil acesso para a experiência humana. Podemos também acrescentar em conjunto com o centro e a periferia, as regiões que vão além da periferia.

A distinção entre o centro e a periferia é expressa por termos agrários como semear

versus a estepe. Podemos verificar essa distinção em um texto ugarítico6 :

KTU 1.23,65–69  

Oh filhos! Ali produziu!

Fiz uma sagrada oferenda

no meio do deserto,

ali a permanência é curta

e existem dificuldades no meio de rochas e arbustos.

Por sete anos completos

oito ciclos de duração,

os graciosos deuses andaram sobre a estepe,

eles procuraram até as extremidades do deserto,

os dois encontraram–se com o guarda da semente

e os dois gritaram ao guarda da semente:

Oh guarda, Oh guarda, Abra!

E o próprio guarda abriu uma abertura para eles

E os dois entraram.

De acordo com esse texto, a semente contém alimento em abundância e vinho:

KTU 1.23,70–76

Se [ali existe para nós a]limento

dê–nos para que possamos comer!

Se ali [ para nós existe vinho]

dê–nos para que possamos beber!

E o guarda da semente respondeu para eles:

[existe comida para alguém que... (?)]

existe vinho para todos que entram... [...]

...ele próprio aproximou–se

ele serviu um pouco de seu vinho

e suas companhias[ saciaram–se] com vinho

O mapeamento das divisões do espaço cósmico e divino é feito pela separação

entre deidades e demônios. Deidades habitam lugares próximos do cultivo e das

pessoas, enquanto demônios ou monstros não. As deidades possuem lugar de culto e

 

“Ver: SMITH, Mark S. The Ritual Miths of the Feast of the Goodly Gods of KTU/CAT 1.23: Royal Constructions of Opposition, Intersection, Integration and Domination (Resources for Biblical Studies). Atlanta: Society of Biblical Literature, (nº 51), 2006.“

 

montanhas sagradas, e vários textos de Ugarit demonstram isso: El no Monte Ks, Baal no monte Safon ( KTU 1,100,9), Anat e Athtart no monte ’inbb (KTU 1.100,20), etc. Os inimigos cósmicos geralmente não possuem montanhas sagradas. As montanhas apontam para o nível celestial onde as divindades vivem. O deus Mot é uma exceção à regra, pois para chegar à montanha na qual a deidade mora, os mensageiros dos deuses precisam levantar a montanha para descer ao submundo e encontrar Mot.

No nível cósmico e vertical, as deidades benéficas habitam o céu, enquanto as

forças monstruosas e demoníacas habitam o submundo ou o oceano cósmico. Mais especificamente, os reinos são divididos pelas divindades Baal, Yam e Mot. Baal governa o céu, Yam o mar, e Mot o submundo.

Em contraste com o centro, a estepe é caracterizada como uma região de rochas e arbustos. A estepe se caracteriza como lugar de perigo e transição. É nessa região que vão surgir os inimigos de Baal, o deus da fertilidade, para confrontá–lo.

Entre as divindades benéficas de Ugarit, podemos identificar níveis de hierarquia entre os deuses. No topo, temos um deus que reina e sua rainha consorte.

Abaixo, temos as outras divindades que servem ou são subordinadas às divindades chefes do panteão. Segundo esse esquema, podemos separar os níveis do panteão ugarítico em:

A alta autoridade do panteão

Deuses de maiores destaques

Deuses artesãos

Deidades mensageiras

Essa ideia básica familiar inclui o patriarca e sua esposa, seus filhos e familiares, assim como trabalhadores e escravos. A linguagem monárquica encontrada nos relatos envolvendo as divindades de Ugarit claramente reflete a casa monárquica.

A mais alta posição é ocupada por El, que é pai dos deuses, que preside o panteão epromulga decretos. Quando analisamos a literatura ugarítica, percebemos que através de seus epítetos, El foi visto como o deus criador por excelência:

KTU 1.4 II, 11

 

“Ver a função burocrática dos deuses de Ugarit no estudo de: HANDY, Lowel K. Dissenting Deities or

Obedient Angels: Divine Hierarchies in Ugarit and the Bible. Biblical Research, 35, 1990, p 18-35. ”

 

Ela rogou ao touro El,

O deus da misericórdia,

Ela suplica ao criador das criaturas.

Outro exemplo se encontra em KTU 1.6 III, 5:

No sonho do benigno,

de El, o misericórdioso,

Na visão do criador das criaturas.

Percebemos nesses epítetos não só a característica de criador das criaturas em El, mas

também o caráter de “misericordioso”8 .

Como criador, El permanece como cabeça do panteão cananeu, e como pai dos

deuses:

KTU 1.123,1

(Salve), óh pai e o (resto dos) deuse[s]!

(E) salve, salve, ó E [l (...)]!

[S]alve, óh El, o príncipe!

Como seus filhos, os deuses são na coletividade chamados de filhos de El (KTU 5.I.13;

32.I,2,9,16,25,33). Além de Yam, Mot e Anat, Baal é chamado de filho de El:

KTU 1.3 V, 35–36

Suspirando, proferiu assim ao Touro El, seu pai:

El, o rei, que criou ele

Nesse texto, Anat está na presença de El requerendo a construção de um palácio para

Baal. Anat se refere à Baal como “filho de El”, aquele que o criou.

O próprio Baal exalta El como aquele que formou e criou os deuses:

KTU 1.10 III,6–7

Eis! Nosso criador é eterno,

Eis! Imutável é ele que nos formou!

Fica claro que El é lido na literatura ugarítica como pai dos deuses, misericordioso, imutável e criador das criaturas. Por esses motivos, os deuses o reverenciam como um deus ancião, pai dos anos9 e chefe conselheiro do panteão.

“Para um estudo sistematizado dos epítetos das divindades cananeias, ver: RAHMOUNI, Aicha. Divine Epithets in the Ugaritic Alphabetic Texts. Leiden/Boston: Brill, 2008.”

 

Com El no topo do panteão, aparece a sua esposa Athirat, a Asherah bíblica,

que é descrita como mãe dos deuses10 :

KTU 1.4 I,22

Preparem por favor! Um presente em reverência,

para a senhora Asherah do mar,

um presente de súplica para a progenitora dos deuses.

Os deuses foram chamados de “setenta filhos de Asherah” (KTU 1.4 VI, 46). Embora discute se entre os estudiosos se Asherah em Ugarit exerce poder parecido do seu esposo El, não há dúvidas que ela tem forte influência em decisões referentes ao reinado cósmico (KTU 1.4 IV), e na participação do processo de decisão na escolha de um sucessor real para Baal:

KTU 1.6 I, 43–55

Em voz alta gritou El,

para a grande dama Asherah do mar:

escuta, óh grande dama Asherah do mar!

Dê–me um dos seus filhos para fazer–lhe rei.

No segundo nível, no qual aparecem divindades de maiores destaques,

encontram–se deidades astrais que é atestado em KTU 1.43,2–311, mas em geral as

divindades com essas características não são muito especificadas. Uma possível exceção

para identificarmos uma família astral de El se encontra em KTU 1.10 I, 3–5:

O qual os filhos de El não conhecem (?)

