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domingo, 1 de junho de 2025

A ERA VARGAS 1930 - 1945

 


A era Vargas  é o período da história do Brasil entre 1930 e 1946, quando o país foi governado pelo presidente Getúlio Vargas. O período de 1930 a 1937 é conhecido como Segunda República Brasileira, e o período de 1937 a 1946 é conhecido como Terceira República Brasileira ou Estado Novo.

A Revolução Brasileira de 1930 marcou o fim da Primeira República Brasileira. O golpe depôs o presidente Washington Luís e bloqueou a posse do presidente eleito Júlio Prestes, sob a alegação de que a eleição havia sido fraudada por seus apoiadores. A Constituição de 1891 foi revogada, o Congresso Nacional dissolvido e a junta militar provisória cedeu o poder a Vargas. A intervenção federal nos governos estaduais aumentou, e o cenário político foi alterado pela supressão das oligarquias tradicionais dos estados de São Paulo e Minas Gerais.

A era teve três fases sucessivas:

O período do Governo Provisório (1930–1934), quando Vargas governou por decreto como chefe do governo provisório instituído pela revolução, antes da adoção de uma nova constituição.

O período em torno da Constituição brasileira de 1934, quando uma nova constituição foi redigida e aprovada pelo Congresso Nacional de 1933-1934 e Vargas, eleito pelo Congresso sob as disposições transitórias da constituição, governou como presidente com uma legislatura democraticamente eleita.

O período do Estado Novo (1937-1946) começou quando, para permanecer no poder, Vargas impôs uma constituição ditatorial em um golpe de estado e fechou o legislativo para governar o Brasil como um ditador.

A deposição de Vargas e o regime do Estado Novo em 1945 levaram à restauração da democracia no Brasil com a adoção de uma nova constituição em 1946, marcando o fim da era Vargas e o início da Quarta República Brasileira 


Queda da Primeira República

As rebeliões tenentistas não impactaram significativamente os reformadores sociais burgueses no Brasil. No entanto, a arraigada oligarquia cafeeira paulista, no poder, ficou vulnerável durante a turbulência econômica de 1929.

A vulnerabilidade do Brasil durante a Grande Depressão residia na dependência de sua economia em relação ao mercado externo e a empréstimos. Apesar de algum desenvolvimento industrial em São Paulo, o café e outras exportações agrícolas eram o sustentáculo da economia.

Dias após a quebra da bolsa de valores dos EUA em 29 de outubro de 1929, os preços do café caíram. Entre 1929 e 1931, os preços do café caíram de 22,5 centavos por libra para oito centavos por libra. À medida que o comércio mundial se contraía, os exportadores de café experimentaram uma grande queda nos ganhos em moeda estrangeira.

A Grande Depressão teve um efeito dramático no Brasil. O colapso do programa de valorização (suporte de preços) do Brasil, uma rede de segurança em tempos de crise econômica, foi interligado ao colapso do governo central e de sua base de apoio na oligarquia latifundiária; os cafeicultores tornaram-se perigosamente dependentes da valorização governamental. O governo não carecia de recursos para socorrer a indústria cafeeira após a recessão pós- Primeira Guerra Mundial, mas a demanda mundial pelos produtos primários brasileiros havia caído drasticamente entre 1929 e 1930 para manter as receitas governamentais. As reservas de ouro do país estavam esgotadas no final de 1930, levando sua taxa de câmbio a uma nova mínima, e o programa de café armazenado entrou em colapso.

O governo do presidente Washington Luís enfrentou uma crise cada vez mais profunda na balança de pagamentos, e os cafeicultores tiveram uma safra invendável. Como o poder residia em um sistema de clientelismo, rupturas em larga escala no delicado equilíbrio de interesses regionais deixaram o regime de Luís vulnerável. Políticas governamentais que favoreciam interesses estrangeiros exacerbaram a crise, deixando o regime alienado de quase todos os segmentos da sociedade. Após o pânico de Wall Street, o governo tentou agradar os credores estrangeiros mantendo a conversibilidade de acordo com os princípios de banqueiros e economistas estrangeiros que definiam os termos das relações do Brasil com a economia mundial; isso não teve apoio de nenhum setor importante da sociedade brasileira.

