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sábado, 27 de julho de 2024

SPENTA MAINYU - O ESPÍRITO SANTO DA RELIGIÃO ZOROASTRA




Segundo Zaratustra, Ahura Mazda criou o universo e a ordem cósmica que ele mantém. Ele criou os espíritos gêmeos Spenta Mainyu e Angra Mainyu (Ahriman ) o antigo beneficente, escolhendo a verdade, a luz e a vida; e o último destrutivo, escolhendo o engano, as trevas e a morte. A luta dos espíritos entre si constitui a história do mundo e se reflete na escolha entre o bem e o mal que a humanidade enfrenta constantemente.

No Zoroastrismo refletido no Avesta, Ahura Mazdā é identificado com Spenta Mainyu e se opõe diretamente a Angra Mainyu. Ahura Mazda é onisciente, generoso, não enganador e o criador de tudo que é bom. Os espíritos benéficos e malignos são concebidos como seres coeternos e mutuamente limitantes, um acima e outro abaixo, tendo o mundo intermediário como seu campo de batalha. Em fontes tardias (século III DC em diante), Zurvān (“Tempo”) torna-se pai dos gêmeos Ormazd e Ahriman, que reinam alternadamente sobre o mundo até a vitória final de Ormazd.

Algo dessa concepção se reflete em Maniqueísmo, no qual Deus às vezes é chamado de Zurvān, enquanto Ormazd é sua primeira emanação, o Homem Primordial, vencido pelo espírito destrutivo das trevas, mas resgatado pela segunda emanação de Deus, o Espírito Vivo.

Spenta Mainyu é o equivalente ao Espírito Santo da cristandade. Spenta Mainyu significa aproximadamente “Espírito Beneficente” na língua avéstica. Ele é a contraparte positiva de Angra Mainyu, “Espírito Nocivo”, conforme a religião avéstica. Spenta Mainyu e Angra Mainyu são dois mainyu s mais antigos, espíritos, que existem sob o nível de Ahura Mazda, “Senhor Sábio”, que conceitualmente corresponde ao Deus eterno onisciente e, na terminologia avéstica, é intitulado Mainyua Mainyo, “O Espírito acima dos espíritos”.

Spenta Mainyu é, portanto, também o mais antigo entre os grandes Heptad de espíritos positivos, amesha-spenta s ou "imortais benéficos, que servem Ahura Mazda incorporando elementos positivos dentro do mundo e administrando-o de acordo com Seus ideais em contraste com Angra Mainyu e seus companheiros negativos, daeva s ou "demônios". Cosmologicamente, Angra Mainyu poderia ser dito ser o espírito dentro do Netherworld, Spenta Mainyu o espírito dentro do Céu e Ahura Mazda, o Espírito acima dos espíritos, da Luz Infinita que ilumina as esferas celestiais que estão abaixo.

Ahura Mazda, embora Ele em pessoa esteja além desta dimensão mundana que Ele deixou vir à existência, no entanto, interfere aqui de certas maneiras. O exemplo mais típico da interferência de Ahura Mazda, além de falar com videntes ou profetas e enviar Seu corvo falante Karshiptar às pessoas, é Khvarenah, vagamente "Energia Divina", que foi produzida por Ele e enviada a este mundo para capacitar aqueles que a adquirirão. Há toda uma história avéstica de como Spenta Mainyu e Angra Mainyu e os respectivos aliados de cada um deles tentaram travar uma guerra para tomar a Energia Divina. Mas o ponto demonstrado ali é que a batalha foi em vão, pois a Energia Divina de Ahura Mazda não pode ser tomada pela força e somente os dignos podem adquiri-la.

Um dos deveres zoroastrianos é usar sua liberdade de escolha razoavelmente e alinhar-se com os espíritos positivos dentro do mundo para espalhar Asha, “Correto(s)”, e se opor aos espíritos negativos e Druj, “Errado(s)”. Mas, ao mesmo tempo, o ponto final é reconhecer O Espírito acima dos espíritos, Ahura Mazda, e se tornar ciente de que há uma força pessoal maior do que os espíritos que estão dentro do mundo.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

BREVE HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

 



Toda pesquisa de ciência é precedida pela prece. Foi, pois, com a prece que Beremiz iniciou: 

— Em nome de Alá, Clemente e Misericordioso! Louvado seja o Onipotente criador de todos os mundos! A misericórdia é em Deus o atributo supremo! Nós Te adoramos, Senhor, e imploramos a Tua assistência! Conduze-nos pelo caminho certo! Pelo caminho dos esclarecidos e abençoados por Ti. 

Finda a prece, o calculista assim falou: — Quando olhamos, senhora, para o céu em noite calma e límpida, sentimos que a nossa inteligência é franzina para conceber a obra maravilhosa do Criador. Diante dos nossos olhos pasmados, as estrelas são uma caravana luminosa a desfilar pelo deserto insondável do infinito, as nebulosas imensas e os planetas rolam, segundo leis eternas, pelos abismos do espaço! Uma noção, entretanto, surge logo, bem nítida, em nosso espírito: a noção de número. Viveu outrora, na Grécia, quando esse país era dominado pelo paganismo, um filósofo notável chamado Pitágoras (Alá, porém, é mais sábio!). 

Consultado por um discípulo sobre as forças dominantes dos destinos dos homens, o grande sábio respondeu:“Os números governam o mundo!”Realmente. O pensamento mais simples não pode ser formulado sem nele se envolver, sob múltiplos aspectos, o conceito fundamental do número. O beduíno que no meio do deserto, no momento da prece, murmura o nome de Deus tem o espírito dominado por um número: a Unidade! Sim, Deus, segundo a verdade expressa nas páginas do Livro Santo e repetida pelos lábios do Profeta, é Um, Eterno e Imutável! Logo, o número aparece no quadro da nossa inteligência como o símbolo do Criador. 

Do número, senhora, que é a base da razão e do entendimento, surge outra noção de indiscutível importância: é a noção de medida. Medir, senhora, é comparar. Só são, entretanto, suscetíveis de medida as grandezas que admitem um elemento como base de comparação. Será possível medir-se a extensão do espaço? De modo nenhum. O espaço é infinito, e sendo assim, não admite termo de comparação. Será possível avaliar a Eternidade? 

De modo nenhum. Dentro das possibilidades humanas o tempo é sempre infinito, e no cálculo da Eternidade não pode o efêmero servir de unidade a avaliações. Em muitos casos, entretanto, ser-nos-á possível representar uma grandeza que não se adapta aos sistemas de medidas por outra que pode ser avaliada com segurança e vigor. Essa permuta de grandeza, visando a simplificar os processos de medida, constitui o objeto principal de uma ciência que os homens denominam Matemática.  Para atingir o seu objetivo, precisa a Matemática estudar os números, suas propriedades e transformações. Nessa parte ela toma o nome de Aritmética. 