A assembleia das estrelas

O círculo daqueles do céu

Em contexto diferente, podemos reforçar a opinião de que El possuía como filhos, divindades de caráter astral. Shahar (aurora) e shalim (crepúsculo) são dois filhos de El, de acordo com KTU 1.23,50–53. O deus–lua Yarih é identificado como o favorito de El em KTU 1.24.25. Em KTU 1.92,14–16 Athtart’s providencia carne para El e Yarih, e este presumivelmente deve ser um membro da casa celestial. O deus sol Shapsu aparece servindo mensageiros de El em KTU 1.6 VI. Outras divindades astrais

“PARDEE, Dennis. Ritual and Cult at Ugarit. (Edited by Theodore J. Lewis). Atlanta: Society of Biblical Literature, 2002, p. 69-70.”

de destaque são Athtar e Athtart (KTU 1.92,14–16) Resheph, que aparece em KTU

1.7812 .

Nesse segundo nível da família divina, Baal, Yam, Mot são deuses que competem pelo domínio cósmico e parecem exercer maiores influências na literatura ugarítica. Precisamos salientar que os mitos de Ugarit destacam o crescimento de Baal como deus vitorioso e obtendo o seu reinado, como descrito no Ciclo de Baal–Yam (KTU 1. 1–2) e Baal–Mot (KTU 1. 3–6)13. Nesses conflitos contra essas divindades que simbolizam o caos, Baal sai vitorioso e sua vitória é simbolizada pela construção de seu  templo e consequentemente, a sua ascensão sobre os outros membros do panteão14 .

A função do reinado cósmico de Yam nesses mitos não é certa. Mas ele aparece em KTU 1.2 III privilegiado com um palácio, símbolo da sua função como rei. Em KTU 2.1,17,33–34, ele é proclamado “senhor” por El. Esses textos demonstram que Yam foi visto em Ugarit como um poderoso monarca. Para obter o seu reinado, foi preciso Baal derrotar o seu rival, e assim tirar das mãos de Yam o reino cósmico:

KTU 1.2 IV 32

“Sem dúvida, Yam está morto,

Baal se transformou em rei...”

Nos textos ugaríticos, não temos a informação de como Yam se tornou rei. Mas temos nos textos indícios que esse reinado foi dado por El, pois ele é chamado de “amado de El” (KTU 1.1 IV, 20; 1.3 III, 38–39; 1.4 II, 34)15. Como personificação do mar, ( KTU 1.1,21,23) Yam foi visto como o maior adversário para o estabelecimento da ordem no cosmos. Com a vitória, Baal se transformou no mais poderoso deus e digno de reinar o reino cósmico. Mesmo com a legitimação de Yam por El nos textos ugaríticos, a vitória de Baal foi aprovada por El. A conquista do seu reinado derrotando Yam habilita Baal a possuir o Monte Safon, o qual é associado com essa divindade nos textos ugaríticos. Baal é chamado de “cavaleiro das nuvens”, devido talvez ao topo da montanha que fica coberto por nuvens.

 

“Para um estudo das divindades astrais em Ugarit, ver: SMITH, Mark S. The Origins Of Biblical

Monotheism: Israel Polytheistic Background and the Ugaritic Texts. New York/Oxford: Oxford

University Press, 2001, p. 61- 66.

13 Confira Del Olmo Lete, 1981, p.155-213.

14 Ver: JR. E. Theodore Mullen. The Assembly of Gods: The Divine Council in Canaanite and Early

Hebrew Literature. Michigan: Scholar Press, 1980, p. 46-84.

15 Confira Rahmouni, 2008, p.212-214.

16 Para um estudo mais aprofundado sobre a relação do Monte Safon e Baal ver a dissertação de mestrado

de: MENDONÇA, Elcio Valmiro Sales de. Monte Sião, Extremidade do Safon: Estudo da Influência

da Mitologia Cananeia na Teologia de Sião à Partir da Análise Exegética do Salmo 48. São Bernardo

do Campo: Umesp, 2012. ”

 

Outro adversário cósmico para Baal foi Mot, o deus da morte, que reinou o submundo (KTU 1.4, VIII, 1–24) e desejou aumentar o seu poder, e reino no lugar de

Baal:

KTU 1.4 VII, 47–52

Para que grite Mot em sua alma

se instrua o amado de El em seu interior:

você é o único que reinará sobre os deuses

e que verá saciados deuses e homens

e que saciará as multidões da terra.

O desejo de Mot é um conflito direto com Baal e tomar o poder das mãos do deus da tempestade e da fertilidade. O que Mot almeja é tirar a fertilidade da terra e provocar a escassez para reinar sobre o cosmos. O conflito é certo, pois segundo KTU 1.4, VII, 42–44 Baal proclama de sua montanha templo que nenhum rei se estabelecerá em seu domínio. No momento em que o reino de Baal está no seu ápice, Mot entra em cena para colocar perigo ao domínio da divindade fertilizadora. A luta dessas duas divindades pelo reino cósmico representa fertilidade e morte.

A progressão do mito envolvendo Baal e Mot é perceptivelmente coerente, pois depois de se livrar de Yam, o deus que representa as forças caóticas do mar, Baal terá que enfrentar o deus da morte, da infertilidade. Da mesma forma que Yam, os textos não explicam como Mot obteve o seu reinado. Mot é chamado de “amado de El”, e de “herói”: KTU 1.4 VII, 46–47

Eu certamente enviarei um mensageiro

para o filho de El, Mot,

uma mensagem para o amado de El, o herói.

Assim como Yam, Mot tem um relacionamento especial com El e foi nomeado rei pela divindade. Mot representa uma força primária no universo, ou seja, a morte.

Baal estendeu o seu domínio sobre as forças do mar caótico, agora deveria derrotar o deus da esterilidade e da morte. Somente assim o cosmos voltaria a ser seguro e fértil.

Baal desce ao submundo para enfrentar Mot e seu destino é contado a El pelos mensageiros do deus da fertilidade:

KTU 1.5 VI, 9–10

Baal está morto, o vitorioso

pereceu o príncipe, o senhor da terra

Após esse acontecimento, El lamenta a derrota de Baal e um rito pela morte do

deus tem início (KTU 1.5 VI, 11–25). O lamento de El revela um terrível efeito na natureza da terra. A morte triunfou sobre a fertilidade. Parece–nos que El mesmo com o posto de deus chefe do panteão, respeita os domínios cósmicos e não influencia nas lutas entre as divindades que governam cada região do cosmos.

Após o triunfo do deus da morte, Anat, a deusa guerreira nos textos ugaríticos, começa a buscar por Baal (KTU 1.5 VI, 26–31). Após sepultar Baal e oferecer ela própria um sacrifício pela morte do deus da tempestade no Monte Safon ao lado de Shapsu (KTU 1.6 I, 11–31), ela confirma à El a morte de Baal (KTU 1.6 I 32–43). El e Asherah escolhem Attar como substituto para Baal, mas Attar é incapaz da posição (KTU 1.6 I 53–65). A natureza e a ordem do cosmos estão em grande perigo, pois ninguém é capaz de governar no lugar de Baal.

