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quarta-feira, 21 de maio de 2025

PEABIRU

 


Uma trilha transcontinental conectando a América do Sul muito antes da colonização.

A criação de São Paulo está diretamente ligada ao Peabiru. A pequena população de portugueses que já habitava a região de São Vicente já sabia pelos índios da existência do caminho que ia até “montanhas cobertas de gelo” dominadas por um “Rei Branco” cheio de ouro e prata (era Potosi, e o rei era Inca), segundo os indígenas da nossa região, o caminho teria sido construído por um homem que veio das águas, chamado "Sumé", de longas barbas brancas e que flutuava no ar, ensinando os segredos da agricultura, das ervas e etc. Ao tomar conta disso, o fundador de São Vicente Martim Afonso de Sousa achou pertinente criar ali uma base(São Paulo) para futuras explorações. Os jesuítas vieram na sequência, com planos bem diferentes para aquelas entradas. Os religiosos sonhavam em usar estas trilhas como eixo de expansão da catequese no interior da América do Sul e São Paulo era uma dessas primeiras missões. O intercâmbio ao longo do que os padres chamavam de “Caminho de São Tomé” era tão intenso que em 1553 Tomé de Souza decidiu proibir seu percurso, sob forte protesto dos jesuítas, por medo da influência dos espanhóis que faziam avanços ao longo de sua extensão. O fechamento precoce do caminho é o maior desafio para se estabelecer sua localização, dependendo dos poucos relatos contemporâneos.

Alguns historiadores acreditam que em certos trechos a trilha chegava a ser pavimentada com pedra e documentos de época mencionam um caminho de oito palmos de largura coberto por uma certa erva rasteira mágica que resistia até o fogo e mantinha o contorno do caminho impedindo outras plantas maiores de crescer no lugar. Outros, como Sérgio Buarque de Holanda, sequer pensam que o Peabiru foi uma única via e sim um conjunto de caminhos e instruções de movimentação pelo território sul-americano. Independente de origem e aspecto, o Caminho do Peabiru partia de (ou terminava em) Cusco, passava por Potosí, Assunção do Paraguai e na região do Guayrá (interior do Paraná) se dividia em três ramais que alçavam a costa Brasileira. O primeiro chegava em Santa Catarina, próximo a Florianópolis, o do meio encontrava o mar em Cananéia e o mais ao norte passava por Sorocaba e São Paulo e descia a Serra do Mar até se deparar com o mangue costeiro da atual Cubatão.

Ainda pouco se sabe sobre essas rotas. Segundo a história, os Bandeirantes Paulistas teriam desbravado o interior do de grande parte do país, até então selvagem e desconectado.  Mas a verdade é que, muito antes dos europeus chegarem aqui, já existia uma comunicação transcontinental entre as diversas culturas ameríndias e o principal duto dessa integração era o Peabiru. Através do Peabiru os espanhóis puderam chegar a a capitania de São Paulo na União Ibérica, e através do mesmo caminho os bandeirantes saídos de São Paulo percorriam o Peabiru em direção aos Andes e ao Paraguai, como a bandeira de Nicolau Barreto, que atingiu os Andes e a se Raposo Tavares que atingiu o as missões do Guaíra. Logo depois o trecho entre São Paulo e Paraná se tornou parte do que conhecemos como caminho das tropas, atualmente chamada de Rodovia Régis Bittencourt.




A STELA DA FOME

 



É uma inscrição em hieróglifos num bloco de granito de 2,5 m altura e 3 m de largura localizado na Ilha Sehel, perto de Aswan, Egito.

A estela conta a história de sete anos de seca e fome durante o reinado do Faraó Djoser da Terceira Dinastia 2686 a.C.- 2613 a.C. Pensa-se que a estela foi inscrita durante o Reino Ptolemaico pelo rei Ptolomeu V 205-180 a.C.

A parte superior da estela retrata três divindades egípcias e à frente delas Djoser carrega oferendas nas suas mãos estendidas. O texto descreve como o rei está perturbado e preocupado, pois a terra está sob as garras de uma seca e fome durante sete anos e como os egípcios estão a sofrer como resultado da seca e que estão desesperados e a violar as leis da terra.

Na época da primeira tradução da estela, pensava-se que a história de uma fome de sete anos estava ligada à história bíblica em Gênesis 41.

Investigações mais recentes mostraram que uma fome de sete anos era algo comum a quase todas as culturas do Oriente Próximo: uma lenda Sumeriana também fala de uma Fome de sete anos e na conhecida Epopéia de Gilgamesho o deus Anu dá uma profecia sobre a fome durante sete anos.

Outro conto egípcio fala sobre uma seca duradoura que aparece no chamado "Livro do Templo".

A Fome no Egito de Gênesis 41, são cópias de textos e eventos muito mais antigos do que o mítico evento bíblico.


terça-feira, 20 de maio de 2025

CELIBATO CLERICAL

 


Até o século III o celibato não existia, o Gnosticismo imperava e a igreja Católica como uma organização oficial ainda não existia. O conceito de proibir os Sacerdotes de se casarem, começa no Concílio de Elvira, na Espanha.


Concílio de Elvira 306

O Concílio de Elvira, realizado em 306 na Espanha, foi um dos primeiros a legislar sobre o celibato dos clérigos, especificamente para Bispos, Presbíteros, Padres e Diáconos.

O Concílio produziu um conjunto de 81 Cânones (Regras) que regulam variados aspectos da vida católica como o celibato clerical, o casamento, a idolatria, o batismo, a excomunhão, relacionamento com os judeus, as heresias, etc. Alguns historiadores, porém, creem que alguns dos cânones não são os originais do Concílio mas que foram adicionados mais tarde.

Quanto a proibição dos Sacerdotes se casarem e não terem relações, foi proposto o seguinte:

"Decidiu-se amplamente a seguinte proibição aos Bispos, aos presbíteros e aos diáconos, assim como a todos os clérigos que exercem um ministério: abstenham-se das suas esposas e não gerem filhos; quem o fizer deverá ser afastado do estado clerical"


Agostinho de Hipona 354-430

Santo Agostinho era um defensor do celibato, considerando-o superior ao casamento, especialmente para quem se dedicava à vida religiosa ou à busca da perfeição cristã. Ele acreditava que o celibato permitia uma maior concentração na vida espiritual e no serviço a Deus, livre das distrações e responsabilidades familiares. 


Papa Bento VIII 1012-1024

Foi outro defensor do celibato clerical. 

Durante o seu papado, Bento VIII emitiu várias diretrizes e leis que reforçavam a importância do celibato para os sacerdotes. Ele acreditava que o celibato era necessário para que os sacerdotes pudessem se dedicar plenamente ao serviço de Deus e evitar as distrações da vida familiar.

No entanto, é importante notar que a disciplina do celibato clerical ainda não era universalmente aceita na Igreja Católica durante o papado de Bento VIII. Muitos sacerdotes ainda eram casados e tinham famílias.

A política de Bento VIII em relação ao celibato foi influenciada pela Reforma Cluniacense, um movimento que buscava reformar a Igreja Católica e promover uma vida mais austera e espiritual para os sacerdotes.


Papa Leão IX 1049-1054

Seu pontificado também foi marcado pelo início do Grande Cisma do Oriente, que levou à separação entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Oriental. 

Na questão do Celibato, entre 1049 e 1050 Leão IX favoreceu o celibato para o clero em sua reforma da Igreja Católica. Um de seus primeiros atos públicos foi realizar o conhecido Sínodo da Páscoa de 1049, no qual o celibato do clero (até o posto de subdiácono ) foi novamente exigido.

Leão IX foi um papa reformista que buscou fortalecer a disciplina e a moralidade do clero. Ele acreditava que o celibato era essencial para a pureza e a dedicação dos sacerdotes ao seu ministério.

Durante o seu papado, Leão IX emitiu várias diretrizes e leis que reforçavam a importância do celibato para os sacerdotes. Ele condenou a prática do nicolaísmo, que era o casamento ou a concubinagem de sacerdotes.

