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quarta-feira, 4 de junho de 2025

JÂNIO DA SILVA QUADROS - 31 de Janeiro de 1961 a 25 de Agosto de 1961

 


Ao tomar posse em 31 de janeiro de 1961, os milhões de cidadãos que elegeram o presidente Jânio Quadros não poderiam imaginar que, em menos de sete meses, ele renunciaria a seu cargo.

Eleito sob o slogan “varre, varre, vassourinha”, em que pregava que iria “varrer” a corrupção do país, Jânio Quadros se envolveu em diversas polêmicas que desencadearam em sua renúncia.

Jânio Quadros já era uma figura de destaque na política brasileira antes de se tornar presidente da República. Ele começou sua carreira como vereador em São Paulo em 1947.

Em seguida, foi eleito deputado estadual, prefeito da cidade e governador do estado em 1954. Ou seja, em apenas sete anos após sua eleição como vereador, ele chegou ao cargo de governador de São Paulo.

Em 1958, Jânio Quadros foi eleito deputado federal pelo estado do Paraná. No entanto, já estava de olho na presidência, cujas eleições ocorreriam em 1960. Durante esse período, ele viajou com sua família e não participou de nenhuma sessão do Congresso.

Entre os destinos de sua viagem estavam países comunistas, como a China, que na época era liderada por Mao Tsé-Tung. Iniciavam aí as polêmicas, dentre as diversas que Quadros enfrentará.

Quando Jânio Quadros retorna de sua viagem, se depara com um momento oportuno para empreender sua campanha à presidência. Juscelino Kubitschek, então presidente, estava no fim de seu mandato.

Devido a inúmeros fatores, entre eles os gastos com a criação de Brasília, JK deixou o país com uma forte crise econômica. Jânio Quadros iria usar isso à seu favor e ser eleito.

Em 3 de outubro de 1960, com o apoio da União Democrática Nacional (UDN) e de outros pequenos partidos, sob o jingle “varre, varre, vassourinha”, Jânio Quadros derrotou o candidato Marechal Lott nas urnas.

Jânio recebeu 5.636.623 votos, enquanto o Marechal Lott, 3.846.825, quase dois milhões de votos a mais que o derrotado. O vice-presidente eleito foi João Goulart, o Jango, outra figura que entraria mais tarde na história do Brasil por sofrer um golpe de Estado pelos militares.

A ascensão de Quadros ao poder se deve, sobretudo, por conta de sua postura populista, que demonstrava ser apartidário, acima dos partidos e uma imagem associada à um tipo inimigo número um da corrupção (daí o jingle “varre, varre, vassourinha”), além de se opor à política do ex-presidente Juscelino Kubitschek (JK), que já estava gerando insatisfação em uma parcela da população, devido o aumento do custo de vida.

Uma característica marcante de Jânio era sua maneira de falar e expressar-se. Foi professor de Português e de Geografia. Utilizava frequentemente as normas da língua portuguesa com construções eruditas, para manter sua imagem de pessoa culta, instruída e literata. Fazia isso em declarações, cartas, documentos, em tudo o que dizia e escrevia.

Em seu discurso de posse em 31 de janeiro de 1961, o presidente eleito proferiu que o Brasil enfrentava uma crise moral:

“Tão graves como a situação econômica e financeira se me afigura a crise moral, administrativa e político-social em que mergulhamos.”

Deste modo, inicia a criação de uma série de medidas impopulares, tanto no âmbito econômico quanto no âmbito do lazer e cultura. Vamos conhecer algumas delas?


Medidas Impopulares

Corridas de Cavalo: O presidente Jânio Quadros, por meio de um decreto, começa suas medidas nada populares: a partir daquele momento, corridas de cavalos e jóqueis durante os dias de semana ficaram proibidas, sendo permitido apenas aos domingos e feriados. Além disso, o acesso a estas corridas só poderia ser para pessoas acima de 21 anos.


Maiôs e Biquinis: Outra medida surpreendente de Quadros foi a proibição do uso de biquínis nas praias brasileiras. Ademais, nos desfiles de concursos de belezas também estava vetado a utilização de maiôs muito cavados. No decreto lançado por ele dizia que as competidoras não poderiam “apresentar-se ou desfilar em trajes de banho sendo tolerado o uso de saiote.”


Lança-Perfume: Continuando sua demonstração de conservadorismo, Jânio Quadros proibiu tanto a fabricação quanto a distribuição e o uso do lança-perfume em todo o território nacional. O lança-perfume é uma substância de consumo pelas vias respiratórias à base de clorofórmio e cloreto de etila, normalmente com éter e algum aroma. Era muito comum o seu uso em festas brasileiras, como o carnaval, desde o início do século XX, e a sua proibição também desagradou boa parcela da população acostumada às farras de carnaval.