Conhecidos os números é possível aplicá-los na avaliação das grandezas que variam ou que são desconhecidas, mas que se apresentam expressas por meio de relações e fórmulas. Temos assim a Álgebra. Os valores que medimos no campo da realidade são representados por corpos materiais ou por símbolos; em qualquer caso, entretanto, esses corpos ou símbolos são dotados de três atributos: forma, tamanho e posição. Importa, pois, que estudemos tais atributos. E esse estudo vai constituir o objeto da Geometria. Interessa-se, ainda, a Matemática, pelas leis que regem os movimentos e as forças, leis que vão aparecer na admirável ciência que se denomina Mecânica. 

A Matemática põe todos os seus preciosos recursos a serviço de uma ciência que eleva a alma e engrandece o homem. Essa ciência é a Astronomia. Falam alguns nas Ciências Matemáticas, como se a Aritmética, a Álgebra e a Geometria formassem partes inteiramente distintas. Puro engano! Todas se auxiliam mutuamente, se apoiam umas nas outras e, em certos pontos, se confundem. A Matemática, senhora, que ensina o homem a ser simples e modesto, é a base de todas as ciências e de todas as artes. 


Um episódio ocorrido com o famoso monarca iemenita é bastante expressivo. Vou narrá-lo. Asad-Abu-Carib, rei do Iêmen, ao repousar, certa vez, na larga varanda de seu palácio, sonhou que encontrara sete jovens que caminhavam por uma estrada. Em certo momento, vencidas pela fadiga e pela sede, as jovens pararam sob o sol causticante do deserto. Surgiu, nesse momento, uma famosa princesa que se aproximou das peregrinas, trazendo-lhes um grande cântaro cheio de água pura e fresca. A bondosa princesa saciou a sede que torturava as jovens e estas, reanimadas, puderam reiniciar a jornada interrompida. Ao despertar, impressionado com esse inexplicável sonho, determinou Asad-Abu-Carib viesse à sua presença um astrólogo famoso, chamado Sanib, e consultou-o sobre a significação daquela cena a que ele — rei poderoso e justo — assistira no mundo das Visões e Fantasias. Disse Sanib, o astrólogo: “Senhor! As sete jovens que caminhavam pela estrada eram as artes divinas e as ciências humanas: a Pintura, a Música, a Escultura, a Arquitetura, a Retórica, a Dialética e a Filosofia. A princesa prestativa que as socorreu simboliza a grande e prodigiosa Matemática.” “Sem o auxílio da Matemática — prosseguiu o sábio — as artes não podem progredir e todas as outras ciências perecem.” Impressionado com tais palavras, determinou o rei que se organizassem em todas as cidades, oásis e aldeias do país centros de estudo de Matemática. Hábeis e eloquentes ulemás, por ordem do soberano, iam aos bazares e caravançarás lecionar Aritmética aos caravaneiros e beduínos. Ao termo de poucos meses, verificou que o país era agitado por um surto de incomparável prosperidade. Paralelamente ao progresso da ciência, cresciam os recursos materiais; as escolas viviam repletas; o comércio desenvolvia-se de maneira prodigiosa; multiplicavam-se as obras de arte; erguiam-se monumentos; as cidades viviam repletas de ricos forasteiros e curiosos. O país do Iêmen teria aberto as portas do Progresso e da Riqueza se não viesse a fatalidade (Maktub!) pôr termo àquele fervilhar de trabalho e prosperidade. O rei Asad-AbuCarib cerrou os olhos para o mundo e foi levado pelo impiedoso Asrail 8 para o céu de Alá. A morte do soberano fez abrir dois túmulos: um deles acolheu o corpo do glorioso monarca e ao outro foi atirada a cultura científica do povo. Subiu ao trono um príncipe vaidoso, indolente e de acanhados dotes intelectuais. Preocupavam-no mais os divertimentos do que os problemas administrativos do país. Poucos meses decorridos, todos os serviços públicos estavam desorganizados, as escolas fechadas e os artistas e ulemás forçados a fugir sob a ameaça dos perversos e ladrões. O tesouro público foi criminosamente dilapidado em ociosos festins e desenfreados banquetes. E o país, levado à ruína pelo desgoverno, foi atacado por inimigos ambiciosos e facilmente vencido. A história de Asad-Abu-Carib, senhora, vem provar que o progresso de um povo se acha ligado ao desenvolvimento dos estudos matemáticos. No Universo tudo é número e medida. A Unidade, símbolo do Criador, é o princípio de todas as coisas, que não existem senão em virtude das imutáveis proporções e relações numéricas. Todos os grandes enigmas da vida podem ser reduzidos a simples combinações de elementos variáveis ou constantes, conhecidos ou incógnitos. Para que possamos compreender a Ciência, precisamos tomar por base o número. Vejamos como estudá-lo, com a ajuda de Alá, Clemente e Misericordioso! — Uassalã! Com essas palavras calou-se o calculista, dando por finda a sua primeira aula de Matemática. Ouvimos, então, com agradável surpresa, a aluna, que o reposteiro tornava invisível, pronunciar a seguinte prece. — Ó Deus Onipotente, Criador do Céu e da Terra, perdoa a pobreza, a pequenez, a puerilidade de nossos corações. Não escutes as nossas palavras, mas sim os nossos gemidos inexprimíveis; não atendas às nossas petições, mas ao clamor de nossas necessidades. Quanta vez pedimos aquilo que possuímos e deixamos desaproveitado! Quanta vez sonhamos possuir aquilo que nunca poderá ser nosso! Ó Deus, nós Te agradecemos por este mundo, nosso grande lar; por sua vastidão e riqueza, e pela vida multiforme que nele estua e de que todos fazemos parte. Louvamos-Te pelo esplendor do céu azul e pela brisa da tarde, e pelas nuvens rápidas e pelas constelações nas alturas. Louvamos-Te pelos oceanos imensos, pela água corrente, pelas montanhas eternas, pelas árvores frondosas e pela relva macia em que os nossos pés repousam. Nós Te agradecemos os múltiplos encantos com que podemos sentir, em nossa alma, as belezas da Vida e do Amor! Ó Deus, Clemente e Misericordioso, perdoa a pobreza, a pequenez, a puerilidade de nossos corações.


Trecho do livro: O Homem que Calculava 

Autor: Malba Tahan

A LENDA DO JOGO DE XADREZ

 


Difícil será descobrir, dada a incerteza dos documentos antigos, a época precisa em que viveu e reinou na Índia um príncipe chamado Iadava, senhor da província da Taligana. Seria, porém, injusto ocultar que o nome desse monarca vem sendo apontado por vários historiadores hindus, como dos soberanos mais ricos e generosos de seu tempo.