Leão IX também convocou sínodos e concílios para discutir a questão do celibato clerical e implementar reformas na Igreja. Ele trabalhou para estabelecer uma disciplina mais rigorosa para o clero e promover uma vida mais austera e espiritual para os sacerdotes.


Papa Gregório VII 1073-1085

Ele acreditava que o celibato era essencial para a pureza e a dedicação dos sacerdotes ao seu ministério e que era necessário para que os sacerdotes pudessem se dedicar plenamente ao serviço de Deus.

Durante o seu papado, Gregório VII emitiu várias diretrizes e leis que reforçavam a importância do celibato para os sacerdotes. Ele argumentou que o casamento e a vida familiar distraíam os sacerdotes de suas obrigações espirituais e que o celibato era necessário para que eles pudessem se dedicar plenamente ao serviço de Deus.

A política de Gregório VII em relação ao celibato foi influenciada pela ideia de que os sacerdotes deveriam ser modelos de pureza e santidade para os fiéis. Ele acreditava que o celibato ajudaria a manter a integridade moral e espiritual do clero.

No entanto, a implementação do celibato clerical não foi fácil e encontrou resistência em muitas partes da Igreja. Muitos sacerdotes já eram casados e não queriam abandonar suas famílias.


Tomás de Aquino 1225-1274

Era outro defensor do celibato sacerdotal, entendendo-o como um meio eficaz para a busca espiritual e a vida dedicada à santidade. Para ele, o celibato permitia uma maior liberdade e foco nas responsabilidades do sacerdócio, como a pregação do Evangelho e a administração dos sacramentos. Ele dizia que o celibato era o caminho menos árduo para a busca espiritual.


Inocêncio II 1130-1143

O Concílio de Latrão, que ocorreu durante o seu papado, reforçou o celibato, estabelecendo que clérigos não poderiam se casar ou manter relações com concubinas. 


Inocêncio III 1198-1216

Presidiu ao Concílio de Latrão IV, onde o celibato foi reafirmado e reforçado. 


João Paulo II 1978-2005

Reforçou a importância do celibato para a vocação sacerdotal, especialmente em sua carta aos sacerdotes da Quarta-feira Santa em 1979. 


Bento XVI 2005-2013

Defendeu o celibato sacerdotal, tal como o seu antecessor João Paulo II. 


Pedofilia

Isso explica o gigantesco e conhecidos abusos que tais sacerdotes comentem contra crianças.


Homossexualismo

Além dos abusos contra menores, tem ainda a questão de muitos padres serem homossexuais enrustidos, cometendo todo tipo de indecência e torpeza debaixo das batinas e sem cueca.


BBCNewsBrasil: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51554441

Veja: https://veja.abril.com.br/religiao/o-tabu-da-homossexualidade-entre-os-padres

CNNBrasil: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/vaticano-aprova-diretrizes-que-permitem-que-homens-gays-se-tornem-padres/

ElPaís: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/09/internacional/1504975631_832470.html

OGlobo: https://oglobo.globo.com/brasil/religiao/padres-gays-falam-sobre-homossexualidade-na-igreja-nao-um-armario-mas-uma-prisao-23461905


Conclusão:

Proibir um homem em idade adulta, no auge de sua potência sexual, dá margem para todo tipo de pecado, blasfêmia, transgressão e violação. Pois cria-se um tabu religioso que o condena a todo vitupério, vergonha e condenação interna, afetando seu modo psicológico e comportamental, fazendo deste, uma panela de pressão ambulante, que explode em todo tipo de perversão e lascívia libertina, causando estrago nas crianças que são infelizmente abusadas, no próprio homossexual sacerdote que se condena e condena os outros.

Essa religião não pode ser de DEUS!


quarta-feira, 14 de maio de 2025

BANDEIRANTE DOMINGOS FERNANDES

 


Domingos Fernandes (1577 - 24 de janeiro de 1652) foi um bandeirante paulista. Em 1610, juntamente com seu genro, Cristóvão Diniz, fundou o povoado de Itu, Fernandes ergueu o local para devoção a Nossa Senhora da Candelária, que mais tarde se tornaria Padroeira do município.

Era filho de Manoel Fernandes e Suzana Dias, que fundaram a vila de Parnahyba,  que se tornaria a atual cidade de Santana de Parnaíba. Com seu irmão, André Fernandes, em 1602, participou da bandeira de Nicolau Barreto a Guairá, no atual Paraná em busca de minerais e escravos indígenas. Essas missões mais tarde rastreariam e destruiriam ativamente os missionários jesuítas na região, para onde os nativos guaranis também haviam fugido para evitar a escravidão.

Entre 1610 e 1636, fundou a aldeia de Utuguaçu, atual cidade de Itu, nos campos de Piratininga com índios da região e vindos do sertão (escravos). Ergueu, ali, uma capela sob a invocação de Nossa Senhora da Candelária de Itu (onde hoje, fica a Igreja do Bom Jesus), elevada a freguesia, em 1653, e que foi a origem da atual cidade de Itu.

Ele ergueu uma capela na aldeia, invocando Nossa Senhora da Candelária de Itu (onde hoje se encontra a Igreja do Bom Jesus). A aldeia foi elevada à categoria de freguesia e posteriormente tornou-se a cidade de Itu. Tendo retornado a Parnahyba em 1628, foi avaliador da cidade.

Com seu genro, o sertanista Cristóvão Diniz foi chefe de uma bandeira ao Guairá em 1631.


BANDEIRANTE MANOEL PRETO

 


Manuel Preto foi um bandeirante paulista, nascido na segunda metade do século XVI e falecido em São Paulo em 1630. Era filho de António Preto, que veio na armada de Diogo Flores de Valdés em 1582, e irmão de Sebastião Preto, tendo casado com Águeda Rodrigues, filha do português Gonçalo Madeira e de Clara Parente. Herdou dos pais uma gleba de terras a noroeste do centro da vila, que daria origem ao atual bairro da Freguesia do Ó.

Dos maiores sertanistas de São Paulo no século XVII, desde 1602 (quando, adolescente, fez parte da bandeira de Nicolau Barreto) caçava índios para escravizar. Diz a «Genealogia Paulistana» que foi «destemido explorador, que penetrou o sertão do Rio Grande (rio Paraná nos mapas castelhanos), os do rio Paraguai e a sua província, chegando até o rio Uruguai em conquista de índios bravios, e chegou a prender tantos que em sua fazenda de cultura fundada em 1580 na capela de Nossa Senhora da Expectação do Ó contava com 999 índios de arco e flechas. Foi ele o fundador dessa capela, entre 1610 e 1615 (hoje freguesia do Ó).

Levando 155 índios escravizados, saiu pelo rio Tamanduateí, entrando pelo rio Tietê, até o começo de suas terras. Em 1606 percorreu o Guairá e ao regressar de Vila Real do Espírito Santo, arrebanhou índios Temiminós pacíficos, que trouxe para São Paulo. Nos anos seguintes continuou nas mesmas paragens.

Em 1610 requereu à autoridade religiosa da colônia a autorização para erguer uma capela em louvor de Nossa Senhora do Ó.

Em 1619 a bandeira da qual era mestre de campo assaltou as reduções jesuíticas de Jesus Maria, Santo Inácio e Loreto. Em 1623, com seu irmão Sebastião Preto, o mestre de campo Manuel Preto conduziria uma bandeira ao chamado Guairá, «sertão dos abueus», participando dela o já velho bandeirante Francisco de Alvarenga (ver 1602) e Pedro Vaz de Barros. Destruiram reduções jesuíticas e trouxeram numerosa escravaria indigena. Já mestre de campo, Manuel Preto em 1626 foi processado como cabeça de entradas ao sertão e violências no mister, impedido de exercer o cargo de vereador para o qual fora eleito.

