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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

A FARSA DO PRETERISMO

 


Preterismo é uma palavra que vem do latim, "Preter" que significa, passado. 

Surgiu no ano de 1547, tendo como autor John Hentenius, no entanto, ganhou destaque depois que um padre jesuíta português, conhecido como Luís de Alcazar, que viveu entre 1554 a 1613, expôs sistematicamente a visão preterista, ao escrever um comentário de noventa páginas do livro de Apocalipse, entitulado "Investigação do Sentindo Oculto do Apocalipse" (em latim Vestigatio Arcani Sensus em Apocalypsi), com o objetivo de defender a Igreja Católica e o Papa, das intensas acusações dos protestantes que o acusavam de ser o Anticristo e a Igreja católica, a grande Babilônia de Apocalipse. Era o período da conhecida, Reforma Protestante, no ano de 1545 a Igreja Católica contra ataca, fazendo a Contra Reforma, e foi justamente na Contra Reforma que surgem as doutrinas futuristas que são cridas hoje pelos religiosos evangélicos.  

Nesta visão, escatológica, o preterismo interpreta algumas profecias da Bíblia como eventos que já aconteceram nos anos 70 d.C. com a queda de Jerusalém pelos Romanos. 

A interpretação literal da Bíblia é perigosa para os cristãos. Por exemplo, os preteristas empregam intencionalmente interpretações alegóricas para muitos dos símbolos de Apocalipse 4–19 . Para eles, as Bestas no capítulo 13 são símbolos do Imperador Romano Nero em 54–68 d.C., e a “tribulação” descrita no texto é um símbolo da perseguição cristã. Mas os preteristas parciais mudam os métodos interpretativos para os últimos três capítulos e arbitrariamente afirmam que os capítulos 20–22 ainda estão em nosso futuro, embora não acreditem que tudo isso será cumprido literalmente.

No entanto, a disciplina apropriadamente empregada de interpretação literal em todos os gêneros das Escrituras, incluindo profecia, leva a uma compreensão consistentemente clara e convincente do que o texto significava para o público original e para nós hoje. Não precisamos nos perder na subjetividade do simbolismo e da alegoria!

A interpretação dos preteristas das profecias sobre o julgamento final de Deus sobre as nações é problemática. Eles alegam que essas profecias de julgamento mundial foram realmente cumpridas na destruição de Jerusalém, como se Israel fosse o verdadeiro alvo de Deus. Isso leva a uma forma insípida de antissemitismo cristão. Mas a conclusão óbvia de Apocalipse, Daniel, Mateus 24–25 e outras profecias é que Deus julgará todas as nações da Terra com os eventos da Tribulação, não apenas Israel. A certeza dos preteristas de que Deus julgou e rejeitou Israel não é encontrada em nenhum lugar da Bíblia, e fica muito aquém do escopo do julgamento descrito nessas profecias. 

Os preteristas afirmam que o Apocalipse foi escrito para dar esperança aos cristãos durante os dias difíceis da guerra romana com o povo judeu. Mas que conclusão um cristão que o lê hoje deve tirar se isso for verdade? O raciocínio mais comum é que se Deus julgou e rejeitou Israel e levantou um novo povo para Si mesmo, a saber, a igreja, então é aceitável que os cristãos tratem os judeus com o menor desprezo. Esse raciocínio levou a repetidos pogroms, expulsões e assassinatos de incontáveis ​​judeus por cristãos ao longo da história. Deus não rejeitou Israel e os colocou de lado em favor da igreja.

Os preteristas apoiam a crença de que todas as profecias são cumpridas, em grande parte, por dois argumentos básicos: 1) certas passagens ( Mateus 16:28 ; 10:16–25 ; cap. 24; Apocalipse 1:1 ; 22:6–7 ) que eles interpretam como Jesus ensinando que tudo seria cumprido durante a vida dos 12 discípulos ou sua geração, e 2) sua datação inicial do livro do Apocalipse.

No entanto, a interpretação deles dessas passagens é altamente contestada. Jesus não estava ensinando que Ele voltaria durante a vida dos discípulos; caso contrário, Ele estaria mentindo. Em termos gerais, Ele estava afirmando a existência contínua do povo judeu até o fim dos tempos — Ele não havia terminado com eles, e eles farão parte de Seus planos. 

Os preteristas argumentam que o livro do Apocalipse foi escrito em 65 d.C., colocando assim sua escrita antes da destruição de Jerusalém e satisfazendo a alegação de João de que ele estava escrevendo uma “profecia” sobre o suposto julgamento de Deus em 70 d.C. O problema com esse argumento é que praticamente todos os estudiosos concordam que o Apocalipse foi escrito na década de 90 d.C. durante o reinado de Domiciano, como os pais da igreja atestam. Então, se o livro foi escrito com o propósito de descrever o julgamento de Deus sobre Israel por meio de Roma, então João estava escrevendo história, não profecia! 

A profecia sempre tem o objetivo de dar esperança aos leitores. Esperança de que Deus fará o que Ele diz. Esperança de que, apesar da dor e do sofrimento que estamos enfrentando, Deus tem um plano para vencer o dia. Esperança de que Deus trará justiça e cura a este mundo quebrado. Que esperança João poderia dar aos seus leitores se tudo o que ele escreveu já estava feito e acabado? Que esperança Deus nos oferece hoje se o livro do Apocalipse significa pouco ou nada para o nosso futuro também? É de vital importância que nos apeguemos à esperança que Ele nos deu na profecia!

Aguente firme, igreja! Jesus realmente está voltando. 

 

IMPERADOR ADRIANO

Após o fatídico evento que resultou na derrota dos Judeus em 70, eles não aprendem a lição e continuam suas revoltas, 65 anos depois de serem derrotados pelo General Tito, as revoltas judaicas continuam a todo vapor, agora, 65 anos depois, Bar Kochba, um homem comum que, de repente, tornou-se um importante líder e foi considerado até mesmo um messias, graças ao decisivo apoio do rabino Akiva, a maior liderança espiritual da Judeia. Bar Kochba logo demonstrou seu talento militar.

Ciente das limitações de seus comandados, ele evitou o combate aberto com as forças romanas, claramente superiores, recorrendo a táticas de guerrilha. Organizou pequenos grupos regulares de combate e, pouco a pouco, conseguiu expulsar as tropas romanas de suas posições. Cerca de três anos após o início da revolta, Bar Kochba conduziu seus soldados até Jerusalém, reconquistando a cidade e proclamando o restabelecimento da independência do Estado Judeu.

Nomeado nasi (príncipe), Bar Kochba ou Simão Barcoquebas obteve amplos poderes e estabeleceu um Estado teocrático. Nos anos que governou, ele ficou conhecido por seu estilo centralizador e pragmático, adaptando as formas de administração romanas às novas condições.

Para resumir a história, em 135, o imperador Adriano mandou arrasar a cidade, ao cabo da revolta judaica liderada por Simão Barcoquebas ou Bar Kochba. 

A destruição da Jerusalém foi pior que da primeira, e olha, que em 70 a destruição causou terror, medo e pavor na população, mas o Imperador Adriano fez o que era ruim, ficar pior cem vezes mais, foi um genocídio, massacre, carnificina de primeira qualidade, foi um arraso total, imparcial, sem dó, pena, piedade, desastre sem comparação. 

Sobre os restos de Jerusalém, edificou-se uma cidade helênica (Élia Capitolina) e sobre o monte onde se erguera o santuário de Javé, erigiu-se um templo dedicado a Júpiter Capitolino. Todo o território de Israel, foi detonado, arrasado, e o país foi renomeado de Síria Palestina, quem dissesse o nome Israel ou Jerusalém, seria executado sem julgamento, sem dó, pena ou misericórdia.

Esta foi a última destruição que colocou um fim de vez em alguma tentativa de reerguer o templo. Até a data atual o templo de Jerusalém não foi ainda reerguido e resta apenas um grande muro que cercava a região do antigo templo. Popularmente conhecido como o muro das lamentações. 

A destruição de Jerusalém foi mil vezes pior que na época do Imperador Vespasiano, sob o comando do General Tito, se Jesus não voltou naquele período, ele tinha então que voltar na época do Imperador Adriano, e não voltou, isso é mais uma prova de que a Teologia Preterista é uma farsa, uma fraude.


A FARSA DO PRÉ-TRIBULACIONISMO E DO ARREBATAMENTO SECRETO DA IGREJA

 


Até o ano de 1830 ninguém falava sobre o arrebatamento secreto da Igreja como é tão conhecido nos dias de hoje.  

Isso foi feito por John Nelson Darby que nasceu no ano de 1800 e morreu no ano de 1882 ele se inspirou nos ensinos de um padre Jesuíta espanhol chamado Francisco Ribeira que nasceu no ano de 1537 e morreu no ano de 1591, nenhum reformador acreditava em um arrebatamento coletivo e secreto da igreja e pré tribulacionista. 

Através da Bíblia Anotada de Scotfield esse ensinamento começou a ser anotado. 