Rinhas de Galo: As rinhas de galo eram muito populares no Brasil na época em que Jânio Quadros era presidente. Essas rinhas envolviam apostas em dinheiro e incomodava o chefe do executivo. Em 18 de maio de 1961, um decreto lançado pelo presidente proibiu as brigas de galo no país, incluindo outros espetáculos em que a atração principal era a briga entre animais.


Flertando com o Comunismo

Jânio Quadros já havia feito uma viagem que trouxe polêmicas à sua imagem, pois alguns dos países que visitou eram comunistas. Em um contexto mundial denominado como guerra fria, apresentar afeição aos líderes dessas nações era um risco para o sistema capitalista, mesmo que isso não fosse o caso de Quadros.

Em 1960, por exemplo, Jânio Quadros foi à Cuba, país que um ano antes realizou a Revolução Cubana, que colocou Fidel Castro no poder, além da própria China já citada mais acima.

Jânio também condecorou duas personas non gratas para o sistema capitalista, agora já como presidente: em 2 de agosto de 1961, o astronauta da URSS, Yuri Gagarin, que havia sido o primeiro homem a viajar pelo espaço, e o mais polêmico de todos: o líder da Revolução Cubana, Ernesto Che Guevara, em 19 de agosto.

Apesar de não haver nesse gesto, segundo o historiador Boris Fausto (2010), nenhuma demonstração de apoio ao comunismo e sim de simbolizar para o grande público a política externa independente que Jânio começara por em prática, essa condecoração a Che Guevara não agradou em nada os seus aliados da UDN, principalmente os militares e os setores mais conservadores.


A Renúncia

Jânio Quadros estava governando sem uma base política de apoio. Carlos Lacerda, governador da Guanabara e um jornalista de grande destaque no cenário brasileiro, passou para a oposição e começou a realizar ferrenhas críticas ao presidente.

Além disso, a própria UDN estava se queixando da postura do presidente, pois o mesmo agia sem consultar a liderança udenista no Congresso, sem contar ainda o fato de que a política externa independente do Quadros causava preocupações, assim como a simpatia presencial pela reforma agrária.

Em 24 de agosto de 1961, Carlos Lacerda transmitiu pela rádio um discurso no qual acusava o presidente de tramitar um golpe, articulado pelo então ministro da Justiça Oscar Pedroso Horta. O ministro negou a acusação, mas o burburinho pelo país já era dado como certo: o fato culminou na renúncia do presidente, no dia seguinte.

Pode-se supor que todas as medidas impopulares feitas por Jânio Quadros ajudaram em sua decisão de renunciar seu cargo de chefe do Estado. Porém, segundo o historiador Boris Fausto (2010), a renúncia não chegou a ser esclarecida em sua totalidade.

Na sua carta de renúncia enviada ao congresso, seguido de um bilhete (ele adorava trocar bilhetes internos), o presidente justificou a atitude. Sem ser muito claro, ele escreveu que tentou combater a corrupção, mas fora “vencido pela reação” e “esmagado” por “forças terríveis”:

“Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo (…). Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou me infamam, até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade”. (…).

Uma hipótese que pode auxiliar na elucidação da sua renúncia, de acordo com Bóris Fausto, combina informações de uma personalidade de Jânio Quadros um tanto quanto instável, com um cálculo político equivocado, pois o presidente esperava conseguir a partir desta renúncia uma volta ao poder com muito mais poderes para governar.

Apesar dessa hipótese, não se sabe ao certo o que pretendia Jânio Quadros com esta renúncia. Os fatos indicam que seu gesto objetivava causar uma comoção nacional que o recolocasse na cadeira da presidência de forma triunfal e que, de preferência, o congresso não o importunasse.

Com sua renúncia, a constituição deixava claro que quem deveria assumir era o vice-presidente, no caso, João Goulart, porém, esta posse ficou temporariamente suspensa, pois setores militares viam na figura de Jango um perigo à democracia e uma brecha aos comunistas chegarem ao poder.

Em seu lugar, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, ficou no cargo de modo temporário, até que Jango tomasse posse apenas em 7 de setembro de 1961, com um sistema parlamentarista aprovado pela Câmara, ou seja, seus poderes estavam limitados.

Já era um caminho para a instauração da Ditadura Militar que viria quase três anos depois, mas esta é uma outra história.



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