De acordo com o Enuma Elish, o deus Marduk depois de matar Tiamat (deusa serpente) criou o mundo: “as tuas armas jamais perderão o seu poder, ele esmagará o inimigo”. (Enuma Elish 4ª tábua 16ª linha). A Mitologia dos Cananeus (povos rivais dos Hebreus) afirmava que: Baal (filho de El) matou o dragão de sete cabeças, chamado de: “Lotan”. Depois, Baal usando o corpo de Lotan criou o mundo. Por causa de rivalidades: políticas, econômicas, culturais e religiosas entre os Hebreus e os Cananeus, o deus, Baal foi demonizado, na Bíblia.
Na Mitologia Grega, Apolo, filho de Zeus (deus supremo do panteão grego), mata a serpente Píton. Após a morte de Píton, Apolo cria o mundo. Na mitologia Viking, no Ragnarok (dia do Fim do Mundo), Thor, filho de Odin (rei dos deuses nórdicos), mata a serpente do mundo, Jormungand (na luta ambos acabam morrendo). Na mitologia Asteca, Quetzalcoatl, mata um monstro marinho (Cipactli) e depois cria o mundo. Diante destes exemplos acima, a Bíblia descreve um combate entre: El (“Deus”) com uma serpente marinha, o Leviatã: “Naquele dia o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o Leviatã, serpente veloz, e o Leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar Isaías 27: 01.”
Nos mitos: Cananeus, Hebraicos, Vikings, Gregos e Mesopotâmicos, vemos que existe uma luta (conflito) entre um deus-guerreiro do sexo masculino (El-sabaoth – Senhor dos exércitos, Marduk, Baal, Apolo e Thor), contra uma serpente marinha (Leviatã, Lotan, Cipactli, Jormungand e Tiamat).
No Mito de Gilgamesh e no Mito de Adão, a serpente engana ambos. De acordo com Gilgamesh, ficou sabendo da existência de uma “planta” ou um “fruto” que dava a imortalidade e “eterna juventude”. Mas essa “planta” que se parecia com uma ameixa, estava no fundo do mar. Então, Gilgamesh amarrou duas pedras em suas pernas e foi até o fundo do mar e conseguiu pegar a tal “planta” ou “fruto”. Porém, chegando perto de seu reino, ocorreu o inesperado: Depois de nadar 144 Km estava extremamente cansado, ao tomar banho em uma pequena lagoa fria ao final da tarde, uma cobra fareja a planta de odor doce e a rouba. Então Gilgamesh se senta e chora. Ele finalmente percebe que a imortalidade não é para ele: deve desistir.
Resumindo, a serpente foi a responsável por Adão e Eva caírem em tentação no Paraíso (e que ambos perdessem sua imortalidade ou a eterna juventude). E Gilgamesh não conseguiu alcançar seu objetivo: a imortalidade. Vemos aqui paralelos entre os mitos. E que a serpente estaria associada ao caos e a desordem.
Em contrapartida, comparando as diversas culturas da Antiguidade, percebemos que as serpentes têm uma dupla função. Ela traz bênçãos e maldições. No Antigo Egito, o emblema real dos faraós era a coroa tendo na fronte uma Naja (serpente), ao mesmo tempo, havia uma serpente (Apófis, associado ao caos) que lutava todos os dias com Rá, o deus supremo do Egito Antigo. Em algumas culturas, a serpente poderia ser associada à magia e a medicina. Na Suméria, Acádia e Babilônia Ea ou Enki era associada à sabedoria e medicina, e seu símbolo era de um cajado com uma serpente entrelaçada nele que existe até hoje.
Um dos guardiões da Porta do Céu da casa de Anu é Gizzida ou Ningishzida . Gizzida ou Ningishzida era como um deus com habilidade de andar e falar tendo um corpo de serpente e cabeça humana e era o proprietário de uma “boa árvore” .
Na Bíblia, a serpente apareceria muito tempo depois da criação do Homem e da Mulher, em Gn 03: 02. Sendo descrita como a “criatura mais cautelosa” que El (“Deus”) havia criado. É importante comentarmos aqui, que a Serpente do Gênesis não tem ligação nenhuma com Satanás/Lúcifer. Não existem provas: textuais, arqueológicas e históricas para associar “demônios” à serpente. A concepção de uma única figura maligna, como: Satanás, não existia antes do “Cativeiro da Babilônia” (587-537 a. C).
Atualmente Satanás estaria associado a uma serpente devido o Livro do Apocalipse que foi escrito entre, os anos: 90-110 d. C. Ou seja, muitos anos após o Gênesis ter sido escrito. Durante os anos de 700-600 a. C, os sacerdotes e demais população Hebréia, acreditavam que El (“Deus”) poderia fazer tanto o bem como o mal.
Mercadores, embaixadores e povos nômades ao se deslocarem da Mesopotâmia indo em direção ao Egito Antigo, eram obrigados a passar pelo corredor sírio-palestino, (onde hoje é Israel), dessa forma, o povo local (Hebreus e Cananeus), obtiveram contatos culturais-religiosos, com diversos povos do Oriente Médio. Este contato foi fundamental para o desenvolvimento dos mitos que vemos em Gênesis. Podemos até supor que os Hebreus “pegaram emprestado” alguns mitos, personagens e poemas para criar um enredo que contasse a origem de seu povo, criando assim sua própria estória. Isso ficou claro quando notamos paralelos entre: Adapa e Adão, entre a luta de deuses guerreiros e as serpentes marinhas, a existência do Jardim dos deuses no mundo da Mesopotâmia e dos povos do corredor sírio-palestino e, finalmente, a serpente, um animal que para algumas culturas, pode trazer bênçãos e para outras maldições. O povo da Antiguidade tinha o desejo e a vontade, de haver uma promessa divina (através de um deus guerreiro), que iria eliminar: o caos, na Terra.
O livro de Gênesis está cercado de elementos mitológicos comuns entre as diversas sociedades do Mundo Antigo. Adão, a Serpente e o Jardim do Éden foram produtos importados de uma superpotência religiosa e cultural, Sumeriana. Não há como negar que sua herança serviu de trampolim para que anos mais tarde, os Hebreus compilassem suas ideias no que chamamos de: Gênesis.
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