No segundo semestre de 1628 saiu de São Paulo em sua maior bandeira, como mestre de campo e capitão-mor, com Antônio Raposo Tavares como seu imediato. Aniquilaram as 13 reduções reduções jesuíticas do Guayrá. Historiadores estimam que até 100 mil índios tenham sido capturados na região.(ver: Missões jesuíticas no oeste do Paraná). Segundo o historiador Afonso E. Taunay, e algumas dos campos do Iguaçu, «recolhendo-se com avultado comboio» avaliado pelos autores jesuíticos em muitos milhares de cativos, o que nos parece inaceitável; seria um milheiro, no máximo dois mil estes prisioneiros. Foi depois de inutilmente tentarem os jesuítas providências da Bahia que «resolveram operar a transmigração do que restava de suas grandes reduções guairenhas para muito ao Sul, na mesopotâmia parano-uruguaia. O donatário da capitania, D. Alvaro Pires de Castro e Souza, Conde de Monsanto, considerou tão valiosos seus serviços que lhe deu patente de governador das ilhas de Santana e Santa Catarina.

Os moradores de São Paulo de Piratininga haviam concordado em invadir o Guairá (com o argumento de que a região pertencia a Portugal e o gentio ali existente não podia ser monopolizado pelos espanhóis). A grande expedição da qual o chefe nominal foi Manuel Preto viajou dividida em quatro companhias, das quais foram capitães:

Antônio Raposo Tavares (cuja companhia tinha por alferes Bernardo Sanches de Souza e como sargento Manuel Morato Coelho),

Pedro Vaz de Barros (sempre louvado pela audácia e infatigabilidade);

Brás Leme

e André Fernandes, de Santana de Parnaiba.

Em maio de 1629 o mestre de campo Manuel Preto embarcou por mar para Santa Catarina e ali tomou posse das terras e fundou arraial. Retornou ao mesmo tempo a povoado a bandeira que acabava de arrasar as reduções no Guairá e logo foram organizadas outras expedições, que retornaram à região no mesmo ano e nos seguintes, invadindo o territorio ao Sul do rio Paranapanema e arrasando as demais reduções do Guairá, tendo mesmo que ser evacuadas pelos moradores as vilas espanholas de Vila Rica e de Ciudad Real. Mas Manuel Preto, tranquilamente em Santa Catarina, em 15 de julho de 1629 nomeava Manuel Homem da Costa sargento-mor das ilhas.

A morte de Preto no sertão foi noticiada em São Paulo em 22 de julho de 1630, vítima de uma flecha em uma emboscada. Tinha-se internado nas brenhas no início do ano.

Preto era tido como um homem de ação «nimiamente violenta contra os índios e seus superiores, desconsiderando principalmente os jesuítas Simão Masseta, José Cataldino e Antonio Ruiz de Montoya. Destruiu ainda as reduções no Ivaí, no Tibagi e no Uruguai.



BANDEIRANTE DOMINGOS JORGE VELHO

 


Domingos Jorge Velho (1641-1705) foi um bandeirante brasileiro. Chefiou a tropa que destruiu o Quilombo dos Palmares. Fez parte do grupo de bandeirantes que atendiam às solicitações dos governos das capitanias que se sentiam ameaçadas por índios ou negros. Recebeu a patente de Mestre de Campo.

Domingos Jorge Velho nasceu na Vila de Parnaíba, Capitania de São Paulo, por volta de 1641. Era filho de Francisco Jorge Velho e de Francisca Gonçalves de Camargo.

Foi um dos bandeirantes mais ativos do período de caça ao índio, foi o primeiro desbravador do Piauí, onde chegou através da Bahia, procedente de Taubaté e do Rio das Velhas.

Em 1670, Palmares, o grande reduto dos escravos fugitivos, formado por várias aldeias, chegou ao apogeu, com aproximadamente 50 mil habitantes.

Em 1686, o governador de Pernambuco, João da Cunha Souto Maior, preocupado com a ineficiência dos governos anteriores e com a reduzida força que dispunha, para destruir o reduto dos escravos solicitou ajuda ao bandeirante Domingos Jorge Velho.

O quilombo já se espalhava por uma área de mais de 27.000 km, no território da Capitania de Pernambuco, estendendo-se das proximidades do litoral até a área da atual região agreste, desde o rio Serinhaém ao norte, até o rio São Francisco ao Sul.

Com o objetivo de destruir o quilombo localizado na serra da Barriga, onde hoje está a cidade de União dos Palmares em Alagoas, o bandeirante reuniu seus companheiros, entre eles vários índios, e marchou em direção ao litoral.

Por ordem do governador geral do Brasil, Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, Jorge Velho desviou sua rota, para combater os índios janduís, no vale do Apodi, no Rio Grande do Norte.

A luta foi travada, os índios atacados em vários pontos da região, sendo derrotados definitivamente próximo a Lagoa do Apodi.

Domingos Jorge Velho, continuando sua marcha, chegou em Porto Calvo, Alagoas, em 1692, onde se estabeleceu. Com seus modos truculentos, desagradou a população da região.

Demorou algum tempo para atacar o quilombo. Em 1694, com o apoio da tropa pernambucana de Bernardo Vieira de Melo, após 22 dias de cerco, atacou o quilombo. No dia 7 de fevereiro, destruiu o Mocambo do Macaco, a aldeia principal do quilombo.

Zumbi do Palmares, que resolveu abandonar sua aldeia, foi perseguido e no dia 22 de novembro foi derrotado e morto pelo capitão André Mendonça de Furtado.

Vitorioso, Jorge Velho recebeu grande quantidade de terras. Seus auxiliares foram alojados e foi intensificando o povoamento da região. Pelos serviços prestados, o bandeirante recebeu a patente de "Mestre de Campo".

Domingos Jorge Velho faleceu em Piancó, alto sertão da Capitania da Paraíba, no ano de 1705.



BANDEIRANTE MANORL BORBA GATO

 


Borba Gato (1628-1718) foi um dos mais célebres bandeirantes, participou da importante expedição chefiada por Fernão Dias, em busca das sonhadas esmeraldas. Descobriu o filão de ouro das minas de Sabará.

Manuel Borba Gato nasceu em São Paulo, por volta de 1628. Era filho de João de Borba Gato e Sebastiana Rodrigues. Foi casado com Maria Leite, filha do bandeirante Fernão Dias.

Borba Gato acompanhou a caravana formada por seu sogro, o “Caçador de Esmeraldas” que partiu para o interior do Brasil em 1674, em busca das esmeraldas de Sabarabuçu.

Terminada a expedição, em 1681, que havia descoberto as pedras verdes, a caravana voltava para a vila quando Fernão Dias morreu nas proximidades do rio das Velhas.

Com a morte de Fernão Dias, o comando da bandeira passou para Garcia Rodrigues Pais, filho mais velho do bandeirante, que prosseguiu o caminho de volta à vila de São Vicente.

Antes de chegarem ao destino, encontraram Rodrigo de Castelo Branco, castelhano a serviço de Portugal no Brasil desde 1674.

Conforme lhe pedira seu pai, Garcia entrega as pedras a Castelo Branco, que toma posse da jazida. A medida provocou protestos de Borba Gato.

Em 1682, Castelo Branco foi encontrado morto no fundo de um despenhadeiro. Borba Gato foi acusado pela morte do ourives real

Temendo ser preso, Borga Gato foi obrigado a se refugiar no sertão, onde passou dezessete anos.

Durante o período em que estava escondido, Borba Gato vasculhou a região das atuais cidades de Sabará e Caeté, nas proximidades do rio das Velhas em Minas Gerais, onde acabou encontrando um filão de ouro nas minas de Sabará.

Encontrado por Garcia Pais e João Leite, Borba Gato foi informado sobre o baixo valor das esmeraldas encontradas na expedição de Fernão Dias, que na verdade eram turmalinas.

O Governador do Rio de Janeiro, Artur de Sá, quando soube da descoberta do ouro de Sabará, negociou com Borba Gato sua liberdade em troca da informação onde estavam as grandes pepitas.