No final do Ciclo de Baal–Mot, lemos que Anat, a companheira guerreira de Baal,agarra Mot e exige o retorno de seu irmão do submundo cósmico (KTU 1.6 II, 9–12). Mot se nega e reconta como derrotou o deus da tempestade (KTU 1.6 II, 13–23).

 Anat ataca–o e o mata: KTU 1.6 II, 30–35

Ela agarrou o filho de El, Mot

ela perfurou ele com uma espada

ela espalhou ele como uma peneira

ela queimou ele no fogo

ela triturou ele como pedras de moinho

ela semeou ele no campo

Mot foi totalmente destruído em um ritual de plantação para produzir a fertilidade. Anat frustra os planos de Mot de estender o seu reinado até os domínios de Baal. Com a derrota de Mot, Baal revive. El em uma visão descobre que Baal ressuscitou:

KTU 1.6 III, 20–21

Eis! Baal o vitorioso vive!

Certamente o príncipe,

o senhor da terra existe!

Baal revive e a ordem triunfa sobre as forças caóticas da morte. Anat que é narrada nesses textos com destaque, pertence ao grupo de divindades de maior importância em Ugarit. Ela é irmã de Baal e filha de El (KTU 1.3 V, 26–28). Seu relacionamento com Asherah parece sugerir que ela não seja de sua descendência. Demonstra extrema violência e autoridade diante do deus chefe dosdeuses, El (KTU 1.3 V, 19–25). Ela é descrita com poder enganador e furioso no panteão. Mas a chave para entender Anat é seu forte amor por seu irmão, Baal.

No terceiro nível cósmico vemos Kothar –Wa– Hasis como o deus artesão em Ugarit por excelência. Ele serve os dois graus da família divina e é solicitado por El para a construção de um palácio para Baal (KTU 1.1 III). Além do palácio, fabrica uma arma para Baal (KTU 1.2 IV). Kothar ocupa um lugar abaixo das grandes divindades do panteão, e como servo divino, desenvolve várias funções para as grandes deidades.

Kothar não serve apenas as divindades com sua mão–de–obra, mas também com seus

conselhos, palavras e sabedoria (KTU 1.4 VII).

Assim como as casas familiares em Ugarit, o panteão também tem os seus trabalhadores, servos e mensageiros divinos. Podemos identificar no último nível, deuses menores que servem a um grande deus guerreiro (KTU 1.5 V).

Portanto, seguindo a estrutura familiar divina de Smith18, com algumas variantes propostas para essa pesquisa, os níveis da família divina de acordo com suas hierarquias são:

Nível 1: O deus ancião El e sua esposa Asherah

Nível 2: Os filhos divinos: Athtart e Athtar (a noite e a estrela da manhã);

Shapsu (sol); Yarih (lua); Shahar (aurora); Shalim (crepúsculo);

Resheph (Marte?); Baal (deus da Tempestade); Yam (deus do mar);

Mot (deus da morte); Anat (deusa guerreira);

Nível 3: Kothar–Wa–Hasis (deus artesão)

Nível 4: trabalhadores divinos: mensageiros, porteiros, servos.

Algumas dessas divindades aparecem na Bíblia Hebraica, a qual passaremos a analisar.

 

 

 

 

VIDA NA ANTIGA UGARIT

 


A cultura ugarítica foi complexa. A cidade foi ao mesmo tempo, um porto comercial do mediterrâneo, uma cidade–estado do oeste semítico vassalo dos hititas e uma população do noroeste semítico do mundo de língua cuneiforme. Qualquer análise que fizermos, seja estudarmos nomes pessoais, linguagem, religião ou a cultura material, Ugarit vai aparecer como uma eclética mistura das culturas cananeias, sírias, egípcias, mediterrânea e mesopotâmica. Ugarit prosperou ao se tornar um lugar de encontro dos povos do Antigo Oriente Próximo (KTU 1.40 VII, 35–43).

A economia de Ugarit foi dominada pelo mar ao lado do comércio de importação e exportação. A cidade desenvolveu indústrias que foram formadas devido a sua localização em região marítima, assim como tintura de tecidos manufaturados e construções de navios. Também desenvolveu indústrias de artesanatos relacionados com o seu comércio de materiais bruto e utensílios de cobre. A fertilidade das regiões altas da cidade foram também exploradas para desenvolver o comércio de grãos e óleo.

No período do XV ao XIV séculos AEC um certo desequilíbrio e conflitos de interesses ocorreu entre os maiores poderes da região, ou seja, Egito, Hititas, Mitanni, Babilônia e Assíria. Devido a sua boa localização, Ugarit serviu como um Estado neutro entre essas grandes potências e seus interesses comerciais. O crescimento de Ugarit nessa conjuntura reflete uma experta manipulação da localização geográfica da cidade para obter vantagens econômicas.

O cabeça do Estado de Ugarit foi o rei, e ele era legitimado por divindades. O relacionamento especial que o rei tinha com os deuses, particularmente com El, é visto no Épico de Keret. O rei foi o principal representante na religião ugarítica, podendo fazer sacrifícios no templo (KTU 1.119). Ele também tem obrigações e responsabilidades em defender o pobre, a viúva, o órfão e os abatidos (KTU 1.17,6–8).

Membros da família do rei exercia controle nas instituições seculares e religiosas,

particularmente nos sumo sacerdotes.

A vida familiar em Ugarit foi patriarcal, no qual homens podiam ter mais de uma esposa. As esposas não tinham status iguais. A primeira esposa tinha o título de “grande mulher”. Da mesma forma, os filhos não tinham status igualitários, sendo chamados de servo, filho ou jovem guerreiro. Filhas eram classificadas como servas ou “irmã mais velha”. Essas designações refletem o estado social de livres ou escravos do

menino e da menina, herdado por herança. Os títulos “jovem guerreiro” e “irmã mais

velha” são títulos grandiosos para um filho ou filha.

Em Ugarit, da mesma forma que em Israel, foi possível conferir o direito de

primogenitura para uma jovem criança (KTU 1.15 III,16). Mulheres, especialmente da

família real, poderiam ser colocadas em posições de proeminência, como vemos nas

correspondências das rainhas de Ugarit (KTU 2.11; 2.12; 2.13; 2.16; 2.30).

 

HISTÓRIA DE UGARIT

 


Ugarit teve uma longa história. Os antigos assentamentos dos sítios datam do período neolítico (6500 AEC) e continuou até aproximadamente o fim da Idade do Bronze tardia quando se tornou um centro comercial próspero. Antes da descoberta do sítio na antiga Ugarit, estudiosos só conheciam seu significado e existência através dos arquivos de Amarna escavados no Egito e em Boghaskoy na Ásia Menor.

A fase mais importante da história de Ugarit começa aproximadamente em 1900 AEC. A Lista de Reis de Ugarit (KTU 1.113)4 e a literatura épica, fornecem informações sobre o crescimento nesse período de tribos de pastores semi – nômades na estepe mesopotâmica conhecidos como Amoritas, que se estabeleceram em Ugarit e iniciou uma nova fase em sua história. A fundação da dinastia real ugarítica até a sua destruição são traçadas dessa expansão amorita. A prosperidade de Ugarit nesse tempo foi comparada aos grandes reinos do Antigo Oriente. Primeiro o reino de Mari no primeiro milênio AEC, depois o Egito, e finalmente o reinado hitita.