Luís manteve uma política monetária forte, apesar da fuga de capitais, garantindo a conversibilidade da moeda brasileira em ouro ou libra esterlina. O governo foi forçado a suspender a conversibilidade cambial quando suas reservas em ouro e libra esterlina se esgotaram em meio ao colapso do programa de valorização, e o crédito externo evaporou.


Ascensão de Getúlio Vargas

Governador populista do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, Vargas era pecuarista, doutor em direito e candidato presidencial em 1930 pela Aliança Liberal. Membro da oligarquia latifundiária gaúcha que ascendeu por meio do sistema de clientelismo e clientelismo, ele tinha uma visão inovadora de como a política brasileira poderia ser moldada para apoiar o desenvolvimento nacional. Vargas vinha de uma região com tradição positivista e populista e era um nacionalista econômico que defendia o desenvolvimento industrial e as reformas liberais, construía redes políticas e estava em sintonia com os interesses das classes urbanas em ascensão. Ele contava com o apoio dos tenentes da rebelião de 1922.

Vargas compreendeu que, com o rompimento das relações entre trabalhadores e proprietários nas crescentes fábricas brasileiras, os trabalhadores poderiam se tornar a base de uma nova forma de poder político: o populismo. Ele gradualmente conquistou o domínio do mundo político brasileiro e permaneceu no poder por 15 anos. À medida que o domínio das elites agrícolas diminuía, os líderes industriais urbanos adquiriam mais influência nacional e a classe média se fortalecia.

Além da Grande Depressão e do surgimento da burguesia brasileira, a política inter-regional do país incentivou a aliança forjada por Vargas durante a Revolução de 1930 entre os novos setores urbanos e os latifundiários hostis ao governo em outros estados além de São Paulo.

Juntamente com os grupos burgueses urbanos, os barões do açúcar do Nordeste tinham um legado de antigas queixas contra as oligarquias cafeeiras paulistas do Sul. Os proprietários de terras do Nordeste se opuseram à descontinuação, por Washington Luís, dos projetos de combate à seca de Artur Bernardes em 1930. A decadência das oligarquias açucareiras do Nordeste começou dramaticamente com a severa seca de 1877, combinada com o rápido crescimento do estado de São Paulo, produtor de café. Após a abolição da escravatura em 1888, o Brasil viu um êxodo em massa de escravos emancipados e outros camponeses do Nordeste para o Sudeste, garantindo um suprimento constante de mão de obra barata para os cafeicultores.

Durante a República Velha, a política do café com leite era dominada pelos estados de São Paulo e Minas Gerais (os maiores do Brasil, em termos demográficos e econômicos), no sudeste do país. Diante das divergências com o regime vigente no Nordeste e no Rio Grande do Sul, Vargas escolheu João Pessoa, da Paraíba, como candidato a vice-presidente na eleição presidencial de 1930. Com o entendimento de que o domínio dos proprietários rurais continuaria sob um governo da Aliança Liberal, as oligarquias nordestinas foram integradas à aliança varguista por meio do novo Partido Social Democrata (PSD).

Como candidato em 1930, Vargas utilizou a retórica populista para promover os interesses da classe média, opondo-se à primazia (mas não à legitimidade) da oligarquia cafeeira paulista e das elites latifundiárias, pouco interessadas em proteger e promover a indústria. Por trás da fachada do populismo de Vargas, ocultava-se a natureza mutável de sua coalizão. Grupos regionais com domínio local – os gaúchos do Rio Grande do Sul e os barões do açúcar do Nordeste – conduziram os novos grupos urbanos à vanguarda da vida política brasileira, inclinando a balança do governo central para o lado da Aliança Liberal.