Novas descobertas foram surgindo e a região viveu o apogeu do ciclo do ouro. À medida que aumentava a remessa de ouro para a metrópole, crescia também o número de forasteiros.

Sentindo-se ameaçados, os paulistas procuraram garantir para si a posse das minas, descontando o quinto (20%) reservado para a coroa. Como Portugal dependia deles, aceitou suas reivindicações.

Essa política separou os mineradores em dois grupos: de um lado os paulistas, chefiados por Borba Gato, de outro, os emboabas, articulados em torno do português Manuel Nunes Viana.

Vários incidentes vieram acirrar a concorrência entre os grupos, entre eles duas mortes. Borba Gato resolve abandonar seu posto e retira-se para sua fazenda em Paraopeba.

Após uma série de conflitos e mortes, os chefes emboabas foram intimados a retirar-se, ordem que tiveram que cumprir, pois os comandados lhes retiraram o apoio.

Só então, Borba Gato retornou a seu posto de superintendente das minas do distrito do rio das Velhas, até que em 1710 foi criada as capitanias de São Paulo e a de Minas de Ouro.

As duas regiões estava em igualdade de condições, sob o controle direto da coroa.

Manuel Borba Gato faleceu em Sabará, Minas Gerais, no ano de 1718.





BANDEIRANTE FERNÃO DIAS PAES LEME

 


Fernão Dias (1608-1681) foi um célebre bandeirante paulista. Ficou conhecido como "O Caçador de Esmeraldas". Os bandeirantes tinham o objetivo de procurar riquezas minerais e encontrar mão de obra indígena.

No século XVI foram organizadas as primeiras expedições, que exploravam principalmente o litoral. No começo do século XVII, as bandeiras se embrenhavam pela mata em busca de mão de obra indígena, para trabalhar na plantação de cana de açúcar.

Fernão Dias Pais nasceu na vila de São Paulo de Piratininga, em 1608. Filho e neto dos primeiros povoadores da capitania de São Vicente.

O povoado de São Paulo do começo do século XVII não passava de uma vila isolada do litoral e do progresso, pela Serra do Mar. Não era como o Nordeste açucareiro enriquecido pela exportação agrícola.

São Paulo produzia para seu próprio consumo e se destacava pelo comércio de mão de obra indígena com o Nordeste para o trabalho na indústria açucareira.

Em busca de índios, os paulistas se embreavam pela mata em expedições conhecidas como bandeiras. Porém, quando os holandeses invadiram e ocuparam o Nordeste, em 1642, monopolizaram o comércio de escravos africanos.

Em 1654, com a expulsão dos holandeses o açúcar brasileiro entrou em decadência, barrado pela concorrência dos holandeses que iniciaram o plantio da cana-de-açúcar nas Antilhas.

Em 1660 Fernão Dias casa-se com Maria Garcia Betim, descendente do índio Tibiriçá pelo lado materno e de um irmão de Pedro Alvares Cabral pelo lado paterno.

Fernão dias era considerado o mais rico dos paulistas, dono de muitos escravos e proprietário de vastas fazendas.

Em 1661, ao voltar de uma expedição, Fernão Dias não soube o que fazer com tanto índio, pois Pernambuco e Bahia não tiveram interesse. Os escravos africanos lhes bastavam.

O governo português preocupado com a crise do açúcar passou a financiar as bandeiras e a conceder títulos e privilégios aos bandeirantes como forma de estimulá-los na procura das grandes minas.

Fernão Dias foi um dos representantes mais importantes desse período. Empreendeu em 1674, uma formidável caravana, da qual fazia parte seus filhos Garcia Rodrigues Pais e José Dias Pais e seu genro Manuel Borba Gato e muitos índios.

Atraídos pela lenda das esmeraldas de Sabarabuçu, que segundo Marcos Azevedo voltara do interior afirmando ter encontrado as preciosas pedras no início do século, mas recusou-se a indicar o local da mina.

Durante sete anos, de 1674 a 1681, Fernão Dias explorou uma extensa área do interior de Minas Gerais. Diversos integrantes da bandeira desistiram da jornada e retornaram para São Paulo.

O exato roteiro da bandeira de Fernão Dias permanece misterioso, mas é certo que depois do primeiro trecho ele seguiu rumo ao nordeste, até atingir a bacia do rio Jequitinhonha, no norte do atual estado de Minas Gerais.

Foi lá que finalmente as lindas pedras verdes que julgava serem as esmeraldas de Sabarabuçu. No local, Fernão Dias fundou mais um arraial que denominou Sumidouro, e ali permaneceu durante quatro anos.

Em 1681, Fernão Dias tomou o caminho de volta para São Paulo, mas morreu nas proximidades do rio das Velhas, sem saber que as pedras eram apenas turmalinas.

A bandeira de Fernão Dias abriu o caminho para a segunda e grande etapa dos bandeirantes e da conquista do ouro e do diamante.

Fernão Dias Pais morreu próximo ao rio das Velhas, Minas Gerais, no ano de 1681. Garcia Rodrigues Paes, seu filho mais velho, levou os restos mortais  para São Paulo, onde foram enterrados na Igreja de São Bento.



BANDEIRANTE ANTÔNIO RAPOSO TAVARES

 


Raposo Tavares (1598-1658) foi um bandeirante paulista, pioneiro da colonização do interior do Brasil. Foi juiz ordinário da Vila de São Paulo e Ouvidor de toda a capitania de São Vicente. Recebeu do rei D. João IV, o título de Mestre de Campo.

Raposo Tavares nasceu em São Miguel de Pinheiro, no distrito de Beja, Portugal. Filho de Fernão Vieira Tavares e Francisca Pinheiro da Costa Bravo.

Em 1618 Embarca para o Brasil em companhia de seu pai que iria representar D. Álvaro Pires de Castro, donatário da capitania de Itamaracá, São Vicente e Santo Amaro. Seu pai assumiu a Capitania de São Vicente, da qual fazia parte a Vila de São Paulo.

Em 1622 casa-se com Beatriz Furtado de Mendonça, filha do bandeirante Manuel Pires e juntos tiveram dois filhos. Ficou viúvo e só depois de dez anos casa-se com Lucrécia Leme Borges de Cerqueira, também solteira e mãe de oito filhos. Lucrécia era filha do bandeirante Fernão Dias Pais. Juntos tiveram uma filha.

Nessa época, capturar índios e vendê-los rendia um bom dinheiro. A partir de 1624 o comércio se intensificou, quando a Holanda invadiu a Bahia e dificultou a vinda de escravos africanos.Teve início as "Bandeiras" para capturar os indígenas.

Em 1629, Raposo Tavares seguiu para o sul, em direção a Guairá, uma região com várias aldeias catequizadas pelos jesuítas espanhóis. Pouco a pouco as aldeias e as missões vão sendo destruídas e os índios aprisionados.

Em maio de 1629, depois de dez meses, Raposo Tavares regressa a São Paulo. Em 1632 é nomeado juiz ordinário da Vila de São Paulo.

Bandeira contra os jesuítas do Tape

Raposo Tavares parte em uma nova bandeira, em 1636, contra os jesuítas de Tape. Ocupa as aldeias e em 1638 retorna para São Paulo. O capitão-mor de São Vicente o presenteia com uma carta de sesmarias, que o torna dono de uma grande extensão de terra.

A linha de Tordesilhas havia sido anulada, as regiões do oeste do Paraná, do sul de Mato Grosso e boa parte do Rio Grande do Sul, estavam incorporadas ao Brasil.

Em 1639, em lutas com os holandeses, Raposo Tavares e seus companheiros, são batidos nos combates marítimos e obrigados a uma retirada, partindo do Cabo de São Roque, no Rio Grande do Norte até a Bahia, no meio do território inimigo.

Em 1640 termina a dominação espanhola. Dom João IV sob ao trono e, em 1642 Raposo Tavares recebe o título de Mestre-de-Campo.

