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sábado, 19 de abril de 2025

DOM PEDRO I

 


Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, conhecido como Dom Pedro I, ele é chamado de "o Libertador", "Pai da Pátria" e "o Rei Soldado".

Foi o primeiro Imperador do Brasil como Pedro I de 1822 até sua abdicação em 1831, e também Rei de Portugal e Algarves como Pedro IV entre março e maio de 1826.

Quando Pedro tinha 22 anos, o seu pai retornou a Portugal e, no ano seguinte, solicitou que o filho o acompanhasse. A intenção das Cortes portuguesas era recolonizar o país.

Quando seu pai faleceu, em 1826, Dom Pedro I foi nomeado Monarca de Portugal. Mas abdicou da coroa e no seu lugar ficou sua filha mais velha Maria da Glória (que seria a rainha dona Maria II), que tinha apenas 7 anos de idade.

No entanto, Miguel, o irmão mais velho de Dom Pedro I, reivindicou o trono de sua sobrinha.

Com diversos problemas para resolver na colônia e na metrópole, Dom Pedro I abdica do trono de Imperador do Brasil em 7 de abril de 1831.

Em seu lugar permaneceu seu filho mais novo, Pedro de Alcântara, que subiria ao trono como Dom 

Pedro II, que na época tinha 5 anos de idade.

A primeira esposa de D. Pedro foi Maria Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, filha do imperador austríaco Francisco I. Leopoldina era cunhada de Napoleão, já que sua irmã, Maria Luísa, fora casada com o imperador francês. Além disso, Leopoldina teve uma educação esmeradíssima, sob a supervisão do ministro de Francisco I, príncipe de Metternich. Tinha muito interesse em mineralogia e botânica. Foi também amiga do músico Schubert e do poeta Goethe.

Leopoldina e D. Pedro casaram-se em 13 de maio de 1817, em Viena. Entretanto, não demorou muito para que o agitado marido levasse a cabo a infidelidade. A principal amante de D. Pedro I foi Domitila de Castro Canto e Mello, que receberia o título de Marquesa de Santos. D. Pedro e Domitila começaram o seu romance em agosto de 1822, um mês antes da Independência concretizar-se. O caso, ao contrário de outros que o imperador tivera, tornou-se público e escandaloso, a ponto de Domitila valer-se da má fama para galgar os degraus da corte brasileira. O primeiro posto na corte que recebeu de D. Pedro foi o de primeira-dama da imperatriz Leopoldina, fato que ocorreu em 4 de abril de 1825.

Mas os escândalos sexuais de D. Pedro foram ainda mais além, chegando ao ponto de se relacionar com uma irmã casada da Marquesa de Santos. 

O 9 de janeiro de 1822 entrou para a história como o dia em que Dom Pedro I publicamente declarou que ficaria no Brasil e não retornaria para Portugal. Ele, então, disse a famosa frase:

“Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto. Diga ao povo que fico.”

Temendo perder o reino português, Dom João VI voltou para o Portugal, em 1821, e deixou seu filho, Dom Pedro, no Brasil. A Revolução do Porto, ocorrida no ano anterior, motivou o retorno do rei e desencadeou uma série de medidas que buscavam reverter suas ações no Brasil, como a elevação a Reino Unido. Os portugueses não queriam perder sua colônia na América e pressionaram o príncipe regente a retornar o mais rápido possível para a metrópole.

As elites estavam satisfeitas com as mudanças trazidas pela família real para o Brasil. Além de relativa autonomia provocada pela elevação a Reino Unido, a economia da colônia desenvolveu-se com o comércio de produtos ingleses. No entanto, os portugueses ainda detinham o poder do comércio litorâneo.

O apoio à independência fortaleceu-se, pois o Brasil independente daria a essas elites o controle do comércio até então nas mãos dos portugueses. Na política a presença de portugueses em postos importantes da administração colonial incomodava a elite, que desejava ocupar esses cargos. O domínio português foi questionado em todas as frentes.

Logo após a chegada de Dom João VI a Portugal, a Coroa exigiu a volta de Dom Pedro. Assim, a recolonização brasileira seria efetivada. Por isso a permanência do príncipe regente no Brasil encaminharia o processo de independência. O apoio à libertação política brasileira de Portugal ganhava adeptos e pressionava Dom Pedro a permanecer. José Bonifácio foi interlocutor do príncipe e auxiliou-o em sua decisão. Percebendo a força de sua liderança entre os brasileiros, Dom Pedro decidiu descumprir as ordens portuguesas e permanecer no Brasil para conduzir os passos finais rumo à independência.

Em 7 de abril de 1831, D. Pedro I, imperador já há quase dez anos, abdicou do trono em favor de seu filho Pedro de Alcântara (futuro D. Pedro II). Essa abdicação resultou de intensas manifestações da elite política brasileira insatisfeita com seu reinado. A economia, por exemplo, percorreu sérios caminhos à época, a ponto de o Banco do Brasil ter que ser fechado. A saída do imperador, nascido em Portugal, e a expectativa de se alçar ao trono outro imperador propriamente brasileiro (Pedro II) apascentavam os ânimos dos opositores de D. Pedro.

Após a abdicação, D. Pedro I passou um tempo na Inglaterra. Quando seu irmão, D. Miguel, tentou usurpar o trono português – à época pertencente à filha de D. Pedro, D. Maria II, a quem o imperador (que sucedeu o pai, D. João VI, após a morte deste em 1826) também havia confiado o cargo –, teve início a Guerra Civil Portuguesa. Essa guerra tornou-se intensa nos anos de 1833 e 1834, mas D. Pedro I, que era chamado de D. Pedro IV, em Portugal, conseguiu derrotar seu irmão e restituir o trono à filha.

Entretanto, a tuberculose, que não tinha tratamento eficaz à época, já consumia o imperador por dentro, ainda que contasse apenas 36 anos de idade. Em 24 de setembro, D. Pedro faleceu em Lisboa.


Curiosidades:

D. Pedro I, segundo filho de D. João VI de Portugal e D. Carlota Joaquina, nasceu em 12 de outubro de 1798. Permaneceu em Portugal até próximo aos 10 anos de idade, já que teve que sair do país natal com toda a Família Real rumo ao Brasil. Isso ocorreu no contexto das guerras napoleônicas. Passando a adolescência e a juventude no Brasil, D. Pedro revelou-se um sujeito frenético e efusivo. Segundo a historiadora Isabel Lustosa, D. Pedro era o que hoje os médicos diagnosticam como uma pessoa hiperativa. Vivia em permanente movimento, não sabia o que era sossego, repouso, tédio e também não conheci a fadiga.

O 1º imperador brasileiro viveu 35 anos, teve dois casamentos, várias amantes e 13 filhos.

O imperador tinha fama de mulherengo e é lembrado por contrariar as ordens do pai (Rei de Portugal) no famoso "Dia do Fico", e ainda declarar a independência do país no mesmo ano.

D. Pedro, porém, sofria da mesma moléstia que acometeu personalidades como os escritores F. Dostoiévski e Machado de Assis: a epilepsia. Os seus ataques epilépticos passaram a ocorrer desde pelo menos 1811.

Era amante da Marquesa de Santos e teve 5 filhos com ela

Tinha fama de mulherengo


A VOLTA PARA PORTUGUAL

 


Após passar 13 anos no Brasil, D. João VI, rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, retornou à sua terra natal em 1821. Sua partida do Brasil foi marcada por sentimentos contraditórios, visto que sua presença influenciou significativamente o desenvolvimento e o intercâmbio cultural da região. No entanto, a instabilidade política e econômica em Portugal obrigou D. João VI a tomar a difícil decisão de retornar aos seus deveres reais.

Ao retornar, D. João VI enfrentou inúmeros desafios para retomar o controle do reino português. A proeminência dos sentimentos liberais e nacionalistas no país tornou a transição de volta à monarquia absoluta uma tarefa delicada. 

Ao longo dos 13 anos em que Dom João VI ficou no Rio de Janeiro, o povo português, lá em Portugal, enfrentou fome e sofrimento. Os lusos perderam meio milhão de habitantes, vítimas da miséria e das batalhas, além daqueles que deixaram Portugal em busca de melhores condições em outros países.

Revoltas frequentes exigiram a volta do rei à Lisboa. A Revolução Liberal do Porto, em 1820, foi decisiva.

Assim, ameaçado de perder o trono português, Dom João VI retornou à Lisboa em 26 abril de 1821, o Rei voltou com  cerca de 4 mil pessoas. Dois dias antes de embarcar, o rei disse ao príncipe regente: “Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que me hás de respeitar, que para algum desses aventureiros”.

Nem os ossos ficaram para trás. Até mesmo os membros da dinastia de Bragança que haviam morrido enquanto a família real estava no Rio de Janeiro, como a mãe de Dom João VI, a rainha Dona Maria I, o sobrinho do rei, Dom Pedro Carlos, e uma tia, Dona Maria Ana Francisca, tiveram seus corpos levados para Portugal nos navios que transportaram a corte de volta.

Não fosse a pressão vinda de Portugal, Dom João VI podia muito bem ir ficando no Brasil. Mas o descontentamento por lá com a ausência da família real era tamanho que havia risco inclusive para a continuidade da dinastia.

Em 1820, estourou em Portugal a Revolução do Porto, que acabou com o absolutismo do rei de Portugal, instituiu as cortes constitucionais portuguesas, que deveriam dar uma constituição, a primeira do reino, e exigiu o retorno da corte para Portugal. Segundo o manifesto produzido pelos revoltosos, eles estavam cansados de Portugal ter passado a ser tratada como uma colônia, com todos os assuntos tendo que ser resolvidos no Brasil junto à corte, que estava instalada ali desde 1808.

Também chamada de Revolução Liberal de 1820, esse movimento iniciado em agosto na cidade do Porto se espalhou por Lisboa no mês seguinte. O movimento é chamado de liberal no sentido do juramento a uma constituição e na reorganização administrativa do Estado português, já que o monarca havia fugido por conta da invasão francesa.

Apenas um ano depois de D. João VI voltar a Portugal, temos a Independência do Brasil.

João VI de Portugal, também conhecido como Rei João VI ou João Clemente, deixou um legado duradouro no Brasil. Seu reinado e a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro tiveram um impacto significativo na jornada do Brasil rumo à independência.

Sob o governo de D. João VI, o Brasil vivenciou um período de notável crescimento e desenvolvimento. A corte do Rio de Janeiro tornou-se o centro da atividade política, econômica e cultural, levando à modernização do país. A presença da corte portuguesa também fomentou um sentimento de identidade nacional e unidade entre o povo brasileiro.

Além disso, a influência de D. João VI na  independência do Brasil  é inegável. Apesar dos esforços para manter o controle sobre o território brasileiro, as políticas e ações de D. João VI alimentaram inadvertidamente o desejo de autonomia. Sua presença no Brasil e os eventos subsequentes pavimentaram o caminho para a declaração de  independência do Brasil  em 1822.


DOM JOÃO VI NO BRASIL 1808-1821


 

João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael, mais conhecido como Dom João VI, nasceu em 13 de maio de 1767, em Lisboa, Portugal. Ele era o segundo filho da Rainha Maria I e do Rei D. Pedro III. Quando criança, não se esperava que João herdasse o trono, pois seu irmão mais velho, José, era o herdeiro. No entanto, com a morte de José em 1788, João tornou-se o novo herdeiro do trono.

Em 1792, João casou-se com Carlota Joaquina da Espanha, com quem teve nove filhos. Sua esposa, Carlota Joaquina da Espanha, conspirou persistentemente contra o marido, motivada por seus interesses pessoais ou por aqueles ligados à sua terra natal, a Espanha. Em 1816, a mãe de João faleceu no Rio de Janeiro, 20 de março de 1816, e João ascendeu ao trono como Rei João VI.

O reinado de D. João VI como Rei de Portugal foi marcado por diversos desafios e transformações. Ele era conhecido por seu intelecto, compaixão e compromisso com a reforma. Seu apelido "João Clemente" refletia sua natureza benevolente e misericordiosa.

Durante seu reinado, D. João VI enfrentou instabilidade política e econômica, incluindo a invasão de Portugal pelas forças de Napoleão. Para salvaguardar a corte portuguesa e manter sua independência, D. João VI tomou a importante decisão de transferi-la para o Rio de Janeiro, Brasil, em 1808.

A presença de D. João VI no Brasil teve um profundo impacto no desenvolvimento do país. Ele estabeleceu o  Reino Unido de Portugal , Brasil  e Algarves , designando o Rio de Janeiro como a nova capital.

Sob o governo de D. João VI, o Brasil testemunhou um progresso significativo em diversas áreas, incluindo educação, infraestrutura e cultura. Sua corte no Rio de Janeiro atraiu intelectuais, artistas e cientistas, tornando-se um centro de atividade intelectual e artística.

Apesar de seus esforços para manter o controle sobre o Brasil, D. João VI também enfrentou crescentes demandas por independência por parte das elites brasileiras. A complexa relação entre D. João VI e a busca do Brasil pela independência moldaria o futuro da nação.

Essa transferência deu destaque à  corte do Rio de Janeiro  , transformando o Brasil de uma colônia distante no coração do império português. Marcou uma mudança histórica na dinâmica de poder e preparou o cenário para profundas transformações na sociedade, na política e na cultura brasileiras.

No Brasil, a presença da corte trouxe importantes avanços em infraestrutura, educação e artes. Estimulou o crescimento econômico e o intercâmbio cultural, atraindo artistas, intelectuais e cientistas da Europa.

A vinda da Família Real para o Brasil significou a criação de instituições e construções que tinham por finalidade tornar a vida da corte portuguesa melhor e melhorar a economia local.

É nesse contexto que se deu a criação do Banco do Brasil, do Teatro Nacional, Biblioteca Nacional e Jardim Botânico. Dom João também investiu na criação de estradas e aboliu a lei que proibia a criação de fábricas no Brasil.

Além disso, Dom João criou e imprensa real e contratou artistas franceses para retratar o Brasil, a chamada Missão Francesa. O mais conhecido artista francês foi Jean Baptiste Debret.

Foi também durante o Período Joanino que o regente reuniu tropas para invadir a Guiana Francesa e a Cisplatina (atual Uruguai), que estavam sob domínio da França e Espanha, respectivamente. Essa decisão aconteceu em represália à aliança desses países e sua intenção de conquistar Portugal.

Em 1818, Dona Maria I vem a falecer, transformando o regente Dom João em Dom João VI, Rei de Portugal.