Mari foi particularmente um importante sítio no médio Eufrates que prosperou sob os amoritas no segundo milênio AEC. Nesse período, Ugarit foi também um centro comercial para os faraós da XII e XIII dinastias. Diversas estátuas do reinado médio escavadas em Ugarit testificam a função da cidade como portão comercial egípcio para a Mesopotâmia e o império babilônico. Não há informações a respeito de uma presença militar egípcia em Ugarit nesse período.

Durante o período do reinado dos Hicsos no Egito (1674–1567 AEC) os hurritas ganharam o controle de Ugarit, e a cidade manteve abertas relações com o reinado de Mitanni no norte da Síria. Os reis hurritas romperam os vínculos com os egípcios enquanto buscavam aumentar o relacionamento com Ugarit e a Mesopotâmia.

Nesse tempo, a cidade de Ugarit sofreu um período de declínio. Iniciando-se com a XVIII dinastia durante o reinado tardio, o império egípcio se reafirmou no norte da Síria. A campanha militar egípcia estendeu–se até ao norte do Eufrates, e o relacionamento de Ugarit com o Egito foi restabelecido. No tempo de Amenófis II (1440 AEC) uma guarnição egípcia foi posta em Ugarit. Diversas cartas de Amarna foram escritas de Ugarit ao Egito (1350 AEC).

Ganhando com a prosperidade e estabilidade do reinado egípcio, Ugarit experimentou um momento de crescimento e prosperidade entre o XV ao XIV séculos AEC, e esses séculos representaram o auge e a idade de ouro da cidade. É nesse período que a literatura ugarítica começa a florescer. Os estudiosos afirmam que a literatura épica de Ugarit, a qual foi transmitida oralmente por séculos, foi escrita durante o reinado de Niqmaddu II (1350 AEC).

A lista de reis de ugarit abaixo mostra-nos uma tradição dinástica:

Ammistamru I – 1350 AEC

Niqmaddu II – 1350– 1315 AEC

Arhalbu– 1315 – 1313 AEC

Niqmepa– 1313 – 1260 AEC

Ammistamru II – 1260– 1235 AEC

Ibiranu– 1235 – 1225/20 AEC

Niqmaddu III – 1225/20– 1215 AEC

Ammurapi – 1215–1185 AEC

Em 1350 AEC, o rei de Hatti, Suppiluliuma conquistou o reino de Mitanni.

Nesse tempo, Ugarit se tornou vassalo do reinado hitita, pagando pesados tributos e consequentemente, teve a ajuda dos hititas para se desenvolver como centro comercial.

Suppiluliuma concedeu a Ugarit muitas cidades que estenderam as fronteiras do reinado ugarítico, possivelmente até o Leste do Rio Orontes.

Os soberanos hititas em Carquemish serviram como intermediários entre os monarcas superiores hititas e os governantes de Ugarit. Os comerciantes hititas tiveram privilégios especiais na cidade, incluindo isenção de taxas.

Soldados de Ugarit também lutaram ao lado dos hititas contra Ramsés II na batalha de Kadesh (1276 AEC). Ugarit controlou a situação de maneira a não afetar as relações amistosas que tinha com o Egito. Uma estela mostra que um escriba real egípcio foi nomeado para estar na corte real ugarítica. Ugarit aparentemente serviu como um “tampão” para diminuir as rivalidades entre a Mesopotâmia e o Egito durante esse período, e prosperou como porto neutro e canal do comércio internacional. Uma carta do rei de Tiro para o rei de Ugarit ilustra a prosperidade e riscos do florescente comércio marítimo desse período (KTU 2.38).

A destruição de Ugarit geralmente é atribuída aos povos do mar no XII século AEC. A civilização mercantil de Ugarit dificilmente ficou condizente aos violentos ataques dos povos do mar, porém a desintegração da economia e do palácio templo da cidade começaram antes das migrações dos povos do mar na região. O fim do período tardio da Idade do Bronze foi marcado por um processo geral de “ruralização” que minou a manutenção da economia urbana e acelerou o fim de Ugarit, assim como de outros reinos da Idade do Bronze tardia.

 

KTU é a sigla de: Keilalphabetischen Texte aus Ugarit em Alemão: Keil Alphabetischen Texte aus Ugarit (Textos Alfabéticos em cunha de Ugarit) in: LETE, Gregorio Del Olmo. Mitos y Leyendas de

Canaan Segun la Tradicion de Ugarit. Madrid: Ediciones Cristiandad, 1981.

 

DESCOBERTAS DOS TEXTOS DE UGARIT

 



As escavações em Ugarit (moderna Ras Shamra) começaram sob a direção de Claude Schaefer e seus sucessores em 1929, após a descoberta de uma galeria funerária no minúsculo porto de Minete el–Beida, e logo em seguida a atenção se voltou para a região montanhosa, Ras Shamra, a 1km ao leste de Minete el–Beida. Escavações prosseguiram durante os anos subsequentes, somente interrompidas no período da II Guerra Mundial. Os escavadores descobriram documentos principalmente no palácio e nos templos que ficavam nessa região, embora alguns textos fossem encontrados em residências de pessoas provavelmente importantes dessa antiga cidade.

Alguns textos ugaríticos foram descobertos em Ras Ibn Hani (cujo antigo nome é B’ir), a 3 milhas ao sul de Ras Shamra. Poucos pedaços de textos escritos no alfabeto ugarítico foram encontrados também ao oeste da região mediterrânea: em Chipre (Hala Sultan Tekke), na Síria (Tell Sukas; Kadesh; Kumidi, próxima a Damasco), no Líbano (Sarepta) e em Israel (Monte Tabor, Taanach; Beth–Shemesh).

Na região de Ras Shamra, se encontravam dois grandes templos dedicados a Baal e Dagon, localizados ao noroeste da cidade. A área real ocupava boa parte da área noroeste da cidade, cerca de 10.000 metros quadrados. Ficava isolada do resto da cidade e protegida por fora por uma fortaleza. O palácio serviu como residência real e centro administrativo da cidade.

A região residencial não deixa evidências de ter sido projetada com organização e planejamento. Embora houvesse uma via principal para trafegar, não parece ter havido locais especiais e planejados para residências e comércio, pois casas luxuosas estão próximas a lugares destinados a comércio e a residências mais modestas.

A cidade continha artesãos de todo o tipo. Havia trabalhos com argila, couro, pedra,

madeira e tecidos. Os vários textos encontrados sugerem várias escolas de escribas, que

desenvolveram a escrita para uso funcional e intelectual.

Os arquivos encontrados em Ugarit sugerem muitas escolas de escribas espalhadas e ativas pela cidade. Digno de nota a esse respeito é a quantidade de arquivos encontrados na área residencial a leste do palácio e na parte sul da cidade, onde 470 textos foram descobertos, incluindo 200 textos escolares que continham o alfabeto, catálogos lexicais e gramaticais e catálogos de deuses. Foram achados também cópias do Épico de Gilgamesh e da história mesopotâmica do dilúvio, os quais são típicos textos estudados no Antigo Oriente Próximo.