Segunda República

A tênue coalizão de Vargas carecia de um programa coerente além de uma visão ampla de "modernização". Ele tentou conciliar os interesses divergentes de seus apoiadores com a reforma social entre 1930 e 1934, com suas políticas cada vez mais dependentes do populismo.

Vargas buscou tirar o Brasil da Grande Depressão por meio de políticas estatistas que atendessem às demandas dos grupos burgueses urbanos em rápido crescimento, expressas pelas novas ideologias (para o Brasil) de populismo e nacionalismo. Seus primeiros passos (como os de Roosevelt) concentraram-se em estímulos econômicos, com os quais todas as facções concordavam. Favorecendo uma política de incentivos fiscais e cotas de importação para expandir a base industrial do país, Vargas vinculou suas políticas pró-classe média ao nacionalismo. Ele buscou mediar disputas entre trabalhadores e capital, reprimindo uma greve de trabalhadoras paulistas ao se apropriar de grande parte de sua plataforma e exigindo mediação governamental no futuro.

Com as oligarquias nordestinas agora incorporadas à coalizão governante, o governo se concentrou na reestruturação da agricultura. Para apaziguar os oligarcas agrários amigáveis, o Estado deixou os domínios empobrecidos dos oligarcas rurais intocados e ajudou os barões do açúcar a consolidar seu controle sobre o Brasil rural. O campesinato, surpreendendo muitos acostumados a ignorar as regiões periféricas do Brasil, não era tão servil. O banditismo era comum, mas também o eram o messianismo, as revoltas anarquistas e a sonegação de impostos, todas práticas comuns antes de 1930. O governo esmagou uma onda de banditismo no Nordeste que ficou conhecida como cangaço, revertendo o declínio drástico (mas gradual) dos latifúndios nordestinos da década de 1870 até a revolução de 1930. Às custas do campesinato indigente — 85% da força de trabalho — Vargas renegou suas promessas de reforma agrária e negou aos trabalhadores agrícolas os ganhos da classe trabalhadora em regulamentações trabalhistas. Surgiu oposição entre os poderosos oligarcas do café paulista a essa intervenção e à crescente centralização do governo, suas posturas cada vez mais populistas e fascistas, suas políticas protecionistas e mercantilistas (protegendo produtores politicamente favorecidos em detrimento dos consumidores) e ao próprio Vargas, cada vez mais ditatorial.

O apaziguamento dos interesses fundiários (forças tradicionalmente dominantes no Brasil) exigiu um realinhamento da coalizão de Vargas, forçando-o a se voltar contra sua ala esquerda. A influência do grupo dos tenentes sobre Vargas diminuiu rapidamente após meados de 1932, embora tenentes moderados, individualmente, continuassem a ocupar cargos importantes no regime. A expulsão dos tenentes de centro-esquerda de sua coalizão marcou sua guinada para a direita em 1934.


Vargas Ditador

Vargas copiou táticas fascistas e compartilhou a rejeição do fascismo ao capitalismo liberal. Ele abandonou o governo provisório (1930-1934), caracterizado por reformas sociais que pareciam favorecer a ala esquerda de sua coalizão revolucionária, os tenentes .

Uma insurgência conservadora em 1932 foi o ponto de virada para a direita. Após a Revolução Constitucionalista de Julho — uma tentativa velada dos oligarcas cafeeiros paulistas de retomar o governo central — Vargas tentou recuperar o apoio das elites latifundiárias (incluindo os cafeicultores) para estabelecer uma nova aliança.