A guerra, com o cortejo fatal de suas calamidades, muito amargou a existência do rei Iadava, transmutando-lhe o ócio e gozo da realeza nas mais inquietantes atribulações. Adstrito ao dever, que lhe impunha a coroa, de zelar pela tranquilidade de seus súditos, viu-se o nosso bom e generoso monarca forçado a empunhar a espada para repelir, a frente de pequeno exército, um ataque insólito e brutal do aventureiro Varangul, que se dizia príncipe de Caliã.

O choque violento das forças rivais juncou de mortos os campos de Dacsina e tingiu de sangue as águas sagradas do Rio Sandhu. O rei Iadava possuía – pelo que nos revela a crítica dos historiadores – invulgar talento para a arte militar; sereno em face da invasão iminente, elaborou um plano de batalha, e tão hábil e feliz foi em executá-lo, que logrou vencer e aniquilar por completo os pérfidos perturbadores da paz do seu reino.

O triunfo sobre os fanáticos de Varangul custou-lhe, infelizmente, pesados sacrifícios; muitos jovens quichatrias pagaram com a vida a segurança de um trono para prestígio de uma dinastia; e entre os mortos, com o peito varado por uma flecha, lá ficou no campo de combate o príncipe Adjamir, filho do rei Iadava, que patrioticamente se sacrificou no mais aceso da refrega, para salvar a posição que deu aos seus a vitória final.

Terminada a cruenta campanha e assegurada a nova linha de suas fronteiras, regressou o rei ao suntuoso palácio de Andra, baixando, porém, formal proibição de que se realizassem as ruidosas manifestações com que os hindus soíam festejar os grandes feitos guerreiros. Encerrado em seus aposentos, só aparecia para atender aos ministros e sábios brâmanes quando algum grave problema nacional o chamava a decidir, como chefe de Estado, no interesse e para a felicidade de seus súditos.

Com o andar dos dias, longe de se apagarem as lembranças da penosa campanha, mas se agravaram a angústia e a tristeza que, desde então, oprimiam o coração do rei. De que lhe poderiam servir, na verdade, os ricos palácios, os elefantes de guerra, os tesouros imensos, se já não mais vivia a seu lado aquele que fora a razão de ser de sua existência? Que valor poderiam ter, aos olhos de um pai inconsolável, as riquezas materiais que não apagam nunca a saudade do filho estremecido?

As peripécias da batalha em que pereceu o príncipe Adjamir não lhe saíam do pensamento. O infeliz monarca passava longas horas traçando, sobre uma grande caixa de areia, as diversas manobras executadas pelas tropas durante o assalto. Com um sulco indicava a marcha da infantaria; ao lado, paralelo ao primeiro, outro traço mostrava o avanço dos elefantes de guerra; um pouco mais abaixo, representada por pequenos círculos dispostos em simetria, perfilava a destemida cavalaria chefiada por um velho radj que se dizia sob a proteção de Techandra, a deusa da Lua. Ainda por meio de gráficos esboçava o rei a posição das colunas inimigas desvantajosamente colocadas, graças a sua estratégia no campo em que se feriu a batalha decisiva.

Uma vez completado o quadro dos combatentes, com as minudências que pudera evocar, o rei tudo apagava, para recomeçar novamente, como se sentisse íntimo gozo em viver os momentos passados na angústia e na ansiedade.

A hora matinal em que chegavam ao palácio os velhos brâmanes para a leitura dos Vedas, já o rei era visto a riscar na areia os planos de uma batalha que se reproduzia interminavelmente.

– Infeliz monarca! – murmuravam os sacerdotes penalizados. – Procede como um sudra a quem Deus privou da luz da razão. Só Dhanoutara, poderosa e clemente poderá salvá-lo!

E os brâmanes erguiam preces, queimavam raízes aromáticas, implorando à eterna zeladora dos enfermos que amparasse o soberano de Taligana.

Um dia, afinal, foi o rei informado de que um moço brâmane – pobre e modesto – solicitava uma audiência que vinha pleiteando havia já algum tempo. Como estivesse, no momento, com boa disposição de ânimo, mandou o rei que trouxessem o desconhecido a sua presença.

Conduzido a grande sala do trono, foi o brâmane interpelado, conforme as exigência da praxe, por um dos vizires do rei.

– Quem és, de onde vens e que desejas daquele que, pela vontade de Vichnu, é rei e senhor de Taligana?

– Meu nome – respondeu o jovem brâmane – é Lahur Sessa e venho da aldeia de Namir, que trinta dias de marcha separam desta bela cidade. Ao recanto em que eu vivia chegou a notícia de que o nosso bondoso rei arrastava os dias em meio de profunda tristeza, amargurado pela ausência de um filho que a guerra viera roubar-lhe. Grande mal será para o país, pensei, se o nosso dedicado soberano se enclausurar, como um brâmane cego, dentro de sua própria dor. Deliberei, pois inventar um jogo que pudesse distraí-lo e abrir em seu coração as portas de novas alegrias. É esse o desvalioso presente que desejo neste momento oferecer a nosso rei Iadava.

Como todos os grandes príncipes citados nesta ou naquela página da História, tinha o soberano hindu o grave defeito de ser excessivamente curioso. Quando o informaram da prenda de que o moço brâmane era portador, não pôde conter o desejo de vê-la e apreciá-la sem mais demora.

O que Sessa trazia ao rei Iadava consistia num grande tabuleiro quadrado, dividido em sessenta e quatro quadrinhos, ou casas, iguais; sobre esse tabuleiro colocavam-se, não arbitrariamente, duas coleções de peças que se distinguiam, uma da outra, pelas suas cores branca e preta, repetindo, porém, simetricamente os engenhosos formatos e subordinados a curiosas regras que lhes permitiam movimentar-se por vários modos.

Sessa explicou pacientemente ao rei, aos vizires e cortesãos que rodeavam o monarca, em que consistia o jogo, ensinando-lhes as regras essenciais:

– Cada um dos partidos dispõe de oito peças pequeninas – os peões. Representam a infantaria, que ameaça avançar sobre o inimigo para desbaratá-lo. Secundando a ação dos peões vêm os elefantes de guerra, representados por peças maiores e mais poderosas; a cavalaria, indispensável no combate, aparece, igualmente, no jogo, simbolizada por duas peças que podem saltar, como dois corcéis, sobre as outras; e, para intensificar o ataque, incluem-se – para representar os guerreiros cheios de nobreza e de prestígio – os dois vizires do rei. Outra peça, dotada de amplos movimentos, mais eficiente e poderosa do que as demais, representará o espírito de nacionalidade do povo e será chamada a rainha. Completa a coleção uma peça que isolada pouco vale, mas se torna muito forte quando amparada pelas outras. É o rei.