A História

Esta história falsa sobre o arrebatamento pré-tribulacionista secreto da igreja tem sua raiz na farsante religião Católica Romana, um padre Jesuíta de nome Francisco Ribeira quem desenvolveu tal mentira para combater os protestos que as pessoas faziam contra o Catolicismo Romano. Pois os protestantes da época diziam que o Papa e o todo Clero eram a Besta e o Anticristo e os Demônios de Apocalipse 13. 

Para defender o sistema Católico, o padre Ribeira, juntamente com a Contra-Reforma, desenvolveu a herética e mentirosa teologia arrebatamentista pré-tribulacionista e secreta da igreja, que hoje é largamente ensinada nos templos evangélicos e nas suas faculdades de teologia.

Como todo ensino errado viraliza arregimenta seguidores e fanáticos, esta doutrina esdrúxula não poderia ser diferente, pois os pastores Samuel Roffey Maitland, James Todd, William Burgh e principalmente, John Nelson Darby se influenciaram pelo falso ensino Católico arrebatamentista pré-tribulacionista. 

Nelson Darby ficou muito famoso, ele foi uma figura muito influente entre os Irmãos de Plymouth, os Irmãos de Plymouth são diversos grupos evangelicos adenominacionais com origem em Dublin, na Irlanda, por volta de 1825.

Darby com o seu falso ensino influenciou um advogado chamado Cyrus Scofield, o qual, após converter-se, se tornaria ministro ordenado da Igreja Congregacional. Sua obra, a Bíblia de Referência de Scofield 1909, foi a responsável pela popularização do falso ensino do arrebatamento  nos Estados Unidos e em vários outros países que mais tarde a traduziram.

Para piorar a situação que já era desastrosa, no ano de 1990 os escritores pentecostais Tim LaHaye e Jerry Jenkins lançam uma série de livros hereges de ficção evangélica de nome Left Behind ou Deixados Para Trás, que depois vira filme. 


Bíblia de Estudo Scofield 

Foi lançada no ano de 1909 com as anotações do Pastor Scofield é uma farsa perigosa, pois em nenhuma parte os Apóstolos ou o próprio Cristo nos ensinou sobre a questão do arrebatamento pré-tribulacionista, é uma das Bíblias de estudo mais vendidas do mundo, e tem infelizmente ensinado erradamente desde que fora lançada no ano de 1909.


Refutação Bíblica

Não existe um arrebatamento secreto, pois Jesus disse: Portanto, se vos disserem: Eis que Ele está no deserto, não saiais. Ou: Ei-lo no interior da casa, não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem. Mateus 24:26,27.

Agora um pergunta: Alguém já viu um relâmpago aparecer de forma secreta?

Jesus disse claramente que o mundo todo testemunharia seu retorno, ele disse: Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. Mateus 24:30

É necessário aqui frisarmos uma palavrinha, a palavra "poder", pois a palavra poder no grego quer dizer Dynamis de onde vem a palavra Dinamite, isso quer dizer que a vinda de Cristo será Grandiosa, Poderosa e Gloriosa e não secreta como ensinam os evangélicos. 

Jesus descreveu explicitamente o destino dos que serão deixados para trás. Assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. Veio o dilúvio e os levou a todos. Mateus 24:37-39. Ou seja, os que forem deixados para trás serão destruídos “como foi nos dias de Noé”. Não haverá segunda chance. Esse é um grande engano doutrinário disseminado dentro do sistema religioso evangélico.


Como Será então o Arrebatamento?

Nunca ninguém tinha ouvido falar sobre o arrebatamento secreto e pré-tribulacionista da igreja, nem na História Antiga, nem na Idade Média, nem na Idade Moderna e nem na Idade Contemporânea, isto até o ano de 1830, quando esta doutrina católica entrou na religião evangélica. 

Não há nenhuma menção bíblica ou apócrifa desta errônea doutrina religiosa, não há menção arqueológica, nem menção teológica, nem história. 

É mais um dos famosos dogmas fraudulentos que emburrecem o povo e bobotizam os que seguem este embuste eclesiástico. 

O arrebatamento será público, notório e visto por todos, o próprio texto de 1 Tessalonicenses declara isto, pois está escrito: Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.

Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.

Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras. 1 Tessalonicenses 4:16-18. 

Se Jesus descerá do céu com alarido ou barulho, isto quer dizer que os que não sofrerem de problema da audição, ouvirão o estrondoso barulho que ele fará na sua vinda, e tem o termo, voz de arcanjo ou seja, com um berro mais que alto, e com trombeta de Deus, isto quer dizer que será um estardalhaço barulhento que será impossível não ouvir (isto os que não sofrerem de surdes). E quando diz o texto que seremos arrebatados, quer dizer que seremos tomados, roubados, arrancados, tirados, extraídos deste mundo e em público e não secreto. 

Jesus disse: Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro;

Estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra. Mateus 24:40,41

Isto quer dizer que haverá testemunhas oculares quando estas coisas acontecerem.


Estaremos aqui no período da Grande Tribulação?

Certamente estaremos aqui durante o período da tribulação, pois está esctiro: 

E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim.

Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.

Mas todas estas coisas são o princípio de dores.

Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.

Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão.

E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.

E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.

Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.

E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim. Mateus 24:6-14

O texto diz claramente que estaremos aqui, está também escrito em Apocalipse 6: 

E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?

E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram. Apocalipse 6:10,11

Lemos aqui que falta mais pessoas sofrerem e morrerem por amor a Cristo para se completar o número que ele estabeleceu, claro que número este, ninguém sabe. 

Também está escrito: 

E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram?

E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Apocalipse 7:13,14

Obviamente que estaremos aqui no período da grande tribulação, não há dúvidas quanto a isso.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

O QUE É FÉ?



A palavra Fé quer dizer "Fidelidade" em latim quer dizer Fides, que significa, Fidelidade. A palavra Fé, portanto, é o diminutivo de Fidelidade, e Fidelidade quer dizer. É, portanto, ser fiel, e ser fiel significa cumprir um acordo, uma missão ou um compromisso, e pode ter vários significados, seria ser leal? Pode até ser, pois fidelidade e a lealdade são conceitos semelhantes, mas existem algumas diferenças. A fidelidade é uma atitude de quem tem compromisso com aquilo que assume, enquanto a lealdade resulta de uma decisão consciente e envolve compromisso, conexão e cuidado.

No livro de Hebreus está escrito que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem. Hebreus 11:1, pois prova que a fé é um conceito concreto e não abstrato, se é firme, quer dizer que é uma ação, atitude e não somente acreditar, como se ensinam no fatídico sistema 

religioso. Digo isso, pois a fé exige uma prova verídica, não se pode obter uma prova daquilo que é teórico, como crer ou acreditar.

Se tem um firme fundamento, quer dizer que o resultado disso é a própria prova cabal daquilo que se diz, ou seja, eu creio (é a teoria) a fé, é a prova física desta teoria, pois também está escrito que sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam. Hebreus 11:6.

Isso remete ao compromisso em ações, atitudes e comportamentos que resultam em uma prática do resultado comprobatório, pois se é necessário que aquele que se aproxima de Deus acredite que ele exista e é presenteador (galardoador) de todo ser humano que o busca, este é o resultado, confirmando que fé é comportamento, atitude, ação.

Acreditar é somente a teoria, pois os demônios até creem em Deus e estremecem Tiago 2:19, mas não tem fé, pois eles não têm o comportamento de fidelidade, lealdade, compromisso, etc., eles não são fiéis.

Portanto, você até pode acreditar, mas não quer dizer que você tem fé, pois a fé é o resultado daquilo que você acredita, sendo assim, é melhor ter fé, pois quem tem fé, já acredita automaticamente, pois quem acredita, pode não ter fé.


KUMARBI

 


Kumarbi, também conhecido como Kumurwe, Kumarwi e Kumarma, foi um deus hurrita. Ele ocupou uma posição sênior no panteão hurrita e foi descrito como o "pai dos deuses". Ele foi retratado como um velho rei deposto dos deuses, embora isso provavelmente não refletisse a perda factual da posição do chefe do panteão na religião hurrita, mas apenas uma narrativa mitológica. Muitas vezes é assumido que ele era uma divindade agrícola, embora essa visão não seja universalmente aceita e as evidências sejam limitadas. Ele também foi associado à prosperidade. Acreditava-se que ele residia no submundo.

Várias divindades hurritas eram consideradas filhos de Kumarbi, incluindo Teshub, que ele concebeu após morder os órgãos genitais de Anu. Eles eram considerados inimigos. Em mitos que tratam do conflito entre eles, Kumarbi gera vários inimigos destinados a suplantar o deus do tempo, como o gigante de pedra Ullikummi. Kumarbi também estava intimamente associado a outras divindades que eram consideradas os "pais dos deuses" em seus respectivos panteões. Já no século XVIII a.C., ele passou a ser associado a Dagan, o deus chefe do panteão do interior da Síria na Idade do Bronze. Ambos eram associados à deusa Shalash e ao deus mesopotâmico Enlil. Do século XVI a.C. em diante, e possivelmente também antes, Kumarbi e Enlil eram vistos como equivalentes, embora não fossem necessariamente confundidos um com o outro, e pudessem aparecer como duas figuras distintas nos mesmos mitos. Uma versão trilíngue da lista de deuses de Weidner de Ugarit apresenta tanto Kumarbi quanto Enlil como os equivalentes do deus local El. Uma restauração provisória de uma versão bilíngue de Emar também pode indicar que ele poderia ser associado a Ištaran.