Em fins de 1648, no comando da “Bandeira dos Limites”, parte de São Paulo, vai em direção ao interior, em busca de minas de prata. Segue o curso dos rios Guaporé, Madeira e Amazonas, até chegar em 1651 em Gurupá, atual estado do Pará. 

Com apenas 58 homens e sem a prata sonhada. Retornou a São Paulo três anos depois, tendo percorrido mais de 12 mil quilômetros, velho, abatido, doente e sem a prata que tanto sonhou..

A bandeira realizou a primeira viagem de reconhecimento geográfico da América do Sul e assegurou a posse das terras dos atuais Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Antônio Raposo Tavares morreu no Estado de São Paulo, no ano de 1658.


terça-feira, 13 de maio de 2025

BANDEIRANTE BARTOLOMEU BUENO DA SILVA - FILHO

 


Bartolomeu Bueno da Silva (filho), o segundo Anhanguera, nasceu em Parnaíba, São Paulo, em 1672 e faleceu em 19 de setembro de 1740 na vila de Goiás, em Goiás.

Em 1701, atraído pelos descobrimentos de ouro na região de Minas Gerais, o segundo Anhanguera estabeleceu-se em Sabará e, mais tarde, em São João do Pará e em Pitangui, onde foi nomeado assistente do distrito. Os conflitos entre emboabas e mineradores de São Paulo e os levantes ocorridos em Pitangui, encabeçados por seu genro Domingos Rodrigues do Prado, levaram-no a voltar para a capitania de São Paulo e a se fixar em Parnaíba.

Em 1720 dirigiu uma representação a Dom João 5º, pedindo licença para voltar às terras de Goiás, onde seu pai encontrara amostras de ouro. Em troca, solicitava do soberano o direito de cobrar taxas sobre as passagens de rios.

Em 1722, sob seu comando, a bandeira seguiu para Goiás, juntamente com numerosa parentela do sertanista, que, durante quase três anos explorou os sertões goianos em busca da lendária serra dos Martírios.

Em 1725 conseguiu encontrar ouro no rio Vermelho, próximo à antiga capital de Goiás. Voltou à região no ano seguinte, quando, na qualidade de capitão-mor regente das minas, fundou o arraial de Santana, elevado em 1739 à categoria de vila como Vila Boa de Goiás, atualmente cidade de Goiás, conhecida como Goiás Velho. Além do referido cargo, Dom João 5º concedeu-lhe sesmarias e a cobrança de direitos sobre a passagem de rios que conduziam às minas goianas.

No entanto, a pretexto de que o Anhanguera havia sonegado as rendas reais, o direito de passagem lhe foi retirado em 1733. Na medida em que se organizava a administração estatal de Goiás, a autoridade do sertanista ia sendo limitada pelos delegados régios. Ao falecer, em 1740, Bartolomeu Bueno da Silva estava pobre e reduzido a um exercício de mando quase decorativo.

Na antiga capital de Goiás ainda existe a cruz do Anhanguera, por ele levantada em 1722, e que perpetua a memória do início da colonização do território goiano.


Fontes:

- Francisco de Assis Carvalho Franco, "Dicionários de bandeirantes e sertanistas do Brasil - séculos 16, 17 e 18".

- Enciclopédia Mirador Internacional.


BANDEIRANTE BARTOLOMEU BUENO DA SILVA - PAI

 


Bartolomeu Bueno da Silva (o Pai), o Anhanguera nascido circa 1634? (nascido e morto em datas incertas), também conhecido como Anhanguera, foi um bandeirante paulista, nascido em Santana de Parnaíba, no século XVII. Anhanguera fez parte das primeiras bandeiras que, movidas pelas dificuldades econômicas de São Paulo, partiam para desbravar o sertão.  Faz parte daqueles primeiros bandeirantes que, movidos pelas dificuldades econômicas, pelo tino sertanista e pelo espírito de aventura, partiram de São Paulo - aproveitando-se, inclusive, da localização geográfica da vila, que se assentava num centro de circulação fluvial e terrestre - para desbravar o interior do Brasil.

Desde os primeiros tempos da colonização foram constantes as arremetidas rumo ao sertão. Primeiro, numa espécie de bandeirismo defensivo, que visava garantir a expansão e a posse da terra, e que prepararia a expansão paulista do século 17, o grande século das bandeiras, aquele em que se iniciaria o bandeirismo ofensivo propriamente dito, cujo propósito era, em grande parte, o lucro imediato proporcionado pela caça ao índio. Da vila de São Paulo, especialmente, partiam as bandeiras de apresamento chefiadas por Antônio Raposo Tavares, Manuel Preto, André Fernandes, entre outros.

O apogeu do apresamento ocorreu entre 1628 e 1641, quando os paulistas resolveram arremeter contra as reduções jesuíticas espanholas, em volta das quais se agregavam centenas de indígenas sob proteção missionária.

As investidas sucederam-se desde que Manuel Pinto e Antônio Raposo Tavares iniciaram os ataques à região do Guairá (1628), destruindo as reduções, capturando os índios e expulsando os jesuítas para a margem ocidental do rio Paraná. Depois vieram muitos outros, incluindo Bartolomeu Bueno da Silva (pai).

Gradativamente, esses sertanistas passariam do bandeirismo de apresamento para o bandeirismo minerador, em busca de minas de ouro. É nessa época que se encontra a principal bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva. Em 1682, sua expedição partiu de São Paulo e atravessou o território do atual Estado de Goiás, seguindo até o rio Araguaia. Ao retornar desse rio, à procura do curso do rio Vermelho, encontrou uma aldeia indígena do povo Goiá. Diz a lenda que as índias estavam ricamente adornadas com chapas de ouro e, como se recusassem a indicar a procedência do metal, Bartolomeu Bueno da Silva pôs fogo a uma tigela contendo aguardente, afirmando que, se não informassem o local de onde retiravam o ouro, lançaria fogo em todos os rios e fontes. Admirados, os índios informaram o local e o apelidaram de Anhanguera (em tupi, añã'gwea), diabo velho.

Essa bandeira deu origem à lenda das minas da serra dos Martírios, buscada por vários sertanistas, e que, segundo fontes da época, "tinha por obra da natureza uma semelhança da coroa, lança e cravos da paixão de Jesus Cristo" esculpidos em ouro e cristais.

Ainda segundo a lenda, seu filho, Bartolomeu Bueno do Silva, à época ainda um menino, o acompanhava nessa bandeira.


Origem do nome - Lenda

Segundo uma lenda, em suas expedições, Bartolomeu Bueno descobriu que os indígenas escondiam uma grande quantidade de ouro, e para levar o metal consigo, utilizou de um truque: pegou uma pequena vasilha, encheu-a de cachaça, colocou fogo e ameaçou incendiar o rio, fezendo com que os nativos ficassem com medo, revelando-lhe o local onde havia ouro. Assim recebendo por eles, o título de Anhanguera, que significa "diabo velho" na língua tupi.[carece de fontes]

Algumas versões, no entanto, sugerem que o termo "Anhanguera" seja proveniente da aldeia dos Inhanguera, povo do Tocantins que teria sido escravizado por Bartolomeu Bueno.


Família

Bartolomeu Bueno da Silva era filho do bandeirante Francisco Bueno e de Filipa Vaz, ambos naturais da Capitania de São Vicente. Pelo lado paterno, era neto do judeu sevilhano Bartholomeu Bueno e da cabocla Maria Pires, pentaneta do cacique Piquerobi.


BANDEIRANTE AMADROR BUENO DA VEIGA

 


Amador Bueno da Veiga (1650-1719) foi um bandeirante e comandante paulista na Guerra dos Emboabas. Era bisneto de Amador Bueno da Ribeira (1584-1649), conhecido como “Aclamado” por ter protagonizado o malogrado projeto de coroação como rei paulista pela população pró castelhana, em 1641, curioso episódio pertencente ao contexto da Restauração portuguesa.