A revolta foi causada pela nomeação de João Alberto, um tenente de centro-esquerda, por Vargas, como interventor (governador provisório) no lugar do governador eleito de São Paulo. A elite paulista detestava Alberto, ressentindo-se de seus esforços de centralização e alarmada com reformas econômicas como o aumento salarial de cinco por cento e a pequena distribuição de terras aos participantes da revolução. Em meio a ameaças de revolta, Vargas substituiu João Alberto por um civil de São Paulo, nomeou um banqueiro paulista conservador como ministro da Fazenda e anunciou uma data para uma assembleia constituinte. Isso encorajou os oligarcas do café, que lançaram uma revolta em julho de 1932, que fracassou após três meses de combate armado.

Apesar da tentativa de revolução, Vargas estava determinado a manter sua aliança com a ala ruralista de sua coalizão e a fortalecer os laços com o establishment paulista. Novas concessões alienaram a ala esquerda da coalizão, especialmente o descumprimento das promessas de reforma agrária feitas durante a campanha de 1930. Vargas perdoou metade das dívidas bancárias dos cafeicultores, que mantinham o controle da máquina eleitoral do estado. Para pacificar seus adversários paulistas após a revolta fracassada, ordenou que o Banco do Brasil honrasse os títulos de guerra emitidos pelo governo rebelde.

Em 1934, Vargas passou a ser cada vez mais ameaçado por elementos pró-comunistas críticos aos latifúndios rurais, que buscavam uma aliança com a maioria camponesa do país apoiando a reforma agrária. Apesar de sua retórica populista, Vargas foi levado ao poder por oligarquias de fazendeiros em regiões remotas em meio a uma revolução e não estava em condições de atender às demandas comunistas.

Em 1934, munido de uma nova constituição elaborada sob influência dos modelos fascistas europeus, Vargas começou a controlar os sindicatos moderados e a se voltar contra os tenentes. Mais concessões aos latifúndios o levaram a uma aliança com os integralistas, o movimento fascista brasileiro. O regime de Vargas, entre 1934 e 1945, foi caracterizado pela cooptação dos sindicatos brasileiros por meio de sindicatos estatais e fictícios, e pela supressão da oposição, especialmente da esquerda.

O clima em São Paulo era propício ao extremismo ideológico, e o sudeste, em rápida industrialização, favorecia movimentos de massa de estilo europeu. O Partido Comunista Brasileiro foi fundado em 1922, e o pós-guerra testemunhou as primeiras ondas de greves gerais sindicais no país.

A Grande Depressão que levou Vargas ao poder desencadeou apelos por reformas sociais, contrariados pela mobilização em massa de um novo inimigo em potencial: o proletariado urbano. Vargas tentou impor uma tutela paternalista sobre a classe trabalhadora para controlá-la e cooptá-la. Seus apoiadores começaram a ver o movimento trabalhista, que era maior e mais bem organizado do que após a Primeira Guerra Mundial, como uma ameaça.

Vargas conseguiu unir as elites latifundiárias para conter os comunistas. Com o cangaço reprimido no Nordeste, a nova burguesia e os oligarcas latifundiários transferiram seus medos para os sindicatos e os sentimentos socialistas do proletariado urbano. Frequentemente composto por imigrantes, o proletariado vinha do sudeste, mais urbano, e era mais europeu em população, cultura, ideologia e desenvolvimento industrial. A aliança de Vargas com os trabalhadores se desintegrou em 1934, e o país iniciou um período de agitação. Em meados de 1935, a política brasileira estava desestabilizada.