A adoração de Kumarbi é atestada em sítios localizados em todas as áreas habitadas pelos hurritas, da Anatólia às Montanhas Zagros, embora tenha sido argumentado que sua importância na esfera do culto era comparativamente menor. A referência mais antiga possível a ele ocorre em uma inscrição real de Urkesh do período acadiano ou Ur III, embora a leitura correta do nome da divindade pretendida seja uma questão de debate acadêmico. Ele também já é referenciado em textos de Mari do início do segundo milênio a.C. Outras atestações estão disponíveis em Ugarit, Alalakh e no reino oriental de Arrapha , onde ele era adorado em Azuḫinnu. Além disso, ele foi incorporado ao panteão hitita e, como um de seus membros, aparece em textos de Hattusa, presumivelmente refletindo as tradições de Kizzuwatna. Uma representação dele foi identificada entre os deuses do santuário Yazılıkaya. No primeiro milênio a.C. ele continuou a ser adorado em Taite, e como uma de suas divindades ele é atestado nos rituais assírios Tākultu. Ele também é atestado em inscrições luwianas de sítios como Carchemish e Tell Ahmar.

Vários mitos focados em Kumarbi são conhecidos. Muitos deles pertencem ao chamado Ciclo de Kumarbi, que descreve a luta pela realeza entre os deuses entre ele e Teshub. Os textos geralmente concordados em pertencer a ele incluem a Canção de Kumarbi (provavelmente originalmente conhecida como Canção da Emergência ), a Canção de LAMMA, a Canção da Prata, a Canção de Ḫedammu e a Canção de Ullikummi. Kumarbi é retratado neles como uma divindade intrigante que levanta vários desafiadores para depor ou destruir Teshub. Seus planos são tipicamente bem-sucedidos no curto prazo, mas, no final das contas, os adversários que ele cria são derrotados pelos protagonistas. Outros textos argumentados como também fazendo parte do ciclo incluem a Canção do Mar, a Canção do Óleo e outras narrativas fragmentárias. Kumarbi também aparece em uma adaptação de Atrahsasis, onde ele desempenha o papel que originalmente pertencia a Enlil. Mitos focados nele são frequentemente comparados a outras narrativas conhecidas da tradição de outras culturas vizinhas, como a Teogonia Mesopotâmica de Dunnu ou o Ciclo Ugarítico de Baal. Também é comumente assumido que eles foram uma influência na Teogonia, especialmente na sucessão de governantes divinos e no caráter de Cronos. Outras obras argumentadas para mostrar influências semelhantes incluem a História Fenícia de Filo de Biblos e várias teogonias órficas, como a conhecida do papiro Derveni.

No cuneiforme silábico padrão, o teônimo Kumarbi foi escrito como d Ku-mar-bi. Um byform, Kumurwe, é atestado em fontes de Nuzi.  Em textos ugaríticos escritos na escrita cuneiforme alfabética local, foi renderizado como kmrb 𐎋𐎎𐎗𐎁 ou kmrw  𐎋𐎎𐎗𐎆, vocalizado respectivamente como Kumarbi e Kumarwi.  Uma variante tardia, Kumarma, aparece em inscrições hieroglíficas Luwianas, onde é renderizada com os sinais (DEUS)BONUS, “o bom deus”.  A leitura correta foi determinada com base em uma grafia silábica identificada em uma inscrição de Tell Ahmar, (DEUS.BONUS) ku-mara/i+ra/i-ma-sa 5.

O nome de Kumarbi tem origem hurrita e pode ser traduzido como “ele de Kumar”. Embora tal topônimo não seja atestado em nenhuma fonte hurrita, Gernot Wilhelm de observa que ele mostra semelhanças com nomes hurritas do terceiro milênio a.C. e com base nisso propõe que pode se referir a um assentamento que existiu no período inicial da história hurrita, mal documentado em fontes textuais. Ele sugere que seu nome, por sua vez, remonta à raiz hurrita kum, “amontoar”. Exemplos de outros teônimos hurritas estruturados analogamente incluem Nabarbi (“ela de Nawar”) e possivelmente Ḫiriḫibi (“ele de [a montanha Ḫiriḫi”). Embora se tenha argumentado que Aštabi é um exemplo adicional, seu nome foi originalmente escrito como Aštabil em Ebla e, como tal, não pode ser considerado outro teônimo estruturalmente semelhante ao Kumarbi.

De acordo com Alfonso Archi, em vários textos hurritas o nome de Kumarbi é representado pelo sumerograma NISABA. Também era usado para se referir a Dagan.  Archi assume que ambas as convenções dos escribas tinham a mesma origem. Em dialetos ugaríticos e relacionados, o nome de Dagan era um homófono da palavra para grão, com ambos escritos como dgn ( 𐎄𐎂𐎐 ) em textos alfabéticos ugaríticos, e a escrita logográfica de seu nome e do de Kumarbi como d NISABA era provavelmente um exemplo de jogo de palavras popular entre os escribas, que neste caso se baseava na estreita associação entre esses dois deuses e no fato de que o nome de Nisaba poderia funcionar como uma metonímia para grão. Lluís Feliu com base nas atestações desta escrita da Anatólia sugere que ela refletia uma conexão com a divindade hitita dos grãos Ḫalki, que da mesma forma poderia ser representada pelo mesmo sumerograma.  Um exemplo anatólio do uso de d NISABA para designar Kumarbi foi identificado em uma lista de oferendas que trata das divindades adoradas na cidade hitita de Durmitta. Apesar do caráter diferente das duas divindades, também há evidências do uso do nome de Ḫalki como um logograma para se referir a Kumarbi.

Os textos hurritas referem-se a Kumarbi como o “pai dos deuses”. Volkert Haas interpretou isso como uma indicação de que ele era considerado uma divindade criadora. Sua posição no panteão hurrita era alta, como refletido por seu epíteto ewri, “senhor”. Nos mitos, ele era retratado como um velho rei deposto dos deuses, substituído por seu filho Teshub, embora se presuma que esta seja uma narrativa etiológica fictícia que explica a estrutura do panteão hurrita, em vez de um reflexo de uma perda de importância às custas de outra divindade.  No entanto, foi argumentado que a relação entre eles pode ter se desenvolvido originalmente como uma forma de harmonizar dois panteões locais originalmente distintos. 

É frequentemente assumido que Kumarbi estava associado a grãos. No entanto, Lluís Feliu aponta que a evidência direta de seu suposto caráter agrário está atualmente limitada ao fato de que o sumerograma d NISABA era às vezes usado para escrever seu nome, e a identificação de uma planta que ele segura no relevo Yazılıkaya como uma espiga de grão. A crítica de Feliu a essa caracterização é apoiada por Alfonso Archi, que aponta que o símbolo da orelha não é usado em nenhum outro lugar, e pode representar apenas um jogo de palavras que faz referência à convenção dos escribas de usar o nome da divindade hitita diferente Ḫalki como um logograma que designa Kumarbi. Feliu aponta que muitos argumentos a favor da interpretação de Kumarbi como um deus agrícola são baseados em raciocínio circular, especificamente na suposição de que se Dagan, intimamente associado a ele, tinha caráter agrícola, ele também tinha.  No entanto, Dagan era considerado um deus da prosperidade amplamente compreendida, em vez de especificamente da agricultura. O próprio Kumarbi foi invocado em associação com a prosperidade em inscrições hieroglíficas Luwian do primeiro milênio a.C. 

O submundo poderia ser considerado a morada de Kumarbi,  como indicado, por exemplo, por um encantamento segundo o qual a água de uma fonte localizada sob seu trono “atinge a cabeça da deusa Sol da Terra ”, embora ele não fosse um deus do submundo no sentido estrito. 

Um único texto hitita, KUB 59.66, menciona uma “estrela de Kumarbi”, que Volkert Haas propôs identificar com o planeta Saturno

Presume-se que o pai de Kumarbi era Alalu. Uma declaração direta confirmando essa relação foi identificada no texto KUB 33.120 (I 19: d Kumarbiš d Alaluwaš NUMUN-ŠU ).  É tipicamente traduzido como “Kumarbi, o descendente de Alalu”.  Outra evidência que apoia a visão são seções de tratados enumerando deuses invocados como suas testemunhas divinas, nas quais eles poderiam ser listados em sequência. Ambos aparecem, por exemplo, no tratado entre o rei hitita Muwatalli II e Alaksandu de Wilusa. O mito que estabelece a relação entre eles, o Canto de Kumarbi, aparentemente envolve duas “dinastias” de divindades competindo pela realeza.  Essa suposição, no entanto, não é universalmente aceita.  Uma interpretação alternativa é ver Alalu como o pai de Anu, que reinou entre Alalu e Kumarbi como o rei dos deuses, e avô de Kumarbi.  No entanto, Christian Zgoll, que apoia esta teoria, admite que é difícil provar.  Ele, no entanto, questiona a noção de duas dinastias separadas e argumenta que nenhum outro exemplo de um mito teogônico envolvendo duas famílias divinas é conhecido.  No entanto, de acordo com Wilfred G. Lambert, a sucessão envolvendo mestre e servo em vez de membros de uma família não é totalmente desconhecida e, além do relato da derrubada de Anuy por Kumarbi, outro exemplo pode ser uma seção da Teogonia de Dunnu focada em uma figura sem nome aparentemente rotulada como um servo (ṣiḫru) em vez de filho (mār) do deus que ele depõe. 