Era descendente de importantes bandeirantes, tais como Anhanguera (pai) e Bartolomeu Bueno, o Moço. É bisavô da ativista política e poetisa Bárbara Heliodora (1759-1819), uma importante personagem da Inconfidência Mineira.

Em 1704, Amador Bueno da Veiga propôs a abertura de um novo caminho de São Paulo às Minas, alegando que a rota era “incapaz de cavalgaduras e gados obrigando a uma viagem de três meses por matas estéreis de mantimentos silvestres." Pedia prazo de um ano e oferecia um caminho mais rápido e que permitisse a condução de gente, gado e carregamentos.

Esta foi a segunda tentativa fracassada de refazer o Caminho Novo (assim eram chamadas as estradas reais que davam acesso à região das Minas Gerais), já que o governador fluminense proibiu qualquer obra. A terceira proposta viria em 1705, por Félix de Gusmão, e também foi recusada.

Em 1709, no ano final dos conflitos entre paulistas e emboabas, realizou-se grande assembleia popular na qual os paulistas elegeram Amador Bueno da Veiga como “cabo-maior e defensor da pátria”. Pelo nascimento e fortuna, Amador era um dos mais notáveis cidadãos paulistanos. Como comandante chefe do exército paulista, marchou para o rio das Mortes, em Minas, para vingar a morte dos concidadãos pelos portugueses no episódio mais conhecido da Guerra dos Emboabas (1707-1709), no “Capão da Traição”.

Tal episódio ocorreu quando um grupo paulista escondido foi cercado pelas tropas emboabas e se rendeu sob a promessa de garantia de vida. Com as armas já entregues, Bento do Amaral Coutinho, comandante do exército emboaba, mandou assassinar o grupo, cerca de 300 paulistas. Os paulistas ainda tentaram um último grande ataque sob o comando de Amador, mas logo foram derrotados. Com a perda de um significativo território na região das Minas Gerais, vários paulistas começaram a procurar ouro em outros territórios e, logo, chegaram às descobertas auríferas do Centro-Oeste.

Ainda no ano de 1709, Amador recebeu a mercê de juiz de órfãos de São Paulo, pelo Marquês de Cascás, donatário da capitania de São Vicente. Chegou a tomar posse, mas não exerceu o seu ofício por desistência. Em 14 de novembro de 1709, aceitou o referido cargo de comandante do exército paulista e como recompensa obteve vastas terras, no território que é hoje Taubaté, em São Paulo.

Conforme as declarações de Antônio Luís Peleja (primeiro ouvidor de São Paulo), Amador conseguiu que lhe fossem atribuídos importantes cursos de rio com abundância de ouro, em Bento Rodrigues, Ouro Preto. Possuía, ainda, muitas roças de cultivo de trigo e uma significativa quantidade de índios e negros escravizados que lhe rendiam lucros e incontáveis arrobas de ouro: “até mantivera em casa, durante vários meses, um ourives para fundir e cunhar o ouro referido, ou para transformá-lo em joias e objetos preciosos. Segundo o jesuíta Antonil (1649-1716), Amador Bueno conseguiu, pelo menos, oito arrobas de ouro (aproximadamente 118kg) nas margens dos rios Ouro Preto e Ribeirão.

Após a Guerra dos Emboabas, Amador dedicou-se ao desbravamento dos sertões dos rios Mogi-Guassu e Pardo, em cujas margens faleceu em novembro de 1719, aos 59 anos.

No bairro da Penha, em São Paulo, leva seu nome a Avenida Amador Bueno da Veiga.


Referências:

MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra. Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.

TAUNAY, A. História geral das bandeiras paulistas. São Paulo, H. L. Canton, 1924-50.

VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil colonial (1500-1800). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

CARVALHO, Franco. Bandeiras e bandeirantes de São Paulo. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1940


segunda-feira, 12 de maio de 2025

COLORISMO À BRASILEIRA

 


No Brasil temos um grave problema chamado Colorismo.

O colorismo é um sistema de classificação social que determina como as pessoas devem ser lidas socialmente de acordo com o tom da pele e outras características. Ele pode acontecer nas relações entre pessoas de todas as cores, dependendo muito da história local. Essa forma de discriminação é baseada na tonalidade da pele e em outros traços físicos. Ela afeta a vida dos indivíduos porque ajuda a perpetuar desigualdades, prejudica a autoestima e impede o acesso a oportunidades.

No Brasil, o colorismo é amplamente discutido nas redes sociais e nas discussões políticas acerca do lugar de pessoas negras de pele clara, ou “pardas”, na população brasileira. Apesar de serem parecidos, o racismo e o colorismo apresentam diferenças importantes de ser explicadas. Todavia, assim como o racismo, o colorismo afeta negativamente a autoestima, o acesso a oportunidades e a saúde mental das pessoas negras.

O negro brasileiro é a única raça que tem 6 nomenclaturas para se referir a sua cor de pele, isso é feito para justamente confundir o já confuso grupo dos pretos brasileiros e serve também para segregar o já desunido povo brasileiro descendente de africanos.

Não existe tantas diferenciações assim com outros grupos humanos.

O ganês, Nabby Clifford, considerado embaixador do reggae no Brasil, país onde reside desde 1983 fez um vídeo sobre o que ele havia percebido a respeito do uso das palavras negro e preto no vocabulário dos brasileiros. O vídeo, na época, alcançou 6 milhões de visualizações, e mais de 200 mil compartilhamentos. Nele, o cantor constatou que:


“Um país, o Brasil, usa palavras como lista negra, dia negro, magia negra, câmbio negro, vala negra, mercado negro, peste negra, buraco negro, ovelha negra, a fome negra, humor negro, seu passado negro, futuro negro (…). Pega o dicionário de língua portuguesa, está escrito: negro quer dizer infeliz, maldito. Brasileiro quando valoriza alguma coisa não fala negro, ele fala preto.”


Então, de acordo com a interpretação apresentada por Clifford, os brasileiros, quando querem emitir juízos negativos normalmente associam ao uso do termo negro, como nos exemplos citados acima, e quando o juízo é positivo convencionou-se o uso do termo preto, para ele, o brasileiro:


“Ele não come feijão negro, come feijão preto, o carro dele não é carro negro, o carro dele é carro preto, ele não toma café negro, toma café preto, a fome é negra, quando ganha na loteria, ganha uma nota preta. Se branco não é negativo, preto também não é negativo.”


Tal observação, inevitavelmente, esbarra na discussão a respeito do colorismo, que compreende “a maneira pela qual compreendemos a condição negra, inferiorizada e subjugada ao branco; mas também tem como solução a compreensão dessa mesma condição negra, desde que liberta de sua grade racista.”


Mameluco

Do Árabe; escravo, servo, criado, pajem, empregado.

Aqui no Brasil a palavra era esada  para descrever os filhos de portugueses e indígenas, que eram vistos como uma espécie de "mistura" ou "combinação" de diferentes grupos étnicos. E também era usada pela ideia de que esses indivíduos eram vistos como "servos" ou "dependentes" dos colonizadores portugueses.


Moreno

A palavra "moreno" vem do latim "Maurinus", que significa "de cor escura" ou "marrom". No entanto, no contexto da língua portuguesa, "moreno" é usado para descrever uma pessoa com pele escura ou morena, especialmente em relação à cor da pele.

A  palavra "moreno" tem origem relacionada à Mauritânia. A palavra "mouro" (que é a raiz de "moreno") era usada pelos europeus para se referir aos povos do Norte da África, incluindo a Mauritânia, e tinha a conotação de "pele escura" ou "africano". 


Esse nome, originou o nome Maurício

O nome próprio "Maurício" tem origem latina, derivado de "Mauritania" ou "Maurus", que significam "mouro" ou "da Mauritânia". A Mauritânia era uma região do Norte de África, que se referia a pessoas de pele escura ou berberes. Assim, "Maurício" era originalmente um nome que indicava a origem ou a aparência física de alguém. 