O rei Iadava, interessado pelas regras do jogo, não se cansava de interrogar o inventor: E por que é a rainha mais forte e mais poderosa que o próprio rei?

É mais poderosa – argumentou Sessa – porque a rainha representa, nesse jogo, o patriotismo do povo. A maior força do trono reside, principalmente, na exaltação de seus súditos. Como poderia o rei resistir ao ataque dos adversários, se não contasse com o espírito de abnegação e sacrifício daqueles que o cercam e zelam pela integridade da pátria?

Dentro de poucas horas o monarca, que aprendera com rapidez todas as regras do jogo já conseguia derrotar os seus dignos vizires em partidas que se desenrolavam impecáveis sobre o tabuleiro.

Sessa, de quando em quando, intervinha respeitoso, para esclarecer uma dúvida ou sugerir novo plano de ataque ou de defesa.

Em dados momento, o rei fez notar, com grande surpresa, que a posição das peças, pelas combinações resultantes dos diversos lances, parecia reproduzir exatamente a batalha de Dacsina.

– Reparai – ponderou o inteligente brâmane – que para conseguirdes a vitória, indispensável se torna, de vossa parte, o sacrifício desse vizir!

E indicou precisamente a peça que o rei Iadava, no desenrolar da partida – por vários motivos – grande empenho pusera em defender e conservar.

O Judicioso Sessa demonstrava, desse modo, que o sacrifício de um príncipe é, por vezes, imposto como uma fatalidade, para que dele resultem a paz e a liberdade de um povo.

Ao ouvir tais palavras, o rei Iadava, sem ocultar o entusiasmo que lhe dominava o espírito assim falou:

– Não creio que o engenho humano possa produzir maravilha comparável a este jogo interessante e instrutivo! Movendo essas tão simples peças aprendi que um rei nada vale sem o auxílio e a dedicação constante de seus súditos. E que, às vezes, o sacrifício de um simples peão vale mais, para a vitória, do que a perda de uma poderosa peça.


Trecho do livro: O Homem que Calculava 

Autor: Malba Tahan


quinta-feira, 25 de julho de 2024

CRONOLOGIA DAS LEIS



2350 a.C. – Reformas de Urukagina de Lagash. O Código escrito mais antigo que se tem notícia.

2060 a.C. – Código de Ur-Nammu de Ur  Neo-Sumério (Ur-III). 

1934-1924 a.C. – Código de Lipit-Ishtar de Isin – Com um epílogo e prólogo típicos, a lei trata de penalidades, direitos das pessoas comuns, direitos dos reis, casamentos e muito mais.

1800 a.C. – Leis de rei Bilalama ou Lei da cidade de Eshnunna

1758 a.C. – Código de Hamurabi – A mais famosa e também a mais preservada das leis antigas. Descoberto em dezembro de 1901, contém mais de 282 parágrafos de texto, sem incluir o prólogo e o epílogo.

1500-1300 a.C. – Lei assíria

1500-1400 a.C. – Leis hititas

Século X a VI a.C. Lei de Moisés / Torá 

Halakha (lei religiosa judaica, incluindo a lei bíblica e, mais tarde, a lei talmúdica e rabínica, bem como costumes e tradições)

620 a.C. Lei de Dracon ou Constituição Dracon 

594 a.C. Lei de Sólon ou Constituição Sólon 

Século V a.C. Código Gortyn 

451 a.C. Lei das Doze Tábuas do Direito Romano 

269–236 a.C. Editos de Ashoka da Lei Budista 

200 a.C. Lei de Manu 

31 a.C.–500 d.C. Tirukkural, antigas leis e éticas tâmeis compiladas por Thiruvalluvar 

529-534 DC Corpus Juris Civilis compilado 

529 Código de Justiniano  

533 Digest ou Pandects textos jurídicos clássicos do Direito Romano de Justiniano 

570 Sharia ou Lei Islâmica o fiqh Hanafi não foi codificado até a Mecelle Otomana da década de 1870, as outras escolas foram ainda mais tarde

Lei tradicional chinesa

624 a 637 Código Tang 

642–653 d.C. Código Visigótico 

1776–1778 Código Gentoo (origens desconhecidas; traduzido do sânscrito para o persa, inglês, alemão e francês

Século VIII d.C. Lei irlandesa antiga ou Lei Brehon



O MITO DO ME - A LEI SUMERIANA

 


Segundo a mitologia sumeriana, o Me ou Mes foi inventado por Enlil e então entregue para seu irmão Enk, que deveria intermediar a distribuição entre os vários centros sumérios.

Isso é descrito no poema "Enk e a Ordem Mundial". No mito, o Deus Enki distribui os Mes ou Me para as divindades de cada cidade, mas sua filha Inanna ou Ishtar ou Eshter (Ester) ou Astarte faz uma reclamação para seu pai Enk, pois ela recebeu pouca atenção em suas esferas divinas de influência. Enki faz o possível para apaziguá-la, apontando aquelas que ela de fato possui, pois ela, por si só, já é uma deusa poderosa e bastante influente.

Isto porque o Deus Enk em pessoa levou o Mes ou Me (Lei, Regra) para sua própria cidade, que era a cidade de Eridu e depois levou o Me para as cidades de Ur, Mlunha e Dilmun. Inanna ou Ishtar, ou Eshter (Ester) ou Astarte, queria que seu pai levasse o Mes pessoalmente para sua cidade, que era a cidade de Uruk, para aumentar seu nível de poder, prestígio, influência e glória.

Quando ela foi visitar seu pai, Inanna ou Ishtar, ou Eshter (Ester) ou Astarte foi até Eridu, ao santuário ou templo de Enk que também é conhecido como E-abzu, em seu "Barco do Céu", e pede os Mes a ele, ela aproveita a oportunidade que Enk está bêbado, para fazer-lhe opedido ao que ele obedece, uma vez que o mesmo está alcolizado. Depois que ela parte com o Me ou Mes, ele volta a si e percebe que eles estão faltando em seu lugar habitual, o qual é o E-abzu seu templo sagrado, e ao ser informado sobre o que ele fez com eles, tenta recuperá-los. A tentativa falha e Inanna os entrega triunfantemente a Uruk. Toda alegre da vida e feliz além da conta,  Ishtar ou Eshter (Ester) ou Astarte esibe as Tábuas da Lei ao povo, depois que ela chega com seu barco do céu. 


Segundo a versão mitóligica, Inanna ou Ishtar, ou Eshter (Ester) ou Astarte é filha de vários deuses diferentes, isso irá depender da cidade, época e outras séries de fatores.