Shalash pode ser vista como a esposa de Kumarbi. Ela foi originalmente associada a Dagan, como já atestado em textos de Ebla, e a ligação entre ela e Kumarbi foi um desenvolvimento posterior. No entanto, a evidência que associa Shalash a Kumarbi também é usada como um argumento a favor da continuidade de sua associação com Dagan. Na coluna hurrita de uma edição multilíngue da lista de deuses de Weidner de Ugarit, uma deusa chamada Ašte Kumurbineve, literalmente "esposa de Kumarbi", aparece em vez disso. No entanto, de acordo com Aaron Tugendhaft, ela é uma das divindades atestadas nele que seriam consideradas "invenções acadêmicas puras" destinadas a imitar pares mesopotâmicos de deuses principais e suas esposas com nomes etimologicamente relacionados, como Anu e Antu. Nos mitos, Kumarbi aparece sem esposa. 

Teshub era considerado filho de Kumarbi, concebido depois que ele mordeu e engoliu os órgãos genitais de Anu. Gary Beckman afirma que o deus do tempo pode, portanto, ser considerado um descendente de ambas as linhagens de deuses presentes na Canção de Kumarbi.  Devido às circunstâncias da concepção do deus do tempo, um hino hurrita se refere a Kumarbi como sua mãe: 

Tu és o forte, que eu (louvo), o bezerro de Anu! Tu és o forte, que eu (louvo), teu pai Anu te gerou, tua mãe Kumarbi te trouxe à vida. Para a cidade de Aleppo eu o convoco, Teššop, para o trono puro. 

Noga Ayali-Darshan observa que a relação entre Kumarbi e Teshub foi retratada como “disfuncional” na mitologia hurrita. Os outros filhos de Kumarbi concebidos da mesma forma foram Tašmišu e o rio Tigre, conhecido pelos hurritas sob o nome de Aranzaḫ ou Aranziḫ. Embora Šauška fosse considerada irmã de Teshub e Tašmišu, ela não é mencionada entre os filhos de Kumarbi na Canção de Kumarbi, embora de acordo com Marie-Claude Trémouille isso possa ser simplesmente o resultado de seu estado incompleto de preservação. Ela, portanto, argumenta que, no entanto, pode-se presumir que esta divindade também foi um dos filhos de Kumarbi e Anu. No entanto, de acordo com o tratamento recente de Gary Beckman sobre Song of Kumarbi, o texto afirma explicitamente que o deus homônimo foi impregnado com apenas três divindades. 

Nos mitos que tratam de seu conflito com Teshub, Kumarbi também é o pai de vários oponentes do deus do tempo, como Ullikummi, Ḫedammu e Silver. ​​A mãe de Ḫedammu era Šertapšuruḫi de, uma filha do mar deificado. Silver nasceu de uma mulher mortal. Ullikummi foi o produto da "união sexual de Kumarbi com um enorme penhasco" de acordo com Harry Hoffner, embora Daniel Schwemer presuma que a passagem que descreve sua concepção alude a uma deusa relacionada às pedras. Os dois primeiros desses três filhos de Kumarbi aparecem juntos em um texto ritual (KUB 27.38) que afirma que ele planejou que ambos se tornassem o rei dos deuses. O texto coloca o chamado “determinativo divino ”(dingir) antes do nome de Ḫedammu, mas não Silver. Ambos também são descritos com os termos šarra, usados ​​para se referir a governantes míticos e deificados e ewri, que designavam reis não sobrenaturais. 

Como todos os outros grandes deuses hurritas, acreditava-se que Kumarbi era servido por um “vizir” divino, Mukišānu de. Seu nome foi derivado do topônimo Mukiš. Um único texto de Ugarit descreve Šarruma como a divindade que desempenha esse papel, mas ele é melhor atestado em associação com Ḫepat e Teshub.  Nos mitos pertencentes ao Kumarbi também é auxiliado pelo mar deificado, que atua como seu conselheiro. Em Song of Ḫašarri, é feita uma referência a um grupo de divindades errantes chamadas de "Sete Olhos de Kumarbi", possivelmente análogo a Ḫutellurra. O círculo de divindades associadas a ele incluía adicionalmente os chamados“ antigos deuses”, chamados ammadena enna em hurrita e karuilieš šiuneš em hitita. Eles eram retratados como seus ajudantes nos mitos. No entanto, o mesmo grupo de divindades também poderia ser afiliado a Allani.

Kumarbi estava intimamente associado a Dagan, o deus principal do panteão do interior da Síria na Idade do Bronze. A associação remonta pelo menos ao século XVIII a.C. Foi proposto que o caráter de Kumarbi foi em parte influenciado por ele, ou mesmo que ele se desenvolveu originalmente como a contraparte hurrita desse deus. Na Assiriologia, a identificação desses dois deuses foi apontada pela primeira vez por Emmanuel Laroche. Equações diretas entre Dagan e Kumarbi estão ausentes das listas de deuses, mas outras evidências a favor da identificação dos dois estão disponíveis, incluindo sua posição semelhante nos respectivos panteões como os “pais dos deuses” e especialmente o deus do tempo, e sua associação compartilhada com Shalash e Enlil. Além disso, Tuttul, o centro de culto de Dagan, é mencionado como uma cidade associada a Kumarbi no Canto de Ḫedammu. Às vezes, também se presume que Kumarbi poderia ser diretamente referida como “Dagan dos Hurrianos”. No entanto, essas suposições se baseiam na leitura proposta de uma única inscrição de Terqa do final do período da Antiga Babilônia, na qual Šunuḫru-ammu, um governante do reino de Khana, menciona o sacrifício que fez a Dagan ša ḪAR- ri .  A proposta de que o epíteto deveria ser interpretado como ša Ḫur-ri, “dos hurritas”, foi originalmente feita por Ignace J. Gelb , e posteriormente encontrou apoio de autores como Volkert Haas, Ichiro Nakata, Karel van der Toorn  e Alfonso Archi. No entanto, Lluís Feliu argumenta que deveria ser lido como ša ḫar-ri com base em uma referência a um epíteto semelhante de Dagan, en ḫa-ar-ri, em um texto de Emar, e descarta uma referência aos hurritas ou Kumarbi como intenção. 

Já no século XVI a.C., Kumarbi também começou a ser equiparado ao deus mesopotâmico Enlil, devido a ambos serem considerados os “pais dos deuses” em seus respectivos panteões. A tradição pode ter sido mais antiga, possivelmente remontando ao final do terceiro milênio a.C. Lluís Feliu propõe que uma linha danificada da lista de deuses posterior An = Anum, que descreve uma divindade cujo nome não é preservado como “Enlil de Subartu”, pode se referir a Kumarbi. No entanto, Enlil e Kumarbi são, na maior parte, tratados como duas figuras separadas nos mitos hurritas, por exemplo, na Canção de Kumarbi, Enlil e Ninlil estão entre as divindades convidadas pelo narrador para ouvir a história de Kumarbi, enquanto na Canção de Ullikummi, Enlil faz uma breve aparição para comentar sobre o plano de Kumarbi de criar o monstro homônimo para destruir Teshub. Alfonso Archi observa adicionalmente que a noção de equivalência entre os dois era aparentemente desconhecida dos hititas, embora as fontes hititas indiquem a consciência de ambos como divindades individuais. Ele conclui que a associação entre eles deve ser entendida como um exemplo do que ele considera “tradução” de divindades com posições semelhantes, destinadas a facilitar a compreensão de diferentes panteões, em vez de sincretismo.

