No mito bíblico de gênesis, temos os quatro rios sagrados saindo do Éden (Paraíso)
♦ O nome do primeiro é Pisom; este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro. E o ouro dessa terra é bom; ali há o bdélio, e a pedra sardônica.
Gênesis 2:11,12
♦ E o nome do segundo rio é Giom; este é o que rodeia toda a terra de Cuxe
Gênesis 2:13
♦ E o nome do terceiro rio é Hidequel ou Tigre; este é o que vai para o lado oriental da Assíria; e o
Gênesis 2:14
♦ E o quarto quarto rio é o Eufrates. Gênesis 2:14
No mito original Sumério, que é o Mito de Enk e Nin Hur Sag, temos também quatro rios sagrados de Dilmum (Paraíso).
Enki chamou seu sobrinho Utu, o deus do sol e radiante luz do dia. Juntos, eles fizeram surgir uma fonte das profundezas da terra, e esta fonte irrigou toda a superfície do solo.
E mais. Ao verem que esta tinha sido uma boa obra, Enki e Utu disciplinaram os cursos d’água para rodear Dilmun e fluir em todas as direções rumo ao Mundo Físico. Ajudado pelo energético deus Sol, Enki projetou bacias e cisternas para armazenar as águas a serem usadas para outras necessidades. E destes reservatórios que fluíam para o Mundo Físico brotaram as águas dos Quatro Rios Sagrados da Antigüidade Clássica, dentre eles o Giom, Pisom, Tigre e o Eufrates. Com as graças e o trabalho de Enki e Utu, Dilmun foi abençoada com superioridade na produção agrícola e no comércio, pois por seus canais, rios e docas, cereais eram vendidos e negociados para o povo de Dilmun e de além de suas fronteiras.
Ninhursag mal coube em si de contente ao ver a terra sendo tocada pelo poder fertilizador das águas e da força de vida do sol.
A literatura criada pelos Sumérios deixou profunda impressão nos hebreus, e um dos aspectos mais fascinantes de reconstruir mitos e poemas épicos mesopotâmicos consiste em traçar as semelhanças, oposições e paralelos entre as criações hebraicas e sumérias. Deve-se salientar que ‘os sumérios não poderiam ter influenciado diretamente os hebreus, pois haviam como povo deixado de existir muito antes dos povos hebreus começarem a existir. Mas há muito poucas dúvidas de que os sumérios influenciaram profundamente os cananeus, que precederam os hebreus na terra hoje conhecida como a Palestina" (Kramer, Samuel Noah, History Begins at Sumer,1981:142).
Algumas comparações com o relato do Paraíso e de Adão e Eva da Bíblia podem ser feitas com o presente mito: 1) a idéia de um paraíso divino, o jardim dos deuses, é de origem suméria, e era conhecido como Dilmun, a terra dos imortais, situada a sudoeste da Pérsia. Também é neste mesmo Dilmun onde os babilônicos, ou seja, o povo semítico que conquistou os sumérios, localizaram a sua terra dos imortais.
Existem boas evidências de que o paraíso bíblico, que é descrito como um jardim situado ao Leste do Éden, seja idêntico a Dilmun, e um exemplo disso é que do paraíso bíblico fluem as águas dos quatro rios importantes para a Antigüidade Clássica, inclusive o Tigre e o Eufrates. A irrigação de Dilmun feita por Enki, o deus das águas doces, das artes, mágica e sabedoria, e pelo deus Sol Utu com águas vindas do fundo da terra tem paralelo bíblico, pois no Gêneses 2:6 está escrito que "mas eis que uma névoa subiu do interior da terra e lavou toda a face do solo".
O mais notável é que este mito fornece uma explicação para um dos motivos mais intrigantes do mito de Adão e Eva da Bíblia, ou seja, a famosa passagem descrevendo a criação de Eva a partir da costela de Adão. Vejamos o que o emérito sumerologista Samuel Noah Kramer tem a nos dizer sobre isto: " Por que uma costela, ao invés de qualquer outra parte do corpo para criar a mulher cujo nome Eva, de acordo com a Bíblia, significa " aquela que faz viver "? Se olharmos para o mito sumério, vemos que Enki adoece pela maldição de Ninhursag, e que uma das partes de seu corpo que começa a morrer é a costela. A palavra suméria para costela é "ti". Para curar cada um dos órgãos enfermos de Enki, Ninhursag dá à luz a oito deusas. A deusa criada para curar a costela de Enki é chamada de ‘Nin-ti", "a Senhora da costela" [ Nin, em sumério, quer dizer dama, senhora: Nota da autora]. Mas a palavra suméria "ti" também significa "fazer viver". O nome "Nin-ti" pode, portanto, significar "a senhora que faz viver", bem como "a senhora/dama da costela". Portanto, um trocadilho literário extremamente arcaico foi levado à Bíblia e lá perpetuado, mas sem o seu sentido original, pois em hebraico a palavra para costela e para " aquela que faz viver" não têm nada em comum. Além do mais, ao invés de Adão ter dado vida à Eva, é Ninhursag que dá sua essência de vida a Enki, que então renasce dela" (Kramer, ibid. 1981:143).
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