Embora a chegada de D. João VI ao Brasil tenha proporcionado avanços e progresso dentro da colônia, também alimentou o desejo por maior autonomia. À medida que a população brasileira se expunha aos ideais iluministas e aos conceitos de autodeterminação, o clamor pela independência se intensificou.

No entanto, D. João VI não abriu mão do controle facilmente. Implementou medidas repressivas para reprimir a dissidência e manter a autoridade portuguesa. No entanto, esses esforços acabaram se revelando inúteis à medida que a busca pela independência do Brasil se intensificava.

Apesar de suas tentativas de manter o controle, o reinado de D. João VI marcou uma virada na luta pela independência do Brasil. A presença da corte no Rio de Janeiro serviu como catalisador para mudanças políticas e sociais, reacendendo ainda mais as chamas da revolução.


sexta-feira, 18 de abril de 2025

A FAMÍLIA REAL NO BRASIL



A vinda da família real foi um acontecimento iniciado em 29 de novembro de 1807, e o seu desembarque em terras brasileiras ocorreu em 22 de janeiro de 1808, na cidade de Salvador. A vinda foi consequência direta do Período Napoleônico e do desentendimento existente entre França e Portugal na questão do Bloqueio Continental.

Com isso, a família real portuguesa mudou-se para o Brasil e instalou-se no Rio de Janeiro, junto à toda estrutura de governo de Portugal. Isso iniciou o Período Joanino e resultou em uma série de transformações, como a abertura dos portos brasileiros, que contribuíram para levar o Brasil na direção de seu processo de independência.


Período Napoleônico

A vinda da família real para o Brasil é consequência direta do período napoleônico, mais especificamente, na disputa travada entre França e Inglaterra. Esse certame entre as duas nações estava em curso desde a Revolução Francesa e intensificou-se quando Napoleão Bonaparte assumiu o poder da França, por meio do Golpe 18 de Brumário, em 1799.

O início da Revolução Francesa colocou em xeque a existência das monarquias absolutistas, e, assim, esses países uniram-se contra a França, concretizando uma série de conflitos no final do século XVIII. Com a posse de Napoleão, as guerras continuaram, mas, agora, porque a França havia decidido dominar todo o continente europeu.

Assim, a rivalidade entre França e Inglaterra acirrou-se porque os ingleses eram o grande obstáculo para Napoleão no seu projeto de dominar o continente. Esse impasse refletiu-se em toda a Europa, e Portugal não escapou disso. As disputas internas entre os apoiadores da França e da Inglaterra aumentaram a ponto de interferência no governo

O governo português, no entanto, buscava, desde o tempo da Revolução Francesa, manter uma posição neutra para não desagradar as duas nações. A situação agravou-se para ele quando franceses e espanhóis aproximaram-se, o que fez que as relações entre Portugal e Espanha ficassem tensas.

Com a aproximação entre Espanha e França, uma série de exigências foram feitas a Portugal, e, como não foram aceitas, um pequeno conflito entre este país e a Espanha foi travado em 1801, sendo conhecido como Guerra das Laranjas. Portugal perdeu a cidade de Olivença para os espanhóis em definitivo. Com isso, d. João, regente de Portugal, decidiu reforçar as defesas nas regiões de fronteira a fim de evitar novas perdas.


A Vinda

A vinda da família real portuguesa para o Brasil foi um desdobramento da crise entre Portugal e França por conta da disputa desta com a Inglaterra. Desde a derrota dos portugueses na Guerra das Laranjas, em 1801, as relações diplomáticas entre Portugal e França eram delicadas. Os franceses pressionavam os portugueses para que eles cortassem relações diplomáticas com a Inglaterra.

Isso foi manifestado pela primeira vez logo após serem derrotados na Guerra das Laranjas, uma vez que os franceses, aliados dos espanhóis, exigiram na rendição o aceite do fechamento dos portos portugueses para embarcações inglesas. A exigência foi acatada, porém nunca foi aplicada de fato pelos portugueses.

Em 1806, os franceses não tinham conseguido derrotar os ingleses e não tinham conseguido invadir seu território, protegido pela poderosa marinha inglesa. Sendo assim, como forma de enfraquecer a Inglaterra, Napoleão Bonaparte decidiu impor o Bloqueio Continental. Com essa medida, as nações europeias ficavam proibidas de receber embarcações inglesas e de enviar as suas a portos ingleses.

Já nesse momento, os portugueses começaram a cogitar a possibilidade de mudarem-se para o Brasil. Isso garantiria a liberdade de d. João, uma vez que ele estaria inalcançável a Napoleão Bonaparte. A tensão em Portugal era evidente pelo fato de que o país não queria ser forçado a abrir mão de sua aliança com a Inglaterra.

Mesmo com o Bloqueio Continental, os portugueses continuaram recebendo as embarcações inglesas, e, por isso, Napoleão Bonaparte deu um ultimato a eles para que acatassem uma série de imposições contra a Inglaterra até setembro de 1807. Isso levou a semanas de negociações entre franceses e portugueses para que a situação fosse resolvida, mas não houve acordo.

Uma das imposições dos franceses era que Portugal confiscasse os bens de ingleses instalados no país e aprisionasse-os. Como Portugal recusou-se a aceitar esse e outros termos, Napoleão decidiu colocar em prática a sua promessa de acabar com a Casa de Bragança, e, assim, enviou tropas para Portugal a fim de ocupar o país. A ideia era dividir o território português com a Espanha, aliada da França.

A decisão que determinou a transferência da corte portuguesa para o Brasil foi emitida pelo próprio regente de Portugal, d. João, no dia 24 de novembro de 1807. Na ocasião, ele anunciou para membros do governo que os franceses poderiam chegar a Lisboa em até quatro dias. Isso deu início aos preparativos para embarcar, o mais rápido possível, tudo que fosse necessário para que os Bragança pudessem continuar reinando no Brasil.

Como a vinda da família real deu-se em uma situação emergencial, os preparativos foram feitos às pressas, e os relatos contam do pânico que dominou as pessoas durante os dias de embarque, de 25 a 27 de novembro de 1807. Os historiadores contam que entre 10 mil e 15 mil pessoas embarcaram junto à família real portuguesa.

Sendo assim, a embarque da corte portuguesa foi um evento, uma vez que todo o aparelho administrativo de Portugal foi embarcado em três dias. Naturalmente, o grau de desorganização de tudo que aconteceu fez com que muita coisa fosse deixada para trás. Em Portugal, não ficou nenhum membro da corte que fazia parte da linha sucessória dos Bragança, e o território ficou sob responsabilidade de uma junta governativa.

Em 29 de novembro de 1807, as embarcações portuguesas iniciaram sua viagem na direção do Brasil e, no alto-mar, encontraram-se com embarcações de guerra dos ingleses. Estas escoltaram os portugueses em segurança até o Brasil. No fim do dia 29, os franceses entraram em Lisboa.

O percurso foi cheio de problemas. Os recursos disponíveis não eram suficientes para a quantidade de pessoas que estavam nos navios, por isso, alimentos e água foram racionados ao máximo. Também não havia espaço para todos, e os dormitórios precisaram ser improvisados. A quantidade de gente e os problemas de higiene resultaram em um surto de piolhos, o que forçou as mulheres a rasparem os seus cabelos.

A chegada dos Bragança no Brasil aconteceu em 22 de janeiro de 1808. Após 54 dias de viagem, os portugueses chegaram a Salvador, e lá se estabeleceram por alguns dias. Com isso se iniciou um período da história brasileira conhecido como Período Joanino. Em Salvador, d. João tomou uma medida muito importante para o Brasil: abertura dos portos brasileiros às nações amigas.

Essa medida promoveu mudanças para a economia brasileira e aumentou a influência dos ingleses no comércio de nosso país. Em 8 de março, a corte portuguesa chegou ao Rio de Janeiro, seguida de outras embarcações que tinham se perdido durante a viagem. A presença da família real aqui, ainda, trouxe transformações significativas que adiantaram o percurso do Brasil na direção da independência.

Dom Pedro I tinha 9 anos quando chegou ao Brasil em 1808 com a família real portuguesa, que se mudou para o país para escapar da invasão de Napoleão Bonaparte. 


BRASIL COLÔNIA - RESUMO

 


O Brasil Colônia é o período que compreende os anos de 1530 a 1822. Esse fato histórico foi iniciado com a primeira expedição realizada por Martim Afonso de Souza, no litoral brasileiro.


Brasil Pré-Colonial

No período pré-colonial a economia baseava-se na exploração do pau-brasil. Essa atividade consistia na extração de tinta da madeira para a pintura de tecidos. Portanto, essa era a atividade econômica da época. Para cortar a madeira, os portugueses davam aos índios objetos como: quinquilharias, metais, espelhos, colares, entre outros. Na história chama-se essa troca de escambo. 


Brasil Colônia: O Começo 

De acordo com a história do Brasil, o marco inicial do Brasil Colônia foi o momento em que D. João III encaminhou Martim Afonso de Souza, em 1530, para realizar uma expedição colonizadora no litoral brasileiro. A finalidade foi estabelecer vilas e dividir lotes de terras para os donatários (pessoa que administrava terras que recebiam) explorarem metais preciosos e cultivassem a cana-de-açúcar. 

O trabalho de expedição de Martim Afonso de Souza estendeu-se do litoral de Pernambuco até o rio da Prata. Ele fundou no litoral paulista a primeira vila do Brasil, em 1532, denominada de Vila de São Vicente. 


Fundação São Vicente, primeira Vila fundada no Brasil Colônia

A partir de então, Portugal adotou uma medida para estabelecer o processo de colonização do Brasil: as Capitanias Hereditárias. Essa estratégia consistiu na divisão do país em 15 capitanias hereditárias, que eram faixas de terras que abrangia o litoral brasileiro até o limite estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas. Esse era um documento que atestava o acordo entre Portugal e Espanha sobre os limites das terras descoberta por ambos. 

Como foi dito, quem recebia os lotes eram denominados de donatários. Já os documentos que atestavam o direito de posse das terras eram denominadas carta de doação e floral.


Motivos de Portugal para a Colonização

A terra recém-descoberta despertava o interesse não apenas de Portugal, mas também de outras nações. Os lusitanos enfrentavam ameaças de navios estrangeiros que cercavam o litoral brasileiro. Como exemplo, os franceses que haviam fortalecido relações com os indígenas. Além disso, alguns países não reconheciam o Tratado de Tordesilhas. 

Não apenas a ameaça estrangeira de instalar-se no Brasil, mas também a busca por metais preciosos contribuíram para a escolha de Portugal em colonizar o país. A Espanha havia descoberto ouro na América. Com isso, os portugueses criaram a expectativa de encontrar o brilhante de cor amarela também em solo brasileiro.


A Criação do Governo Geral

No Brasil Colônia, o primeiro governo-geral foi criado em 1548. O sistema de capitanias hereditárias não deixou de existir, porém algumas fracassaram em detrimento de alguns motivos como: 

• Ausência de recursos financeiros;

• Ataque de índios;

• Amaça de estrangeiros;

• Distância em relação à Metrópole.

O objetivo de Portugal em criar um governo-geral era de reduzir o poder dos donatários e formar um comando geral na colônia. A Bahia foi selecionada como a sede do Governo-Geral em razão do lugar ser um ponto estratégico para estabelecer a comunicação com as outras capitanias brasileiras.


Estrutura do Governo Geral no Brasil Colônia

O governo geral no Brasil Colônia havia três auxiliares, sendo eles: 

• Ouvidor-Mor: encarregado da justiça do governo;

• Provedor-Mor: responsável pelo setor financeiro;

• Capitão-Mor: cuidava da defesa do litoral. 


A Economia da Época

Para estabelecer a política econômica no Brasil, Portugal adotou algumas medidas, como a produção de cana-de-açúcar. Essa escolha foi em razão das experiências bem-sucedidas de Portugal em outras colônias como São Tomé, Ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde. 

O comércio na colônia respeitava a medida do pacto colonial que era o direito de exclusividade de comercialização entre colônia e metrópole. Os portugueses utilizaram, a princípio, como mão de obra escrava os índios. Estes, no entanto, resistiram e, além disso, a prática era condenada pelos jesuítas. A partir de então, donos de comércios escravizaram negros que vieram da África nos navios-negreiros. Os jesuítas reagiram contra a prática de escravidão dos índios. Porém concordavam com a escravidão dos negros. 


Invasão Holandesa

A invasão holandesa foi um dos fatos que ameaçou o domínio português sobre o Brasil. Em 1580 ocorreu a União Ibérica que foi a unificação entre as coroas de Portugal e Espanha. A Holanda era parceira dos portugueses, porém inimiga dos espanhóis. 

Os holandeses haviam investido na produção de cana-de-açúcar no Brasil. No entanto, eles foram afastados dos negócios. Com isso, em 1624 tentaram invadir a colônia, no estado da Bahia, permanecendo até 1625. 

Outra tentativa de invasão foi em Pernambuco em 1630. A presença dos holandeses no Brasil foi firmada a partir da chegada de Maurício de Nassau, em 1637 onde ficou até 1644.


A Decadência do Sistema Colonial

O sistema colonial entrou em decadência, principalmente pelo desejo do povo de quebrar vínculos com Portugal. Muitas revoltas ocorridas no Brasil foram reflexos dessa insatisfação, como: Revolta de Beckman: (1684), Guerra dos Emboabas (1708-1709), Guerra dos Mascates (1710), Rebelião de Vila Rica (1720). Além dessas revoltas ocorreram movimentos separatistas como a Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana (1798).

A era do Brasil Colônia teve fim no dia 7 de setembro de 1822 quando D. Pedro declarou a Independência do Brasil.



RACISMO - DARWINISMO SOCIAL E A EUGENIA GLOBAL

 


Durante o Século XIX o mundo conheceu o pior aspecto da ciência. Escritores, filósofos e cientistas desenvolveram, desenvolveram ou apoiaram ideias e teorias para justificar assassinatos em massa durante muito tempo. Mais tarde, no século XX, essas teorias seriam usadas para mais e mais assassinatos de supostos seres humanos de raças inferiores.

Em 1820, o médico médico Dr. Robert Knox de Edimburgo (1791-1862) era o mais importante cientista racial da Inglaterra.

Baseado tão somente em estudos de esqueletos, cadáveres e sobretudo de crânios, ele criou, com muita acessibilidade as bases para um novo tipo de racismo. O racismo científico.

Robert Knox caiu em desastres em meados dos anos 1820 acusado em um escândalo de roubo de cadáveres, fugindo da Grã-Bretanha.