A versão trilíngue da lista de deuses de Weidner de Ugarit, além de igualar Kumarbi a Enlil, também o apresenta como análogo a El, um deus que no panteão local cumpria um papel semelhante ao de Dagan no interior da Síria. No entanto, também são conhecidos textos rituais onde os dois aparecem como figuras separadas. Franks Simons sugeriu adicionalmente que uma edição bilíngue da mesma lista de deuses conhecida de Emar poderia igualar Kumarbi ao deus mesopotâmico de alta patente, mas pouco conhecido, Ištaran, possivelmente também devido ao seu suposto papel como um “pai dos deuses”. O teônimo que ele restaura como Ištaran é renderizado logograficamente como KA.DI.DI em vez do esperado KA.DI, que ele argumenta representar um erro ditográfico (duplicação desnecessária de um sinal), enquanto a restauração do nome de Kumarbi depende da presença dos sinais KU.MA na seção hurrita da mesma entrada, o que pode refletir a grafia de seu nome usada em Nuzi. Ele sugere que esta equação não necessariamente contradiria o fato de que a cópia de Ugarit iguala Kumarbi a Enlil, já que o tamanho menor do panteão hurrita exigia o uso das mesmas divindades como traduções de múltiplas divindades mesopotâmicas em listas de deuses, como é evidente no caso de Šimige , equiparado a Utu e Lugalbanda em tal contexto. No entanto, tem sido questionado se as edições multilíngues da lista de deuses de Weidner podem ser consideradas uma fonte precisa de informações sobre a religião hurrita.


quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O VERDADEIRO JÓ SUMERIANO

 


O Ludlul-Bel-Nimeqi é um poema babilônico que narra o lamento de um bom homem sofrendo imerecidamente. Também conhecido como 'O Poema do Justo Sofredor', o título pode ser traduzido como "Eu louvarei o Senhor da Sabedoria". No poema, Tabu-utul-Bel, de 52 anos, um oficial da cidade de Nippur, clama que foi afligido por várias dores e injustiças e, afirmando seu próprio comportamento justo, questiona o porque dos deuses permitirem o seu sofrimento. Nisto, o poema trata a velha questão de "por que coisas ruins acontecem a pessoas boas" e o poema foi, portanto, vinculado à composição hebraica posterior, O Livro de Jó. Não existe consenso acadêmico sobre uma data para a escrita de Jó (nem, a respeito disto, quando a história relatada supostamente ocorreu), mas muitos apontam para os séculos 7, 6 ou 4 AEC como possibilidades, enquanto Ludlul-Bel- Nimeqi data de 1700 AEC. O poema babilônico foi provavelmente inspirado na obra suméria anterior, Homem e seu Deus/Man and his God (composta por volta de 2000 AEC) que, de acordo com Samuel Noah Kramer, foi escrita "com o propósito de prescrever a atitude e conduta adequadas para uma vítima de cruel e infortúnio aparentemente imerecido "(589). Neste, o poema segue um paradigma de escritores babilônios que pegaram emprestado de peças/pedaços sumérias anteriores, conforme exemplificado na Epopéia de Gilgamesh, onde o escriba babilônico Shin-Leqi-Unninni (1300-1000 AEC) baseou-se em contos sumérios separados do rei de Uruk e os transformou no agora famoso épico.

Não há dúvida de que várias narrativas bíblicas do Antigo Testamento têm suas origens nas obras sumérias. A Queda do Homem e o Dilúvio de Noé no Gênesis, por exemplo, podem ser rastreados pelo passado através das obras sumérias Adapa e Atrahasis. Por causa da semelhança dos temas tratados em Ludlul-Bel-Nimeqi e Jó, muitos(so many) compararam estas duas obras que existem hoje, alegando-se de que O Livro de Jó foi derivado da obra anterior(LudLuL Bel Nimeq) da mesma forma que ocorre com a história do Dilúvio. Embora haja, obviamente, algum mérito nesta afirmação e que tal comparação é lucrativa, parece um desserviço a ambas as obras ao lê-las apenas pelo que oferecem a respeito do empréstimo literário. O Ludlul-Bel-Nimeqi poderia facilmente ser comparado a outros livros da Bíblia, como Eclesiastes ou o terceiro capítulo de As Lamentações de Jeremias. O orador em Eclesiastes faz as mesmas perguntas que Tabu-utul-Bel e Lamentações, capítulo três, tem imagens muito semelhantes a Ludlul-Bel-Nimeqi. Embora seja certamente possível que a obra posterior tenha se baseado na anterior (como o Ludlul-Bel-Nimeqi mais provavelmente se baseou no 'Homem e Seu Deus', obra anterior), é igualmente possível que as duas obras tratem simplesmente do mesmo tema. As pessoas nos dias modernos ainda estão lutando com a questão de por que pessoas boas sofrem. Quando os leitores modernos insistem que o Livro de Jó deriva de Ludlul-Bel-Nimeqi, parece que relegam o poema anterior como sendo uma mera fonte de material em vez de apreciar a obra pelo que ela tem a dizer sobre a condição humana.

Existem mais diferenças significativas entre O Livro de Jó e a obra da Babilônia do que semelhanças e, embora possa ser que a obra anterior tenha sido desenhada como fonte de material para a posterior, ler Ludlul-Bel-Nimeqi simplesmente como um esboço rascunho 'da narrativa bíblica (ou descartar Jó como' derivado ') é rebaixar as obras e também perder o foco das peças. A questão 'por que coisas ruins acontecem a pessoas boas' é tão antiga quanto os próprios seres humanos. Tabu-utul-Bel, como Jó, sofre terríveis sofrimentos, embora tenha sido muito religioso, observando todos os ritos e orações. Ele diz: "Mas eu mesmo refletia em orações e súplicas - a oração era minha sabedoria, sacrifício a minha dignidade" e ainda assim ele sofre. Jó diz da mesma forma: "O meu pé segurou os seus passos, guardei o seu caminho e não reclamei. Nem voltei do mandamento dos seus lábios; estimei as palavras da sua boca mais do que o meu alimento necessário" (Jó 22: 11-12). Ambas as obras perguntam como um ser humano deve entender a vontade de Deus e, no final, ambos os protagonistas são curados de suas aflições por meio da intervenção divina.

As diferenças, no entanto, estão nos detalhes das duas obras e na cultura da qual nasceram. A diferença mais óbvia entre os dois é que a obra babilônica é um monólogo, enquanto a composição hebraica é um drama. Deixando isso de lado, entretanto, e também garantindo a diferença óbvia entre a libertação de Jó pelo próprio Deus e a salvação de Tabu-utul-Bel por meio de um necromante, a diferença mais significativa é em sobre o que consiste o sofrimento e a representação das divindades.

Tabu-utul-Bel sofre em sua pessoa e extrapola desse sofrimento para considerar os sofrimentos dos outros e a futilidade da existência (“Onde o homem pode aprender os caminhos de Deus? Quem vive à noite morre pela manhã ... Em um momento ele canta e toca; num piscar de olhos, ele uiva como um enlutado fúnebre "). Jó sofre em sua pessoa, mas também deve suportar a morte de seus filhos e a perda de tudo pelo que trabalhou em sua vida. Ele, também, considera o sofrimento dos outros e se pergunta como alguém pode aprender a razão disso ("Oh! Que se rogasse por um homem perante Deus, como um homem roga pelo seu próximo" (Jó 16:21). As próprias divindades , no entanto, revelam a maior diferença nas duas obras.

Na antiga religião mesopotâmica, havia entre 300 - 1000 divindades trabalhando em qualquer época e, sendo assim, o bem que um deus como Marduk poderia desejar para um indivíduo poderia ser frustrado por outro como Erra. A reclamação de Tabu-utul-Bel é que ele não deveria sofrer porque fez o certo por seu deus e, embora ninguém fosse o culpar por reclamar das muitas aflições que ele lista, ele teria que saber que não era culpa de Marduk por ele estar sofrendo assim, nem por sua própria culpa; o sofrimento pode vir de qualquer uma das muitas divindades e por qualquer motivo. A tabuinha de Oração Penitencial a Todos os Deuses (datada da Suméria de meados do século VII) deixa isso claro, pois o penitente nessa oração implora por misericórdia e perdão de qualquer deus que tenha ofendido sem saber.

Tabu-utul-Bel é curado no final da peça por um necromante (mágico) que Marduk lhe envia e o título do poema elogia Marduk pela cura. Na peça babilônica, então, o problema do sofrimento é tratado por meio de um deus (entre muitos) trabalhando por meio de um intermediário para fazer justiça. Um antigo público da recitação do poema teria entendido que, por mais imerecidos que sentissem ser seu próprio sofrimento, os deuses os tratariam com justiça da mesma maneira. Como os seres humanos foram criados para serem colaboradores dos deuses, o deus que lhes desejava o bem iria, com o tempo, reparar seus erros e curar suas aflições.

No Livro de Jó, entretanto, a única divindade suprema lida com a situação de maneira diferente. O próprio Deus aparece em direção à conclusão, falando de um redemoinho, e pergunta: "Onde estavas tu quando eu lançava os fundamentos da terra? Declara, se tu tens entendimento. Quem pôs as medidas disso, se tu sabes? Ou quem o fez? esticou a linha sobre ele? " (Jó 38: 4-5) perguntando, em outras palavras, 'Quem é você para questionar meus caminhos?' Embora haja um 'final feliz' em O livro de Jó, em que esse sofredor justo é recompensado com novos filhos e uma nova vida, a questão de por que coisas ruins acontecem a pessoas boas nunca é respondida. O leitor do Livro de Jó entende que o sofrimento de Jó é o resultado direto de uma aposta que Deus fez com Satanás a respeito da fidelidade de Jó. Nenhum leitor ou ouvinte razoável obteria conforto com a idéia de que haviam perdido aqueles a quem amavam, bem como sua saúde e riqueza, apenas para que seu deus pudesse satisfazer seu ego ganhando uma aposta.