No Brasil, o termo "moreno" é comumente usado para descrever pessoas com pele morena ou escura, e pode ser usado de forma positiva ou neutra. No entanto, é importante notar que a classificação racial e étnica no Brasil é complexa e envolve muitos fatores, incluindo a cor da pele, a ascendência, a cultura e a identidade.


Mulato

A palavra "mulato" vem do árabe "Muwallad", que significa "pessoa de ascendência mista" ou "mestiço". No entanto, no contexto da língua portuguesa, "mulato" se refere a uma pessoa de ascendência mista, especialmente de africanos e europeus.


Preto

A palavra "preto" vem do latim "precttus" derivado de pressus, que significa "apertado, denso, comprimido, negro, escuro" e "niger", que significa "negro" ou "de cor escura".


Negro

A palavra "negro" tem origem etimológica no latim "niger", que significava "preto" ou "escuro".


Pardo

A palavra "pardo" é sinônimo de "escuro"  é uma mistura de marrom e cinza, sendo assim, uma pessoa de pele escura.

O IBGE sabiamente usa de malandragem social para não declarar o fato de que a maioria das pessoas que nascem no Brasil é negra, preta, escura, usando o termo Pardo para dizer que a maioria da população não é preta, temos uma gambiarra social, que malandramente é distorcido e apoiado pela grande mídia.






sábado, 10 de maio de 2025

OS PAÍSES NÓRDICOS SÃO COMUNISTAS?

 


Os países nórdicos: Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia, são frequentemente citados em discussões sobre socialismo, mas essa representação é uma interpretação significativamente equivocada de seus sistemas econômicos e sociais atuais. Esta extensa análise visa dissecar o modelo nórdico em profundidade, revelando sua essência capitalista, o uso sofisticado da receita tributária e as razões sutis por trás de sua rotulagem errônea comum como socialismo.

Repetidamente, os líderes das nações nórdicas declararam seu compromisso com o capitalismo e uma economia de livre mercado, distanciando-se do socialismo. Apesar dessas declarações claras, continua havendo uma tendência recorrente de indivíduos rotularem incorretamente esses países como exemplos de modelos socialistas. Essa rotulação errônea persistente ignora as posições econômicas explícitas que esses países adotaram, levando a uma compreensão distorcida de seus sistemas econômicos reais.

O melhor que você pode fazer é chamá-la de social-democracia baseada no capitalismo.


Mas o que é Social-Democracia?

A social-democracia é uma ideologia política que busca combinar os princípios da democracia com os objetivos da justiça social e da igualdade econômica.

A social-democracia defende a ideia de que a economia deve ser regulada pelo Estado para garantir a justiça social e a igualdade de oportunidades para todos. Isso pode incluir políticas como:

- Regulação da economia para proteger os trabalhadores e o meio ambiente

- Investimento em serviços públicos, como educação e saúde

- Redistribuição de renda e riqueza através de impostos e benefícios sociais

- Proteção dos direitos dos trabalhadores e promoção da negociação coletiva


A social-democracia também defende a democracia participativa e a inclusão de todos os cidadãos no processo político. Isso pode incluir políticas como:

- Fortalecimento da democracia representativa e participativa

- Proteção dos direitos humanos e das liberdades civis

- Promoção da igualdade de gênero, raça e orientação sexual


Diferenças com o Socialismo

A social-democracia é diferente do socialismo em alguns aspectos importantes. Enquanto o socialismo busca abolir a propriedade privada e estabelecer uma economia planificada, a social-democracia busca regular a economia e promover a justiça social dentro do sistema capitalista.

A social-democracia também é diferente do liberalismo, pois enfatiza a importância da intervenção estatal na economia e da proteção dos direitos sociais.

Não são só os Países Nórdicos como Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlânida que são Soiais-Democratas, a Alemanha, Canadá e Austrália também são, e não me admira de todos estes países serem lugares bons para se viver.

A questão é que social democracia é, em sua origem, uma variação do socialismo, surgida dentro do movimento operário ainda no século XIX. Hoje em dia, após mais de um século de evolução, essa corrente diverge do socialismo marxista, que busca substituir o sistema econômico capitalista (no qual os meios de produção estão nas mãos de indivíduos) pelo sistema econômico socialista (no qual os meios de produção são coletivizados).

A social democracia aceita o capitalismo, mas busca mitigar os efeitos desse sistema considerados adversos, por meio da política. Para isso, utiliza-se de intervenções econômicas e sociais e promove reformas parciais do sistema ao invés de substitui-lo por inteiro. Esse é um pensamento político atrelado à centro-esquerda e seus principais valores são a igualdade e a liberdade.

No campo político, a social democracia defende as liberdades civis, os direitos de propriedade e a democracia representativa, na qual os cidadãos escolhem os rumos do governo por meio de eleições regulares com partidos políticos que competem entre si.

No campo econômico, a social democracia encontrou nas teorias do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946) a combinação perfeita para aliar os interesses sociais à mitigação de aspectos considerados problemáticos do capitalismo, como crises periódicas e elevado desemprego. Dessa combinação surgiu o Estado de Bem-Estar Social.


CHEIKH ANTA DIOP - PROVA QUE O EGITO É NEGRO

 




Cheikh Anta Diop 1923-1986 foi um polímata senegalês formado em Física, Filosofia, Química, Linguística, Economia, Sociologia, História, Egiptologia, Antropologia, versado em diversas disciplinas como o racionalismo, a dialética, técnicas científicas modernas, arqueologia pré-histórica… Enfim, um homem que estudou as origens da raça humana, e a cultura africana pré-colonial. Ainda hoje ele é considerado como um dos maiores historiadores africanos do século XX. E foram estes conhecimentos que Diop utilizou para dar base à tese que iria defender mais tarde, que fala do Egito antigo, como uma civilização composta por pessoas negras.

Nascido no Senegal, Diop era proveniente de uma família aristocrática (rica) muçulmana Wolof (sendo educado em uma escola islâmica tradicional). Tais dados seriam úteis ao desenvolvimento de sua tese, e o jovem rapaz obteve o grau de bacharel, no Senegal, mudando-se depois para Paris, com intuito de realizar pós-graduação.

Na França o jovem senegalês irá defender uma tese revolucionária, que será rejeitada, pela universidade de Paris, mas, isso não vai deter Diop. Antes de prosseguir, frisa-se que Diop foi o primeiro egiptólogo africano. Certa vez ele afirmou ser “o único Preto Africano de sua geração, a ter recebido formação como um egiptólogo”, e “mais importante”, ele “aplicou esse conhecimento enciclopédico em suas pesquisas sobre a história Africana”.

Em 1954, Anta Diop defende uma tese de que o antigo Egito tinha sido povoado por pessoas negras. A publicação de suas ideias no livro – Unidas nègres et culture – fez dele um dos historiadores mais controversos do seu tempo.

Diop também era político, e a sociedade africana de sua época mostrava um ambiente de veemente busca pela restauração da identidade africana, que se alegava havia sido deformada pela escravidão e colonialismo. Inspirado por grandes nomes como Aimé Césaire, Diop engajou-se nesta luta, mas, sendo ele mesmo um literato, buscou reconstruir a identidade africana, do ponto de vista estritamente científico e sócio- histórico.

Cheik Anta Diop acreditava que a luta pelo renascimento cultural e político da África não teria sucesso sem que se reconhecesse o papel civilizador do continente, que data da antiga civilização egípcia.

Em 1947, Anta Diop iniciou suas investigações linguísticas, sobre o idioma wolof, que passaria a dominar de forma extensa. Em 1960, de volta ao Senegal, ele dirigiu o laboratório de radiocarbono do IFAN (Institut de l’Afriquefondamental Noire). Sem esquecer a imensa gratidão que entretinha por um antigo professor, Frédéric Joliot, que o acolheu em seu laboratório, no College de France. Neste quesito, ele iria desenvolver testes genético, vitais para comprovação de sua tese. O senegalês disse certa vez: “Na prática, é possível determinar diretamente, a cor da pele e, portanto, as filiações étnicas dos antigos egípcios, por análise microscópica, no laboratório”.