Ele comprou cadáveres de dois bandidos pé de chinelo que ao ver que poderiam vender defuntos para o Dr. Knox tornou-se uma dupla de serial killers.

Existe uma espécie de pousada para viajantes, pequena e barata, eles trabalhavam como cobradores de aluguel ou das diárias desta pensão. Aproveitavam-se de que os hóspedes eram viajantes desconhecidos os assassinavam para vender seus corpos sem vida para o Dr. Robert Knox; os preços variavam entre 7 e 10 libras algo como entre 500 e 800 dólares hoje em dia, muito dinheiro para a época. Entre 16 e 20 pessoas foram mortas pela dupla e seus corpos foram comprados por Knox.

 Os assassinos foram descobertos por um hóspede que retornou por ter esquecido um par de meias em um dos quartos, ela francesa foi acompanhada do marido e ao procurar a meia sob a cama viu um dos cadáveres.

Os dois assassinos foram presos; um dos assassinos fez um acordo com a justiça: ele ficaria livre de qualquer acusação contas casose toda a verdade.

Ele denunciou o amigo e o Dr. Robert Knox.

O amigo foi forçado, suas últimas palavras foram:

E o doutor?

Nada vai acontecer com ele?

O assassino que fez o acordo, mais tarde foi perseguido por uma multidão enraivecida, caiu em um poço de cal, ficou caolho e morreu na miséria, provavelmente de fome. Robert Knox caiu em desgraça, nunca mais exerceu a medicina, trabalhou como jornalista e ficou na obscuridade por muito tempo.

Em 1840 O Dr. Knox volta ao cenário do Racismo Científico com a publicação do livro: The races of man: a fragment ( As raças humanas: um fragmento ... ou As Raças do homem: Um Fragmento…).

Neste livro, dentre muitas afirmações podemos destacar:

"…Que a raça decidida de tudo nos negócios humanos é simplesmente um fato, o fato mais notável, mais geral que a filosofia jamais anunciou. A raça é tudo: a Literatura, a Ciência, a Arte [...] a civilização dela depende..."

"...As raças negras podem ser civilizadas? Eu devo dizer que não..."

 "...Agora, esteja a Terra superpopulosa ou não, uma coisa é certa, os fortes sempre irão se apoderar das terras e das propriedades dos fracos. Estou convencido de que esta conduta não é, em absoluto, incompatível com a moral mais elevada e mesmo com o sentimento cristão..."

"...A raça saxônica jamais as tolerará, jamais se miscigenará e jamais viverá em paz. É uma guerra de extermínio..."

(As instruções acima são de Robert Knox, The Races of Men Philadelphia, PA: Lea & Blanchard, 1850 )

Olha, escrever sobre a “raça saxônica” é muito difícil e complicado. Eu já assisti uma palestra gravada onde um historiador proeminente disse:

“…Ninguém sabe verdadeiramente quem foram os saxões…”

Mas a história formal está repleta de referências à Saxônia.


A Saxônia 

O termo “saxão” vem do proto-germânico “ sahsan ”, que significa “faca”.

As referências mais antigas e de certa forma confiáveis ​​são do século VIII onde o Monge Beda (monge beneditino), conta que no início do século V, três tribos germânicas invadiram e colonizaram o sul e o leste da Grã-Bretanha: Os Angles (Anglos), que provavelmente vieram de Angeln (em alemão moderno).

A palavra Inglaterra em inglês England viria do inglês antigo Engla land ou Ængla land.

Os saxões, uma tribo hoje conhecida como a "Baixa-Saxônia" (em alemão moderno: Niedersachsen ).

E os Jutos possivelmente uma tribo da península da Dinamarca chamada de Jutlândia (em dinamarquês moderno: Jylland).

Como podemos ver, é tudo na base do “possivelmente”, “provavelmente” do “talvez”.

Há séculos os ingleses tentam encontrar provas de uma origem “nobre”, “heroica” “uma raça superior” ou um “berço nobre” para os seus antepassados. O fato é que a ilha hoje chamada de Inglaterra foi invadida por todos os lados e por vários povos ao longo dos séculos. O principal povo invasor foram os romanos, que não só invadiram, mas colonizaram e se fixaram lá por mais de 400 anos. No século XXI, é no mínimo ridículo querer falar sobre raça pura na Inglaterra ou em todo o Reino Unido e no século XIX era igualmente ridículo.

A hipocrisia do chamado Racismo Científico não estava restrita à Inglaterra.

Nos Estados Unidos um médico chamado Samuel George Morton especialista em crâniologia liderou um grupo que reunia crânios de diversas “raças” para fazer comparações; Esses estudos eles afirmavam que os crânios das raças tinham vários tamanhos e que quanto maior o tamanho, maior o cérebro, quanto maior o cérebro maior a inteligência e a capacidade de evolução, sobrevivência, liderança etc.

Dando prosseguimento às suas teorias, eles fizeram as mesmas comparações com crânios de outras espécies de animais, e encontraram (é óbvio) vários tamanhos de crânios no reino animal e decidiram que o animal com maior caixa craniana era mais inteligente e mais evoluído que o animal com menor caixa craniana e menor cérebro. Sendo assim, o ser humano com uma caixa craniana menor, tinha um cérebro menor e portanto era menos evoluído, podendo segundo suas consequências, nem ao menos ser considerado humano, estando próximo a um animal irracional.


Darwinismo Social

Charles Darwin, pesquisador e autor do livro A Origem das Espécies, mostra que na natureza existe uma certa posição entre as espécies; o animal, seja um inseto ou um mamífero mais especializado, “vence” e supera o animal menos especialista.

Assim, o evolucionismo de Darwin foi usado como desculpa para justificar o expansionismo branco sobre as outras raças.

O raciocínio foi o seguinte: se na natureza o animal mais forte vence o mais fraco por ser mais especializado, por que negar isso ao ser humano?

O branco (seja pequeno ou não) se expande porque é mais especializado, mais inteligente e elimina as raças mais fracas, é apenas uma consequência, e uma consequência muito natural. Os partidários dessas teorias ficaram conhecidos como Darwinistas Sociais.


Thomas Henry Huxley 1825-1895

O biólogo inglês Thomas Henry Huxley ganhador da medalha de ouro em anatomia e fisiologia pela Universidade de Londres, descobridor de uma camada interna dos fios de cabelos (a camada de Huxley) descobridor de novas amostras de animais (na Austrália e Nova Guiné), o criador do termo agnosticismo, chamado de O Buldogue de Darwin era defensor do Darwinismo social.

No Brasil também houve defensores do Darwinismo Social.


As Conferências Populares da Glória:

Foram reuniões públicas realizadas no Colégio Estadual Amaro Cavalcanti (a época chamava-se escola da Freguesia da Glória), que na verdade fica localizada no Largo do Machado no Bairro do Catete (tudo muito próximo, para você que não conhece o Rio de Janeiro).

Essas reuniões foram organizadas pelo conselheiro Manoel Francisco Correa (1831-1905), que foi advogado, senador do império, deputado geral em três mandatos, foi presidente da província de Pernambuco Manoel Francisco Correa(equivalente a governador do estado hoje em dia), sócio fundador da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Formado em Humanidades na Faculdade de Direito de São Paulo, foi agraciado com a grã-cruz da ordem da Conceição de Vila-Viçosa e de Cristo de Portugal, além da ordem da coroa de ferro da Áustria e de Sant´anna da Rússia.

 Ele criou as Conferências Populares da Glória em 1873 com o objetivo de propagar as ciências, as artes e a literatura na capital do Império Brasileiro. Políticos, médicos, advogados, escritores, jornalistas, parlamentares, além do Imperador Dom Pedro II e da Família Imperial, assistem às conferências que ocorriam aos domingos pela manhã.

 As teorias de Charles Darwin foram apresentadas pela primeira vez nas Conferências da Glória pelo médico Augusto Cezar de Miranda Azevedo (1851-1907) em 1875.

 O tema da palestra foi: Darwinismo: Seu Passado, Seu Presente, Seu Futuro.


Augusto Cezar de Miranda Azevedo 1851-1907

Foi médico, historiador, jornalista e político, primeiro redator da Revista Médica do Rio de Janeiro, presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (1897-1898), foi deputado estadual em São Paulo e um republicano fervoroso.

Defendeu uma tese acadêmica com o título: Do darwinismo: "É aceitável o aperfeiçoamento completo das espécies até o homem?"

Nas Conferências Populares da Glória, o Dr. Augusto Cezar Miranda Azevedo, destacou que o Darwinismo “… forneceria o instrumental para se pensar e resolver os problemas da sociedade brasileira…” e ele ao divulgar as ideias de Darwin estaria prestando um "serviço à pátria e ao povo".

Tinha uma proposta de aplicação prática das teorias de Darwin que seria na convocação para o Serviço Militar!

Ele alegou que os melhores, os mais saudáveis ​​foram levados para o campo de batalha enquanto os deficientes, e os fracos foram levados para procriar e isso é claro dentro de sua ideologia gerou brasileiros mais fracos e doentes. O Dr. Augusto Cezar Miranda de Azevedo acreditava assim como todos os adeptos do Darwinismo Social que havia uma condição na espécie humana, haveria os sadios, os fortes, os inteligentes e em contrapartida haveriam os fracos, os doentes e os menos inteligentes e capazes.

Segundo ele, os inferiores gerariam filhos predestinados a serem inferiores e os superiores predestinados a terem descendentes superiores. Seria um “determinismo hereditário”.

Em 1918 foi fundada A Sociedade Eugênica de São Paulo; assim, o Brasil tornou-se o primeiro país da América do Sul a ter um movimento eugênico organizado.

Em 1931 foi criado o Comitê Central de Eugenismo , presidido por Renato Ferraz Kehl e Belisário Penna que propôs o fim da imigração de não-brancos, para: "prestigiar e auxiliar as iniciativas científicas ou humanitárias de caráter eugenista que sejam dignas de consideração " (Revista Brasileira de Enfermagem).


Herbert Spencer 1820-1903 

Foi um economista e filósofo positivista inglês que defendeu o Darwinismo Social com unhas e dentes, mesmo sem nunca ter usado a expressão Darwinismo Social ele é considerado o pai da sistematização desta crença.

Não podemos esquecer que o positivismo foi uma escola filosófica que contribuiu para a proclamação da república no Brasil.

É dele a expressão: "sobrevivência do mais apto ".

O Darwinismo Social foi usado para explicação ou justificação de inúmeras políticas genocidas nas colônias europeias na África, América do Sul, América do Norte e na Índia, a aniquilação por completa de sociedades tidas como inferiores ou a dizimação de raças e culturas quase que por completa: malaios, tasmanianos (na Tasmânia, Austrália) , índios norte-americanos, indianos e povos africanos como por exemplo os hererós na Namíbia ; e mais tarde já no século XX, os judeus na Europa.

Milhões de seres humanos das assim chamadas “raças inferiores” foram mortos, em geral, brutalmente ou de fome e sede.


Edward Robert Bulwer-Lytton 1831-1891

Era adepto do darwinismo Robert Bulwer Lyttonsocial, ficou famoso entre outras coisas por ter organizado e ofereceu um banquete para mais de 60.000 pessoas em 1876, (considerado por muitos como a maior festa do mundo), enquanto no mesmo ano na Índia mais de 10 milhões de pessoas morriam de fome literalmente nos territórios populares pelos outros, pessoas cometeram canibalismo, venderam suas filhas por um pedido de arroz e muitos, cometeram Enquanto o suicídio Lytton e seus convidados se empanturravam por mais de uma semana com o 

que foi considerado o maior banquete da história. (leia o artigo.

O sucesso estupendo dos genocídios cometidos pelos europeus em continentes longínquos não tardou a voltar-se para dentro do seu próprio seio. Raça e classe evoluíram para se confundir; o conceito de que raça e classe eram a mesma coisa, começou a se fundir e não demorou para que o “Darwinismo Social” se tornasse uma ciência discriminatória não apenas de raças específicas inferiores, mas também de classes inferiores ainda que essas raças construídas e vivem no bairro ao lado.

Começaram a enxergar a inferioridade do ser humano nas classes operárias de suas próprias cidades e países.

Na Inglaterra, desde muitos séculos, existem referências aos Cockneys.

Seria impossível aqui, explicar corretamente todos os aspectos que envolvem os Cockneys; livros, tratados etimológicos e léxicos já foram escritos sobre o assunto. Vou tentar resumir em poucas palavras o que é um cockney; entre muitíssimas aspas, com uma comparação tosca sem muitos refinamentos de minha parte; Peço antecipadamente mil perdões por qualquer correção minha ou se por acaso ferir alguma suscetibilidade:

Seria de uma maneira geral, como o nosso caipira interiorano, de fala diferente da população em geral; às vezes falando errado, a maioria dos trabalhadores em empregos simples, às vezes braçais e sem necessidade de muito estudo.

Bom, os Cockneys da Inglaterra não são emigrantes, são filhos da própria terra. Logo que as políticas genocidas justificadas pelo Darwinismo Social deram certo, os Darwinistas Sociais se voltaram para Londres e os Cockneys. Começaram a estudar seus crânios e mapear onde viviam e é claro chegaram à conclusão de que eram mais violentos que os outros ingleses e menos capazes, menos inteligentes.

Um cientista que passou a visitar as cadeias para estudar as cabeças dos criminosos e estabelecer uma relação de classe-raça inferior foi Francis Galton (1822-1911) nada mais nada menos que primo de Charles Darwin.


Francis Galton 1822-1911

Inteligentíssimo, seu QI foi estimado em 200. Foi matemático, escritor de sucesso (produziu mais de 340 artigos e livros em sua vida), explorador (viajou por toda a África fazendo descobertas científicas), antropólogo, meteorologista, inventor (principalmente de instrumentos de medição meteorológica) e estatístico.

Era um pesquisador voraz e dentre suas áreas de interesse estavam algumas muito interessantes para um racismo científico; veja algumas delas:

Ele desenvolveu pesquisas sobre a distribuição geográfica da beleza.

Pesquisou e escreveu sobre as flores digitais.

Ele também criou o conceito estatístico (usado até hoje) de esclarecimento; a regressão em direção à média (ótimo para explicar matematicamente coisas injustificáveis ​​na prática).

Ok, escrevi também sobre: ​​moda, levantamento de peso, a eficácia das orações religiosas, inventou aparelhos diversos como um abridor de cadeados, periscópios e um tipo de impressora precursora do teletipo. Mas o assunto aqui é racismo científico. (para mim, pouco importa se ele foi o maior gênio que a humanidade conheceu, no meu entender ele foi um imbecil).