Em vez de dar a Jó uma resposta direta à questão de seu sofrimento, Deus exalta sua própria grandeza e silencia as queixas de Jó. Esta é uma diferença bastante significativa da resposta dos deuses sumérios ao Tabu-utul-Bel. No entanto, na resposta de Deus, está um dos maiores pontos fortes da obra: não há uma resposta satisfatória para a pergunta de por que pessoas boas sofrem e o escritor de Jó foi sábio o suficiente para reconhecer esse fato. A resposta da divindade no Livro de Jó está de acordo com a cultura que o produziu em que ninguém questionou os caminhos de Deus, mas, ao contrário, confiou que essa divindade toda poderosa, toda amorosa e toda benevolente tinha os melhores interesses no coração - mesmo que esses interesses sejam expressos por meio de algo aparentemente tão caprichoso quanto fazer uma aposta.

Embora essas duas composições sejam certamente ligadas por temas, ler a literatura mesopotâmica apenas pelo que ela contribui para a narrativa bíblica diminui a real importância das obras anteriores. Em vez de ler essas duas histórias na tentativa de encontrar correlações entre elas, talvez seja mais lucrativo lê-las pelo que têm a dizer sobre a condição humana. Como George A. Barton escreveu: "O abismo que freqüentemente se abre entre a experiência e os desertos morais foi sentido tão agudamente pelos babilônios quanto pelos hebreus" e é tão agudamente sentido por qualquer pessoa que vive no mundo hoje. O maior conforto que essas obras antigas oferecem ao leitor moderno é a compreensão de que o que se está sofrendo foi sofrido por outros e que, como eles, um pode prevalecer.

O Livro de Jó pode ser encontrado em qualquer tradução da Bíblia, geralmente localizada entre o Livro de Ester e o Livro dos Salmos. A seguinte tradução do Ludlul Bel Nimeqi vem de 'Um comentário sobre as inscrições cuneiformes da Babilônia e da Assíria', de Sir Henry Rawlinson, Volume IV, 60 (1850), impresso em 'Arqueologia e Bíblia' de George A. Barton.


O Ludlul-Bel-Nimeqi

1. Eu avancei em vida, alcancei o período concedido

Para onde quer que eu virasse, havia mal, mal —-

A opressão é aumentada, honestidade, não vejo.

Eu clamei a Deus, mas ele não mostrou o rosto.

5. Eu orei para minha deusa, mas ela não levantou a cabeça.

O vidente por seu oráculo não discerniu o futuro

Nem o feiticeiro com uma libação iluminou meu caso

Consultei o necromante, mas ele não abriu meu entendimento.

O mágico com seus encantos não removeu minha proibição.

10. Como as ações são revertidas no mundo!

Eu olho para trás, a opressão me envolve

Como aquele a quem o sacrifício a deus não trouxe

E na hora das refeições não invocou a deusa

Não abaixou seu rosto, sua oferta não foi vista;

15. (Como um) em cuja boca as orações e súplicas eram trancadas

(Para quem) o dia de deus havia cessado, um dia de festa tornou-se raro,

(Aquele que) jogou sua panela de fogo no chão, se afastou de suas imagens

O temor e a veneração de Deus não ensinaram seu povo

Quem não invocou seu deus quando comia a comida de deus;

20. (Quem) abandonou sua deusa, e não trouxe o que é prescrito

(Quem) oprime o fraco, esquece seu deus

Quem toma em vão o nome poderoso de seu deus, ele diz, eu sou como ele.

Mas eu mesmo pensei em orações e súplicas —-

A oração era minha sabedoria, sacrifício, minha dignidade;

25. O dia de honrar os deuses foi a alegria do meu coração

O dia de seguir a deusa foi minha aquisição de riqueza

A oração do rei, esse foi o meu deleite,

E sua música, para meu prazer era seu som.

Eu dei instruções para minha terra para que reverenciasse os nomes de deus,

30. Para honrar o nome da deusa que ensinei ao meu povo.

Reverência pelo rei que exaltei muito

E respeito pelo palácio que ensinei ao povo —-

Pois eu sabia que para Deus essas coisas são favoráveis.

O que é inocente por si mesmo, para Deus é mal!

35. O que em seu coração é desprezível, para seu deus é bom!

Quem pode entender os pensamentos dos deuses no céu?

O conselho de Deus está cheio de destruição; quem pode entender?

Onde os seres humanos podem aprender os caminhos de Deus?

Quem vive à tarde morre pela manhã;

40. Rapidamente ele fica perturbado; de repente ele é oprimido;

Em um momento ele canta e toca;

Num piscar de olhos, ele uiva como um enlutado fúnebre.

Como o sol e as nuvens, seus pensamentos mudam;

Eles estão com fome e como um cadáver;

45. Eles estão cheios e rivalizam com seu deus!

Na prosperidade, eles falam em subir ao céu

O problema os alcança e eles falam em descer ao Sheol.

[Neste ponto, a tábua está quebrada. A narrativa é resumida no verso da tábua.]

46. Minha casa foi transformada em minha prisão.

Nas cadeias da minha carne estão as minhas mãos lançadas;

Meus pés tem tropeçado em minhas próprias algemas.

47. Com um chicote ele me bateu; não há proteção;

Com um cajado, ele me paralisou; o fedor era terrível!

O dia todo o perseguidor me persegue,

Nas vigílias noturnas ele não me deixa respirar em nenhum momento

Por meio da tortura, minhas juntas são dilaceradas;

48. Meus membros estão destruídos, o ódio me cobre;

No meu sofá eu me agito como um boi

Estou coberto, como uma ovelha, com meus excrementos.

Minha doença confundiu os mágicos

E a vidente deixou escuro meus presságios.

49. O adivinho não melhorou a condição da minha doença-

A duração da minha doença, o vidente não pôde afirmar;

O deus não me ajudou, minha mão ele não pegou;

A deusa não teve pena de mim, ela não veio ao meu lado

O caixão bocejou; eles [os herdeiros] tomaram minhas posses;

50. Enquanto eu ainda não estava morto, o lamento da morte estava pronto.

Minha terra inteira gritou: "Como ele está destruído!"

Meu inimigo ouviu; o rosto dele se alegrou

Eles trouxeram como boas novas as boas novas, seu coração se alegrou.

Mas eu conhecia o tempo de toda a minha familia

51. Quando no meio dos espíritos protetores, sua divindade é exaltada.

Deixe tua mão agarrar o dardo

Tabu-utul-Bel, que mora em Nippur,

52. Me enviou para te consultar

Colocou seu ............ sobre mim.

Na vida ........ lançou, ele encontrou. [Ele diz]:

“[Deitei-me] e vi um sonho;

Este é o sonho que tive à noite:

53 [Aquele que fez a mulher] e criou o homem

Marduk ordenou (?) Que ele seja envolvido pela doença (?). "

54. E ........... em qualquer .............

Ele disse: "Por quanto tempo ele estará em tal grande aflição e angústia?

O que é que ele viu em sua visão da noite? "

"No sonho Ur-Bau apareceu

Um poderoso herói usando sua coroa

55. Um mágico também, revestido de força,

Marduk de fato me enviou;

Para Shubshi-meshri-Nergal ele trouxe abundância;

Em suas mãos puras ele trouxe abundância.

Pelo meu espírito-guardião (?) Ele parou (?), "

56. Pelo vidente, ele enviou uma mensagem:

"Um presságio favorável que mostro ao meu povo."

... ele terminou rapidamente; o ......... estava quebrado

........ de meu senhor, seu coração estava satisfeito;

57. ................. seu espírito foi apaziguado

...... minha lamentação ....................

................Bom ..........

................gostar............ ......

Ele se aproximou (?) E o feitiço que ele pronunciou (?),

59. Ele enviou uma tempestade de vento ao horizonte;

Para o seio da terra deu uma explosão

Nas profundezas de seu oceano, o espírito desencarnado desapareceu (?);

Espíritos incontáveis ​​ele mandou de volta para o mundo subterrâneo.

O ........... dos demônios bruxos que ele mandou direto para a montanha.

60. A inundação do mar ele espalhou com gelo;

As raízes da doença ele arrancou como uma planta.

O sono horrível que tomou conta do meu descanso

Como se a fumaça enchesse o céu ..........

Com a desgraça que ele trouxe, sem repulsa e amarga, ele encheu a terra como uma tempestade.

61. A dor de cabeça incessante que dominou os céus

Ele tirou e enviou sobre mim o orvalho da noite.

Minhas pálpebras, que ele tinha velado com o véu da noite

Ele soprou com um vento forte e tornou clara a visão deles.

Meus ouvidos, que estavam tapados, estavam surdos como um surdo

62. Ele removeu suas surdezas e restaurou suas audições.

Meu nariz, cuja narina foi fechada desde o ventre de minha mãe —-

Ele diminuiu sua franqueza para que eu pudesse respirar.

Meus lábios, que estavam fechados, ele tirou sua força —-

Ele removeu seu tremor e soltou seu vínculo.

63. Minha boca que estava fechada para que eu não pudesse ser entendido —-

Ele o limpou como um prato, ele curou sua doença.

Meus olhos, que foram atacados de modo que rolaram juntos —-

Ele soltou o vínculo e suas bolas foram corrigidas.

A língua, que havia endurecido de modo que não podia ser levantada

64. Ele aliviou sua espessura, para que suas palavras pudessem ser entendidas.

A garganta que foi comprimida, parou como um tampão —-

Ele curou sua contração, funcionou como uma flauta.