Por exemplo: 

Na tradição da cidade de Uruk, ela será filha de An, o Deus do Céu.

Na tradição da cidade de Isin, ela será filha de Nana, o deus da Lua, e de Ningal,  a deusa da cana, filha de Enk. Mas se Ningal era filha de Enk, ela seria mãe e irmã de Inana?

Na tradição da cidade de Nipur, ela era filha de Enlil, o Deus do Ar, Vento e Tempestade.


URUKAGINA DE LAGASH - O PRIMEIRO REFORMADOR

 


O código de Urukagina foi amplamente aclamado como o primeiro exemplo registrado de reforma governamental, buscando alcançar um nível mais alto de liberdade e igualdade. Limitou o poder do sacerdócio e dos grandes proprietários e tomou medidas contra a usura, controles onerosos, fome, roubo, assassinato e apreensão (de propriedade e pessoas); como ele afirma, "A viúva e o órfão não estavam mais à mercê do homem poderoso". Aqui, a palavra "Liberdade" que em sumério se diz "Ama-Gi", aparece pela primeira vez na história registrada.

Apesar dessas aparentes tentativas de conter os excessos da classe de elite, parece que as mulheres de elite ou reais desfrutaram de uma influência e prestígio ainda maiores em seu reinado do que antes. Urukagina expandiu muito a "Casa das Mulheres" casa real de cerca de 50 pessoas para cerca de 1500 pessoas, renomeou-a como "Casa da deusa Bau (Deusa da fertilidade do solo, fertilidade dos animais e dos seres humanos, enfim, Deusa da fertilidade e também da irrigação do solo.)", deu-lhe a propriedade de vastas quantidades de terra confiscadas do antigo sacerdócio e colocou-a sob a supervisão de sua esposa, Shasha (ou Shagshag). Em seu segundo ano de reinado, Shasha presidiu o luxuoso funeral da rainha de sua predecessora, Baranamtarra, que havia sido uma personagem importante por direito próprio.

Além dessas mudanças, dois de seus outros decretos sobreviventes, publicados e traduzidos pela primeira vez por Samuel Kramer em 1964, atraíram controvérsia nas últimas décadas. 

O “Código de Urukagina”, é considerado o mais antigo texto normativo que se têm notícias, revela os esforços de seu tempo para a implementação de ações de combate à opressão pelo poder e tirania. O Rei Urukagina, de Lagash, atual Tello, no Iraque, autor do primeiro Código conhecido pela humanidade, foi um sábio e sagaz reformador, sendo que a ele pertenece a honra de ter reestabelecido a justiça e de ter devolvido a liberdade aos cidadãos oprimidos”. É este documento normativo que grava pela primeira vez na história humana a palavra “liberdade”, na forma do termo sumério “Amar-Gi”, que, como recentemente foi apontado por Adam Falkenstein, significa literalmente “retorno à mãe”. 

Durante o reinado de Urukagina de Lagash, temos um dos documentos mais preciosos e reveladores da história do homem e da sua luta perene e implacável pela libertação da tirania e da opressão. Este documento regista uma reforma abrangente de toda uma série de abusos prevalecentes, muitos dos quais podem ser atribuídos a uma burocracia onipresente e desagradável que consiste no governante e no seu círculo palaciano; ao mesmo tempo, fornece uma imagem sombria e sinistra da crueldade do homem para com o homem a todos os níveis – social, económico, político e psicológico. Lendo nas entrelinhas, também temos um vislumbre de uma luta amarga pelo poder entre o templo e o palácio – a “igreja” e o “estado” – com os cidadãos de Lagash a tomarem o partido do templo. 




sexta-feira, 19 de julho de 2024

LIVROS APÓCRIFOS

 


A palavra Apócrifo vem do grego Apócrofos que quer dizer Aquilo que é Escondido, Oculto, Encoberto. Também é conhecido como Pseudepígrafos, de onde, Pseudo quer dizer Falso e Grafos, quer dizer Escrito.

Estes livros Apócrifos ou Pseudepígrafos são escritos, cujos autores não conhecemos, daí os termos Apócrifos ou Pseudepígrafos e estes autores por sua vez, são escritores desconhecidos, escritores sem fama, que usam nomes de pessoas famosas, para suas obras e suas idéias ganharem notoriedades, compartilhamentos, likes, comentários, popularidades e fama.

A primeira vez que é usado a palavra Apócrifo como conhecemos, no contexto dos livros que foram incluídos na Bíblia, foram Irineu de Lyon e Jerônimo de Estridão no século IV depois de Cristo.

Os apócrifos que constam nas versões da Bíblia Católica foram produzidos no período inter testamentário (425 a.C. a 120 d.C.) e são os seguintes: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Baruc e Eclesiástico - Obs: Não confundir o livro de Esclesiates com o livro de Esclesiástico. Além de acréscimos aos livros de Ester e Daniel.

No livro de Ester, temos os seguintes acréscimos, capítulo 10:4 até o capítulo 11:1

E no livro de Daniel, temos os seguintes acréscimos, capítulo 3:24 a 90 e os capítulos 13 e 14.

E tem mais livros apócrifos ou pseudepígrafos que foram produzidos, que são: Livro de Enoch, Ascensão de Maria, Ascensão de Isaías, Apocalipse de Baruch, Apocalipse de Pedro, Apocalipse de Abraão, Apocalipse de Moisés, O Evangelho de Pedro, O Evangelho de Tiago, O Evangelho de Maria, O Evangelho de Judas, Atos do Apóstolo Tomé, etc.

Jesus e os autores do Novo Testamento citam, mais de 295 vezes, várias partes das Escrituras do Antigo Testamento como palavras autorizadas por Deus, mas nem uma vez sequer mencionam alguma declaração extraída dos livros apócrifos ou qualquer outro escrito como se tivesse autoridade divina.

Vamos deixar uma coisa bem clara, não foi a Igreja Católica Apostólica Romana quem formatou os livros da Bíblia, isto é, não foram eles quem decidiram quais livros entrariam ou não na Bíblia no Concílio de Nicéia.

Os próprios Judeus já tinham uma relação de livros que eram inspirados e de livros que não eram inspirados.

Alguns teólogos protestantes dizem que no já no Concílio de Jamnia que ocorreu nos anos 90 d.C. ratificou, ou seja, confirmou o que já se tinha decidido desde os tempos de Esdras, quais livros foram inspirados e os livros que não foram inspirados, e para confirmar essa argumentação, dizem que na época de Jesus, o Tanach já existia.

Mas os Católicos contra argumentam essa ideia, dizendo que o Concílio de Jamnia nunca ocorreu e o chamado “Concílio de Jâmnia”, foi, na verdade um grupo de judeus eruditos que solicitaram permissão de Roma por volta do ano 90 d.C. para assim, reunirem-se na Palestina perto do mar Mediterrâneo em Jâmina. Mas, de qualquer forma, o que os Católicos não se atentam, é que o Tanakh Hebraico já existia, há mais de 400 anos a.C.


