A criação das raças humanas começa com os europeus do século XV, na era do Renascimento e das Grandes Navegações, justamente quando começa a escravidão sistemática: social, religiosa e estrutura do povo africano negro. Nesse momento, os europeus começaram a se identificar como raça branca, da maneira como conhecemos hoje.
Antes disso, todos os europeus sem exceção, não se identificavam como povo branco ou como raça branca, este conceito não existia na sociedade europeia ocidental.
Eles se definiam como Cristãos (Anglicanos, Protestantes ou Católicos), súditos de reis ou reinos, godos, anglos, saxões, francos, lombardos, burgúndios, nobres, plebeus, etc., mas não se identificavam como povo branco ou povo de pele branca ou povo de raça branca, este conceito era totalmente inexistente.
Pelo lado sociológico, os europeus, em tese, não nasceram brancos, eles se tornaram brancos para justificar a escravidão de africanos e a colonização de povos não europeus, como os índios, aborígenes, chineses, japoneses, etc.
Quem diz isso é a pesquisadora Neil Evantin em seu livro "A História das Pessoas Brancas". E no mesmo livro, a escritora Neil Ebantin diz que "Raça é uma ideia e não um fato." e ela está totalmente correta nesta afirmação.
Bom, se nasceu o conceito de raça branca, obviamente que iria nascer o conceito de raça negra.
O nascimento da categoria do negro como raça se tornou sinônimo de escravo, escravizado, subraça ou raça inferior.
Mas isso nem sempre foi assim. A palavra negro nasceu por conta do rio Niger, um rio muito importante no continente africano. Sendo o principal curso de água da África Ocidental e o terceiro mais longo do continente africano, superado apenas pelo Nilo e pelo Congo. Com aproximadamente 4.180 km de extensão, ele é vital para a economia e subsistência de milhões de pessoas na região.
Ele nasce nas montanhas de Futa Jallon, na Guiné, a apenas 240 km do Oceano Atlântico e deságua no Golfo da Guiné através de um vasto delta na Nigéria.
O nome do rio Niger é uma expressão Tuaregue que quer dizer Rio dos Rios, já a palavra negro vem do latim niger, que significa "preto" ou "escuro", e os exploradores europeus associaram essa palavra ao rio africano (Níger) e aos povos de pele escura que lá viviam.
A nomenclatura Negro ou Niger foi usada pela primeira vez pelos romanos para se referir aos povos que viviam às margens do rio Níger. E eles chamaram estes povos de Nigris, ou seja, da cor da noite, de acordo com a raiz indoeuropeia desta palavra, a palavra negro era apenas uma palavra para descrever a característica de uma cor como a cor da noite.
Quando se dizia ou se usava a palavra Negro, Niger ou Nigris, não se pensava em racismo, raça, racismo, desigualdade pela cor da pele, segregação racial, preconceito racial, discriminação de cor de pele, intolerância racial e qualquer coisa que o valha. Isto começou a surgir de fato no ano de 1444, com o escritor Eanes de Zurara, um português que escreveu uma crônica em seu livro "Descobrimento da Guiné". É a partir de Zurara que, pela primeira vez neste período, há uma fusão fatal de cor, condição e destino, ou seja, ele diz em suas crônicas que os africanos capturados eram negros e a terra dos negros era fonte legítima de escravizados.
Do adjetivo pele escura, ele cria o substantivo, o negro. E do substantivo, ele cria a categoria social, o escravo negro. Sem isso, não haveria privilégio branco, mas como eu escrevi acima, a categoria branco foi inventada.
Porque não existe branco antes do encontro colonial. A categoria só faz sentido quando há um outro ser racializado. Precisou haver o preto para ver o branco e o branco para ver o preto. O branco só existe ao lado do preto.
Não existe a raça branca antes da colonização, isso é invenção europeia, o primeiro registro do termo pessoas brancas como raça aparece no ano de 1613, na peça "Os Triunfos da Verdade" do dramaturgo Thomas Middleton, bem no auge da escravidão africana e do renascimento europeu.
Juntando os principais expoentes da cultura humana, para fazer valer toda a construção da existência da raça branca, foi feita a integração da Religião, Arte e Ciência.
No caso da Religião, temos o Catolicismo Romano
Religiões Protestantes: Igreja Anglicana, Anabatista ou Batista, Igreja Adventista do Sétimo Dia, Igreja Presbiteriana, Testemunhas de Jeová, Igreja Puritana, Igreja Luterana, Igreja Calvinista, etc. Sem contar com a Teologia e Mitologia que surgiram no processo.
Nas Artes: Pintura, Escultura, Teatro, Música, Desenho, Livros e todo entretenimento de massa.
Na Ciência: Filosofia, Geografia, Sociologia, Psicologia, Psicanálise, Medicina, Antropologia.
A esse processo sistemático de nascimento das raças branca e preta como povos e nações, foi criado um termo técnico, chamado de Eugenia.
Isso cria dois mundos, dois sistemas estruturais basilares, impossíveis de se quebrar, que é o Privilégio do Branco (seja este rico ou pobre) e o Desprivilégio do Negro. O Privilégio Branco é um conjunto sistemático de vários benefícios estruturais que congratula socialmente todos os indivíduos identificados como brancos.
E quem diz isso não sou eu, e sim a pesquisadora e escritora americana Peggy McIntosh 1934 que descreve em seu livro, lançado em 1988, "White privilege and male privilege: A personal account of coming to see correspondences through work in women's studies. Working paper No. 189. Wellesley, Massachusetts: Wellesley Center for Research on Women." (Privilégio branco e privilégio masculino: um relato pessoal de como chegou a perceber as correspondências por meio do trabalho em estudos feministas. Documento de trabalho nº 189. Wellesley, Massachusetts: Centro de Pesquisa sobre Mulheres de Wellesley).
Nesta citação em seu livro, ela diz:"O privilégio branco é um pacote invisível de ativos não merecidos com os quais posso contar todos os dias"
Ser um pobre branco, não é o mesmo que ser um pobre negro.

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