Minha saliva foi estancada para não ser secretada —-

Ele removeu a algema e abriu a fechadura.



CONTO DE AQHAT

 


O Conto de Aqhat ou Epopeia de Aqhat é um mito cananeu de Ugarit, uma cidade antiga no que hoje é a Síria. É um dos três textos mais longos encontrados em Ugarit, sendo os outros dois a Lenda de Keret e o Ciclo de Baal. Data de aproximadamente 1350 a.C.

Embora o conto completo não tenha sido preservado, restam dele, segundo David Wright, "aproximadamente 650 versos poéticos", sendo a maior parte do seu conteúdo relativo a "performances rituais ou seus contextos". Os restos da história são encontrados em três tábuas de argila, faltando o início e o fim da história. Essas tabuinhas foram descobertas em 1930 e 1931.

O Conto de Aqhat foi escrito em Ugarit pelo sumo sacerdote Ilmilku, que também foi o autor da Lenda de Keret e do Ciclo de Baal. Os três personagens principais do conto são um homem chamado Danel, seu filho Aqhat e sua filha Pugat.


PRIMEIRA TABUINHA

Danel é descrito como um "governante justo" (Davies) ou "provavelmente um rei" (Curtis), fazendo justiça às viúvas e órfãos. Danel começa a história sem um filho, embora a falta de material no início da história não deixe claro se Danel perdeu os filhos ou se simplesmente ainda não teve um filho. Em seis dias consecutivos, Danel faz oferendas no templo, solicitando um filho. No sétimo, o deus Baal pede ao deus supremo El que dê um filho a Danel, com o que El concorda.

As orações de Danel aos deuses são respondidas com o nascimento de Aqhat. O agradecido Danel realiza uma festa para a qual convidou as Kotharat, divindades femininas associadas à gravidez.

Uma lacuna aparece no texto. Depois disso, Danel recebe uma reverência do deus Kothar-wa-Khasis, que agradece a Danel por lhe proporcionar hospitalidade. De acordo com Fontenrose, o arco é dado a Danel quando Aqhat ainda é uma "criança", enquanto Wright entende a história como sendo depois que Aqhat "cresceu".

Depois de faltar uma parte do texto, a história recomeça quando Aqhat, descrito por Louden como "agora um jovem", está celebrando uma festa na qual várias divindades estão presentes.

Aqhat, que agora tem o arco, receberia uma recompensa da deusa Anat se ele o desse a ela. Anat oferece primeiro ouro e prata a Aqhat, mas ele recusa. Ela então lhe oferece a imortalidade, mas ele recusa novamente. Ao fazer suas ofertas, ela usa uma linguagem que provavelmente também implica uma oferta de natureza sexual. Sua recusa é desrespeitosa: ele diz a ela para ir buscar seu próprio arco de Kothar-wa-Khasis e diz que as mulheres não têm nada a ver com tais armas. Ele insiste que a imortalidade é impossível: todos os humanos devem morrer. Anat, indignada, sai para falar com o deus supremo El.


SEGUNDA TABUINHA

Anat reclama com El, de acordo com Wright "aparentemente para receber sua permissão para punir Aqhat". A resposta inicial de El, se é que ele dá uma, não é legível devido à natureza danificada da placa, mas o tom de Anat passa de inicialmente respeitoso para ameaças violentas contra El. Relutantemente, El concede permissão a Anat para fazer o que quiser.

Anat então mata Aqhat. O personagem que mata Aqhat pessoalmente é Yatpan, descrito por Vrezen e van der Woude como "um dos guerreiros de Anat", mas por Pitard simplesmente como "um de seus devotos". Yatpan, magicamente transformado em águia, ataca Aqhat.


TERCEIRA TABUINHA

Aqhat morre e Anat o elogia, expressando pesar por sua morte. Embora o texto neste ponto seja fragmentário, ele indica que seu arco foi quebrado no incidente, e Anat também expressa sua angústia pela perda do arco, em termos ainda mais fortes. Ela também lamenta que, devido ao assassinato, as colheitas em breve começarão a falhar.

Enquanto isso, Danel, que não percebe que seu filho está morto, continua cumprindo suas funções judiciais no portão da cidade. Sua filha Paghat percebe que uma seca começou e que aves de rapina estão rondando sua casa. Ela sente uma tristeza profunda.

Neste ponto, o texto contém linguagem sobre as roupas de Danel sendo rasgadas, indicando que Paghat rasgou as roupas de Danel ou que Danel rasgou suas próprias roupas em luto pela seca. O texto mostra Danel orando por chuva, seguido de várias falas sobre uma seca que dura sete anos, de difícil interpretação. Danel sai para os campos, expressando seu desejo de que as colheitas cresçam e expressando esperança de que seu filho Aqhat as colha, indicando que ele ainda não percebeu que Aqhat morreu.

Neste ponto, dois jovens aparecem e informam a Danel e Paghat que Aqhat foi morto por Anat. Vendo abutres no alto, Danel chama Baal, pedindo-lhe que derrube os abutres para que ele possa abri-los em busca dos restos mortais de seu filho. Baal obedece, mas Danel não encontra restos mortais. Danel vê o pai dos abutres e novamente faz com que Baal traga o pai dos abutres para inspeção. Novamente, nenhum vestígio foi encontrado. Finalmente, Danel invoca Baal para derrubar a mãe dos abutres, onde encontra os ossos e a gordura de Aqhat. Danel enterra os restos mortais que encontrou às margens do Mar da Galileia.

A morte injusta de Aqhat origina uma seca que dura anos.

A irmã de Aqhat, Paghat, decide se vingar matando Yatpan.

Danel do conto ugarítico e o Danel mencionado no livro bíblico de Ezequiel

Através de indícios de ambos os textos e pela dificuldade cronológica em se estabelecer a hipótese tradicional, alguns estudiosos defendem que o personagem Danel do Conto de Aqhat e o Danel do mencionado na Bíblia em Ezequiel 14:14,20 e 28:3-4 (em diversas traduções, vertido como "Daniel") tenham a mesma origem cultural ugarítica, mesmo que o autor de Ezequiel não tenha tido acesso diretamente ao Conto de Aqhat. Mesmo que o personagem do livro bíblico de Daniel já tivesse nascido na época da escrita do livro de Ezequiel, seria novo demais para ter tão grande fama de justo e velho demais para ainda estar vivo na época da queda da Babilônia sob os persas.


KUNTILLET AJRUD

 


Kuntillet ʿAjrud ou Horvat Teman é um sítio do final do século IX/início do século VIII a.C. na parte nordeste da Península do Sinai. É frequentemente descrito como um santuário, embora isso não seja certo. As inscrições de Kuntillet Ajrud descobertas nas escavações são significativas na arqueologia bíblica.

Kuntillet Ajrud fica no norte do Sinai; a datação por carbono-14 indica ocupação de 801–770 a.C., e os textos homônimos podem ter sido escritos por volta de 800 a.C. Como uma fonte perene de água nesta região árida, constituiu uma importante estação em uma antiga rota comercial que conectava o Golfo de Aqaba (uma entrada do Mar Vermelho) e o Mediterrâneo. Estava localizado a apenas 50 quilômetros do principal oásis de Cades-Barnéia. Além disso, apesar de sua proximidade com o Reino de Judá, tem uma associação com o Reino do norte de Israel (Samaria): "elementos da cultura material, como a cerâmica, a ortografia 'do norte' em certas inscrições e a referência a YHWH de Samaria sugerem que Kuntillet ʿAjrud era um posto avançado israelita ou, pelo menos, tinha uma forte presença israelita".

O local então conhecido como "Contellet Garaiyeh", foi identificado em 1869 por Edward Henry Palmer como "Gypsaria" na Tabula Peutingeriana: "Nossa própria rota, no entanto, de Contellet Garaiyeh até as ruínas em Lussan, estava, como pode ser visto no mapa, a cerca de uma milha da distância entre Gypsaria e Lysa; e nossa descoberta no primeiro local mencionado dos restos de um antigo forte, torna sua identidade com a terceira estação da lista mais do que provável." 

O local foi escavado em 1975/76 pelo arqueólogo Ze'ev Meshel da Universidade de Tel Aviv, e o relatório da escavação foi publicado em 2012. O edifício principal, semelhante a uma fortaleza, é dividido em duas salas, uma grande e outra pequena, ambas com bancos baixos. Ambas as salas continham várias pinturas e inscrições nas paredes e em dois grandes jarros de água (pithoi), um encontrado em cada sala.

As pinturas vigorosamente argumentadas nos pithoi mostram vários animais, árvores estilizadas e figuras humanas, algumas das quais podem representar deuses. Elas parecem ter sido feitas ao longo de um período considerável e por vários artistas diferentes, e não formam cenas coerentes. A iconografia é inteiramente síria/fenícia e não tem nenhuma conexão com os modelos egípcios comumente encontrados na arte israelense da Idade do Ferro IIB 


quarta-feira, 27 de novembro de 2024

AS VERDADEIRAS ORIGENS DO POVO ISRAELITA

 



Os israelitas tiveram uma origem bem diferente da que está na Bíblia. Os do Livro Sagrado eram uma família quando vieram de Canaã, certo? No cativeiro, eles se multiplicaram, tornando uma nação de fato. Os da vida real, não.