Vargas se concentrou nos dois movimentos ideológicos nacionais que estavam comprometidos com a mobilização de massas ao estilo europeu: um pró-comunista e o outro pró-fascista. Mais intimidadora foi a Aliança Nacional Libertadora (ANL), lançada em 1935, uma frente popular de esquerda de socialistas, comunistas e outros progressistas liderada pelo Partido Comunista e Luís Carlos Prestes. Um precursor revolucionário de Che Guevara, Prestes liderou a fútil Coluna Prestes pelo interior rural brasileiro após a fracassada rebelião tenente de 1922 contra os oligarcas do café. Essa experiência deixou Prestes e alguns de seus camaradas céticos em relação ao conflito armado, e seu ceticismo ajudou a precipitar o cisma da década de 1960 entre os maoístas linha-dura e o marxismo-leninismo ortodoxo que persiste no Partido Comunista Brasileiro. Com os tenentes de centro-esquerda fora da coalizão e a esquerda esmagada, Vargas voltou-se para sua base de apoio na direita em uma repressão à ANL. À medida que sua coalizão se deslocava para a direita após 1934, a ideologia de Vargas permaneceu ambígua. O integralismo, com um número crescente de membros em 1935, começou a preencher esse vazio ideológico (especialmente entre os cerca de um milhão de brasileiros de ascendência alemã).

Plínio Salgado, escritor e político, fundou a Ação Integralista Brasileira em outubro de 1933. Seu partido tinha simbolismo fascista e nazista e usava a saudação romana. Tinha todos os elementos visíveis do fascismo europeu: uma organização paramilitar de camisas verdes, manifestações de rua e retórica agressiva parcialmente financiada pela embaixada italiana. Os integralistas tomaram emprestado suas campanhas de propaganda de materiais nazistas, incluindo a excoriação do marxismo e do liberalismo e o apoio ao nacionalismo, ao antissemitismo e às virtudes cristãs. Eles eram apoiados por oficiais militares, especialmente na marinha.


Desenvolvimento Econômico

Paralelos entre a economia politizada de Vargas e os estados policiais europeus começaram a aparecer em 1934, quando uma nova constituição foi promulgada com influência fascista. Depois de 1934, programas de estilo fascista tinham dois objetivos: estimular o crescimento industrial (sob o disfarce de nacionalismo e autarquia) e suprimir a classe trabalhadora. O governo Vargas disse que as disposições corporativistas da constituição (aprovada em 16 de julho de 1934) uniriam todas as classes em interesse mútuo – o propósito declarado de um documento governamental semelhante na Itália fascista. Isso significava dizimar o trabalho organizado independente e atrair a classe trabalhadora para o estado corporativista. A expansão da indústria e da urbanização fortaleceu os trabalhadores urbanos, apresentando a necessidade de atraí-los para uma aliança comprometida com a modernização do Brasil. Vargas e, mais tarde, Juan Perón, na vizinha Argentina , imitaram a estratégia de Mussolini de consolidar o poder mediando disputas de classe sob a bandeira do nacionalismo.

A Constituição instituiu uma nova Câmara dos Deputados que colocou a autoridade governamental sobre a economia privada e estabeleceu um sistema de corporativismo voltado para a industrialização e a redução da dependência externa. Essas disposições designavam representantes corporativos de acordo com classe e profissão, organizando as indústrias em sindicatos estatais, mas, em geral, mantendo a propriedade privada das empresas de propriedade brasileira.

A Constituição de 1934-1937 e, especialmente, o Estado Novo intensificaram os esforços para centralizar a autoridade no Rio de Janeiro e limitar a autonomia provincial. Esse papel progressista buscou consolidar a Revolução de 1930, substituindo o poder das oligarquias cafeeiras paulistas por uma política centralizada que respeitasse os interesses agroexportadores locais e criasse uma base econômica para os novos setores urbanos. O governo estadual seria racionalizado e regularizado, liberto das garras do coronelismo.

A Constituição estabeleceu um mecanismo mais direto para o Executivo Federal controlar a economia, adotando uma política de planejamento e investimento direto na criação de complexos industriais. Empresas estatais e de economia mista dominavam as indústrias pesadas e de infraestrutura, e o capital privado brasileiro predominava na indústria manufatureira. O investimento estrangeiro direto aumentou durante a década de 1930, à medida que as empresas estrangeiras buscavam ampliar sua participação no mercado interno e superar barreiras tarifárias e problemas cambiais, estabelecendo filiais no Brasil. O Estado enfatizava os setores básicos da economia, enfrentando a difícil tarefa de forjar uma base de capital viável para o crescimento futuro em mineração, petróleo, siderurgia, energia elétrica e produtos químicos.


