Tibério Graco 169 ou164 a.C. - 133 a.C.
Tibério começou sua jornada no mundo da política romana através da via militar, servindo na queda de Cartago, que encerrou a Terceira Guerra Púnica (149-146 a.C.), sob o comando de seu cunhado Cipião Emiliano. Ele "logo aprendeu a apreciar o nobre espírito de seu comandante, que era adequado a inspirar fortes sentimentos de imitação". Após os andaimes e máquinas de cerco serem colocados nos lugares, Tibério foi um dos primeiros a escalar os muros. De acordo com Plutarco, enquanto em Cartago, ele ultrapassou a todos em obediência e coragem e "foi considerado com grande afeição enquanto continuou no exército; e deixou atrás de si, quando partiu, um forte desejo de retornar"
Tibério ingressou no cursus honorum [carreira pública romana] como um quaestor (questor) em 137 a.C., servindo sob o comando do cônsul Hostílio Caio Mancino, na Espanha. A campanha contra guerrilheiros insurgentes, os Numantinos, quase levou a carreira militar e política de Tibério a um fim precoce. Desde o início, as coisas deram terrivelmente errado. Os romanos foram enganados e, após falhar numa tentativa de escapar no meio da noite, forçados a se render e a concordar com um tratado que Tibério ajudou a negociar. Houve indignação em Roma: legiões romanas não se rendem. Mancino foi retirado do comando e devolvido aos insurgentes acorrentado. Tibério não foi acusado - "os soldados reconheceram Tibério como o salvador de muitos cidadãos, imputando ao general todos os malogros ocorridos"
Em seu período na Espanha, ele observou algo que iria assombrá-lo e mudar a direção de sua vida. Enquanto viajava pelo interior, notou que a maior parte do trabalho no campo era feito por escravos. A pequena família rural tinha desaparecido completamente. Após seu retorno a Roma, soube que, quando a República romana derrotava seus inimigos, confiscava suas terras. Embora parte delas fosse para os pobres e indigentes, que pagavam uma pequena taxa para o tesouro público, a maior parcela tornava-se ager publicus, ou áreas públicas comunitárias. Infelizmente, a maior parte destas terras públicas terminava como grandes propriedades ou latifundia. Com o tempo, o fazendeiro camponês, em pequena escala, simplesmente desapareceu. Um segundo fator que contribuía para esta situação era a contínua demanda do exército romano por mais homens. Com a ausência dos trabalhadores rurais, a pequena fazenda familiar falia e acabava comprada por grandes proprietários. Plutarco assinala que os pobres e indigentes aproveitaram as terras públicas comunitárias por algum tempo, mas os ricaços começaram a “expulsar o povo mais pobre”. Tibério compreendeu que algo precisava ser feito.
A Reforma Agrária de Tibério
Em 133 a.C., Tibério foi eleito um dos dez tribunos da plebe. Escolhido através de votação pelo concilium plebis ou Assembleia Plebeia por um mandato de um ano, um tribuno podia propor leis e convocar sessões do Senado. Tibério aproveitou seus recém-adquiridos poderes e propôs uma lei de reforma agrária, a lex agraria, que previa uma distribuição justa das terras públicas. Percebendo a inevitável resistência do Senado e numa tentativa de aplacá-los, ele renovou uma legislação antiga e nunca aplicada, banindo a ocupação de mais de 500 iugera de terra (trezentos acres).
Como toda legislação precisava ser apresentada ao Senado primeiro, Tibério temeu que sua proposta pudesse ser vetada. Assim, ele simplesmente ignorou o Senado e levou a legislação diretamente para votação na Assembleia. Outro tribuno, Marco Otávio, jurou usar seu poder de veto para interromper a leitura. Quando a lei estava sendo apresentada, Otávio interveio e, como prometido, bloqueou todos os procedimentos. No dia seguinte, o resultado foi o mesmo. Se não fosse lida, a lei não poderia ser votada. Tibério teve uma solução simples: na sessão seguinte, apresentou uma segunda lei, removendo Otávio do cargo de tribuno. Com o opositor fora do caminho, a lei foi lida e aprovada. Em seguida, Tibério criou uma comissão para supervisionar a implementação da nova legislação.