Mas o que raios é o Tanakh?

O Tanakh é a Bíblia Hebraica, que por sua vez, se divide em três partes, que são: Pentateuco, Profecias e Escritos. Essa palavra esquisita, contém as iniciais das palavras Hebraicas, Torah a Lei, Neviim os Profetas e Ketuvim os Escritos, formando assim o TNK ou Tanak, não terei tempo agora de falar sobre o Tanakh, caso alguém queira, deixa nos comentários que farei com prazer.

O que importa para nossa matéria aqui, é que, para existir o Tanakh, concluí-se que o cânone hebraico já existia desde 450 a.C. E que todos esses Apócrifos que mencionei e outros mais, já não faziam parte do Cânon Hebraico, mas mesmo assim, alguns destes Apócrifos, estão hoje na Bíblia Católica.


Cânon Muratoriano

Outra prova que não foi o Concílio de Nicéia Católico que fechou o Cânon Bíblico, é o Cânon Muratoriano ou Cânon de Muratori, que é o documento copiado mais antigo que se tem notícia a respeito do cânon bíblico do Novo Testamento, por volta do ano 150 d.C.

A Igreja Católica sempre soube que os Apócrifos eram livros não inspirados, uma das várias comprovações disso. 


Vulgata

Jerônimo de Estridão que é o tradutor da Vulgata Latina, foi incumbido pelo Papa Dâmaso I a colocar os Apócrifos na Vulgata. É claro que Jerônimo foi contra, mas o Papa Dâmaso era seu superior em chefeJerônimo, então, teve que ceder. Colocou os tais livros Apócrifos na Vulgata, mas ao traduzir a Vulgata, Jerônimo fez uma notificação, ou seja, uma nota esclarecendo que estes livros não eram inspirados, eram, obviamente, todos apócrifos. Sendo estas uma tradução de Teodocidão ou Teodósio. Mas quem foi Teodocidão? Teodocidão ou Teodósio, foi um judeu grego que viveu na cidade de Éfeso cerca de 150 d.C. Ele traduziu a Bíblia Hebraica, ou seja, o Tanackh para o grego e também traduziu os livros Apócrifos na Bíblia Vulgata Latina.

A questão apócrifa católica piora ainda mais, no período da Reforma, para combater a Reforma, no dia 8 de Abril de 1546 durante o período conhecido como Contra Reforma, os Livros Apócrifos foram finalmente oficializados na primeira edição da Bíblia Católica e no ano de 1592, com autorização do papa Clemente VIII, tem-se a Bíblia Católica como se conhece hoje.

A Igreja Católica, para canonizar estes apócrifos, ou seja, para dar uma de migué, chama esses livros espúrios de Deuterocanônicos, é aquele velha e boa salsichada profana básica de sempre.


HÁ ERROS NESSES LIVROS APÓCRIFOS?

Sim, os livros Apócrifos são Apócrifos, são livros que nos trazem o misticismo judaico, que diferem das ordenanças do Evangelho de Cristo. Como os livros Apócrifos são muitos, vou citar somente alguns.

O Livro de Tobias traz mediação dos Santos - 12.12 superstições - 6.5, 7-9,19

O Livro de Baruque traz intercessão pelos mortos - 3.4.

O Livro de Escesiástico traz justificação pelas obras - 3.33, 34.

O Livro de Macabeus traz a oração pelos mortos - 12.44 - 46, culto e missa pelos mortos - 12.43

Assim como outros livros, além destes Apócrifos ensinarem artes mágicas e feitiças, como está relatado no Livro de Tobias 6: 5-9. Dentre outras coisas.


PODEMOS LER ESTES LIVROS MESMO ELES SENDO NÃO INSPIRADOS?

Não só podemos ler estes livros, como devemos ler e estudar estes livros, não há problema algum, temos que entender que para quem é declaradamente Cristão, só o Novo Testamento é suficiente para nos conduzir a Cristo, estes livros estão no Antigo Testamento, portanto, não há problemas para nossa compreensão da salvação em Cristo Jesus.

O Novo Testamento Católico é idêntico ao Novo Testamento Protestante, ambas as Bíblias se lidas e colocadas em prática, conduzirá o homem ao infinito amor de Deus e consequentemente à salvação, para quem é leitor assíduo da Bíblia e gosta de ter intimidade com a literatura, verá que o que importa para o Cristão como regra de fé é o Novo Testamento.

Sem contar que muitos livros Apócrifos, conhecimentos históricos valiosos. 

A BÍBLIA FOI FEITA PELA IGREJA CATÓLICA?

 


Os católicos dizem que eles compilaram a Bíblia e que sem a Igreja Católica Apostólica Romana não existiria a Bíblia: 

“Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados” (Dei Verbum 8)".

Portanto, sem a Tradição da Igreja não teríamos a Bíblia. Santo Agostinho dizia: “Eu não acreditaria no Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (CIC,119)".

Temos que levar em conta que a Igreja Católica Apostólica Romana é uma religião puramente Tradicional, claro que ela segue o Cânon Bíblico, mas a tradição religiosa é mais forte que as Escrituras, mesmo que eles dizem o contrário, vemos que, na prática, a tradição supera e muito o evangelho escrito. 


Período dos Apóstolos

Quando um homem negro chamado Jesus de Nazaré foi assassinado na cruz em Jerusalém, seus seguidores ou discípulos continuaram seus ensinamentos e estes homens escreveram cartas ou epístolas para admoestar, ensinar, aconselhar, advertir, chamar atenção, repreender, dar bronca, elogiar e avisar seus seguidores de tudo que eles aprenderam com Jesus. Houve homens como Paulo, por exemplo, que não andou com Jesus, mas escreveu o que ele leu, aprendeu com os discípulos de Cristo que também escreveu cartas ou epístolas para também ensinar, corrigir e aconselhar os demais irmãos. 

Obviamente, que muitas das doutrinas neotestamentárias que lemos hoje foram escritas a partir dos textos do Antigo Testamento e, com a nova formatação dos textos dos escritores do novo testamento, temos uma nova doutrina (ensinamento) das coisas concernentes ao Reino de Deus. 

De qualquer forma, os escritores do Novo Testamento não sabiam que seus escritos se transformariam na Bíblia como se conhece hoje, eles certamente tiveram seus escritos copiados e compartilhados por seus seguidores, que estes copiaram e compartilharam para outros, e assim por diante. 