Além de nunca terem migrado para o Egito, sua história não foi como uma família, mas como várias tribos nômades. Eles pastoreavam nas montanhas de Canaã, dormiam em tendas, e viviam de vender carne e leite para as cidades-estado do lugar. Os povos vizinhos se referiam a esses nômades às vezes como “shasu”, às vezes como “apiru” esse pode ter dada origem ao termo “hebreu” que mais tarde designaria o grupo étnico ao qual essas tribos pertenciam.

Por que dá para desejar que os 400 anos no Egito e a história do Êxodo sejam um mito? Primeiro, pela magnitude do evento. A Bíblia diz que 2 milhões de hebreus fugiram do Egito o equivalente a 3% da população mundial da época, estimado em 70 milhões de almas. Alguma coisa ao fato de os egípcios terem deixado sua história muito bem registrada. E não existe nada sobre essa eventual fuga. A única inscrição egípcia da Idade do Bronze que menciona a palavra “Israel” diz justamente que eles eram um povo de Canaã.  

Com a seca, esses nós tinham um problema. Os pastores israelitas vendiam carne de seus cabritos e leite de suas cabras para as cidades cananeias, em troca de grãos. Mas ei: a produção agrícola não tinha ido para o espaço? Pois é.

“Agora as comunidades das terras baixas não tinham mais como suprir grãos, então eles tiveram de se assentar”, disse o arqueólogo Israel Finkelstein. A vida tinha dado um limão para os israelitas, mas eles produziram uma limonada. Deram um jeito de plantar suas hortas, levantaram casas, formaram suas primeiras vilas. E, quando a segurança acabou, estavam engajados para montar uma nação de verdade, com fronteiras, cidades, exército.

Só tem um detalhe. Esses primeiros israelitas não acreditaram em Deus. Não há Deus da Bíblia. Eles cultuavam as mesmas divindades dos seus vizinhos cananeus: Baal, Asherá e, acima de todos, El, o Altíssimo.

O próprio nome do grupo carregava, e ainda carrega, o nome de “El”. “Israel”, segundo especialistas em hebraico antigo, quer dizer algo como “Sob o comando de El”, o que faz sentido para um grupo de pastores nômades que ainda não tinha se solidificado como uma nação – e que não tinha um soberano.

El era o chefe do panteão cananeu, uma divisão privada. O Deus hebreu com “D” maiúsculo, que seria adotado mais tarde, é outra entidade: Javé. Só que Javé ainda não existia no mundo israelita. De onde ele viria, então? 

Uma vez ali, como vimos aqui, eles assumiram o comando da religião. E transformaram os hebreus em seguidores de Javé – extirpando El e os outros deuses cananeus das religiosas israelenses. “Os hebreus puderam ter inventado que Javé era filho de El, ou algo assim. Mas não: por algum motivo, preferimos assumir que os dois eram a mesma entidade”, diz Friedman.

E assim ficou na Bíblia: deus é chamado alternadamente de “El” (ou Elohim, uma derivação) e de “Javé” no Livro Sagrado. Mas essa dupla personalidade divina acontece só até a primeira conversa de Deus com Moisés. O Senhor diz a ele que seu nome é Javé, e ponto final. E é assim que Deus segue sendo chamado no restante da Bíblia. Pela teoria de Friedman, essa linha do tempo do Livro Sagrado (escrita séculos mais tarde dos eventos que descrevemos aqui) reflete o fato de que os israelenses só passaram a conhecer Javé depois da chegada dos levitas.

Levitas que, mais tarde, fariam as leis que estão no Velho Testamento – e que vão bem mais longe do que os Dez Mandamentos. O código legal dos hebreus tem 613 leis.

No fundo, as levitas se tornaram os organizadores da nova nação, que daria origem aos reinos de Israel e Judá. Uma nação que começou pequena, pastoril, sempre espremida entre grandes potências. Com todos os ingredientes para se tornar irrelevante. Mas que pude contar histórias extraordinárias, e, com elas, criou o monoteísmo.


O ÊXODO NUNCA EXISTIU?

 


Ao contrário do que diz a Bíblia, os israelitas nunca foram escravos no Egito – pelo menos não o povo israelita inteiro.

Mas, se a fuga em massa do Egito não aconteceu, o que foi o Êxodo?  O consenso entre os especialistas é que algum grupo de escravos cananeus (não necessariamente hebreus), ou vários grupos, fugiram durante a crise do império egípcio e escaparam para o abrigo entre os israelitas em Canaã.

Esses ex-escravos chegaram contando histórias mirabolantes de fuga. Talvez tenham falado sobre ter atravessado a alguma região onde sabiam que antes havia só água – nesse caso, a teoria da mudança climática justificaria o mito da abertura do Mar Vermelho.

Seja como for, as histórias de escravizados que escaparam do Egito rumo à liberdade em Canaã acabaram entrando para o folclore do povo israelense. Em algum momento, toda aquela população passou a acreditar que todos os seus antepassados ​​tinham vindo do Egito. A fuga da escravidão se tornaria o mito fundador do povo judeu (termo que vem de “Judá”. 

Richard Freedman, historiador da Universidade da Califórnia, e especialista em Velho Testamento, vai mais longe. Ele imagina que o grupo vindo do Egito teria um papel bem mais central que o de meros contadores de histórias mirabolantes. Eles se tornariam os principais autores da Bíblia.  

Para entender a teoria dele, precisamos lembrar que os pastores israelenses não formavam exatamente uma nação, mas uma união de famílias estendidas. Cada uma dessas grandes famílias, com suas centenas de membros, formava uma tribo. Cada tribo era tida como descendente de um dos filhos de Jacó. Segundo a Bíblia, então, os israelenses do Egito já foram divididos nesses clãs. O consenso entre os historiadores, porém, é que o grupo criou uma história de uma ancestralidade comum para unir seus laços.

O número de tribos segue a lógica torta dos Três Mosqueteiros, que eram quatro. A tradição sempre fala em 12 tribos. Mas eram 13. E o Dartagnan das tribos israelenses, assim como acontece no livro de Alexandre Dumas, era justamente o mais importante, pelo menos do ponto de vista religioso: a tribo de Levi, a dos sacerdotes, que provavelmente escreveram a maior parte da Bíblia.

E temos o problema de que nenhum documento egípcio ou de outros povos do antigo Oriente Médio traz qualquer menção a José, ao faraó que o

“empregou” ou à fuga em massa dos israelitas. “Isso é um problema grave. O argumento de que os episódios não registravam derrotas é falso: a saída de um pequeno grupo nem era um revés, e eles relatavam derrotas, sim, mesmo quando diziam que tinha sido um empate”, afirma Airton José da Silva, professor de Testamento Antigo do Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP). A menção mais antiga a Israel fora da Bíblia data mais ou menos do ano 1200 aC, vem – ironicamente – de um documento egípcio e fala de um povo já instalado em Canaã. Num monumento, o faraó Merneptah diz que “Israel está destruído, sua semente não existe mais” – nitidamente um exagero da parte do monarca egípcios, que dizia ter vencido Israel.

Embora a Bíblia diga que Moisés e seu povo passaram 40 anos vagando pelo deserto do Sinai, os arqueólogos não acharam nem sinal deles na área durante uma época – por volta de 1300 aC – em que o Êxodo teria ocorrido. O grande problema, porém, vem dos dados obtidos na própria terra de Canaã. Segundo Israel Finkelstein, arqueólogo da Universidade de Tel-Aviv, os assentamentos que têm origem nas cidades israelenses aparecem nas montanhas da Palestina em torno de 1200 aC São pequenas vilas rurais e pastoris que apresentam exatamente o mesmo tipo de material cultural – cerâmica , ferramentas, maneira de construir as casas etc. – presentes nas cidades costeiras de Canaã. Ora, a Bíblia diz que os habitantes dessas cidades, os cananeus, eram um povo inimigo e totalmente diferente dos israelitas.

Mas o que a arqueologia indica é que o próprio povo de Israel era uma dissidência dos cananeus – gente que teria se previsto em novas vilas nas montanhas por razões que ainda não foram totalmente esclarecidas.

Outras declarações de que a hipótese da origem cananéia é certa são lingüísticas: o hebraico, língua em que foi escrito o Antigo Testamento, é quase igual ao idioma dos povos vizinhos. Sem falar no próprio nome Israel: ele termina com o nome do deus cananeu El, enquanto os israelitas adoravam Javé, diz a Bíblia.

Ainda pareço, no entanto, algumas dúvidas. Por que diabos o povo de Israel inventaria uma origem escrava e estrangeira para si próprio? E como explicar a origem genuinamente egípcia do nome de Moisés? Para alguns especialistas, isso indica que um pequeno grupo de fugitivos do Egito se incorporou, de fato, ao grupo maior de cananeus que teve origem em Israel, de forma que sua história de libertação virou parte das narrativas sobre a fuga dos israelenses.

Os refugiados da atual Palestina costumavam ir para o Egito quando havia grandes secas, o que poderia ser uma inspiração para o Êxodo.