Mais recentemente, também na região sudeste da cidade, escavações permitiram descobrir um amplo arquivo de mais de 200 tabletes, incluindo um incomum alfabeto, um documento lexicográfico trilíngue (ugarítico, acádico e hurrita), e um fragmento do Épico de Gilgamesh. Esses dados sugerem que Ugarit serviu como um centro destacado de ensino de escribas no Levante, pois sua posição geográfica no Antigo Oriente e sua população cosmopolita favorecia essa função.

17 bibliotecas foram localizadas e mais de 1500 textos no sítio de Ras Shamra. A maioria dos textos descobertos em Ugarit foi no palácio real, e estavam localizados no complexo oeste. Foram encontradas 8 bibliotecas com mais de 1000 textos escritos em língua acádica e ugarítica, além de poucos textos hurritas e hititas.

135 textos foram descobertos na residência do sumo sacerdote da região, localizado entre o templo de Baal e Dagon ao leste da acrópole. Os textos são de cunho religioso, incluindo 24 tabletes contendo os famosos épicos da literatura de Ugarit (Keret, Aqhat, Ciclo de Baal e o texto Refaim).

Alguns desses textos foram escritos por um escriba denominado Ilimilku, que aparentemente foi estudante do sumo sacerdote Attenu, conforme testificado no fim do épico “Ciclo de Baal”. Embora muito desses textos encontrados na residência do sumo sacerdote estavam escritos em ugarítico, havia também alguns textos que serviam como catálogos lexicais em acádico, sumério e em hitita, assim como vários textos religiosos em hurrita.

 

“SCHNIEDEWIND, Willian M; HUNT, Joel H.

A Primer on Ugarit: Language, Culture and Literature. Cambrigde: University Press: 2007, p. 5- 27”

O CICLO DE BAAL UGARÍTICO

 


Como substantivo próprio refere-se ao deus Baal com domínio sobre as forças naturais, o clima e relações sexuais quando associado com sua consorte Astarte. Outros deuses além desse Baal específico, também eram chamados de “baals” (baalim), além manifestações locais com abundantes registros na Bíblia Hebraica: Baal-Hadad na Síria, Baal-Berith em Siquém (Jz 9:4); Baal de Peor em Sitim (Nm 25:3); Baal Zebube de Ecrom na Filístia (2Rs 1:2-3), de onde vem o termo Belzebu (Senhor das Moscas); Baal de Hamom (Ct 8:11). Jezabel favoreceu em Samaria a adoração de Baal, deus de Tiro, o qual seria Baal Meqart ou Baal Shamen (1Rs 18:19).

Na Bíblia há dezoito menções a baal sem especificar quem seria. Para complicar, até mesmo o Deus de Israel é, em raras ocasiões, chamado de baal. É nesse sentido que o termo parece em nomes de judeus, como o célebre Baal Shem-Tov (c. 1698 – 1760), o fundador do movimento hassídico. O termo hebraico baal-berit também é aplicado ao pai da criança em uma cerimônia de circuncisão (berit). Dentre os versos mais notórios dessa referência de Deus como baal são os seguintes, com traduções literais minhas:

Ou o teu Criador [é] o teu Baal, Yahweh Sabaoth é o seu nome, e o teu Redentor é o Santo de Israel, Deus de toda a terra, é chamado. Isaías 54:5.

Não como o concerto que fiz com seus pais, no dia [que] tomei pela mão para trazê-los fora da terra do Egito que eles romperam meu concerto, e eu era Baal para eles, diz Yahweh. Jeremias 31:32.

 

El zeloso e [que] vinga,

Yahweh vinga,

Yahweh e Baal furioso vingará,

Yahweh aos seus inimigos

e reservará

Ele [a vingança e a fúria] aos adversários. Naum 1:2.

 

E aconteceu, naquele dia, uma afirmação de Yahweh: Tu me chamarás – meu marido, e não me chamas mais – meu Baal. Oseias 2:16.

A denúncia ao culto a Baal aparece consistentemente no período pré-exílico. Aparece no incidente de Peor (Nm 25), no ciclo de Elias e Jezabel (1Rs 16-22), na destruição do templo de Baal em Jerusalém na revolta contra Atalia (2Rs 11:18) e no conflito entre os adoradores de Yahweh e os seguidores de Baal (Jz 6:25-32; 1Rs 18:16-40).


O ciclo de Baal Ugarítico

Em Ugarit, Baal aparece como uma divindade interessante. Chamado de Baal-Hadad, é o sucessor do deus El, o rei dos deuses e dos homens. Baal é o protagonista de um ciclo de mitos de Ugarit em uma coleção de tabuletas cuneirformes que são fragmentárias e ninguém sabe a ordem certa de leitura. Segue aqui uma reconstrução resumida.

Desejoso de construir seu palácio, Baal deve enfrentar a desordem, Yam. O deus do caos Yam também é identificado com monstros marinhos, particularmente o monstro de sete cabeças Lotan, comparável ao Leviatã. Esse motivo literário é chamado de Chaoskampf e aparece frequentemente associado em narrativas de criação, porém não na versão de Ugarit.

El transfere poder a Yam, mas ele domina tiranicamente os deuses e os homens. Os dominados reclama para sua mãe, Asserá, a senhora do mar. Eles a convenceram a confrontar Yam, a interceder em seu favor. Para libertá-los, Aserá, a deusa-consorte de El (e depois fundida com Anat), deve resignar-se a Yam.

Baal ficou furioso e jurou aos deuses que destruiria Yam. Munido com armas mágicas feitas pelo deus artesão, Kothar, Baal consegue superar Yam. Então, Baal é proclamado rei sobre os deuses.

Com ajuda das deusas Asserá e Anat, Baal consegue a aprovação de El para construir uma casa. O deus artífice Kothar realiza a construção. Depois de uma discussão sobre janelas (dilema eterna entre arquiteto e cliente), Baal celebra convidando os deuses para um banquete. A casa de Baal é extraordinária. Durante sete dias um incêndio queimou dentro do prédio e, quando cedeu, a casa foi banhada a ouro, prata e lápis-lazúli.

Outro conflito que aparece no ciclo de Baal é a batalha contra Mot, o deus da morte. Mot convida Baal para um banquete, mas o convidado também é o prato principal. Baal é devorado pela Morte. El e Anat lametam sua morte. Anat, ajudada pela deusa-sol Shapash, localiza e traz o corpo ao cume de monte Safão, a moradia de Baal. Anat, que é irmã e consorte de Baal além de patrona do amor e da guerra, demanda que Mot libere o morto. Diante da recusa, Anat destroçou Baal. Assim, Baal consegue retornar ao mundo dos vivos. El descobre em um sonho que Baal está vivo novamente. Mot também reaparece e enfrenta Baal. No entanto, Shapash, a deusa do sol, avisa Mot das consequências. Aparentemente, há uma separação das respectivas esferas de influência.

Aqui, Baal representa a fertilidade agrícola — particularmente a estação chuvosa outonal que segue as secas deletérias do verão — e faz com que as colheitas floresçam.


