Seguidores

domingo, 22 de janeiro de 2023

A DESCIDA DE INANA AO INFERNO - VERSÃO ACADIANA


Esta versão teve dois manuscritos encontrados na Biblioteca de Assurbanipal e um terceiro foi encontrado em Assur, todos datando da primeira metade do primeiro milênio antes da era comum. Da versão ninivita, a primeira versão em cuneiforme foi publicadda em 1873 por François Lenormant e a transliterada foi publicada por Peter Jensen em 1901. Seu título em acádio é Ana Kurnugê, qaqqari la târi.

A
versão acadiana começa com Istar se aproximando dos portões do submundo e exigindo que o porteiro a deixe entrar:

Se você não abrir o portão para que eu entre,

Esmagarei a porta e quebrarei o ferrolho,

Esmagarei o batente e derrubarei as portas,

Ressuscitarei os mortos, que comerão os vivos:

E os mortos serão mais numerosos que os vivos!

O porteiro (cujo nome não é dado na versão acadiana) se apressa em contar a Eresquigal a chegada de Istar. Eresquigal ordena que ele deixe Istar entrar, mas diz a ele para "tratá-la de acordo com os ritos antigos". O porteiro permite a entrada de Istar no submundo, abrindo um portão de cada vez. Em cada portão, Istar é forçada a deixar uma peça de roupa. Quando ela finalmente passa pelo sétimo portão, ela está nua. Com raiva, Istar se joga contra Eresquigal, mas Eresquigal ordena que seu servo Nantar prenda Istar e desencadeie sessenta doenças contra ela.

Depois que Istar desce ao submundo, toda atividade sexual cessa na terra. O deus Papsucal, o homólogo acadiano de Ninsubur, relata a situação a Ea, o deus da sabedoria e da cultura. Ea cria um ser andrógeno chamado Asusunamir e o envia a Eresquigal, dizendo-lhe para invocar "o nome dos grandes deuses" contra ela e pedir a bolsa que contém a água da vida. Eresquigal fica furiosa quando ouve a demanda de Asusunamir, mas é forçada a dar-lhe a água da vida. Asusunamir borrifa Istar com esta água, revivendo-a. Istar atravessa os sete portões mais uma vez, recebendo uma peça de roupa em cada portão e saindo do portão final vestida.

Diane Wolkstein interpreta o mito como uma união entre Inana e seu próprio "lado sombrio": sua irmã gêmea, Eresquigal. Quando Inana ascende do submundo, é através dos poderes de Eresquigal, mas, enquanto Inana está no submundo, é Eresquigal quem aparentemente assume os poderes da fertilidade. O poema termina com uma linha de louvor, não de Inana, mas de Eresquigal. Wolkstein interpreta a narrativa como um poema de louvor dedicado aos aspectos mais negativos do domínio de Inana, simbólico de uma aceitação da necessidade da morte, a fim de facilitar a continuidade da vida. Joseph Campbell interpreta o mito como sendo sobre o poder psicológico de uma descida ao inconsciente, a realização da própria força através de um episódio de aparente impotência e a aceitação das próprias qualidades negativas.


Referência:

Black, Jeremy A.; Green, Anthony (1992). Gods, Demons and Symbols of Ancient Mesopotamia: An Illustrated Dictionary (em inglês). [S.l.]: British Museum Press

 Leick, Dr Gwendolyn (11 de setembro de 2002). A Dictionary of Ancient Near Eastern Mythology (em inglês). [S.l.]: Routledge. ISBN 978-1-134-64103-1

 Spalding 1973, p. 117.

 «Sumerian dictionary». oracc.iaas.upenn.edu

 Heffron 2016.

 Wolkstein, Diane. (1984). Inanna : queen of heaven and earth : her stories and hymns from Sumer (em inglês). [S.l.]: Rider. ISBN 0-09-158181-8. OCLC 11481523

 Halman, Talat Sait; Ayhan, Ece; Nemet-Nejat, Murat (1998). «The Blind Cat Black and Orthodoxies». World Literature Today. 72 (1). 199 páginas. ISSN 0196-3570. doi:10.2307/40153711

 Penglase, Charles, 1956- author. Greek myths and Mesopotamia : parallels and influence in the Homeric hymns and Hesiod. [S.l.: s.n.] ISBN 1-138-15015-0. OCLC 957597879

 Black, Jeremy. Cunningham, Graham; Flückiger-Hawker, Esther; Taylor, Jon; Zólyomi, Gábor, eds. «The Electronic Text Corpus of Sumerian Literature: Inana and Ebih: translation». etcsl.orinst.ox.ac.uk (em english). Universidade de Oxford. Consultado em 31 de dezembro de 2020

 «Inanna's Descent: A Sumerian Tale of Injustice». Ancient History Encyclopedia. Consultado em 11 de março de 2020

 Collins, Paul (15 de novembro de 1994). «The Sumerian Goddess Inanna (3400-2200 BC)». Papers from the Institute of Archaeology. 5. 103 páginas. ISSN 2041-9015. doi:10.5334/pia.57