Galton foi o primeiro a usar métodos estatísticos para o estudo das diferenças humanas de inteligência (segundo ele e os Darwinistas Sociais, essas diferenças são hereditárias).

Formulários questionários para coleta de dados sobre as comunidades humanas para seus estudos antropométricos com o intuito explícito de corroborar suas teses racistas, mas sempre acompanhados de subterfúgios como genealogias e biografias. Criou a psicometria (a ciência da medição de faculdades mentais) e a psicologia diferencial. (mais tarde a psicometria foi desvirtuada ou usada como sendo (ou se tornando) uma faculdade paranormal, a capacidade de “enxergar” imagens e sentir vibrações a partir de objetos.

Como primo de Charles Darwin evidentemente era especialista em seus livros e teorias (Origem das Espécies) e como outros, acreditava que o que se pudesse aplicar no reino animal, poderia e deveria ser aplicado ao ser humano.

Francis Galton acreditava que a “raça” humana poderia ser melhorada caso fossem evitados “cruzamentos indesejáveis”.

Propõe o desenvolvimento de testes de inteligência para selecionar homens e mulheres, destinados à reprodução seletiva.

Sendo assim, Francis Galton criou em 1883 o termo Eugenia, que significa "bem nascido". Galton definindo da seguinte maneira para Eugenia:

“… É o estudo dos agentes sob o controle social que pode melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente…”

 O que aconteceu é que Francis Galton estava muito preocupado com o crescimento das chamadas classes inferiores e a estabilização do crescimento da classe média e das classes abastadas da qual ele fazia parte como homem riquíssimo, filho de um próspero banqueiro. Com o crescimento das “classes inferiores” o que estava acontecendo era o contrário da Teoria de Darwin: Os inferiores não só sobreviveram como estavam se proliferando.

A Eugenia, a ciência criada por Francis Galton, propunha o incentivo ao aumento da natalidade nas aulas médias e alta e prevenção da procriação das “classes inferiores” e dos criminosos.

O fato é que a eugenia foi amplamente aceita pelos cientistas; era moderna, era “científica”.

No final do século XIX e mesmo em boa parte do século XX muitos entusiastas da eugenia e eugenistas declararam que tinham orgulho disso.


George Bernard Shaw  1856-1950

Foi membro da Sociedade Fabiana junto com HG Weels, Escreveu Pigmaleão ( Pygmalion ou My Fair Lady ) onde fica evidente sua análise sobre as classes ou se preferir, raças.

No Documentário O Soviét. Na história de Edvins Snore, Bernard Shaw aparece defendendo o nazismo e o extermínio de todos os "parasitas sociais", pessoas não adaptadas e inúteis para a sociedade. Foi acusado (no mesmo documentário) de ter feito um apelo através do Jornal Listener (em 1933) para que os químicos desenvolvessem um gás letal com a finalidade de matar seres humanos "inadequados". foi ganhador do Prêmio Nobel e do Oscar.


Herbert George Wells 1866-1946

Foi membro da Sociedade Fabiana junto com George Bernard Shaw e foi aluno de biologia de Thomas Henry Huxley um dos precursores do Darwinismo Social como comentei acima.

Conhecido mundialmente por sua obra literária como os romances: A Máquina do Tempo, O Homem Invisível e A Guerra dos Mundos; todos os best-sellers e todos os sucessos também no cinema.

O livro a Guerra dos mundos foi transposto para a rádio em 1938 por Orson Welles; Essa transmissão radiofônica ficou famosa mundialmente por provocar pânico nos ouvintes, que imaginavam estar enfrentando uma invasão real de extraterrestres.


Philipp Eduard Anton von Lenard 1862-1947

Alemão nascido na Hungria, Prêmio Nobel de Física de 1905 por suas pesquisas sobre os raios catódicos e a descoberta de muitas de suas propriedades.

Após ler alguns artigos de Albert Einstein fiquei indignado por Einstein ser um teórico e não um experimentador como ele.

Escreveu vários artigos denegrindo Albert Einstein e acabou o desafiando para um debate público.

instein aceitou o desafio, e mais que isso, arrasou com Lenard e levou a placa a acreditar que seu opositor era algo como um dinossauro da ciência.

Isso enfureceu Philipp Lenard que desde este momento passou a hostilizar publicamente Einstein chamando-o de judeuzinho ridículo e coisas mais "fortes" que isso.

Mais tarde Philipp Lenard filiou-se ao Partido Nazista tornando-se um exemplar nazista além de Eugenista iluminado.

Infernizou a vida de Albert Einstein a tal ponto que só restou uma saída ao físico alemão: Fugir para os EUA.

Frase de Philipp Lenard Prêmio Nobel de Física de 1905: Existem duas ciências a verdadeira ciência: lógica, comprovável e praticável e a ciência judaica: fantasiosa e absurda.


Winston Leonard Spencer Churchill 1874-1965

Foi um defensor da higiene racial; isso fica evidente na matéria da Times Magazine escrita por Paul Gray em 11 de Janeiro de 1999 intitulada “ Cursed by Eugenics” (Amaldiçoado pela Eugenia). Não posso reproduzir aqui trechos desta matéria em função de problemas de direitos autorais.


Eugen Fischer 1874-1967

Em 1908 um “cientista” eugênico chamado Eugen Fischer, (a palavra eugenia nada tem a ver com o nome Eugenio ou Eugen como vimos acima) diretamente para a cidade de Rehoboth na Namíbia.

Fischer e um guia de assistentes passaram meses fotografando, medindo e examinando os habitantes de Rehoboth.

Todas as pesquisas de Eugen Fischer estão arquivadas em uma repartição pública da Namíbia até hoje: Fotos, medidas de rostos e crânios e ainda páginas e mais páginas de estudos racistas querendo provar a inferioridade do povo negro africano e que se miscigenado ao do homem branco com o povo negro africano o gene africano negro irá prevalecer e o resultado será, por mais branco que seja, um ser humano inferior. Mais tarde, Eugen Fischer trabalhou para os nazistas como veremos mais adiante.

Após esses estudos, a confirmação de Eugen Fischer foi as alturas e o país que mais gostou, desenvolveu e financiou muitas de suas ideias e teorias foi os Estados Unidos.

Nos Estados Unidos no início do século XX a Eugenia cresceu sem controle, sobretudo com investimentos maciços nestes estudos por parte da elite dominante.

O dinheiro arrecadado pelos eugenistas norte-americanos foi usado por um dos eugenistas americanos mais infames que existiam naqueles pais: Charles Davenport.


Charles Benedict Davenport 1866-1944

Foi Doutor em biologia com pós-graduação em zoologia, professor de zoologia na Universidade de Harvard, especialista em taxonomia, entusiasta da biometria (não a biometria eletrônica de hoje, usada para identificação de pessoas para que esses tenham acessos a sistemas informatizados e sim a medida de seres humanos, ossos, crânios, dimensões metálicas, para fins de classificação dos seres humanos em superiores e inferiores), foi diretor do Cold Spring Harbor Laboratory.

Charles Davenport, foi responsável diretamente pela esterilização de mais de 60.000 seres humanos nos EUA (cerca de 50% no Estado da Califórnia), mais outras tantas centenas de milhões de pessoas, todos considerados por ele como “impróprios” a se reproduzirem. Foi o americano de maior influência no Holocausto na Europa. Foi o criador e fundador do Escritório de Registros Eugênicos (1910). Escreveu o livro A Hereditariedade em Relação a Eugenia que foi leitura obrigatória em várias faculdades por anos a fio. Com esse currículo foi eleito para ocupar uma cadeira na Academia Nacional de Ciências Norte-Americana. Em 1925, junto com Eugen Fisher (citado acima), foi fundador da IFEO, Federação Internacional das Organizações de Eugenia.

Em 1912 foi fundado o Comitê Internacional de Eugenia , presidido pelos EUA, e o centro eugênico em Cold Spring Harbor era base de treinamento de eugenistas do mundo todo.

Davenport manteve ligações públicas com várias instituições nazistas, antes e durante a Segunda Guerra Mundial, escreveu em jornais alemães de cunho racista, apoiou direta ou indiretamente as ideias de limpeza étnica perpetradas pelos alemães nazistas. Para o público americano no entanto, dizia ser contra o nazismo.

Com o apoio das elites norte-americanas a Eugenia tomou proporções quase religiosas; inclusive tendo o seu próprio “Credo”.


O Credo Eugênico:

Eu acredito no esforço para elevar a raça humana para um plano mais elevado da organização social, no trabalho cooperativo e no esforço eficaz para tanto.

Eu acredito que sou o administrador do germoplasma que eu carrego e que este foi passado a mim através de milhares de gerações antes de mim, e que eu não posso trair essa confiança, se eu assim agir, como para prejudicá-lo, com suas excelentes possibilidades, ou, por motivos de conveniências pessoais, limitarei indevidamente a meu perfil.

Eu acredito que, tendo feito minha escolha em um casamento com cuidado, nós, o casal, devemos procurar ter de 4 a 6 crianças, a fim de que nosso germoplasma cuidadosamente selecionado seja reproduzido em grau adequado e que essa ação preferencialmente não deve ser inundada por outros menos cuidadosamente selecionados.

Eu acredito em uma seleção de imigrantes que não tende a adulterar o nosso germoplasma nacional com traços socialmente inaptos.

Eu acredito na repressão de meus instintos quando a seguir os seria ferir a próxima geração.

No Escritório de Registros Eugênicos, dirigido por Charles Benedict Davenport, surgiu a identificação das raças e das classes americanas consideradas geneticamente inaptas (com a desculpa de defender a “saúde e a pureza da raça branca”); Após identificadas, essas classes e raças eram monitoradas e suas vidas e fertilidade passando a ser controladas pelo Estado com o aval de renomados cientistas.


Edwin Black 1950

No livro Guerra Contra os Fracos de autoria de Edwin Black, o escritor, jornalista e colunista comenta esse assunto:

“…Quando uma pessoa era identificada como de certa classe, isso teve qual escola ela frequentaria, em que cemitério ela poderia ser enterrada e onde poderia morar. Era uma questão de vida e morte. As leis sobre o casamento foram consolidadas em dezenas de Estados Norte-Americanos, esses leis estabeleciam que essas pessoas não poderiam casar fora de seu grupo: Negros puderam não casar com brancos, índios não puderam casar com negros (por exemplo). No Estado da Virgínia se a pessoase com a pessoa, ou seja casamento inter-racial, as autoridades os “descasavam”; o casamento era anulado…”.

Em 27 Estados Norte-Americanos as leis eugênicas foram aprovadas. O estado de Indiana foi o primeiro a legalizar a esterilização coercitiva. Essas ideias eram amplamente propagadas em folhetos, revistas, livros e num meio de propaganda que era novidade à época: O Cinema.

 A esterilização em massa obrigatória foi um fato nos EUA.

Segue Edwin Black em seu livro:

“…Eles fizeram isso, checando os ancestrais, atualizando as linhagens sanguíneas para a extinção. Isso é Eugenia. O esforço para criar uma raça mestra branca, loura e de olhos azuis; eliminando as outras linhagens de sangue; até ficarem apenas eles e as pessoas parecidas com eles. E o importante aqui é que essas pessoas pensaram estar salvando a humanidade. Essas pessoas pensaram ser liberais, reformadoras…”

A eugenia foi um movimento mundial. Na Suécia, por exemplo, um programa oficial do governo esterilizou a força de 60.000 seres humanos (pacientes mentais e membros das minorias étnicas).

Na Alemanha é que a eugenia encontrou terreno fértil para ganhar proporções épicas.


Michael Burleigh 1955

Dr Michael Burleigh autor do livro O Terceiro Reich – Uma nova História, conta em um documentário da BBC:

 "... Em primeiro lugar, tudo ligado aos Estados Unidos parecia moderno, progressista, científico e democrático; lógico, então devia ser bom. Os Estados Unidos eram o futuro, a força para o futuro. Em segundo lugar muitos eugenistas europeus incluindo os alemães, gostaram do tom adoção pelos eugenistas americanos que era muito radical e "quase sem bobagens", os americanos falavam não eram eufemismos, diziam exatamente o que queriam dizer..." .

Grandes e ricas fundações americanas financiaram a eugenia John D. Rockefellera alemã. O Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia, Hereditariedade Humana e Eugenia de Berlim nos anos 1930 recebeu doações da Fundação Rockefeller dos Estados Unidos. John D. Rockefeller foi um grande entusiasta e financiador do eugenismo, dentro e fora dos EUA.

O cientista mais destacado no Instituto foi Eugen Fischer que se tornou célebre por seus estudos na Namíbia como vimos anteriormente. Fisher foi autorizado pelos nazistas a esterilizar as pessoas “misturadas” racialmente na Alemanha; pelo menos 400 dessas pessoas eram crianças; tudo com a supervisão da SS de Heinrich Himmler. Além disso, antes de 1939 eram esterilizados, doentes mentais ou deficientes físicos considerados inaptos. Mais tarde abandonaram o método de esterilização e partiram para algo mais radical: A Eutanásia Adulta; um eufemismo para assassinato em massa de “indesejáveis”. Foram os primeiros a morrer em câmaras de gás durante o período nazista. Não há números confiáveis ​​de assassinatos em massa, porém cerca de 70.000 pessoas é um número bem aceito por todos os pesquisadores.

Quando a SS partiu para o seu grande projeto que era aniquilar a população judia da Europa, sobretudo a população judia da Polônia, não teve qualquer problema de logística; eles já tinham prática desde a Namíbia, passando pela esterilização em massa de indesejáveis ​​e doentes mentais. Tudo registrado, fotografado, mapeado e arquivado em seus institutos científicos da morte e como vimos, alguns com patrocínio norte-americano.

Os interessados ​​​​m de se referirem a eugenia como “Higiene da Raça”; este conceito sobreviveu (e sobreviveu até hoje) na Europa até muito recentemente com guerras civis e desmantelamentos de Estados inteiros em nome da limpeza étnica. (vide as guerras na antiga Iugoslávia, Tchecoslováquia, Bósnia-Herzegovina etc. Alguns de seus líderes ainda estão para serem julgados em tribunais internacionais de direitos humanos.

Durante a Conferência de Wannsee, os nazistas alemães discutiram a “Solução Final da Questão Judaica” cerca de metade dos conferencistas sentados na mesa tinham doutorado em eugenia ou “pureza da raça”. Para os eugenistas, nazistas e adeptos da “higiene da raça” o assunto era científico e profissional.

