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domingo, 24 de novembro de 2024

POEMA SUMÉRIO QUE INSPIROU O CÂNTICO DOS CÂNCITOS DA BÍBLIA

 


Šu-Sin, também escrito Shu-Suen, o quinto rei Sumério e o quarto da terceira dinastia de Ur (Ur III). Šu Sîn é filho de Amar-Sim que, na chamada cronologia curta, reinou entre 2029 e 1982 a.C., ou 2 038 a.C. - 2 030 a.C. após os cerca de 100 anos de dominação sob o povo Guteo. Šu-Sin governou após Šulgi e Amar-Sin, e seu filho Ibbi-Sin foi o último governante dessa dinastia, reinando até meados do século 20 a.C., quando uma combinação de catástrofes, desde problemas com o clima a invasões dos Amoritas e Elamitas, levou seu império a ruir. A cidade de Ur (localizada à época no encontro do rio Eufrates e o Golfo Pérsico), então centro do império, foi parcialmente despovoada e saqueada por nômades, e a dinastia Ur III teve fim.

Após uma revolta aberta de seus súditos amoritas, ele dirigiu a construção de um muro fortificado entre os rios Eufrates e Tigre em seu quarto ano, pretendendo impedir quaisquer novos ataques amoritas.

Uma inscrição afirma que ele deu sua filha em casamento ao governante de Šimānum "Sua filha foi dada como noiva a Simanum. Simanum, Habura e os distritos vizinhos se rebelaram contra o rei, eles expulsaram sua filha de sua residência." Shu-Sin posteriormente conquistou Šimānum e restaurou sua filha lá.

No quarto ano de seu reinado, após uma revolta aberta de seus súditos amoritas, ordenou a construção de um muro fortificado entre o rio Tigre e o rio Eufrates, com a intenção de impedir novos ataques amoritas.

No sexto ano de seu governo, foram construídos templos em Nipur dedicado aos deuses Ninlil e Enlil e no sétimo ano construída nova estela em comemoração a vitória sobre Ziringu do Reino de Zabesali.


A tabuleta contendo “A canção de amor de Šu-Sin” faz parte da biblioteca do rei assírio Assurbanípal (668 – 627 a.C.) descoberta nas escavações arqueológicas da cidade de Nínive no final do século XIX de nossa era. Seu texto foi publicado por Edward Chiera (1885 – 1933) em 1924 e depois traduzido pelos famosos pesquisadores da área Adam Falkenstein (1906 – 1966) e Samuel Noah Kramer (1897 – 1990), em 1947 e 1951, respectivamente. Como ocorre com o Cântico dos Cânticos, que é também chamado de Cântico de Salomão, nem Salomão, nem Šu-Sin são o eu-lírico dos poemas, de autoria anônima, que levam seu nome no título, mas seu interlocutor, a quem a canção é destinada. 

 “A canção de amor de Šu-Sin” é até hoje o exemplar mais antigo de que temos notícia, tendo sido composto por volta dos anos 2000 a.C., ao passo que o Cântico dos Cânticos seria uma composição posterior, entre os séculos 3-6 a.C., detendo por muito tempo o título de poema amoroso mais antigo do mundo, até este poema ter sido descoberto e traduzido. Na Suméria, era costume que a cada ano, como parte do festival de ano novo, o rei se casasse simbolicamente com Inanna, deusa do amor e da guerra (equivalente a Ištar entre os acádios), um matrimônio que, apesar de simbólico, era consumado de fato através de uma sacerdotisa da deusa, que, até onde se sabe (o que não é muita coisa) seria quem recitaria esses versos. Talvez ela os compusesse também, visto que temos registro de cantos femininos ainda mais antigos do que “A canção de Šu-Sin”, como “A exaltação de Inanna” e os Hinos Templários, compostos pela sacerdotisa, princesa e poeta En Hedu’anna, mas, neste caso especifíco aqui, em que a autoria não é clara, é difícil afirmar.