Estado Novo - Terceira República

O mandato de quatro anos de Vargas como presidente, sob a Constituição de 1934, expiraria em 1938, e ele foi impedido de se reeleger. Ele fez um discurso nacional de rádio em 10 de novembro de 1937, denunciando o Plano Cohen, que supostamente documentava uma conspiração comunista para derrubar o governo. O Plano Cohen foi forjado pelo governo para criar uma atmosfera favorável à permanência de Vargas no poder, perpetuando seu governo e concedendo-lhe poderes ditatoriais.

Os comunistas tentaram tomar o governo em uma tentativa fracassada de golpe em novembro de 1935. Após a revolta fracassada, o Congresso Nacional deu maiores poderes a Vargas e aprovou a criação de um Tribunal de Segurança Nacional (TSN) em um estatuto adotado em 11 de setembro de 1936.

Em seu discurso de rádio de 10 de novembro de 1937, Vargas invocou a suposta ameaça comunista, decretou estado de emergência, dissolveu o legislativo e anunciou a adoção, por decreto presidencial, de uma nova constituição autoritária que colocava todo o poder de governo em suas mãos. A Constituição de 1934 foi abolida e Vargas proclamou um estado novo.

Os poderes do Tribunal de Segurança Nacional foram simplificados na Terceira República Brasileira e se concentraram em processar dissidentes políticos. Os poderes da polícia foram reforçados com o estabelecimento do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), uma polícia política e serviço secreto. Quando foi criado em 1936, o Tribunal de Segurança Nacional deveria ser um tribunal temporário; os réus podiam apelar de suas sentenças ao Superior Tribunal Militar (Superior Tribunal Militar), o tribunal de apelações do Brasil para as forças armadas, que era subordinado ao supremo tribunal do país. Comunistas e outros acusados ​​de conspirar golpes eram julgados pelo sistema de corte marcial militar (com o Tribunal de Segurança Nacional sendo o tribunal de primeira instância para esses casos), em vez de tribunais comuns. O Tribunal de Segurança Nacional se tornou um tribunal permanente no Estado Novo, autônomo do resto do sistema judicial. Ele ganhou autoridade para julgar casos envolvendo conspiradores comunistas e outros conspiradores de golpes, e julgava qualquer pessoa acusada de subverter ou colocar em risco o regime do Estado Novo. Punições extrajudiciais eram impostas pela polícia, especialmente o DOPS.

A constituição de 1937 previa eleições para um novo congresso e um referendo confirmando as ações de Vargas. Nenhum dos dois foi realizado, ostensivamente devido à perigosa situação internacional. Sob um artigo transitório da constituição, aguardando novas eleições, o presidente assumiu poderes legislativos e executivos; Vargas governou por oito anos sob o que equivalia à lei marcial. De acordo com a constituição de 1937, Vargas deveria ter permanecido presidente por apenas mais seis anos (até novembro de 1943); ele permaneceu no poder até ser deposto em 1945. A ditadura do Estado Novo restringiu a autonomia do poder judiciário e dos estados brasileiros governados por interventores federais, que tinham poderes legislativos e executivos (supostamente temporários).

Em dezembro de 1937, um mês após o golpe do Estado Novo, Vargas assinou um decreto dissolvendo todos os partidos políticos, incluindo a fascista Ação Integralista Brasileira (AIB). Os integralistas, até então, apoiavam as medidas anticomunistas de Vargas. Irritados com a repressão da AIB, invadiram o Palácio Guanabara em uma tentativa frustrada de depor Vargas em 11 de maio de 1938.

Entre 1937 e 1945, durante o Estado Novo, Vargas interveio na economia e promoveu o nacionalismo económico. Conhecido pelos seus apoiantes como o "Pai dos Pobres", forneceu-lhes ferramentas para ajudar a melhorar o seu modo de vida agrário.