Existe uma linha direta de Francis Galton que cunhou o termo eugenia até o holocausto; sem esquecer de seus precursores como Robert Knox e Thomas Henry Huxley. Os alemães foram herdeiros do Darwinismo Social e do Racismo Científico. O Holocausto não foi uma aberração histórica, teve um passado, muitas vezes justificado pela chamada: Ciência.


UMA BREVE HISTÓRIA DO RACISMO

 


Quando se fala em "raça superior", campos de concentração e genocídio, sempre associamos a Alemanha nazista e ao holocausto judeu, ocorrido no período da II Guerra Mundial (1939/45). É como se essas atrocidades fossem um fato isolado na História, cometido apenas por um "monstro" degenerado chamado Adolf Hitler. Mas durante o neocolonialismo (dominação européia na África e na Ásia), no século XIX, milhões de pessoas foram mortas por serem consideradas inferiores. Diversos grupos étnicos foram exterminados, enquanto isso, a alta sociedade na Europa, justificava tais atos, embasados no Darwinismo Social e posteriormente na Eugenia.

Em 1803, os britânicos conquistam a Tasmânia. Lá viviam cerca de 5 mil nativos isolados do restante do mundo. Aquela ilha serviu de lar para aquele povo por cerca de 10 mil anos. Porém os tasmanianos foram dizimados num espaço de tempo extremamente curto. Dez milênios de história e cultura foram arrasados em menos de um século. A chamada "Guerra Negra", o combate desleal onde os colonizadores ingleses assassinavam os tasmanianos, na década de 1820, manchava a reputação britânica de "império benevolente, defensor dos fracos e oprimidos". O que os outros iriam pensar se descobrissem que a "nação abolicionista" estava matando os aborígenes da Oceania?

O governador da Tasmânia, George Arthur, inicia então uma campanha de integração social, cabendo ao Missionário Robinson, a tarefa de "civilizar" 300 tasmanianos, fazendo com que eles passassem a residir em uma vila que ficava localizada numa pequena ilha vizinha. Essa tentativa fracassa na medida em que os tasmanianos começam a morrer um a um, ora infectados por vírus europeus, ora depressivos por verem que o seu povo, seus parentes foram exterminados, não sobrando muita coisa de sua terra e de sua cultura.Nessa época, a mentalidade cristã, de que os povos nativos eram irmãos, apesar de inferiores, criados por Deus e descendentes de Adão, ainda gerava um sentimento de culpa no colonizador europeu, que enxergava como um ato de nobreza, cristianizar e civilizar aqueles "pobres seres primitivos".

Não tardará para que a ideia de cristianização dos povos nativos seja descartada. Anatomistas, como o inglês Robert Knox, estudando cadáveres de negros, ameríndios e aborígenes, concluem que essas "raças" estão mais para animalescas do que para humanas, com isso, é uma baita perca de tempo concretizar esforços para ensinar "os bons costumes à seres tão bestiais". Essa concepção aumenta quando Charles Darwin lança A Origem das Espécies, em 1859. A sua teoria da Seleção Natural, diz que só as espécies mais fortes se adaptam ao processo evolutivo e sobrevivem. Os mais fracos ficam pelo caminho, a própria natureza se encarrega de extingui-los. Isso iria respaldar, posteriormente, o "Holocausto Vitoriano" ocorrido na Índia e o extermínio de 3500 nativos da Namíbia, pelos colonizadores alemães na Shark Island (1904 à 1909).

O Darwinismo Social é baseado na teoria da Seleção Natural, porém Darwin em sua obra refere-se apenas aos animais. Mas a lógica dos darwinistas sociais era a seguinte: Se entre os insetos, há insetos que dominam insetos, o mesmo aplica-se aos seres humanos. O próprio Charles Darwin será favorável a tal argumentação, anos mais tarde. Assim, os europeus passam a ser considerados os mais aptos enquanto que os nativos dos outros continentes passam a ser os menos aptos. No topo dessa cadeia estão os ingleses, detentores de um vasto império, e pioneiros da industrialização.

De acordo com essa nova perspectiva, a caridade é tida como sendo uma interferência no processo natural de selecionar os que vão continuar vivendo e os que devem morrer. Durante a Era Vitoriana (Reinado de Vitória que vai de 1837 à 1901), a Inglaterra vivia o seu apogeu econômico. Falar de Era Vitoriana é falar de um período esplendoroso para o Império Britânico, que expandiu seu território e aumentou a sua riqueza. Nessa época, a Índia era uma importantíssima colônia britânica, pois abastecia a sua metrópole urbanizada com produtos alimentícios. Toda a pompa da corte da Rainha Vitória contrastava com a miséria que assolava o povo indiano. Cerca de 30 milhões de pessoas morreram por inanição. Havia comida, mas estava estocada nos portos com direção a "Terra da Rainha". Esse episódio foi encarado com bastante naturalidade. Se os indianos estavam morrendo, era porque não tinham aptidão para sobreviverem. Tudo não passava da ação da própria natureza eliminando os fracos da "face da terra", deixando apenas os fortes.

Já em 1880, o primo de Darwin, o também inglês Francis Galton, transformará os problemas sociais em problemas biológicos. Isso porque a sua "ciência" considerava a criminalidade e a pobreza, como sendo traços genéticos herdados de pai para filho. Sendo assim, para construir um novo mundo, era necessário regulamentar a produção humana. Os "débeis" deveriam ser impedidos de se reproduzirem. Esse era o fundamento da Eugenia (bem nascer), que cruzou o Atlântico e se tornou "febre" entre os intelectuais estadunidenses.

Nas primeiras décadas do século XX, os EUA decretam uma "cruzada eugenista" com o objetivo de conter o avanço do "lixo humano". Aqueles que eram tidos como incapazes não integravam um grupo racial exclusivo. Eles eram os pobres da cidade e do campo. Eram imigrantes europeus, negros, judeus, mexicanos, índios, alcólatras, epilépticos, deficientes físicos, deficientes mentais e criminosos banais.Na década de 1930, batidas policiais iam a caça dessas pessoas, arrancando-as de suas casas ou das ruas. Os "débeis" eram enviados até abrigos, onde eram submetidos a esterilizarão. Só no final da década de 1940, 36 mil homens e mulheres foram castrados ou esterilizados nos 29 estados norte-americanos que aprovaram as leis de esterilização involuntária.

Quando essa parte obscura da História,que foi propositalmente apagada dos livros didáticos, vem à tona, concluímos que o Nazismo não criou o conceito de "superioridade da raça". Adolf Hitler apenas adaptou esse conceito já existente para reerguer o brio de uma nação que além de derrotada na I Guerra Mundial (1914/19) havia sido humilhada pelo Tratado de Versalhes e arruinada economicamente. A Alemanha nazista foi tão monstruosa quanto a Inglaterra imperialista do século XIX e os EUA eugenista do início do século passado. 

Sobre o racismo um dos temas mais polêmicos, instigantes e inesgotáveis do mundo moderno, concentram-se opiniões contraditórias, que discutem em vários níveis, as consequências de sua prática. A discussão sobre as diversas formas de sua atuação, significado e função vem sempre acompanhada de uma carga emocional, o que demonstra como a polêmica que se monta em torno de seu significado transcende em muito as questões acadêmicas, para atingir um significado mais abrangente, da ideologia de dominação. Somente admitindo o papel social, ideológico e político do racismo poderemos compreender sua força permanente e seu significado polimórfico e ambivalente.

Apenas desta forma poderemos compreender por que se trata de um conceito tão polêmico e, também, por que em determinados contextos políticos e momentos históricos o racismo adquire tanta vitalidade e se desenvolve com tanta agressividade: ele não é uma conclusão tirada dos dados da ciência, de acordo com pesquisas de laboratório que comprovem a superioridade de um grupo étnico sobre outro, mas uma ideologia deliberadamente montada para justificar a expansão dos grupos de nações dominadoras sobre aquelas áreas por eles dominadas ou a dominar. Expressa, portanto, uma ideologia de dominação, e somente assim pode-se explicar a sua permanência como tendência de pensamento. Vê-lo como uma questão científica cuja última palavra seria dada pela ciência é plena ingenuidade, pois as conclusões da ciência condenam o racismo e nem por isso ele deixa de desempenhar um papel agressivo no contexto das relações locais, nacionais e internacionais.

O racismo tem, portanto, em última instância, um conteúdo de dominação, não apenas étnico, mas também ideológico e político. É por isso ingenuidade, segundo pensamos, combatê-lo apenas através do seu viés acadêmico e estritamente científico, uma vez que ele transcende as conclusões da ciência e funciona como mecanismo de sujeição e não de explicação antropológica. Pelo contrário superpõe-se a essas conclusões com todo um arsenal ideológico justificatório de dominação. 

Lapouge, um dos teóricos, dizia: “Estou convencido de que no próximo século milhões de homens se matarão por um ou dois graus do índice cefálico”. Isso foi escrito em 1880. O que esse teórico do racismo queria expressar eufemisticamente é que a humanidade travaria a maior guerra de sua história e que as diferenças raciais seriam um dos pretextos ideológicos de que os agressores lançariam mão para justificar a conquista de territórios colonizáveis.

É uma constante o traço antropológico estar embutido na crista da ofensiva racista de dominação. Com isso não queremos dizer que toda antropologia é racista. Pelo contrário. Mas o que acontece é que a divulgação que se faz dessa ciência, especialmente para a opinião pública leiga, é nesse sentido. A expressão de Lapouge teve contestadores, mas o que se viu foi a florescência progressiva dessa posição no final do século XIX e início do século XX, a ponto de fazer com que milhões de pessoas dela compartilhassem. O racismo é um multiplicador ideológico que se nutre das ambições políticas e expansionistas das nações dominadoras e serve-lhe como arma de combate e de justificativa para os crimes cometidos em nome do direito biológico, psicológico e cultural de “raças eleitas”. Há também o racismo interno em várias nações, especialmente nas que fizeram parte do sistema colonial, através do qual suas classes dominantes mantêm o sistema de exploração das camadas trabalhadoras negras e mestiças.

Com a montagem do antigo sistema colonial e a expansão das metrópoles colonizadoras, esse racismo se desenvolveu como arma justificadora da invasão e da domínio das áreas consideradas “bárbaras”, “inferiores”, “selvagens” que, por isso mesmo, seriam beneficiadas com a ocupação de seus territórios e a destruição de suas populações pelas nações “civilizadas”.

O racismo larval que encontramos em todos os povos antes da aventura colonialista passa a revestir-se de uma roupagem científica a ser manipulado como se ciência fosse. No particular podemos dizer que o racismo moderno nasceu com o capitalismo. Referimos-nos ao racismo como o entendemos modernamente, o qual procura justificar a dominação de um povo, nação ou classe sobre outra invocando argumentos “científicos”. Antes do aparecimento do capitalismo,“ as tentativas feitas para justificar a dominação europeia sobre os indígenas eram fundadas em crenças sobrenaturais. Como os europeus eram cristãos, ao contrário dos povos submetidos, nada mais lógico e natural de que o Deus todo-poderoso dos cristãos recompensasse os seus adeptos. Os donos de escravos negros podiam inclusive justificar a escravidão em uma passagem do Velho Testamento, no qual se lê que os filhos de Cam foram condenados a ser lenhadores e aguadeiros. Obviamente, essas razões sobrenaturais logo começaram a perder seu valor e em seguida os brancos imaginaram outras justificativas mais de acordo com a natureza. A doutrina da seleção natural e da sobrevivência do mais apto foi um argumento que veio a calhar. A rapidez com que esse conceito puramente biológico chegou a dominar em todos os campos e atividades do pensamento europeu nos dá a idéia da necessidade urgente que se precisava para justificar a dominação. Nessa teoria universalmente aceita, a dominação europeia encontrou a forma de justificar-se que estava procurando. Já que os brancos haviam conseguido mais êxito que as outras raças, tinham de ser, per si, superiores a ela. O fato de que essa dominação tinha data muito recente foi justificado alegando-se que o europeu médio não tinha perspectiva mundial, assim como os outros argumentos que procuravam demonstrar que as raças restantes ocupavam na realidade uma posição inferior na escala da evolução física” 

É exatamente nesta confluência do capitalismo com as doutrinas biológicas da luta pela vida e a sobrevivência do mais apto que o racismo se apresenta como corrente “científica”. Surge, então, a idéia de raça como chave da história. Ela aparece exatamente na Inglaterra com Robert Knox (Races of Men, 1850) e na França com Arthur de Gobineau (Essai sur l’inégalité des races humaines). Para Alan Davies, “do primeiro surgiu o mito do gênio racial saxão – mais tarde anglo-saxão – e do último surgiu o mito do gênio racial ariano; mas ambos os mitos eram variantes do tema geral da superioridade branca européia sobre os não-brancos. Sua gênese foi política. Knox procurava provar que o homem saxão era democrata por natureza e por isso o futuro dominador da terra. Gobineau, por outro lado, não gostava da democracia e procurou provar que seu surgimento era um sinal certo de decadência e da morte iminente da civilização. Em ambos os casos as raças não-brancas eram relegadas a uma posição inferior como símbolos dos elementos primitivos e não-criativos na natureza humana”.

Deduz-se, portanto, sem muito esforço, que o racismo pode ser considerado – da forma como o entendemos atualmente – um dos galhos ideológicos do capitalismo. Não por acaso ele nasceu na Inglaterra e na França e depois desenvolveu-se tão dinamicamente na Alemanha. O racismo é atualmente uma ideologia de dominação do imperialismo em escala planetária e de dominação de classes em cada país particular.

Desta forma explica-se o sistema colonial e o pilar de seu êxito: de um lado, exterminar as populações autóctones das áreas ocupadas e, de outro, justificar o tráfico negreiro com a África, um dos fatores mais importantes da acumulação capitalista nos países europeus. As populações autóctones não tinham direito aos territórios onde viviam por serem primitivas; e às africanas, que já sofriam a maldição bíblica de Cam, juntava-se agora seu atraso biológico, sua semelhança e proximidade com os mais primitivos espécimes da raça humana, quer dizer, eram antropóides que se desviaram de sua árvore genealógica. Com isso, o chamado processo civilizatório tinha o respaldo da ciência. A afro-americana, que compreendia, no século XVIII, o Caribe (Antilhas, Guianas), e grande parte da América espanhola continental (costa do Peru, partes do que são hoje a Venezuela e a Colômbia) já estavam inteiramente dominadas, e a justificativa para a sua dominação era a mesma: a incapacidade inata (biológica) que os nativos tinham para se civilizarem.