Um exemplo bem claro que temos é do escritor João de Apocalipse, ele escreveu para sete igrejas, cidades, províncias, lugares, regiões e distritos diferentes, e não para (placas, denominações ou religião) como se diz nas religiões católicas e evangélicas, ou seja, eram cidades pertencentes ao vasto Império Romano.


Período Católico

Quando o Imperador adepto da religião Mitra de nome Constantino era o chefe de Roma, ele formou o que conhece hoje como Religião Católica Apostólica Romana, mas sabemos que tal religião não é adepta fiel das doutrinas de Cristo, pois a Religião Católica Apostólica Romana é um compilado de religiões que existiam no vasto Império Romano, ou seja, a Religião Católica é um Mix de Religiões que tem por pano de fundo central a Religião Judaica, e as outras religiões vieram para melhorar o molde da nova religião adotada pelo Estado Romano, como as Religiões Babilônicas, Religião Grega, Religião Egípcia, Religião Persa, e durante a Idade Média a Religião Romana absorve a Religião Nórdica no seu panteão religioso. 

Os textos do antigo testamento e do novo testamento que já existiam antes da criação da Igreja Católica Apostólica Romana foram juntados pelos sacerdotes católicos, e verificaram estes os textos que fariam parte da compilação dos livros sagrados. 


Fabricação Católica

O clérigo inglês Stephen Langton, que mais tarde se tornou arcebispo de Cantuária, dividiu a Bíblia em capítulos. Ele fez isso no início do século XIII quando era professor na Universidade de Paris, na França.

O Dominicano Pagnino 1541, que era um judeu convertido ao catolicismo originário de Luca, na Itália, ficou 25 anos traduzindo a Bíblia, publicada em 1527. Ele foi o primeiro a dividir o texto em versículos numerados. 

Roberto Estienne um conhecido gráfico, realizou a divisão do Novo Testamento em versículos no ano de 1551 e no ano de 1555 ele fez a edição latina de toda Bíblia. 

O nome Bíblia foi aplicado às Escrituras, originalmente por João Crisóstomo 398-404 d.C. o nome é oriundo da antiga cidade da Fenícia de nome Bíblos que era famosa pela exportação de papiros, por isso o nome Bíblos ficou conhecido também com o nome de Biblion que quer dizer Livros e depois era conhecida também com Ta Bíblia que quer dizer Os Livros, a qual é o plural grego.

100 - 147 Justino Mártir menciona os Evangelhos como sendo quatro em número e cita eles e algum das epístolas de Paulo e Apocalipse.  

135 - 200, Irineu citou todos os livros do Novo Testamento, exceto Filemon, Judas, Tiago e 3 João. 

160 - 240 Tertuliano de Catargo contemporâneo de Orígenes e Clemente, menciona todos os livros do Novo Testamento, exceto 2 Pedro, Tiago e 2 João. 

165 - 220 Clemente de Alexandria, especifica todos os livros do Novo Testamento exceto Filemon, Tiago, 2 Pedro e 3 João. Mas Eusébio, que possuía os escritos de Clemente, disse que ele deu explicações e citações de todos os livros canônicos. 

185 - 254 Origenes de Alexandria especifica todos os livros dos doisTestamentos. 

270 Eusébio bispo de Cesaréia, narra sobre a perseguição que o imperador Diocleciano lançou sobre os cristãos, ele lista todos os livros do Novo Testamento. Ele foi comissionado por Constantino para preparar cinquenta cópias da Bíblia para uso das igrejas de Constantinopla. 

315 - 386, Cirilo bispo de Jerusalém, dá uma lista de todos os livros do Novo Testamento, exceto Apocalipse. 

326 Atanásio, bispo de Alexandria, menciona todos os livros do Novo Testamento. 


Mas todos os livros, tanto do Antigo Testamento quanto do Novo Testamento, já estavam escritos, o que estes sacerdotes fizeram foi listar, enunciá-los e juntá-los, e como a Instituição Católica Romana era a Religião líder de todo o ocidente, eles certamente tiveram controle das escrituras.



BÍBLIA




A bíblia é um livro ímpar, pois é o livro mais vendido no mundo, é o livro mais lido no mundo, nunca ficou em segundo lugar em vendas, e é de longe o livro mais estudado do planeta, sem falar que todas as religiões do mundo, se inspiram nela.
O autor da Bíblia é Deus, Is 34: 16, 2Tm 3: 16 – 2Pe 1:21 – Hb 1:12, Ap 22: 6 e ele mesmo nos revela, Lc 24: 45, 1Co 2v 10,13, não espere compreender a Bíblia toda, Dt 29: 29, ela ensina realmente que a dúvida é um empecilho à compreensão, Mt 22:29.
Toda doutrina teológica deve ser provada, confirmada e apoiada por textos bíblicos, pois somente pelas escrituras é que fugiremos dos usos e costumes religiosos.
Alguns se confundem quanto a alguns pontos da Bíblia, e eles se deixam levar por assuntos secundários, como, por exemplo:
A Forma de Governar a Igreja, se Episcopal, Congregacional ou Presbiteriana
Modo de Batismo, se por Imersão ou Aspersão
Fruto usado na Ceia, se Vinho ou Suco de Uva
Mas quanto a salvação em Cristo, nisso não há dúvida.

A origem da palavra bible (bíblia) é remota. A forma mais antiga de livro de que se tem notícia era um rolo de papiro, planta abundante às margens do rio Nilo, usada pelos antigos egípcios, gregos e romanos para escrever. A palavra grega para papiro era biblos, derivada do nome do porto fenício de Byblos, hoje Jubayl, Líbano, através do qual o papiro era exportado. O plural de biblos em grego era ta biblía, que significava literalmente 'os livros', e que acabou entrando para o latim eclesiástico para designar o conjunto de livros sagrados que compõem a bíblia.
Os judeus que falavam grego diziam Tá Biblía que quer dizer os Livros, designando, com este termo, os livros canonizados como escritos sagrados do povo judeu.
Mas o conceito vem do hebraico Sefaraim Dn 9.2.
O nome Bíblia foi aplicado às Escrituras, originalmente por João Crisóstomo de Constantinopla (398-404 d.C),  (atual Istambul, capital da Turquia) Antioquia da Síria, atual Antakya, 349 - 14 de setembro de 407. Foi um patriarca de Constantinopla.
A bíblia compõe-se de duas partes, Antigo e Novo Testamento.
A palavra portuguesa "testamento" corresponde à palavra hebraica Berith (que significa aliança, pacto, convênio, contrato), e designa a aliança que Deus fez com o povo de Israel no Monte Sinai.