Durante este período, foram criados vários organismos industriais:

O Conselho Nacional do Petróleo (Conselho Nacional do Petróleo, ou CNP)

O Departamento de Administração do Serviço Público (Departamento Administrativo do Serviço Público , ou DASP)

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)

Companhia do Vale do Rio Doce

A Companhia Hidrelétrica de São Francisco (Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco)

A Fábrica Nacional de Motores (FNM)

O Estado Novo afetou a arquitetura modernista no Brasil, implementando um planejamento urbano incompleto e em larga escala. Curitiba, uma das cidades mais bem planejadas do mundo,  foi planejada por Alfred Agache durante o Estado Novo.


As medidas para conter a oposição incluíam a nomeação de intervenientes para os estados e a censura da mídia pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que tentava moldar a opinião pública.

Vargas promulgou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943, garantindo estabilidade no emprego após dez anos de serviço. O decreto previa descanso semanal, regulamentava o trabalho de menores e mulheres, regulamentava o trabalho noturno e estabelecia uma jornada de oito horas.


Segunda Guerra Mundial

Vargas manteve a neutralidade até 1941, quando um acordo proposto pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Oswaldo Aranha, foi firmado entre as nações continentais americanas para se alinharem a qualquer país americano em caso de ataque de uma potência externa. Após Pearl Harbor, a entrada do Brasil na guerra tornou-se uma questão de tempo. Os EUA financiaram a extração de minério de ferro e a produção de aço do Brasil e instalaram bases militares ao longo das costas norte e nordeste do país, com sede em Natal. Com a conquista do Sudeste Asiático pelas tropas japonesas, Vargas assinou os Acordos de Washington de 1942 ; o acordo forneceu borracha amazônica aos Aliados, resultando em um segundo boom da borracha e na migração forçada de "soldados da borracha " do nordeste atingido pela seca para a Amazônia.

Após o afundamento de mais de 25 navios mercantes brasileiros por submarinos alemães e italianos em 1942, a mobilização popular forçou o governo brasileiro a abandonar a neutralidade e declarar guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista em agosto daquele ano. A decisão do governo de enviar tropas só foi tomada em janeiro de 1943, quando Vargas e o presidente americano Franklin Delano Roosevelt se encontraram em Natal e a Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi criada. Em julho de 1944, o primeiro grupo da FEB foi enviado para lutar na Itália.

Logo após a guerra, temendo a popularidade da BEF e o possível uso político da vitória dos Aliados por alguns de seus membros, o governo brasileiro decidiu se desmobilizar. Os veteranos da BEF foram proibidos de usar condecorações ou uniformes militares em público e foram transferidos para regiões remotas ou guarnições de fronteira.

A participação brasileira na guerra aumentou a pressão em favor da redemocratização. Embora o regime tenha feito algumas concessões (como a fixação de uma data para eleições presidenciais, anistia para presos políticos, liberdade de organização partidária e o compromisso com uma nova convenção constitucional), Vargas não conseguiu manter o apoio e foi deposto pelos militares em um golpe de Estado desferido por seu Ministério da Guerra em 29 de outubro de 1945.

Os militares convocaram José Linhares, vice-presidente de Vargas e presidente do Supremo Tribunal Federal, para assumir a presidência; o cargo de vice-presidente havia sido extinto e nenhuma legislatura havia sido eleita sob a Constituição de 1937, tornando o presidente do Supremo Tribunal Federal o primeiro na linha de sucessão. Linhares imediatamente convocou eleições presidenciais e uma assembleia constituinte. As eleições foram realizadas em dezembro de 1945, e Linhares permaneceu no cargo até a posse da Assembleia e do presidente Eurico Gaspar Dutra em 31 de janeiro de 1946. Isso marcou o fim do Estado Novo e o início da Quarta República Brasileira.


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