Os ditos estudantes, conhecidos pelo acrônimo M.M.D.C., não eram estudantes como dizem nas escolas, faculdades, TV, rádio, internet, etc. Destes estudantes, somente um era estudante de fato.
Em 1932, o Brasil era presidido por Getúlio Vargas, que, desde o golpe de estado ocorrido com a Revolução de 1930, governava o país de forma discricionária, sem uma Constituição Federal que delimitasse os poderes do Presidente ou estabelecesse as articulações entre os três poderes da República. Somado a isso, tampouco havia Congresso Nacional, Assembleias legislativas ou Câmaras municipais. Além disso, os estados federados perderam grande parte da autonomia que gozavam na vigência da Constituição de 1891, pois Vargas nomeava interventores leais ao seu regime nos estados federados, alheios a realidade local e em sua maioria militares ligados ao Clube 3 de Outubro, que por vezes entravam em atritos com os grupos políticos dos respectivos estados. A situação de São Paulo no contexto nacional era uma das mais críticas, dado a contínua e crescente insatisfação da classe política e da própria população em geral com a forma com que Vargas lidava politicamente com o estado.
Contrários a esse regime, a população paulista começou a protestar, o que resultou em uma série de manifestações iniciadas por aquela ocorrida na Praça da Sé em 25 de janeiro de 1932, data do aniversário da cidade de São Paulo, em que se aglomeraram cerca de 100 mil pessoas. Ao longo dos meses seguintes, a insatisfação popular acentuou-se. Na noite do dia 23 de maio, durante outra manifestação, um grupo tentou empastelar a sede do Partido Popular Paulista (ex-Liga Revolucionária), um grupo político-militar encabeçado por Miguel Costa, fundado após a Revolução de 1930 e sustentáculo de apoio no estado ao regime Vargas, cuja sede era na Rua Barão de Itapetininga esquina com a Praça da República, na cidade de São Paulo. Os membros da organização situados naquele prédio, antecipando-se a invasão, resistiram por meio de armas tão logo os manifestantes se postaram no local. Após a fuzilaria, houve vários feridos e mortos, entre os quais, os nomes das pessoas que deram origem a sigla M.M.D.C.: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. O massacre ocorrido em 23 de maio de 1932 foi uma das razões que precipitou o levante deflagrado em 9 de julho daquele ano contra o regime de Getúlio Vargas, cujo objetivo era depô-lo e convocar novas eleições para a Assembleia Constituinte. Os quatro jovens mortos se tornaram mártires da causa Constitucionalista e a sigla derivada de seus nomes representou a organização civil e militar que articulou e coordenou os esforços de guerra antes e durante o levante.
Em 1955, com o Decreto n.º 24.712 do Governo do Estado de São Paulo, os restos mortais dos quatro jovens foram trasladados para o Monumento Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932, incluindo também o de Paulo Virgílio, outro mártir da causa. Em 2011, com a lei federal nº 12.430, os nomes dos quatro jovens foram inscritos no Livro dos Heróis da Pátria, cuja localização é no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.
Coluna Prestes e o Partido Popular Paulista
A coluna prestes era um partido político de esquerda, ou seja, comunista. Seus líderes, Júlio Prestes e Miguel Costa, eram políticos de esquerda. Júlio Prestes, por exemplo, era membro do Partido Comunista. Miguel Costa era o fundador e membro do PPP ou Partido Popular Paulista, que também era de esquerda. O PPP foi fundado por Miguel Costa em 1932.
O PPP no início apoiou Getúlio Vargas. No entanto, a relação entre o PPP e Vargas se deteriorou com o tempo, e o PPP acabou se tornando um dos principais opositores do governo na Revolução Constitucionalista de 1932.
A sede do PPP ficava na Rua Barão de Itapetininga, esquina com a Praça da República, em São Paulo. Este local era conhecido como o ponto de partida da Revolução Constitucionalista de 1932.
Lembre-se que o Partido Popular Paulista tinha rompido relações com Getúlio Vargas, portanto, protestava contra a política de Vargas, e em um destes protestos, no dia 23 de maio de 1932 um grupo de manifestantes protestavam em frente a sede do PPP na Rua Barão de Itapetininga, dentro da sede, estavam alguns militares, que ao ver os manifestantes, atiraram contra a turba, matando muitos manifestantes. Dentre os mortos, estavam Euclides Miragaia, de 21 anos, Mário Martins de Almeida, de 25 anos, Antônio Américo Camargo de Andrade, de 30 anos, e Dráusio Marcondes de Sousa São Paulo, de 14 anos, o único que realmente estudava. Eles ficaram conhecidos como M.M.D.C..
Euclides Miragaia 1911-1932 - 21 anos
(São José dos Campos, 21 de abril de 1911 - 23 de maio de 1932
Foi filho de José Miragaia e Emília Bueno Miragaia. Estudou na Escola de Comércio Carlos de Carvalho e na época trabalhava como auxiliar no Cartório de seu tio, na capital paulista.
Ele já não frequentava a escola por um longo tempo.
Mário Martins de Almeida 1907-1932 - 25 anos
São Manuel, 8 de fevereiro de 1907 - 23 de maio de 1932
Na época, os Martins de Almeida eram tradicionais e conhecidos cafeicultores em São Paulo, também era sobrinho de Paulo Martins de Almeida, o Visconde de Almeida.