O Antigo Testamento contém os livros sagrados dos judeus, desde o tempo de Moisés, até um século antes de Cristo. A língua original é o Hebraico, com ligeira exceção de Ed 4: 8 a 8: 18 – Ed 7: 12,26, Jr 10: 11 e Dn 2: 4,7, que foram escritos em Aramaico.
O Antigo Testamento está dividido em 39 Livros, porém os judeus contam como se fossem 22 ou 24. E se divide em:
Lei ou Torá: Que vai de Gênesis a Deuteronômio
Profetas: Profetas Maiores que vai de Isaías a Daniel
Profetas Menores que vão de Oséias a Malaquias
Históricos: Samuel - Reis – Crõnicas (este dividido em 1 e 2 Crônicas)
Poesia: Jó e Cantares

O Novo Testamento são 27 Livros e dividem-se em:
Biografia: Mateus Marcos Lucas e João
Histórico: Atos dos Apóstolos
Doutrinas: 21 Epístolas

Particularidades da Bíblia
A Bíblia tem mais de 3.500 anos de existência
40 pessoas escreveram a Bíblia
Em um período de 16 séculos
A Bíblia contém 1.189 capítulos e 31.278 versículos
No ano de 1250 o Cardeal Hugo de Santo Caro, divide os capítulos
No ano de 1551 Robert Stevens faz a divisão dos versículos
No ano de 1555 Gutemberg publica a primeira Bíblia
Leis sobre Higiene Dt 23: 13
Ciclo da chuva e evaporação Ec 1: 7  Jó 26: 7
Circulação Sanguínea Pv 4: 23
A Terra esférica Is 4: 26

Versões dos LXX
A lenda: Ptolomeu Filadelfo Rei do Egito, sob a sugestão de seu bibliotecário Demétrio de Falero, enviou Eleazar que era Sumo Sacerdote em Jerusalém, para obter cópias do livro sagrado da Lei, a fim de traduzi-las para o grego e exemplares foram selecionados e um corpo de tradutores em número de setenta ou setenta e dois, foram designados para a Ilha de Faros, todos os tradutores foram metidos em clausuras diferentes e ao término do trabalho, as traduções eram idênticas.
O Fato: Em Alexandria, Ptolomeu Filadelfo 309 a.C. - 246 a.C. foi o rei (faraó) do Egito de 281 a.C. até a sua morte em 246 a.C. Mandou que o Pentateuco fosse traduzido para o grego, pois em Alexandria, os judeus gregos, não ler o Velho Testamento então para isso foram traduzidos o Livro Sagrado, e no ano 150 a.C., a obra foi acabada.

A Vulgata
Isto é, a versão vulgar, obra de Jerônimo a quem o Papa Damásio o comissionou no ano de 383 dC Jerônimo compilou a obra entre 392 a 404 dC.

Os Massoretas
Isto é, a Tradição, até o fim do século V d.C., o Velho Testamento era escrito somente com consoantes e era ensinado oralmente pelos Rabis nas sinagogas pela recitação, o qual a sede era a escola de Rabínica de Tiberíades.
Contam o número de palavras e letras nos livros, eles criaram um sistema de pontos e sinais vocálicos, que se colocam em cima, embaixo e dentro das consoantes. As anotações indicam como se liam as palavras, não fazem parte dos Rolos e Pentateuco, são escritos com consoantes como antes, esse sistema permite ler e como estavam ligadas as palavras, se separadas, juntas, pontos, etc.

Livros Apócrifos
Do grego secreto, escondido, espúrio.ou Deuterocanônicos
No concílio de Trento, em 1546, foram declarados alguns livros, como sendo inspirados, embora não fizessem parte do cânon do Antigo Testamento estabelecido pelos judeus da Palestina, são eles:
Eclesiástico, Baruque, Epístola de Jeremias 1 e 2, e Macabeus. Sem falar nos acréscimos dos livros de Ester, Daniel (A Oração de Azarias), A Canção dos Três Jovens e as Histórias de Suzana e de Bel e o Dragão.
Os Protocanônicos que são livros santos, reconhecidos como canônicos já antes de se formarem os cânones da Escritura.
Os Pergaminhos do Mar Morto são uma coleção de centenas de textos e fragmentos de texto encontrados em cavernas de Qumran, no Mar Morto, no fim da década de 1940 e durante a década de 1950, compilados por uma seita de judeus conhecida como Essênios, que viveram em Qumran do século II a.C. até aproximadamente 70.



 

segunda-feira, 24 de junho de 2024

REFORMA RELIGIOSA - DESIGREJADOS

 

Sabendo como é e de como funciona o sistema religioso, existe um grupo de pessoas que se posicionam contra este conglomerado pecuniário religioso com fins lucrativos. 
Essa gente continua a fazer a reforma alertando o maior número de pessoas contra esta instituição pútrida e pestilenta, estes reformadores são xingados, ofendidos e destratados como "Desigrejados". Assim como foi no passado, atualmente, quem ousa dizer que o sistema corrompido religioso é uma fraude é duramente criticado. 
O sistema religioso precisa de reforma, se houve uma reforma, esta certamente precisa de reforma, ou seja, a reforma precisa de reforma.
Além de enfrentar a fúria dos fanáticos religiosos que já é ruim, existem também os covardes de plantão, que, na verdade são os judas, traidores, hipócritas e impostores que até concordam que o sistema religioso não presta, mas continuam de alguma forma frequentando estas instituições pilantrópicas, dizem que estão fora, mas, na verdade nunca saíram, eles enganam a si próprios com falsos discursos, estes eu chamo de "Igrejeiros" e estes igrejeiros são os piores, pois dizem aquilo que não são, mentindo a si próprios.
Estes até sabem que o sistema religioso não presta, mas eles querem de alguma forma agradar seus partidários e se beneficiar com qualquer coisa que valha deste sistema maldito. Eles amam mais a glória dos homens do que a glória de Deus, João 12:43-44.
Enquanto existirem pessoas que defendam este porco, sórdido e peçonhento sistema religioso, existirão estes reformadores da verdade, que são xingados pejorativamente de Desigrejados.
Desigrejado são todos os que insistem em ficar em um abominável, nocivo e detestável sistema religioso. Pois estão fora da Igreja de Cristo, pois igreja não é um templo, não é um sistema feito de doutrinas de homens, com seus ritos cerimoniais envoltas de usos e costumes e tradições humanas que dizem de Deus, quando, na verdade, passa longe disso.
A verdadeira Igreja de Cristo é uma Família, e não um antro sistemático doutrinário dogmático hipócrita, dissimulado falso e mentiroso. 
Todos os que são familiarizados com as verdades contidas no Novo Testamento, que é o Evangelho de Cristo, são os Igrejados e, portanto, a Igreja de Cristo. Agora, todos os que discordam das verdades contidas dentro do Novo Testamento e ficam defendendo esta pústula cancerosa sistemática religiosa, é o Desigrejado, pois está fora da Família de Cristo.