O PRIMEIRO POEMA:

POEMA AO REI SHU-SIN


Noivo, caro ao meu coração,

Agradável é a tua beleza, doce mel,

Leão, caro ao meu coração,

Agradável é a tua beleza, doce mel.

Tu cativaste-me, deixa-me permanecer tremente perante ti,

Noivo, eu deixaria que me levasses para o quarto,

Tu cativaste-me, deixa-me permanecer tremente perante ti,

Leão, eu deixaria que me levasses para o quarto.

 Noivo, deixa que te acaricie,

A minha preciosa carícia é mais saborosa do que o mel,

No quarto o mel corre,

Desfrutamos a tua agradável beleza,

Leão, deixa-me acariciar-te,

A minha carícia amorosa

é mais saborosa do que o mel,

Noivo, tu de mim tomaste o teu prazer,

Diz isto a minha mãe, ela far-te-á gentilezas,

O meu pai, ele dar-te-á presentes.

O teu espírito, eu sei onde recrear o teu espírito,

Noivo, dorme na nossa casa até ao amanhecer,

O teu coração, eu sei como alegrar o teu coração,

Leão, durmamos juntos em nossa casa até ao

amanhecer.

Tu, porque me amas,

Dá-me o favor das tuas carícias,

meu senhor deus, meu senhor protetor,

Meu Shu-Sin que alegra o coração de Enlil,

Dá-me o favor das tuas carícias.

Teu lugar agradável como mel


Segundo Poema

Cântico de amor a Shu-Sin


Ela deu nascimento a ele que é puro,

Ela deu nascimento a ele que é puro,

A rainha deu nascimento a ele que é puro,

Abisimti deu nascimento a ele que é puro,

A rainha deu nascimento a ele que é puro.

Ó minha rainha que é premiada do limbo,

Ó minha rainha que és (...) de cabeça,

minha rainha Kubatum,

Ó meu senhor (...) de cabelo, meu senhor Shu-Sin,

Ó meu senhor, que és (...) de palavra, meu filho de Shulgi!

Porque eu cantei, porque eu cantei,

o senhor deu-me um presente,

Porque eu disse a canção allari,

o senhor deu-me um presente,

Um pendente de ouro, um selo de lápis-lazúli,

o senhor deu-me um presente,

Um anel de ouro, um anel de prata,

o senhor deu-me um presente,

Senhor, o teu presente é repleto de (...), ergue o teu rosto para mim,

Shu-Sin, o teu presente é repleto de (...), ergue o teu rosto para mim.

Senhor, senhor, como uma arma (...)

A cidade ergue a sua mão como um dragão, meu senhor Shu-Sin,

E jaz a teus pés como uma cria de leão, filho de Shulgi.

Meu deus, da virgem do vinho, doce é a sua bebida,

Como a sua bebida, doce é sua vulva, doce é a sua bebida,

Como os seus lábios, doce é o seu sexo, doce é a sua bebida,

Doce é a sua bebida misturada, a sua bebida.

Meu Shu-Sin, que me escolheste,

Ó meu Shu-Sin que me escolheste, que me acariciaste,

Meu Shu-Sin que me escolheste, que me acariciaste,

Meu amado de Enlil, meu Shu-Sin,

Meu rei, o deus da sua Terra!


É um poema balbale dedicado a Bau.



REFERENCIAS E BIBLIOGRAFÍA

KRAMER, Samuel Noah. La historia empieza en Sumer. Barcelona, Orbis. 1985.

KRAMER, Samuel Noah. History Begins at Sumer: Thirty-Nine "Firsts" in Recorded

History . University of Pennsylvania Press. 3rd edition. 1988.

KRAMER, Samuel Noah and WOLKSTEIN, Diane. Inanna : Queen of Heaven and

Earth. New York: Harper & Row. 1983.

KRAMER, Samuel Noah. The Sumerians: Their History, Culture and Character.

Publisher: University of Chicago Press. 1963.

The Sumerian Word. http://sumerianwod.livjournal.com/

Sumerian Dictionary. http://sumerianwotd.livejournal.com/

Carsten Peust's Sumerian Page. http://www.peust.de/sumerian.html




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