Importância e Recepção

A descoberta da literatura ugarítica levou à óbvia comparação. Fora dos elementos comuns com a Bíblia Hebraica, fruto de um ambiente cultural comum, surgiram especulação de que as religiões abraâmicas e outras deviam mais ainda à mitologia semítica. A superinterpretação com paralelomania das mortes e renascimentos de Osíris, Baal e Adonis não tem base histórica ou textual, remontando das especulações de Frazer. As diferenças entre esses mitos sobressaltam as similaridades. O cientista da religião Jonathan Z. Smith, cuja dissertação de 1969 discute o Ramo Dourado de Frazer, considera esse paralelismo um equívoco baseado em reconstruções imaginativas e textos altamente ambíguos.

Outra importância do ciclo de Baal é que vários de seus textos possuem uma assinatura no colofão. O escriba Ilimilku escreveu (ou reescreveu e expandiu) o épico de Baal. É um dos mais antigos textos com visível voz de autoia identificável.


UGARIT E O ANTIGO ISRAEL



O início de Israel se deu nas montanhas de Canaã, existindo como um “subgrupo” dos cananeus19. Uma estela do Faraó Merneptá (1213-1203 AEC) contém a descrição de uma campanha militar no Levante. Vários povos derrotados são descritos e Israel aparece não como um “país”, mas sim, como um grupo de pessoas. Determinante para a nossa pesquisa é que o nome “Israel” aparece na estela e não “Isra-yahu”20, o que indicaria pela composição do nome pela partícula “yahu” que esses proto-israelitas fossem adoradores desde o seu surgimento do deus Yahweh. O nome “Isra-El”, com a partícula “el” fornece com toda a probabilidade que o deus cabeça do panteão cananeu El foi adorada entre esses primeiros israelitas.

A própria Bíblia Hebraica testemunha que Yahweh foi introduzido “a partir de fora” no panteão dos primeiros israelitas. Essa divindade não pertencia ao panteão cananeu pois não encontramos nenhuma menção dessa divindade nos escritos de Ugarit. Assim, onde surgiu Yahweh? Uma pista se encontra em Juízes 5, 4-5 que diz Yahweh! Quando saíste de Seir, quando avançaste nas planícies de Edom, a terra tremeu, troaram os céus, as nuvens desfizeram-se em água. Os montes deslizaram na presença de Yahweh, o do Sinai, diante de Yahweh, o deus de Israel. Nomes teofóricos são indícios de adoração de uma determinada divindade e seu desenvolvimento em determinados períodos. Nomes como de Isayahu (Isaías), Elyahu (elias) ou Irmeyahu (Jeremias) são exemplos de nomes cuja partícula com o trecho do nome do deus Yahweh (Yah) aparece.

 

" Para Além da Bíblia: História Antiga de Israel. São

Paulo: Paulus/Loyola, 2008, p. 81-106."

 

Essa descrição teofânica colabora com a ideia de que, numa antiga tradição, Yahweh veio do sul da Transjordânia, na região desértica de Edom. Em Gênesis 25, 19-34 o patriarca Jacó, lido na tradição como o antepassado de Israel, e Esaú, antepassado de Edom, são irmãos. Talvez o culto para adoração de Yahweh foi introduzido em Israel pelos edomitas ou por semi-nômades dessas áreas desérticas. Madiã aparece também como indício das origens do culto yahwista (Êx 2-4), mas a discussão sobre esse tema na pesquisa bíblica ainda carece de consenso22;

Yahweh foi concebido a partir de sua entrada no panteão como um “filho de El”, assim como outros deuses cananeus. Dt 32, 8-9 testemunha nossa afirmação: Quando Elyon repartia a herança para as nações e quando espalhava os filhos de Adão, ele estabeleceu os territórios dos povos, conforme o

número dos filhos de El. Mas a parte de Yahweh foi o seu povo, o lote de sua herança foi Jacó.

O texto é claro: Elyon, epíteto de El, reparte as nações soberanamente para seus filhos divinos. Para o seu filho Yahweh, El reserva Israel.

Outros textos na Bíblia Hebraica demonstram a influência de El no culto do antigo Israel. Relatos estes que mostram que os antepassados dos israelitas foram adoradores de El. Êxodo 6, 2-3 afirma categoricamente:

Deus falou a Moisés e lhe disse: “Eu sou Yahweh. Apareci a Abraão,

a Isaque e a Jacó como El Shaday; mas meu nome, Yahweh, não lhes

fiz conhecer”.

Os autores dessa narrativa estão conscientes de que os patriarcas foram adoradores de outras divindades cananeias. O patriarca Abraão aparece diversas vezes conversando com El shaday23. Jacó em Gn 28,10-22 erige um altar de nome Betel que significa literalmente “casa do deus El”. Esse altar, posteriormente na monarquia israelita, vai se transformar em altar de Yahweh pelo rei Jeroboão I (I Reis 12,26-33). Jeroboão I reinou em 931-909 AEC e foi o primeiro rei de Israel após a separação dos reinos, tornando-se independentes dois reinados, o lado norte, Israel, e o lado sul, Judá24.

O reino unido das 12 tribos de Israel debaixo de uma única monarquia está cada vez mais sendo contestada na pesquisa atual do antigo Israel. Não temos condições nesse artigo de discutir a complexidade do debate. Sugiro a leitura de: LIVERANI, 2008, p. 375-388.

 

"Teologias do Antigo Testamento: Pluralidade e Sincretismo da Fé em

Deus no Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal/CEBI, 2007, p. 169-185."

 

Provavelmente, as tradições de El e Yahweh vão se fundir paulatinamente e essas divindades serão entendidas como uma só. Baal aparece muitas vezes nas páginas da Bíblia Hebraica. Por ser um deus da tempestade e deus guerreiro competiu com Yahweh por essas atribuições no culto

praticado pelos antigos israelitas e judaitas. Nos relatos do personagem Elias,

principalmente encontrados nos capítulos de I Reis 18, 20-40, narra-se um terrível confronto entre o profeta de Yahweh e os profetas de Baal. Coloca-se diante do leitor ou do ouvinte algumas questões: quem é deus de verdade? Quem é o verdadeiro deus da tempestade? Os relatos terminam com a vitória do deus Yahweh e a consequente morte de todos os profetas de Baal e posteriormente (II Reis 9,30-37) da rainha fenícia Jesabel, esposa do rei Acab (873-852 AEC) que casou com Jesabel para fortalecer laços políticos com os fenícios e que gerou uma maior influência do culto da divindade

cananeia no reino do norte.

Alguns salmos poderiam ter sido compostos, em um primeiro momento, em louvor a Baal antes de se tornar um salmo yahwista. O Salmo 29 louva Yahweh do seguinte modo: Tributai a Yahweh, ó filhos de Deus, tributai a Yahweh glória e poder, tributai a Yahweh a glória ao seu nome, adorai a Yahweh no seu esplendor sagrado. A voz de Yahweh sobre as águas, o Deus glorioso troveja, Yahweh sobre as águas torrenciais. A voz de Yahweh com a força, a voz de Yahweh no esplendor!