Ele tinha sido estudante do Mackenzie, concluído os seus estudos sob a direção do professor Alberto Kullman. Na época, era fazendeiro em Sertãozinho, estando em São Paulo naquele fatídico 23 de maio de 1932 apenas de passagem para visitar os seus pais.
Foi sepultado no Cemitério da Consolação.
Antônio Américo Camargo de Andrade 1901-1932 - 30 anos
São Paulo, 3 de dezembro de 1901 — São Paulo, 23 de maio de 1932.
Era casado com Inaiah Teixeira de Camargo e tinha três filhos: Clesio, Yara e Hermelinda.
Pertencia a uma tradicional família de cafeicultores da região de Amparo, no interior paulista.
Dráusio Marcondes de Sousa São Paulo 1917-1932 - 14 anos
O único estudante de fato do quarteto, ele também trabalhava como auxiliar de farmacêutico, nasceu na rua Bresser, na cidade de São Paulo, filho do farmacêutico Manuel Octaviano Marcondes de Sousa e de Ottilia Moreira da Costa Marcondes. Dráusio auxiliava o seu pai na farmácia da família.
Naquela ocasião, foi, com outros estudantes, alvejado a tiros pela fuzilaria dos soldados da organização que estavam posicionados nas janelas daquele prédio. Foi socorrido a tempo, internando-se na Santa Casa de Misericórdia e lá passou por cirurgia. Porém, acabou falecendo no dia 28 de maio por conta de infecção em seus ferimentos.
Segundo Manuel Octaviano Marcondes de Sousa, pai de Dráusio e autor do livro "Fomos vencidos?" (1933), ele foi internado no quarto de número oito daquele hospital, logo ao lado do quarto número nove, onde estava internado Orlando de Oliveira Alvarenga, outra vítima fatal daquele atentado.
Com o Decreto de n.º 24 712, de 6 de Julho de 1955 do Governo do Estado de São Paulo, seus restos mortais foram trasladados para o Monumento Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932.
Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32
É um monumento funerário brasileiro que presta uma homenagem aos 713 soldados mortos durante a revolução constitucionalista contra o governo de Getúlio Vargas e por uma nova constituição.
Tombado pelos concelhos estadual e municipal de preservação de patrimônio histórico (CONDEPHAAT). Símbolo da Revolução Constitucionalista de 1932, o obelisco é o maior monumento da cidade, possuindo um total de 72 metros de altura.
O monumento começou a ser construído em 1947 e teve sua conclusão no ano de 1970, porém sua inauguração ocorreu no dia 9 de julho de 1955, um ano após a abertura do Parque do Ibirapuera e do lançamento do Monumento às Bandeiras. O Obelisco é um projeto do escultor ítalo-brasileiro Galileo Ugo Emendabili (8 de maio de 1898 - 14 de janeiro de 1974), que chegou ao Brasil em 1923, fugindo do regime fascista vigente na Itália. Foi feito em puro mármore travertino e sua execução foi confiada ao engenheiro alemão radicado no Brasil, Ulrich Edler.
Na entrada do monumento, uma série de arcos recebe os visitantes diante de uma luz baixa que produz um tom um tanto sombrio. Poemas e frases do escritor Guilherme de Almeida estão distribuídas por todo o local.
O mausoléu do Obelisco abriga os corpos dos estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (o M.M.D.C.) - mortos durante a Revolução do ano de 1932 - e de outros 713 ex-combatentes.
O interior do Obelisco tem forma de cruz, onde são encontrados painéis feitos com pastilhas de mosaico veneziano que representam o nascimento, o sacrifício e a ressurreição de Jesus. Além disso, podemos encontrar em sua parte interna um total de 800 urnas funerárias e três capelas.[5][7] O jardim que abriga o monumento aponta para a Avenida 23 de Maio, exatamente a data em que os quatro estudantes revolucionários foram mortos. Os restos mortais de Guilherme de Almeida e Ibrahim de Almeida Nobre, ex-combatentes e, respectivamente, considerados como o poeta de 32 e o tribuno de 32, se encontram sepultados dentro do mausoléu, bem como os de Paulo Virgínio, considerado um mártir do movimento.
O obelisco tem inscrições acompanhadas de ícones em suas quatro faces. Iniciando pela face norte, seguindo pela face oeste, sul, e finalmente leste. O poema escrito é texto de autoria de Guilherme de Almeida, feito em homenagem aos revolucionários de 1932. Abaixo segue o texto:
"Aos épicos de julho de 32, que,
fiéis cumpridores da sagrada promessa
feita a seus maiores - os que
moveram as terras e as gentes por
sua força e fé - na lei puseram sua
força e em São Paulo sua Fé."
Já na parte da base do monumento, junto à entrada da capela e da cripta, voltadas ao Parque do Ibirapuera, há outra inscrição, de autoria do jornalista Dr. Antônio Benedicto Machado Florence, embora também comumente atribuída a Guilherme de Almeida:
"Viveram pouco para morrer bem
morreram jovens para viver sempre."
A Avenida 23 de Maio foi feita e nomeada em homenagem a este dia de 23 de Maio de 1932.