 Harris, Rivkah. (2003). Gender and aging in Mesopotamia : the Gilgamesh epic and other ancient literature. [S.l.]: University of Oklahoma Press. ISBN 0-8061-3539-5. OCLC 53403698

 «Inanna/Ishtar». Berlin/Heidelberg: Springer-Verlag. SpringerReference

 Rubio, Gonzalo (1999). «On the Alleged "Pre-Sumerian Substratum"». Journal of Cuneiform Studies. 51 (1): 1–16. ISSN 0022-0256. doi:10.2307/1359726

 Kramer, Samuel Noah, 1897-1990. (1997). Sumerian mythology : a study of spiritual and literary achievement in the third millennium B.C. Rev. ed ed. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. OCLC 44965646

 «Inana's descent to the nether world: translation»

 Brandão 2019, p. 19.

 Dalley, Stephanie (1989). Myths from Mesopotamia : creation, the flood, Gilgamesh, and others (em inglês). Mazal Holocaust Collection. [S.l.]: Oxford University Press. OCLC 21909463

 «Ancient Mesopotamian Beliefs in the Afterlife»

 Draffkorn Kilmer, Anne. (1971). How was queen Ereshkigal tricked? : a new interpretation of the descent of Ishtar. [S.l.]: Butzon & Bercker. OCLC 963548319

 Tinney, Steve (2018). «"Dumuzi's Dream" Revisited». Journal of Near Eastern Studies. 77 (1): 85–89. ISSN 0022-2968. doi:10.1086/696146

 Brandão 2019, p. 11.

 Brandão 2019, p. 13.

 Bertman, Stephen. (2005). Handbook to life in ancient Mesopotamia. [S.l.]: Oxford University Press. OCLC 57316773

 Campbell, Joseph; Joseph Campbell Foundation (2008). The hero with a thousand faces (em inglês). [S.l.: s.n.] OCLC 224442464

 George, A. R. The epic of Gilgamesh : the Babylonian epic poem and other texts in Akkadian and Sumerian. London: [s.n.] OCLC 52574142

 Felipe, Cleber Vinicius do Amaral (30 de julho de 2019). «Ele que o abismo viu: a epopeia de Gilgámesh». Revista Territórios e Fronteiras (1). 373 páginas. ISSN 1984-9036. doi:10.22228/rt-f.v12i1.876. Consultado em 31 de dezembro de 2020

 Fontenrose, Joseph Eddy, 1903-1988. (1959). Python : a study of Delphic myth and its origins. Berkeley: University of California Press. OCLC 6938453

 Puhvel, Jaan. (1987). Comparative mythology (em inglês). Baltimore: Johns Hopkins University Press. p. 25. OCLC 14167890

 Puhvel, Jaan. (1987). Comparative mythology (em inglês). Baltimore: Johns Hopkins University Press. p. 27. OCLC 14167890

 Güterbock, Hans Gustav (1 de janeiro de 2002). Recent Developments in Hittite Archaeology and History: Papers in Memory of Hans G. Güterbock (em inglês). [S.l.]: Eisenbrauns. p. 29

 Westenholz, Joan Goodnick, 1943-2013. (1997). Legends of the kings of Akkade : the texts (em inglês). Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns. pp. 33–49. OCLC 747412056

 Spence, Lewis; Paul, Evelyn (15 de março de 2014). Myths & Legends of Babylonia & Assyria. [S.l.: s.n.]

 Dunwich, Gerina (27 de novembro de 2018). «January». The Wicca Book of Days: Legend and Lore for Every Day of the Year (em inglês). [S.l.]: Citadel Press. ASIN B07K5YFGPC

 LeFae, Phoenix; Parma, Gede (8 de outubro de 2019). «12: The Wheel of the Year». What Is Remembered Lives: Developing Relationships with Deities, Ancestors & the Fae (em inglês). [S.l.]: Llewellyn Worldwide. ASIN B07MY93KM5. ISBN 978-0738761114

 Pryke, Louise M. (14 de julho de 2017). Ishtar (em inglês). [S.l.]: Routledge. p. 196-197. ISBN 978-1-138-86073-5

 Nomis, Anne O. (2013). The History and Arts of the Dominatrix (em inglês). [S.l.]: Mary Egan Publishing & Anna Nomis Ltd. p. 53. ISBN 978-0-992701-0-00

 Fonrouge, Gabrielle (22 de março de 2018). «This vital part of BDSM is a lot less sexy than you'd think». New York Post (em inglês)

Spalding, Tassilo Orpheu. Dicionário das mitologias europeias e orientais. São Paulo: Cultrix

Ao Kurnugu, Terra sem Retorno. Traduzido por Jacyntho Lins Brandão. Curitiba: Kotter Editorial. 2019. 208 páginas. ISBN 978-65-80103-41-6


Nenhum comentário:

Postar um comentário