Toda essa população nativa ou compulsoriamente trazida da África fazia parte de uma massa sem história, sem máscara, sem cultura, sem moral e sem perspectiva civilizatória. Já no início do século XIX os teóricos racistas substituíram as explicações um pouco vagas por explicações “científicas”, como já foi dito, enquanto as demais áreas da Ásia, África e Oceania eram ocupadas com o mesmo pretexto.

Foi a época áurea da antropometria, quando Gobineau, Ammon, Broca, Levi e Quatrefages desenvolviam pesquisas no sentido de saber se os habitantes das cidades eram superiores (por questões biológicas) aos camponeses pela sua capacidade craniana; se os nórdicos eram superiores aos alpinos ou, como queria Levi, se os mediterrâneos eram superiores a outras “raças” europeias. 

Tais conclusões eram baseadas em pesquisas históricas; na mensuração de crânios e esqueletos; na medição de índices cefálicos, e na capacidade craniana de cada grupo pesquisado. Tudo isso, no entanto, representava, em última instância, as contradições e os conflitos das nações europeias em luta pela dominação continental. Convém notar que alguns deles, como é o caso de Gobineau, chegaram às suas conclusões antes de terem lido A origem das espécies, de Darwin, que surgiu em 1859 e deu novo alento a essas hipóteses com a sua teoria da “sobrevivência do mais apto”, criando a escola do darwinismo social. Como diz uma antropóloga, “havia-se descoberto uma razão” 'científica' que santificava o velho axioma 'o poder faz o direito'”.

 Por outro lado, entrava-se na época aguda do colonialismo e as disputas pelos territórios conquistados ou a serem conquistados. Afirmou Ruth Benedict:

“O racismo converteu-se em grito de guerra durante este período nacionalista. A pátria, que necessitava de uma palavra-de-ordem aglutinadora, se outorgou um pedigree e um vínculo que levava a que qualquer homem podia compreender e sentir-se orgulhoso dele. O racismo foi, a partir daí, uma babel de vozes diferentes. Os franceses, os alemães, os eslavos, os anglo-saxões, todos produziram literatos e políticos consagrados a demonstrar que, desde o princípio da história europeia, os triunfos da civilização devem-se exclusivamente à sua ‘raça’” (3).

Como se vê, essa antropo-sociologia era reflexo e rescaldo de uma competição sociopolítica entre as nações da Europa. Era, por isso mesmo, uma ciência eurocêntrica. Com a instalação e o dinamismo do sistema colonial e seu desdobramento imperialista, ela se estende ao resto do mundo e aí procura ter uma visão mais abrangente e sistemática, unindo todas as diferenças étnicas europeias em um bloco compacto – o branco –, que passa a se contrapor ao restante das populações não civilizadas, dependentes, e racialmente diversas das matrizes daquele continente. Não se cogita mais nas diferenças entre o nórdico, o alpino, o mediterrâneo, que passam a ser, de modo genérico, componentes da raça branca. E essa raça tinha por questões de superioridade biológica o direito de tutelar os demais povos.

A partilha da África, feita por Bismarck na Alemanha, entre 15 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885 criou uma trégua entre as nações conquistadoras, e com isso o mundo ficou dividido entre os brancos civilizados europeus e os povos não-brancos “bárbaros” e “selvagens”.

Ordenado o colonialismo através do racismo, as nações dominantes sentiram-se à vontade para o saque às colônias e para as razias mais odiosas nas regiões da Ásia, América Latina, África e Oceania e para agir contra todos os que compunham as multidões de desamparados e anônimos da história. Não só roubaram-lhes as riquezas, mas suas culturas, crenças, costumes, língua, religião, sistemas de parentesco e tudo o que durante milênios esses povos constituíram, estruturaram e dinamizaram.

As explicações eram fáceis e já vinham pré-fabricadas pela sociologia antropológica desenvolvida na Europa para dar aparência de verdade científica ao crime. A própria opinião pública liberal ou pretensamente humanista europeia achava essa espoliação natural e defendia o direito dos ditos civilizados de tutelarem os povos colonizados. Renan, neste sentido, escreveu:

“A regeneração das raças inferiores pelas raças superiores está dentro da ordem providencial da humanidade. O homem do povo é quase sempre, entre nós, um nobre renegado, sua mão pesada é mais acostumada ao manejo da espada do que ao utensílio servil. Prefere bater-se a trabalhar, isto é, regressa ao seu primeiro estado. Regere imperio populos, eis a sua vocação. Derramai esta devorante atividade sobre os países que, como a China, concitam a conquista estrangeira. Dos aventureiros que desinquietam a sociedade européia, fazei um ver sacrum, um exame como dos francos, dos lombardos, dos normandos, e cada qual estará no seu papel. A natureza gerou uma raça de operários – é a raça chinesa – duma maravilhosa destreza de mão e quase nenhum sentimento de honra; governai-a com justiça, cobrando-lhe pelo benefício de tal governo um amplo erário em proveito da raça conquistadora, e ela ficará satisfeita; uma raça de trabalhadores da terra é o negro, sede para ele bom e humano e tudo estará em ordem; uma raça de senhores e soldados é a raça européia. Que se reduza esta nobre raça a trabalhar no ergástulo como os negros e os chineses e ela revolta-se. Entre nós todo revoltado é, mais ou menos, um soldado que errou de vocação, um ser feito para a vida heróica e que constrangeram a uma tarefa contrária à sua raça, mau operário, soldado bom demais. 

Com a passagem do colonialismo para o imperialismo (neocolonialismo), o racismo é remanejado em sua função instrumental. As metrópoles passam a ver as áreas coloniais como habitadas por povos indolentes, incuravelmente incapazes de criar uma poupança interna que os elevasse ao nível dos países brancos, que tinham estes predicados e se desenvolveram, ao contrário do mundo não-branco que, por esta razão, permanece subdesenvolvido.

A teoria do pensamento pré-lógico desses povos, criada por L. Lévy Bruhl, condenava-os a uma posição de dependência circular, porque eram atrasados em consequência de sua própria estrutura psicológica, sendo refratários e impermeáveis à experiência e à razão e essencialmente religiosos. Estabelecia-se, assim, uma divisão estanque entre os povos dominados e os dominadores, pois esse pré-logismo impedia-os de passar da economia natural para a economia monetária (lógica) levada pelos dominadores (5). Neste sentido, K. Marx e F. Engels escreveram, em 1848:

“devido ao rápido desenvolvimento dos instrumentos de produção e dos meios de comunicação, a burguesia arrasta na corrente da civilização até as nações mais bárbaras. Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China e faz capitular os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros. Sob pena de morte, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção. Numa palavra, modela o mundo à sua imagem”.

O imperialismo multiplica as formas do racismo, “moderniza-o” na medida em que há necessidade de uma arma de dominação mais sofisticada. Segundo a teoria de L. Lévy Bruhl, como éramos pré-lógicos, os movimentos de libertação que se dinamizavam nas regiões colonizadas ou dependentes não eram políticos, mas etnocêntricos, chauvinistas, xenófobos, nacionalistas ou messiânicos, ou seja, eram movimentos pré-políticos. Embora o conceito de movimentos pré-políticos tenha sido cunhado por um historiador grandemente ligado ao pensamento marxista – E. J. Hobsbawn – acreditamos que ele seja eurocêntrico, elitista e uma forma neoliberal de analisar e interpretar a dinâmica social. Se o aceitarmos, seriam excluídos como políticos todos os movimentos do chamado Terceiro Mundo; a luta de Zapata e Pancho Villa, no México; a de Sandino, na Nicarágua; o movimento camponês de Pugachov, na Rússia; todos os movimentos de libertação da África, como o kinganbista, incluindo os Mau Mau e o de Lumumba. Tudo seria englobado sob o rótulo de milenarismo, salvacionismo ou messianismo, e seria descartada sua essência política. Os povos “inferiores” não tinham condições de entrar no sentido universal da história, eram a-históricos. Com isto justificava-se a repressão contra eles e os seus líderes. Fora dos padrões normativos dos valores políticos europeus, civilizados e “normais”, não existiam movimentos que pudessem ser enquadrados como aceitos pelas nações dominadoras, como continuadores do “sentido” da civilização. As próprias lutas de libertação nacional eram (como acontece até hoje) consideradas revoltas intertribais, movimentos atípicos e perturbadores do processo civilizatório. Não tínhamos acesso à história, à civilização e à igualdade de direitos. A nossa inferioridade congênita e inapelável – biológica e psicológica – nos reduzia a satélites do processo civilizatório.

Tudo isto era respaldado por uma intelectualidade que se apresentava como tutora do conhecimento, do saber e, ao mesmo tempo, assessora dos mentores metropolitanos.

Como vemos, a chamada “questão racial” não pode ser compreendida se a interpretarmos como uma questão meramente científica, cuja solução será encontrada pelos antropólogos entre as quatro paredes de um laboratório ou nas salas de congressos de especialistas. Pelo contrário. Devemos partir de uma posição crítica radical, através da reformulação política, da modificação dos pólos de poder, especialmente das áreas do chamado Terceiro Mundo. É uma situação que ficará sempre inconclusa se não a analisarmos como um dos componentes de um aparelho de dominação econômica, política e cultural.

No caso da América Latina, o racismo, como ideologia do colonialismo, penetrou fundo no pensamento da elite intelectual colonizada. Todo o arsenal “científico” que vinha da Europa sobre a questão racial era aqui repetido sem ser filtrado, não porque fosse a “última palavra da ciência”, mas porque já vinha com o julgamento das metrópoles. No lado oposto expressava-se uma visão democrática e não racista do problema; esta corrente progressista era desacreditada pela intelligentsia colonizada. O cientista russo Tchernichevsky, por exemplo, escreveu que “os escravistas eram pessoas da raça branca, os cativos eram negros; por isso a defesa da escravidão nos tratados científicos tomou a forma da teoria da diferença radical entre as diferentes raças humanas”. E Jean Finot, em seu livro O preconceito racial, declarou: “as raças como categorias irredutíveis existem somente como ficções nos nossos cérebros”. E mais: “as diferenças culturais existem e foram assinaladas neste livro, porém somente são produtos transitórios, como resultado de circunstâncias externas, e desaparecerão do mesmo modo” (7).

No entanto, essas conclusões anti-racistas eram consideradas heresias científicas. Sílvio Romero, depois de citar o antropólogo alemão Lapouge, endossando-lhe a tese da superioridade do alemão em relação ao francês, escreve sobre o pensamento de Finot: “Fugir das tolices do russo que se assina Finot, e cujo nome antigo é João Finkelhaus, literato de segunda ordem, ignorantíssimo em antropologia e ciência em geral” (8).

Mas não era somente Sílvio Romero quem endossava o racismo no Brasil da época. E convém esclarecer que estávamos em pleno processo abolicionista e os escravistas e senhores de escravo tinham, como um dos suportes que legitimava a escravidão, a inferioridade biológica e cultural do africano. Euclides da Cunha, outro importante representante de nossa cultura dominante, repetia o mesmo pensamento racista. Sua posição em relação ao mestiço e ao negro não deixa dúvidas. Estuda o negro afirmando que “a raça dominada (negra) teve aqui dirimidas, pela situação social, as facilidades de desenvolvimento. Organização potente afeita à humanidade extrema, sem as rebeldias do índio, o negro teve, sobre os ombros, toda a pressão da vida colonial” (9).

Para ele, o negro é a “besta de carga”, o “filho das paisagens adustas e bárbaras”; Palmares é “grosseira odisséia” e por isto a ação dos bandeirantes destruindo-o foi um benefício à nossa civilização; são “vencidos e infelizes”; o escravo negro é “humilde”, mesmo sendo quilomba, “temeroso”, “aguilhoado à terra”; são “foragidos”, a raça é “humilhada e sucumbida”. Para ele a desigualdade racial era um fato provado “ante as conclusões do evolucionismo”. O negro, como vemos, era o componente de uma raça inferior. O índio, por seu lado, não tinha capacidade de “se afeiçoar às mais simples concepções do mundo”. E, quanto ao mestiço desses cruzamentos, no seu “parênteses irritante” não há lugar para ele, é um desequilibrado, de um desequilíbrio incurável, pois “não há terapêutica para este embate de tendências antagonistas”.

A ideologia do colonialismo era, e ainda é, alimentada por toda uma literatura racista que nos vinha, ou nos vem, das metrópoles colonizadoras, para nos inferiorizar através da nossa própria auto-análise.


Da derrota do nazismo ao aparecimento da Guerra Fria

Derrotado o nazismo, o pensamento de direita e especialmente o racismo entraram em recesso, e no âmbito das ciências biológicas e sociais houve toda uma rearticulação contra tais idéias. Foi o momento dos grandes pronunciamentos dos antropólogos e dos sociólogos, que repuseram a questão racial em termos científicos. Em 1950 divulgou-se uma declaração redigida na casa da Unesco por oito dos maiores nomes da antropologia e da sociologia mundiais, entre eles: Juan Comas, do México; Levi Strauss, da França; Morris Ginberg, da Inglaterra; A. Montagu (relator), dos Estados Unidos, e L. A. Costa Pinto, do Brasil. Nas suas conclusões diziam:

a) Os antropólogos só podem estabelecer classificação racial sobre características puramente físicas e fisiológicas.

b) No estado atual dos nossos conhecimentos, não foi ainda provada a validade da tese segundo a qual os grupos humanos diferem uns dos outros pelos traços psicologicamente inatos, quer se trate da inteligência ou do temperamento. As pesquisas científicas revelam que o nível de aptidões mentais é quase o mesmo em todos os grupos étnicos.

c) Os estudos históricos e sociológicos corroboram a opinião segundo a qual as diferenças genéticas não têm importância na determinação das diferenças sociais e culturais existentes entre diferentes grupos da espécie Homo sapiens, e as mudanças sociais e culturais no seio de diferentes grupos foram, no conjunto, independentes das modificações na sua constituição hereditária. Vimos produzirem-se transformações sociais consideráveis que não coincidem de maneira alguma com as alterações de tipo racial.

d) Nada prova que a mestiçagem, por si própria, produza maus resultados no plano biológico. No plano social, os resultados, bons ou maus, que alcançou são devido a fatores de ordem social.

e) Todo indivíduo normal é capaz de participar da vida em comum, compreender a natureza dos deveres recíprocos e respeitar as obrigações e os compromissos mútuos. As diferenças biológicas que existem entre os membros de diversos grupos étnicos não afetam de maneira nenhuma a organização política ou social, a vida moral ou as relações sociais.