A comissão – o próprio Tibério, seu sogro e Caio – pesquisou as condições daqueles que possuíam terras públicas para impor o limite de 500 iugera. A nova lei estipulava que a posse da terra não significava propriedade; porém, ela permanecia livre de aluguel. O estado poderia reaver todas as terras públicas que excedessem o limite legal. Com a aprovação da lei, Tibério ficou preocupado com o financiamento de sua implementação. Para sorte do tribuno, o rei de Pérgamo, Átalo III, morreu e deixou seu reino em herança para Roma
Morte de Tibério
Embora considerado um benfeitor para os pequenos agricultores, a natureza franca de Tibério e sua estratégia de evitar o Senado geraram uma ferrenha oposição. Ao se candidatar para um segundo mandato como tribuno, ele reuniu seus partidários no Templo de Júpiter, na Colina Capitolina, onde os votos estavam sendo contados. Tibério sabia que, se falhasse em vencer a eleição, sua lei seria repelida. Um dos opositores mais estridentes era o pontifex maximus Públio Cornélio Cipião Nasica, primo de Tibério. Como sua oposição se tornava ainda mais sonora, as rixas se espalharam pela cidade.
Numa tentativa de interromper a votação, Nasica e vários senadores irromperam no templo, carregando armas improvisadas e exigindo a decretação de um estado de emergência. Plutarco relata que os agressores de Tibério tinham "se equipado com porretes e bastões de suas casas e pedaços de bancos e cadeiras". Na colina, pouco podia ser feito para resistir ao ataque de Nasica e seus companheiros. Tibério foi espancado até a morte; o cadáver acabou sendo atirado ao Rio Tibre, junto com 200 (alguns afirmam que 300) de seus partidários. Alvo da fúria popular, Nasica foi enviado para uma missão no exterior e morreu em Pérgamo. A quietude finalmente retornou a Roma, mas logo outro Graco chamou a atenção da cidade.
Caio Semprônio Graco 154 a.C. - 121 a.C.
No ano seguinte após o assassinato de Tibério, seu irmão Caio Semprônio Graco evitou o Fórum e todos os espaços públicos de Roma. Plutarco descreveu este isolamento:
" seja pelo receio dos inimigos de seu irmão ou pelo desejo de fazê-los mais odiosos junto ao povo, absteve-se das assembleias públicas e viveu discretamente em sua própria casa. Caio dedicou-se arduamente ao estudo da eloquência, como ferramentas com as quais poderia aspirar aos negócios públicos; e ficou bastante aparente que não pretendia passar seus dias na obscuridade."
Quando finalmente saiu de seu recolhimento, os romanos o receberam cordialmente e começaram a encorajá-lo a se tornar um tribuno. Já tendo servido ao exército, ele ingressou no cursus honorum como questor designado para a Sardenha, sob Lúcio Aurélio Orestes. Quando seu mandato foi estendido injustamente, ficou indignado e voltou a Roma. Acusado de abandono do dever, ele usou a habilidade oratória para ser absolvido, alegando que servira mais ao exército e como questor do que qualquer outra pessoa. Novas acusações foram feitas contra ele, desta vez por supostamente estimular a insurreição entre os aliados, e novamente ele precisou limpar seu nome.
As Leis de Caio
Como Tibério, ele percebeu a necessidade de reforma e, a despeito dos receios de seus oponentes e dos desejos de sua própria mãe, foi eleito tribuno em 123 a.C.. Conforme Anthony Everitt na obra The Rise of Rome [A Ascensão de Roma], Caio tinha “uma visão mais larga e abrangente do que seu irmão”. Seu objetivo era “purificar o Senado e fazê-lo mais responsivo aos interesses do povo”. Ele imediatamente apresentou duas novas leis. A primeira estabelecia que qualquer funcionário romano destituído de um cargo público estava proibido de atuar novamente em qualquer outro (possivelmente visando a Otávio, velha nêmesis de seu irmão), mas sua mãe convenceu-o a retirar esta proposta de votação. A segunda lei proibia julgamentos com pena capital sem a aprovação da Assembleia. Qualquer indivíduo que tivesse desprovido outro cidadão de seus direitos cívicos através de execução ou exílio, como se ele fosse um inimigo de Roma, precisaria ser levado diante do povo; a lei teve aprovação fácil na Assembleia.