Os atributos de Yahweh são os mesmos de Baal em Ugarit. Ele é adorado como deus da tempestade e da ordem que, com seu domínio, controla as forças caóticas. Desse modo, o salmista está em aberta polêmica contra o culto de Baal, afirmando nesse cântico que Yahweh é o deus da tempestade e domina as forças ameaçadoras do caos, não Baal.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ugarit foi uma cidade cosmopolita que considerava de suma importância a religião e os cultos de diversas divindades. Cada divindade tinha uma função clara para a vida das pessoas comuns e da casa real. Existiam deuses e deusas legitimadoras da monarquia e deidades que participavam do dia-a-dia das pessoas provendo a fertilidade da agricultura, proteção contra doenças, etc.

Israel surgiu posteriormente quando Ugarit já estava destruída. Mesmo assim, divindades cananeias continuaram a ocupar espaço nessa nova entidade territorial, como verificamos ao mencionar duas delas, El e Baal. Israel e Judá participaram da grande cultura do Antigo Oriente Próximo, adotando diversas divindades em seus diversos lugares de culto, inclusive no templo de Jerusalém (II Reis 23, 4-27). Posteriormente, entre os séculos V/IV AEC, essas divindades foram substituídas definitivamente por Yahweh.

 

Referências

GERSTENBERGER, Erhard S. Teologias do Antigo Testamento: Pluralidade e

Sincretismo da Fé em Deus no Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal/CEBI,

2007.

HANDY, Lowel K. Dissenting Deities or Obedient Angels:Divine Hierarchies in

Ugarit and the Bible. Biblical Research, 35, 1990.

JR. E. Theodore Mullen. The Assembly of Gods: The Divine Council in Canaanite

and Early Hebrew Literature. Michigan: Scholar Press, 1980.

LETE, Gregorio Del Olmo. Mitos y Leyendas de Canaan Segun la Tradicion de Ugarit.

Madrid: Ediciones Cristiandad, 1981.

LIVERANI, Mário. Para Além da Bíblia: História Antiga de Israel. São Paulo:

Paulus/Loyola, 2008.

MENDONÇA, Elcio Valmiro Sales de. Monte Sião, Extremidade do Safon: Estudo

da Influência da Mitologia Cananeia na Teologia de Sião à Partir da Análise

Exegética do Salmo 48. São Bernardo do Campo: Umesp, 2012.

PARDEE, Dennis. Ritual and Cult at Ugarit. (Edited by Theodore J. Lewis). Atlanta:

Society of Biblical Literature, 2002.

RAHMOUNI, Aicha. Divine Epithets in the Ugaritic Alphabetic Texts.

Leiden/Boston: Brill, 2008.

SCHNIEDEWIND, Willian M; HUNT, Joel H. A Primer on Ugarit: Language,

Culture and Literature. Cambrigde: University Press, 2007.

SMITH, Mark S. The Origins Of Biblical Monotheism: Israel Polytheistic

Background and the Ugaritic Texts. New York/Oxford: Oxford University Press,

2001.

SMITH, Mark S. The Ritual Miths of the Feast of the Goodly Gods of KTU/CAT

1.23: Royal Constructions of Opposition, Intersection, Integration and Domination

(Resources for Biblical Studies). Atlanta: Society of Biblical Literature, (nº 51), 2006.

SMITH, Mark S; PITARD, Wayne T. The Ugaritic Baal Cycle: Introduction With

Text, Translation and Commentary of KTU/CAT 1.3-1.4 (Vol. II). Supplements to

Vetus Testamentum: Leiden/Boston, 2009.

SMITH, Mark, S. O Memorial de Deus: História, Memória e a Experiência do

Divino no Antigo Israel. São Paulo: Paulus, 2006.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

XAMANISMO

 


O Xamanismo é o sacerdote e líder religioso que faz contato com o mundo do invisível, é o sacerdote de uma religião, no mundo antigo, nos primórdios da humanidade, quando ainda na pré-história, no período paleolítico, quando surge o que chamamos de animismo, houve um pequeno grupo de pessoas que começou a se interessar por estes eventos inexplicáveis, estes, de uma certa forma, começaram a estudar (se é que podemos dizer isto) estas coisas que não se conheciam, por vários motivos e maneira, por tentativas e erros, estes observadores sobrenaturais começaram a criar formas e maneiras de se fazer ou cultuar o animismo e logo depois o totenismo, estes sacerdotes eram os Xamãs destas religiões primitivas.

Estes xamãs atuavam como sacerdotes e profetas, e, ao mesmo tempo, estes também eram curandeiros (médicos), advindos, filósofos, professores, estrategistas militares, advogados, juízes, contadores de histórias (historiadores) escribas (quando nasce a escrita), matemáticos, astrólogos, astrônomos, geômetras, geógrafos (ou cientistas), etc. 

No passado, um xamã ou sacerdote era um ser dotado de um vasto conhecimento, isto não era somente para a época, como também para agora, pois os xamãs dos dias atuais em sua grande maioria são burros, idiotas, lesos, imbecis e estúpidos.


TOTENISMO

 


O Totenismo é o Animismo mais objetivado, ou simbólico, neste caso, é uma forma de adorar uma coisa mais específica, seia portanto a adoração direta a um animal (seja ele vivo ou morto), pedra ou montanha, planta, árvore, água (rios, lagos, mares, nascentes), sol, lua, nuvem, ou mesmo uma pessoa (seja ela viva ou morta) e etc.

O totenismo é um Totem que é adorado, reverenciado, idolatrado e cultuado, por uma ou mais pessoas de uma comunidade. Com o tempo o ser humano começou a esculpir estes objetos ou totens para que fossem uma representação mais fidedígna de sua adoração animista. As primeiras esculturas feitas pelos homens pré-históricos foram os propulsores do sucesso do animismo totenista que facilitou a organização e controle da sociedade pré-histórica, pois os deuses ou entidades invisíveis poderosas, para eles, estavam mais perto dos mortais.

O totenismo nasce quase junto com o animismo, na primeira fase da religião pré-histórica, as coisas, fenômenos naturais, objetos, pessoas e animais, tinham vida ou ânimo, mas não havia uma representação simbólica, não eram ídolos, por assim dizer. Mas não demorou muito, pois logo, estes começaram a serem sibolizados, e foram transformados em ídolos ou totens por seus seguidores.

Todo ídolo ou símbolo que é adorado por uma pessoa ou comunidade é um totem, digamos que o totenismo animista ou que o animismo totenista está muito forte nos dias atuais.


ANIMISMO

 


A religião é um sistema conceitual muito antigo, basicamente, a religião existe desde quando o ser humano anda na terra. Ainda na pré-história a religião vem acompanhando o homem desde então.

No princípio das coisas, os seres humanos, observando a natureza em seu redor, começou a se relacionar de uma certa forma com a natureza.

Havia também algumas questões que chocavam muito os primeiros seres humanos, que eram os eventos de nascimentos, mortes, envelhecimentos (o que raramente ocorria) e as doenças, onde pessoas eram curadas ou morriam por conta destas doenças. 

Para os primeiros seres humanos, os fenômenos eram, para eles, manifestações de seres enigmáticos e incompreensíveis, que eles mortais não tinham acesso ou conhecimento. 

O ser humano pré-histórico procurava saber o que causava tudo isso, eles obviamente não tinham uma explicação, mas é certo que alguma coisa estava acontecendo, pois, para estes, seres invisíveis regiam suas vidas desde o nascimento, até a morte, como também, regiam a natureza.