Enfim, as pesquisas biológicas vêm escorar a ética da fraternidade universal; pois o homem é, por tendência inata, levado à cooperação e, se este instinto não encontra em que se satisfazer, indivíduos e nações padecem igualmente por isso. O homem é por natureza um ser social, que só chega ao pleno desenvolvimento de sua personalidade por trocas com os seus semelhantes. Toda recusa de reconhecer este laço social entre os homens é causa de desintegração. É neste sentido que todo homem é o guardião de seu irmão. Cada ser humano é apenas uma parcela da humanidade, a qual está indissoluvelmente ligado.

Depois desse documento saiu a Declaração de 1951, assinada por um grupo de antropólogos e geneticistas, que ampliava mais analiticamente o texto do primeiro, com as mesmas conclusões. Outro documento da Unesco, e nos parece que o último, redigido em Moscou, ainda é mais enfático na condenação ao racismo.

No Brasil a reação não é diferente. Em 1935 surge o Manifesto dos intelectuais contra o preconceito racial, em que se enfatiza o racismo como anticientífico:

“O movimento contra o preconceito racial visa apenas a combater as influências estranhas que nos querem arrastar para o turbilhão dos racismos truculentos, como também contribuir para todos os meios para o estudo dos problemas surgidos na própria formação étnica, tendo sempre em mira promover maior harmonia e mais fraternal cordialidade entre os elementos que vão caldeando na etnia brasileira”.

Assinam o documento, entre outros, Roquete Pinto, Maurício de Medeiros, Artur Ramos, Gilberto Freyre, Hermes Lima, Leônidas de Rezende e Joaquim Pimenta. Em seguida podemos citar o Manifesto contra o racismo, da Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, que foi aprovado por aclamação no dia 3 de setembro de 1942. O documento terminava nos seguintes termos:

“queremos oferecer a todo o mundo civilizado a nossa magnífica filosofia no tratamento das raças como o maior protesto científico e humano e a maior arma espiritual contra as ameaças sombrias da concepção nazista da vida, este estado patológico de espírito que pretende envolver a humanidade numa espessa e irrespirável atmosfera de luto”.

Era a volta, também no Brasil, de uma ciência social que repudiava os postulados nazistas no julgamento das raças e a sua função e papel no processo civilizatório.

Já haviam se realizado, nessa ocasião, dois congressos afro-brasileiros: o primeiro em Recife, em 1934, por iniciativa de Gilberto Freyre; e o segundo em Salvador, por iniciativa de Edson Carneiro, em 1937. Nos anais de ambos podemos ver a preocupação de muitos congressistas em relação ao problema racial e o seu dilema no Brasil. Dos anais do primeiro podemos destacar as comunicações de Mário de Andrade, Alfredo Brandão, Gilberto Freyre, Adhemar Vidal, Jovelino M. de Camargo Jr, Mário Melo, Rui Coutinho, Rodrigues de Carvalho e outros. Nesses autores nota-se a preocupação de descartar a inferiorização do negro, via fatores biológicos (inatos), e ressaltar a escravidão como causa de nosso atraso. No segundo congresso vemos a preocupação de Edson Carneiro, Artur Ramos, Donald Pierson, Aydano do Couto Ferraz, Alfredo Brandão e Jorge Amado, cada um a seu modo procurando encaminhar o tema no mesmo sentido.

No terceiro congresso, realizado em 1982, as intervenções de Décio Freitas, Raimundo de Souza Dantas, Clóvis Moura, Gilberto Freyre e outros vão na direção de reabilitar o processo miscigenatório e destacar a participação social do negro em nossa história, posição contrária à dos eugenistas da década de 1930, que consideravam este fenômeno um fator de degenerescência da sociedade brasileira. A postura democrática em relação ao problema racial, que teve nos antropólogos e sociólogos da Unesco a expressão mais lúcida, começa em determinado momento, a ser contestada (12).

No plano político internacional, por outro lado, saía-se da política de colaboração dos quatro grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial – Inglaterra, França, União Soviética e Estados Unidos – para o confronto da Guerra Fria. Assistia-se, ao mesmo tempo, os movimentos de libertação da África, dentro do processo de descolonização que se dinamizava. Nesse contexto político iniciam-se os ataques às conclusões dos cientistas da Unesco.

O mais relevante sintoma desse protesto e o que mais repercussão alcançou foi o de Arthur Jensen, professor de psicologia educacional da Universidade de Bekerley. Ele combate as conclusões da declaração da Unesco de 1951 e a de 1964. Afirma textualmente:

“O fato de que diferentes grupos raciais neste país tenham origem geográficas largamente diferenciadas e tenham tido histórias largamente diferentes, o que os submeteu a diferentes pressões seletivas econômicas e sociais, faz com que seja altamente provável que seus acervos genéticos difiram em algumas características comportamentais geneticamente condicionadas, inclusive inteligência ou capacidade de raciocínio abstrato. Quase todo o sistema anatômico, fisiológico e bioquímico investigado apresenta diferenças raciais. Por que seria o cérebro uma exceção?”

Já o professor de psicologia da Universidade de Londres e entusiasta de Jensen, H. J. Eysenck, baseando-se em testes de QI de jovens negros americanos, conclui pela existência de diferenças que, dentro da estrutura social atual (julgamentos de valor), significam inferioridade. Este cruzamento de resultados de testes com resultados de pesquisas de geneticistas é uma forma deliberada de confundir os fatos e chegar-se a uma conclusão preestabelecida. Por outro lado, todos sabem que as técnicas de medir a inteligência pelo nível do QI são cada vez mais contestadas.

A antropóloga Ruth Benedict, antes dos professores citados, já punha em dúvida essas técnicas, especialmente quando aplicadas sem os diferenciais culturais e sociais. Cita o exemplo de uma comparação feita entre brancos do Mississipi, Kentucky e Arcansas com negros de Nova Iorque, Illinois e Ohio. O QI dos brancos do Sul é inferior ao QI dos negros do Norte. Os resultados foram os seguintes:

Brancos Negros

 Mississipi 41,25 Nova Iorque 45,02

 Kentucky 41,50 Illinois 47,35

 Arkansas 41,55 Ohio 49,50

 Fonte: BENEDICT, Ruth. Raza: ciencia y política. México, Fondo de Cultura Econômica, p. 97.


Contra esses dados, H. J. Eysenck conclui um de seus livros dizendo:

 “O reconhecimento da natureza biológica do homem e o reconhecimento da desigualdade geneticamente determinada, associados inevitavelmente ao seu desenvolvimento, são um começo absolutamente necessário a qualquer tentativa de utilizar os métodos da ciência e a razão, num esforço destinado a nos salvar dos perigos efetivamente reais com que nos defrontamos”.


Racismo e Determinismo Genético

É exatamente em continuação a essa biologização da história e da sociedade que, na década de 1970, surge uma nova ciência: a sociobiologia, sistematizada por Edward Wilson, da Universidade de Harvard, e assim definida: “uma ideologia biológica que, empenhada em provar que todo comportamento humano é determinado geneticamente, como nos animais, deu uma roupagem moderna ao velho darwinismo social. A partir daí a bibliografia só faz aumentar a lista iniciada com o Macaco nu e a História natural da monogamia, do adultério e do divórcio, da antropóloga norte-americana Helen Fischer, para quem há uma lei natural, inscrita em nossos genes, que molda o relacionamento efetivo e o acasalamento entre os seres da espécie humana. Outro livro deste gênero é Personas sexuais, de Camile Paglia, que considera os papéis sexuais, o machismo e a feminilidade decorrentes apenas de nossa natureza biológica e não, também, das relações culturais, históricas, estabelecidas entre homens e mulheres; relações condicionadas pela peculiaridades das épocas e dos lugares onde ocorreram”.

 “Como o velho racismo, a sociobiologia procura explicações biológicas para fenômenos sociais”.

Poderíamos citar mais de uma centena de obras da nova sociobiologia, mas o que se viu dá para perceber o renascimento do racismo via genética. O preocupante é que essas ideias não se exprimem apenas através de livros, mas de uma prática universitária na direção da dominação ideológica do conhecimento. Neste sentido estava prevista, na Universidade de Maryland, a realização da conferência intitulada “Fatores Genéticos no Crime: Descobertas, Usos e Implicações”, cujo prospecto referia-se ao “aparente fracasso do enfoque social para o crime” e sugeria a realização de pesquisas genéticas para o desenvolvimento de métodos capazes de identificar – e tratar quimicamente – criminosos em potencial. A Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos, por sua vez, publicou em novembro de 1992 o relatório Compreender e prevenir a violência, sugerindo a realização de mais pesquisas desse tipo e na mesma direção, com investigações sobre marcadores bioquímicos e tratamento com drogas para comportamentos violentos e anti-sociais, embora admitindo a escassez de evidências substantivas para uma propensão ao crime de per si. Como se pode ver é a volta disfarçada aos métodos eugênicos dos cientistas do III Reich. Analisando tal situação, escreveu Patrick Bateson:

 "as diferenças existentes entre as pessoas são muitas vezes pensadas como adaptações, como produtos da evolução darwiniana e, portanto, como atribuíveis a diferenças genéticas. Para o não biólogo, ‘diferença genética’ é sinonimo de inevitabilidade – o problema começa aí. Às pessoas claramente exploradas ou oprimidas é dito que devem aceitar essa situação porque nada podem fazer para alterar os seus genes. Esse tipo de idéias, que penso não serem geralmente partilhadas pelos cientistas que parecem dar-lhes credibilidade, é agora parte de nossa vida política. Por essa razão, e talvez injustamente, o determinismo genético tornou-se o grande tema de muitas discussões públicas sobre sociobiologia. A ênfase no egoísmo e na luta pela existência na evolução biológica teve um efeito de confirmação insidiosa na opinião pública (Bateson, 1989). A competição foi encarada como motor da atividade humana. A experiência nas universidades e nas artes é avaliada pelos mesmo parâmetros que supostamente resultam tão bem no campo do esporte ou na feira. Os indivíduos prosperam competindo e vencendo. Esta visão da natureza humana, popular entre os políticos de direita, foi justificada pelo recurso à biologia, e os próprios biólogos foram, por sua vez, algo influenciados pelo movimento de opinião pública. Nenhum de nós sabe tudo, e a nossa tendência para as generalizações tolas está sujeita à rápida correção por outros cuja experiência tenha sido diferente. Tal como as coisas estão, o apelo à biologia feito pela Nova Direita não se dirige tanto ao corpo coerente de idéias científicas como a um mito confuso. Pensa-se na biologia como tratando da competição – e isso significa luta. O conceito darwiniano da sobrevivência diferencial nutre-se da crença na importância do individualismo.


Discutindo o lado ético da aplicação da sociobiologia, ou da biologia em particular, escreveu Hilton Japiassu: “aliás, nos dias de hoje, parece inegável o impacto social na biologia sobre a vida de cada um de nós. Ela não constitui apenas uma pesquisa sem freios da verdade, isenta de toda e qualquer crítica política ou moral. Já foi o tempo em que se podia declarar, como H. R. Oppenheimer, um dos responsáveis pela construção das primeiras bombas atômicas, que: ‘(…) nosso trabalho mudou as condições da vida humana; mas a utilização feita dessas mudanças é uma questão dos governos, não dos cientistas’. Ora, a palavra-de-ordem ‘a verdade pelo amor à verdade' torna-se hoje insustentável. Porque a ciência não é mais, e tampouco pode ser, considerada um domínio da exclusiva competência dos cientistas. Os trabalhos dos microbiologistas, por exemplo, que decodificaram as moléculas de ADN. Dão-nos a esperança de um controle genético de numerosos males surgidos no nascimento. Mas essas pesquisas já foram utilizadas, como testemunham os cientistas americanos Zimmerman, Radinsky, Rothemberg e Mayers, pelo governo dos Estados Unidos, para cultivar micróbios violentos destinados à guerra bacteriológica: ‘Essa pesquisa conduz a uma produção genética capaz de gerar subpopulações variadas, que poderão ser utilizadas pelos que detêm o controle tecnológico. Essas subpopulações poderão compreender soldados combativos, robôs resistentes para executar as tarefas físicas peníveis, ou filósofos-reis aos quais seriam transmitidos poderes hereditários”” (Autocritique de la science, Seuil, 1975).

Estamos nas fronteiras do Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, quando um dos seus personagens define felicidade: “E esse, acrescentou sentenciosamente o Diretor, é o segredo da felicidade e da virtude – gostar daquilo que se tem de fazer. Este é o propósito de tudo: fazer as pessoas amarem o destino social do qual não podem escapar”. Estaríamos plenamente na era do determinismo genético.

O mundo apresentado por Huxley pode ser o objetivo desses cientistas. Mas a biologia genética, via engenharia genética, tem objetivos ainda mais seletivos e ideologicamente racistas. Sobre a visão de radicalismo epistemológico dessa postura científica, escreveu Hilton Japiassu: “os gigantescos progressos da biologia e da engenharia genética já tornaram possível uma outra forma de neo-eugenismo, desta feita bastante mais sofisticado. Diria que um neo-eugenismo fundado nas ciências biogenéticas já se anuncia, sem que possamos predizer de modo seguro quais serão as grandes opções para o futuro. O fato é que, nesse domínio, já existem sofisticados métodos permitindo a detecção dos ‘maus genes’, vale dizer, dos genes que, direta ou indiretamente, são responsáveis por certas doenças. Como nos lembra P. Tuiller, ‘quaisquer que sejam os limites atuais da ciência médica em matéria de diagnóstico e de terapêutica, criou-se uma situação nova; doravante é possível concebermos em longo prazo um gigantesco empreendimento de purificação do capital genético da humanidade (ou de certas populações. O que levanta numerosas questões ao mesmo tempo técnicas e éticas’”. (Les passions du savoir, Fayard, 1988, p. 154).

Em outras palavras, os detentores dessa sofisticada tecnologia podem programar, por exemplo, a cor da humanidade ou de alguns grupos ou populações (de acordo com os seus critérios de valor étnicos) considerados de “maus genes”. Se considerarmos a ideologia de quem monopoliza essa tecnologia, os negros e os não-brancos serão o objetivo desse projeto e tentarão projetar um mundo branco e de robôs.