Para deixar claro que algumas terras públicas iriam para os mais pobres, Caio em seguida reafirmou a lei agrária do irmão, mas retirou algumas áreas da distribuição. Como um antigo militar, ele propôs que um soldado romano deveria ser equipado por conta do estado sem qualquer dedução em seu pagamento. Propôs a criação de três novas coloniae na Itália e no sítio abandonado de Cartago, que seria renomeado como Junônia, em homenagem à deusa Juno. Plutarco afirma que o tribuno deu especial atenção à construção de estradas, as quais “foi cuidadoso em torná-las mais belas e agradáveis”. Para evitar carência de alimentos e possível fome generalizada, Caio estocou reservas de grãos normalmente importadas da África, Sicília e Sardenha com a construção de celeiros. Sua lex frumentaria, aprovada pela Assembleia, determinava que o estado poderia vender uma certa quantidade de grãos mensalmente aos cidadãos por preços subsidiados.
Em seguida, Caio atacou a corrupção nos cargos públicos, principalmente fraude, suborno e roubo. Um tribunal especial deveria cuidar de tais casos, com um júri composto por senadores e com atribuições de recuperar ou buscar compensação para a aquisição ilegal de dinheiro ou propriedade. Porém, muitos dos acusados acabaram absolvidos por serem amigos íntimos de senadores. Para remediar isso, senadores foram barrados dos júris e substituídos por equites (cavaleiros). Algumas das propostas não tiveram boa recepção tanto dos funcionários governamentais quanto do povo. Por exemplo, Caio planejava conceder cidadania romana total a certas comunidades com direitos latinos ou cidadania de segunda classe. A proposta foi rejeitada e deixou de ser considerada seriamente até a Guerra Social, em 91 a.C..
A Morte de Caio
Sem conseguir um terceiro mandato consecutivo como tribuno, ele deixou Roma para visitar o novo sítio de Junônia. Após retornar à cidade, deparou-se com oposição cerrada, principalmente de Lúcio Opímio. Após tornar-se cônsul, Opímio começou a reverter muitas leis de Caio. O Senado temia o poder e influência do ex-tribuno e ordenou que Opímio “deveria ser investido com poder extraordinário para proteger a comunidade e suprimir todos os tiranos”. Numa repetição do dia da morte de Tibério, Opímio disse aos senadores para se armarem. Percebendo que havia problemas à vista, Cornélia enviou guarda-costas para proteger o filho. Decretou-se um estado de emergência. Caio e seus partidários, em busca de segurança, reuniram-se na Colina Aventina. Opímio ordenou que flechas fossem disparadas contra a multidão.
A despeito dos desejos de seus apoiadores, Caio armou-se somente com uma pequena adaga. Sua esposa, Licínia, deu-lhe um sombrio aviso quando ele saiu de casa: “Você vai expor sua pessoa aos assassinos de Tibério desarmado preferindo antes sofrer a pior das injúrias a praticá-la por si próprio”. De acordo com o relato de Plutarco, Caio buscou santuário no Templo de Diana, onde tentou o suicídio, mas foi impedido por dois amigos. Ele e seus partidários então se reuniram numa das pontes que cruzavam o Rio Tibre, a Pons Sublicius. Os apoiadores tentaram atrasar os agressores, mas a resistência foi fútil e tanto seu escravo quanto Caio acabaram mortos. Ele foi decapitado e a cabeça entregue a Opímio, enquanto o corpo e os de cerca de 3.000 de seus partidários (condenados por um tribunal especial) foram jogados no Tibre. Conta-se que, com a morte de seus dois filhos, Cornélia deixou Roma para Miseno.
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