Os primeiros seres humanos acreditavam que estas coisas invisíveis se manifestavam no trovão, relâmpago, chuva, terremoto, vulcão, eles também acreditavam que estes seres poderosos mexiam, por assim dizer, com o dia e noite, ou seja, eles eram o dia e noite, estas entidades comandavam ou eram o próprio sol, lua, céu, etc. Estes personagens poderosos e enigmáticos faziam as pessoas nascer e morrer, e em alguns casos, envelhecer (o que era muito raro).

No caso de pessoas mortas, estas, de alguma forma continuavam entre os vivos, sendo agora reverenciadas e respeitadas, seus conselhos ditos em vida, viravam ordenanças, leis e decretos, pois esta agora, pertence ao mundo do invisível, se juntando com estas criaturas ocultas, que comandavam, ou animavam o mundo em que viviam.

Estas manifestações que eram sobrenaturais para o ser humano pré-histórico, eram entendidos por eles que estas coisas ou seres, de alguma forma, animavam a natureza e pessoas (vivas ou mortas) e tudo que tem ânimo para eles eram manifestações auspiciosas que poderiam trazer situações ou períodos de malfazejos ou de benfazejo, trazendo-lhes sorte ou azar, maldições ou bençãos.

Como estes objetos ou fenômenos eram 'animados' por estas entidades, chamamos este período religioso de Animismo. E é justamente também que vem daí o significado da palavra Animal, pois é animal ou animismo seres, coisas, elementos e objetos que tem ânimo, mas que não se explica ou que se compreenda.

Isto quer dizer que tais seres, coisas, elementos e objetos para eles tinham ânimo, ou seja, tinham espírito, alma, movimento (trovão, relâmpago, águas dos rios e mares, etc.) mas que não tinham consciência, não tinham pensamento e se tivessem, o ser humano pré-histórico, não compreendia, não entendia.

Assim como uma animal (cachorro, gato, leão, etc.) tem vida, ou seja, ânimo, mas não tem consciência, e seus sons ou vozes, são entendidos por sua própria espécie, mas não por nós, seres humanos.

 


domingo, 4 de fevereiro de 2024

O MITO DE EVA

 




Foi Adão quem deu o nome da mulher de Eva: “E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes. Gênesis 3:20

Eva surge em Gênesis 02: 22. No mito adâmico, os clérigos medievais taxaram Eva como a mulher responsável por Adam (Adão) ter perdido sua imortalidade e a sua inocência. É justamente, isso que o Mito de Gilgamesh, exemplifica. Inicialmente, os deuses criam Enkidu, do barro, como um valoroso guerreiro, que falava, comia e vivia junto com os animais nas florestas. Ele destruía armadilhas dos caçadores.

Ele era inocente a respeito do homem e nada conhecia do cultivo da terra. Enkidu comia grama nas colinas junto com as gazelas e rondava os poços de água com os animais da floresta; junto com os rebanhos de animais de caça, ele se alegrava com a água.

Os caçadores foram para Uruk e reclamaram com Gilgamesh, que Enkidu estava atrapalhando a caça. E Gilgamesh, colocou uma mulher do Templo de Ishtar “desnuda” chamada: Shamhat para seduzi-lo e fazer sexo com ele. E, durante seis dias e seis noites eles fizeram sexo. Quando terminaram, Enkidu tentou voltar a sua antiga rotina, entre os animais da floresta. Mas, os animais começaram a fugir dele. Moral da estória, Enkidu culpou a mulher por ter perdido sua inocência.

[…] depois de satisfeito, porém, ele voltou para os animais selvagens. Mas agora, ao vê-lo, as gazelas punham-se em disparada; as criaturas agrestes fugiam quando elas se aproximavam. Enkidu queria segui-las, mas seu corpo parecia estar preso por uma corda, seus joelhos fraquejaram quando tentava correr, ele perdera sua rapidez e agilidade. E todas as criaturas da selva fugiram; Enkidu perdera sua força, pois agora tinha o conhecimento dentro de si, e os pensamentos do homem ocupavam seu coração. Então ele voltou e sentou-se ao pé da mulher, e escutou com atenção o que ela lhe disse: “És sábio, Enkidu, e agora te tornaste semelhante a um deus. Por que queres ficar correndo à solta nas colinas com as feras do mato? Vem comigo. Vem e te levarei à Uruk das poderosas muralhas, ao abençoado templo de Ishtar do amor e Anu do céu; lá vive Gilgamesh, que é forte, e como um touro selvagem domina e governa os homens.

No texto, Enkidu ao ter contato sexual com Shamhat perdeu suas características, e a moça lhe disse: “que agora estava semelhante aos deuses” é a mesma descrição, que encontramos em Gênesis 03: 22, quando o casal: Adão e Eva comem do fruto proibido.

Isso quer dizer que graças à mulher, Enkidu ao perder sua identidade, da mesma forma que aconteceu com Adam (Adão). No mito grego, a 1ª mulher humana criada pelos deuses foi Pandora. Ela era bela, como Afrodite, inteligente e curiosa. Diz à lenda que Pandora, e sua “intensa curiosidade”, mexeu numa caixa que Epimeteu guardava e ao abri-la liberou as mazelas, doenças e a maldade, que se alastram pelo mundo afora. Resumindo, na Antiguidade, as mulheres eram consideradas cidadãs de segunda classe, sem direitos iguais aos homens e, além disso, eram acusadas religiosamente, de trazer o mal para a sociedade.

Na sociedade da Antiga Mesopotâmia e na região de Canaã, as mulheres tinham certas proibições, como: não sair à rua desacompanhada, ficar confinadas numa sessão reservada às mulheres, no Templo. Caso a mulher esteja menstruada era proibida por lei ir ao Templo para fazer seu sacrifício (Levítico 15: 19-24). Existia certa obrigatoriedade do uso do véu (até hoje é seguida). Havia convenções sociais que impunham mais deveres do que direitos para as mulheres.

Eva é também tida como uma personagem que é uma inspiração de uma deusa Sumeriana chamada Nin-Ti, deusa da Vida e deusa patrona da cidade de Lagash, seu nome quer dizer "senhora da vida"

Na mitologia Sumeriana Nin-ti, é responsável por curar a costela de Enki.

No mito o guloso deus Enki  “Senhor da Terra” comeu 8 plantas proibidas do Dilmun. Após o desvio, 8 pragas foram lançadas nos órgãos de Enki. Então foram criadas 8 divindades para consertar o deus que, doente, agonizava. Entre elas estava Nin-ti, responsável por curar a costela de Enki.

Nin-ti, literalmente significa “a dama da costela”. Contudo, segundo Kramer, Nin-ti também ficou conhecida na Mesopotâmia como “A dama que traz a vida”, porque a palavra Ti, em sumério, significa “costela” e também “trazer a vida”.

De acordo com Kramer, é por isso que os autores da Bíblia escolheram a costela de Adão para modelar Eva, ao invés de outra parte do corpo: porque Eva foi a primeira a mãe, “aquela que traz a vida”, e, da mesma forma, Adão deu a existência para Eva, através de sua Ti ou costela.