A Europa ergue um muro contra não-brancos e pobres

Além deste racismo, há aquele que está se disseminando de forma crescente e cada vez mais agressiva. Em todo o chamado Primeiro Mundo (capitalismo imperialista central) ele vem se afirmando, quer por legislações que tornam indesejáveis no seu território membros de determinadas etnias, quer pela incorporação por parte de partidos políticos que endossam essa ideologia e, finalmente, pelo comportamento irracional de grande parte da população desses países. Na Inglaterra, na França, na Áustria, e especialmente na Alemanha, o racismo vem aumentando assustadoramente, especialmente neste último país, onde se manifesta através do neonazismo, cuja violência tem feito desaparecer centenas de vidas e cujos métodos de ação são idênticos aos de Hitler.


 “Auschwitz Total, Hitler Superditador, Antiturcos à Prova: alguns títulos de jogos neonazistas”.

Esses países começam a proteger-se dos “genes maus”, representados pelas populações não brancas em geral, que procuram “invadir” o recinto intocável das nações brancas. Esta ideologia racista cresce juntamente com a idéia da unificação da Europa. Há movimentos de extrema-direita por toda parte, como a Frente Nacional da França e os republicanos e neonazistas da Alemanha. Nos países nórdicos, como a Noruega, há parlamentares de extrema-direita ostensivamente racistas. Segundo Harlen Désir, para alguém eleger-se basta dizer: “Chega de árabes, jamaicanos e turcos!” Na França, segundo ele, parte da população não aceita a fusão e a formação de uma nação plurinacional e sem barreiras. Esta resistência é sentida principalmente nas regiões fronteiriças, onde o discurso de Jean-Marie Le Pen, líder da Frente Nacional, tem forte penetração.

Na Alemanha e na Suécia estão virando moda videogames distribuídos pela extrema-direita britânica, com os sugestivos nomes Jogar em Reblinka ou Quando o Gás Tiver Terminado o Trabalho Você Terá Ganho. O jogador consegue pontos matando judeus, turcos, homossexuais e ecologistas ao som de Deutshland über Alles (Alemanha acima de tudo), estrofe glorificada por Hitler e depois da guerra suprimida do hino nacional alemão.

Os ataques racistas se multiplicam e a ultradireita ganha terreno. Os governos da Comunidade Européia mantêm leis discriminatórias contra os imigrantes dos países não-europeus, apesar de lá se encontrarem há mais de 15 anos. Não é de estranhar que os jovens transformem o videogame em propaganda racista, pois não é apenas na Alemanha e na Suécia que a juventude assim se diverte. Na Áustria o fato se repete: Auschwitz Total… Hitler Superditador… Antiturcos à Prova… Segundo Sandra Lacut, da France Press, de Viena: “as escolas da Áustria e de outros países europeus foram invadidas por uma série de jogos de computador racistas e neonazistas, nos quais as crianças ‘dirigem’ campos de extermínio de judeus ou ‘compram’ gás para matar os imigrantes turcos. (…) Um estudo realizado pelo Ministério de Educação revela que na cidade austríaca de Lintz, onde Hitler passou parte de sua juventude, 39% dos jovens sabem que existem esses jogos neonazistas e 22% já os jogaram. Em Salzburgo, um em cada cinco jovens que tem um computador já viu publicidade neonazista em sua tela. Os videogames trivializam o Holocausto (assassinato em massa de judeus, ciganos, homossexuais, comunistas e dissidentes durante o nazismo) e incitam o ódio contra os judeus e turcos. O jogo Administrador de Campo de Concentração consiste em dirigir o campo de Treblinka (Polônia) e conseguir bastante dinheiro – por exemplo, arrancando os dentes de ouro dos judeus mortos – para adquirir o gás necessário para aniquilar os turcos. Outro, chamado Prova Ariana, coloca perguntas que revelam ao jogador seu grau de pureza racial. Aquele que for apenas ‘meio ariano’ pode se desforrar ‘matando comunistas’. De acordo com o grau de ‘impureza do sangue’, o jogador pode ser varredor ou limpador de privadas. E o ‘judeu’ é automaticamente atirado na câmara de gás”. O que à primeira vista parece ser apenas um detalhe vem demonstrar até que nível a propaganda neonazista está se aproveitando da nova tecnologia e da comunicação avançada nos mesmos moldes de Hitler. Segundo El País, os alemães e os belgas, de acordo com pesquisas feitas pela Comunidade Européia, são os cidadãos europeus que mais admitem os seus sentimentos racistas. Mas é na França e na Grã-Bretanha que a xenofobia e a violência racial se mostram mais intensas. Nos últimos quatro anos (a pesquisa vai até 1990) houve 20 assassinatos motivados por racismo na França. As vítimas eram norte-africanos de nacionalidade ou de origem.

Seis jovens cabeças raspadas (skin-heads) mataram a ponta-pés um tunisiano pai de quatro filhos. O policial que os deteve contou que aquilo que mais o chocou foi o fato de eles terem a sensação de nada terem praticado de condenável. Outros três jovens mataram a tiros um jovem harki (francês de origem argelina) “para se divertir”. Cerca de 76% das pessoas entrevistadas depois do assassinato dos três norte-africanos declararam: “O comportamento deles pode justificar as reações racistas”.

Em 1989 ocorreram, em Londres, em média seis incidentes racistas por dia. O Instituto de Estudos da Polícia estimou em sete mil os casos conhecidos de racismo no país, mas sugeriu que a cifra poderia ser dez vezes superior. Isto porque as vítimas temiam denunciar as agressões “por falta de confiança na polícia”. Uma mãe asiática suportou que seus filhos fossem esfaqueados e apedrejados – “Pensei que fosse um comportamento normal em relação aos estrangeiros” – e não procurou ajuda.

Na Itália, os ataques a estrangeiros estão adquirindo uma sequência e um furor inesperados, acalentados por uma crescente onda de imigrantes clandestinos. Na Espanha, a fúria contra marroquinos, portugueses e africanos é uma reação social em alta, mas a discriminação elege como presa também uma minoria espanhola: os ciganos. Estes últimos são hoje na Espanha cerca de meio milhão de pessoas e, como no caso dos negros nos Estados Unidos, sua dança e sua música são muito apreciadas.

Longe de melhorar, as coisas pioraram, assinala o volumoso estudo de oito capítulos elaborado e aprovado pela Comissão de Investigação do Racismo e Xenofobia criado pelo Parlamento Europeu, presidido pelo eurodeputado Glyn Ford. Nem a Comunidade Européia, nem os governos dos seus Estados-membros tomaram medidas para corrigir a situação alarmante, já denunciada em 1986. O mito da Europa como terra de asilo caiu por terra.

A Alemanha é o país onde os sentimentos racistas são mais claramente expressos. Em 1989 (e daí para cá este sentimento aumentou), cerca de 75% dos alemães ocidentais achavam que havia estrangeiros demais no país e 93% eram favoráveis a reduzir o número de trabalhadores imigrantes. Cerca de 60% da população da ex-Alemanha Ocidental admitem ter sentimentos anti-semitas. As pesquisas revelam, também, que um quinto dos alemães tem ódio racial contra africanos e asiáticos e opiniões muito negativas sobre os turcos.


O racismo como ideologia neocolonial

Falta agora nos referirmos ao racismo político dos países do chamado Primeiro Mundo (capitalismo central) contra os países dependentes que fizeram parte do antigo sistema colonial, que não foi desmontado até hoje. Uma das particularidades é que são, em sua totalidade, países que têm populações não-brancas.

À medida que se aguçava a luta entre os Estados Unidos e a ex-União Soviética, os norte-americanos concentraram suas atividades de dominação nas áreas incluídas em seu leque de influências. Com o pretexto de combater a subversão, estabeleceram governos subalternos externamente e ditatoriais internamente. Como norma, as ditaduras militares. Com isso consolidaram sua dominação neocolonial. Mas, por uma série de circunstâncias, na América Latina, Ásia, Oriente Médio e África houve movimentos que conseguiram se afastar de sua órbita. Por coincidência, movimentos de países que haviam participado da aventura colonial como dominados. Em outras palavras: surgiram principalmente em territórios onde houve o tráfico negreiro, a escravidão ou outras formas de trabalho compulsório típicas do sistema colonial. Grande parte de suas populações, ou melhor, de sua composição demográfica, é esmagadoramente não-branca.

Com a crise estrutural do sistema capitalista, na fase de imperialismo tecnocrático, houve a necessidade de uma reciclagem no processo e nas táticas de dominação. De um lado, para consolidar o seu domínio econômico e, de outro, como manifestação de racismo.

A primeira manifestação mais aguda deste comportamento foi a operação que os Estados Unidos organizaram contra a Líbia em 1981. Foi preparada uma operação de terrorismo de Estado para assassinar seu líder. Depois de várias operações de agressão militar, nas quais foram abatidos dois aviões líbios (em território líbio), constatou-se que um dos filhos de Kadafi havia sido assassinado. Isto porém não sensibilizou a opinião pública mundial. A mídia criou para consumo internacional a imagem de que Kadafi era o líder do terrorismo internacional, o que os fatos desmentiam.

Depois veio a invasão da ilha de Granada. A pretexto de obedecer os apelos de uma entidade fantasma, os norte-americanos ocuparam a ilha, assassinaram seu presidente e centenas de seus habitantes. A opinião internacional não se mobilizou nem denunciou o crime, possivelmente por se tratar de uma país de negros.

Registramos também a invasão do Panamá, com o pretexto de combater o narcotráfico. Em 1989 a 82ª Divisão Aerotransportadora dos Estados Unidos invadiu seu território, prendeu o presidente Noriega, sequestrou-o e levou-o para ser condenado pelos tribunais norte-americanos. A intervenção norte-americana destruiu a economia do país, tentou extinguir o Exército e colocou um de seus representantes como chefe do Estado. Mas a opinião pública não se emocionou. Pelo contrário. Toda a imprensa mundial teceu elogios ao ato. O Panamá é também um país de negros, mestiços e índios.

Por fim, os casos mais recentes: a Guerra do Golfo contra o Iraque, a invasão da Somália, a tentativa (que persiste) de ocupar o Haiti e os massacres de Ruanda passam como acontecimentos sem relevância. As razões apresentadas são de “ação humanitária”, “restauração da democracia”, “combate ao narcotráfico”, pois não cola mais o “perigo comunista”.

É uma reciclagem hipócrita do antigo sistema colonial, que se reestrutura no neo-colonialismo tecnocrático, racista. Para justificá-lo utilizam não só a sócio-biologia, da engenharia genética e das hipóteses que procuram demonstrar a existência de raças inferiores, mas também canhões, aviões e tanques de guerra.

Estamos às vésperas do terceiro milênio. Vamos entrar numa época em que as ordenações sociais serão radicalmente reformuladas. Nesse processo as atuais nações atrasadas, dependentes e espoliadas, vindas do antigo sistema colonial, assumirão um papel novo, resgatando o passado de dominação. E o realinhamento social também será étnico, pois as raças não-brancas habitam por herança desse sistemas as regiões espoliadas. Esse é o desafio do milênio que se avizinha e que não será outro senão a realidade do socialismo em dimensão planetária.



Notas;

 (1) LINTON, R. Estudio del hombre. México, Fondo de Cultura Económica, 1942, p. 69.

 (2) DAVES, Alain. “A ideologia do racismo”, in A igreja e o racismo. Rio de Janeiro, Vozes, 1982, p. 18-19.

 (3) BENEDICT, Ruth, Raza: ciência y política. México, Fondo de Cultura Econômica, 1941, p. 26.

 (4) Citado por Aimé Césaire in Discurso sobre o colonialismo. Lisboa, Sá da Costa, 1974.

 (5) Aceitando a teoria de de L. Levy Bruhl como cientista, o escritor Jamil Halmansur Hadad assim procura caracterizar o homem brasileiro: “(…) o caráter primitivo do (brasileiro) aparece às vezes com outros nomes, porém ao primitivismo podem ser reconduzidos muitos dos sestos e taras nacionalmente citadas (…) Acabamos por verificar no Brasil e pelos tempos afora um dos traços da mentalidade primitiva classicamente apontados em Levy Bruhl: a dificuldade de acreditar no invisível. O próprio Deus se viabiliza como as almas dos familiares: daí a difusão extrema do espiritismo, principalmente prestigiadas as sessões de materialidade (…) O mesmo conceito poderia ter sido formulado por um Anchieta entre os nossos selvagens. Daí que desde os primórdios da nacionalidade, os elementos religiosos passaram a hibridar-se poderosamente de estratos profanos. E não só com índios antropófagos como com brasileiros urbanos e civilizados (…) Aponta Levy Bruhl no primitivo: a ausência em princípio de qualquer sentido de ligação causal profunda. Aí a gênese de todo o nosso tremendo repositório de superstições e milagres: as salas cobertas de ex-votos: peitos de cera, pernas, pescoços e olhos, às vezes sangrando, outras com tumores (…) Manifestações de primitivismo no predomínio do exterior sobre a essência: o sestro do fogo de artifício do aparato, do farol (…) O que impressiona fundamentalmente a Ewbank são os nossos fogos de artifício. Rojões e buscapés num esplendor ígneo de fazer o norte-americano babar (…) Imaginemos que, se se disser que somos realmente o país do farol, isto corresponderá a uma validade das mais estranhamente arraigadas da nossa psique mais íntima e mais tradicional. Preponderância do acessório em relação ao substancial. E do exterior em detrimento do profundo. Da cortiça em detrimento da medula. Amor portanto ao esplendor efêmero da fascinação inteiramente rápida, ofuscante mas transitória. E que marca todas as vicissitudes de nossa vida nacional” (Hadad, Jamil Halmansur: “Ewbank e a sua descoberta do Brasil”, in Anhembi, no ano VII, n. 78, maio de 1957, p. 496-504.)

 (6) MARX, K. e ENGELS, F. Le manifest communiste Paris, Alfred Costes, 1935, p. 62. Evidentemente quando Marx e Engels usam o termo “bárbaro” não há nenhum julgamento de valor na expressão. Referem-se a uma fase de periodização da civilização, segundo o marxismo. É uma fase pré-capitalista, que Engels dividiu em três períodos: barbárie inferior, que se inicia com a introdução da cerâmica; fase média, que começa com a domesticação de animais e no Oeste da Europa com o cultivo de hortaliças por meio da irrigação e pelo emprego do tijolo (secado ao sol) e da pedra nas construções; e a fase superior, que se inicia coma a fundição do minério de ferro e passa à civilização com a invenção da escrita alfabética e seu emprego nos registros literários. Nada tem a ver, portanto, com a conotação pejorativa que as nações capitalistas colonizadoras davam àqueles povos que eram por ela colonizados. Era uma classificação objetiva baseada na etapa do desenvolvimento cultural. Uma das etapas pré-capitalistas da evolução da humanidade.