Depois disso, Diop publicou sua técnica e metodologia, um teste de dosagem de melanina, em diversas revistas acadêmicas. Ele usou esta mesma técnica, para determinar o teor de melanina das múmias egípcias.

Em 1974, Diop foi um dos cerca de 20 participantes, que estiveram na UNESCO, em um simpósio na cidade do Cairo, onde foi apresentada a sua teoria, para diversos especialistas em egiptologia. O simpósio conseguiu gerar um debate animado sobre o tema, ainda que, sem conseguir gerar consenso, sobre a validade de tais técnicas, em múmias sujeitas aos efeitos de embalsamamento e deterioração ao longo do tempo. Apesar do apoio de alguns especialistas, estas afirmações contundentes de Diop, acerca da população original do Delta do Nilo ser negra, e que tal condição permaneceu até o fim da independência do Egito, foram duramente criticadas por alguns participantes do simpósio. Em todo caso, o trabalho de Diop despertou questões importantes sobre o viés cultural inerente à pesquisa científica.

Diop mostrou de forma indelével e maciça, que os arqueólogos europeus, antes e depois da descolonização, tinham subestimado e continuam a subestimar a possibilidade de civilizações negras da antiguidade terem alcançado tremendo desenvolvimento, séculos antes que os europeus.

Descobertas do arqueólogo suíço Charles Bonnet lançaram luz sobre as teorias de Diop. Elas mostram estreitos laços culturais entre Núbia e o Egito Antigo. E ainda que, isso não implique, necessariamente, numa relação genética, entre estas nações, egiptólogos como F. Yurco notaram que os núbios eram etnicamente mais próximos dos egípcios, e compartilhavam a mesma cultura, no período pré-dinástico, além de usarem a mesma estrutura política. Estes dados são importantes para suas conclusões.

Pode-se dizer que, Cheik anta Diop sabia utilizar muito bem a arte da argumentação. Ele citou autores antigos. Para ilustrar sua teoria de que os antigos egípcios tinham o mesmos traços físicos dos modernos africanos negros (cor da pele, tipo de cabelo), citou, por exemplo, o historiador grego Heródoto. Este (o historiador grego) disse que os Colchians (Cólquida – atual Geórgia ) eram “pretos, com cabelos encaracolados”. Ele usou também sua interpretação de dados antropológicos (tais como o papel do matriarcado), que, somado a dados arqueológicos resultou na inevitável conclusão de que a cultura egípcia era uma cultura africana. Na linguística, ele mostrou, em particular, que o Wolof (falado na África Ocidental, Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Mali, República Dominicana, Mauritânia) está relacionada com o antigo idioma egípcio.

Mais tarde, as visões de Diop receberam apoio, e só eram tidas como controversas, possivelmente, por conta do então domínio do racismo científico (que é o uso de técnicas e hipóteses científicas e pseudo-científicas, para apoiar ou justificar a crença na inferioridade/superioridade racial).

Diop castigava estudiosos europeus que postulavam uma evolução separada de diversos tipos de etnias, e que negavam a origem africana do homo sapiens. Hoje sabemos que toda a humanidade é proveniente da África.

Estudiosos como Bruce Trigger condenaram os acadêmicos tendenciosos, ao declarar que os povos da região (incluso Egito) eram todos africanos. Portanto, evidencia-se aqui, a sua desaprovação aos homens responsáveis por dizer quais teses devem ser aprovadas ou rechaçadas nas universidades e revistas cientificas, até porque, os parâmetros utilizados para tal, eram marcados por uma confusão de raça, língua e cultura, e por um racismo que os acompanha. As conclusões de egiptólogos como Frank Yurco, são as de que os egípcios, núbios, etíopes, somalis, etc, eram uma população uniforme, localizada no vale do Nilo.

Sobre uma postagem que fizemos, em 29 de julho de 2015, com o título: “O Legado Roubado – Stolen Legacy (livro)”, temos um ponto interessante, na visão de Diop. Ele sustenta que os gregos aprenderam de uma civilização egípcia superior, e isso não quer dizer que a cultura grega é simplesmente uma derivada do Egito. Ao invés disso, ele vê os gregos como componentes de um “berço do norte”, distintamente crescendo fora de certas condições climáticas e culturais. Tal pensamento, portanto, não é o mesmo que o argumento do “Stolen Legacy”, livro de George James ou o “Black Athena ” de Martin Bernal.

Talvez você pergunte: por que saber tais coisas é importante? Porque o racismo ainda existe, e porque a África é o berço das ciências, mas, é considerada inferior, por versões erradas, propagadas desde as eras de escuridão do darwinismo social. Sugiro então, que você leia a postagem: “A Ciência Não é Branca”, do dia 18 de outubro de 2015, e também a: “Educação imaginativa e histórica – Eurocêntrica”, do dia 18 de agosto de 2015.

Sobre linguistica: Diop dedicou a maior parte de seus estudos para a análise das semelhanças estruturais entre as linguagens modernas africanas, o Wolof e o idioma egípcio antigo. Não abordaremos o assunto para não ficar demasiado cansativo, sugiro então, que você leia a matéria na íntegra, na fonte descrita ao final deste texto.

Sobre genética: as teorias de Anta Diop têm sido apoiadas por um número de estudiosos que mapeiam os genes humanos, por meio de técnicas modernas de análise de DNA. Diop identificou um fenótipo preto, que se estende desde a Índia, Austrália até a África, com semelhanças físicas em termos de pele escura, e uma série de outras características. E por que os traços físicos são importantes? Porque a raça é uma categoria relevante, e fenótipo ou aparência física é o que importa nas relações sociais históricas, explicou Diop. veja:

“Se falar apenas do genótipo, eu posso encontrar um negro que, ao nível de seus cromossomos, está mais perto de um sueco. Mas o que conta, na realidade, é o fenótipo. É a aparência física que conta. Ao longo da história, é o fenótipo que é levado em questão, e não devemos perder de vista este fato. O fenótipo é uma realidade, a aparência física é uma realidade. E este aspecto corresponde a algo que nos faz dizer que a Europa é povoada por pessoas brancas, a África é povoada por pessoas negras, e a Ásia por pessoas amarelas. São essas relações que têm desempenhado um papel na história ” (Cheik Anta Diop).

Quero frisar que, os egípcios da atualidade são uma mistura de povos, e Diop não ignorou essa mistura existente na história egípcia. Ele reconheceu que os antigos egípcios absorveram genes “estrangeiros”, em vários momentos da sua história (o Hyskos por exemplo), mas, considerou que essa mistura não alterou sua etnia essencial.

Sobre o termo raça, o controverso senegalês expressou dúvidas sobre seu conceito. Em um colóquio da UNESCO, em Atenas, em 1981, ele afirmou: “Eu não gosto de usar a noção de raça (que não existe) … Nós não devemos dar uma importância obsessiva a este termo”. Esta perspectiva era diferente de muitos dos escritores brancos contemporâneos. Ele disse: “Pedimos desculpa por voltar às noções de raça; o patrimônio cultural, a relação linguística, conexões históricas entre os povos, e assim por diante; não dou mais importância a estas questões do que eles realmente merecem, no século XX “. Portanto, que não venham à taxa-lo de racista, pois ele repudiava teorias racistas ou de supremacia, argumentando apenas, a favor de uma visão mais equilibrada da história africana.

Saiba mais sobre Cheikh Anta Diop.  Vale a pena!


Fontes:

Jornal Le Monde: https://www.lemonde.fr/afrique/article/2016/11/23/kemtiyu-le-retour-de-cheikh-anta-diop_5036256_3212.html

Wikipedia - A Enciclopédia Livre: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cheikh_Anta_Diop

Site oficial de Diop: http://www.cheikhantadiop.net/

Assista na íntegra a entrevista de Cheikh Anta Diop: https://youtu.be/XpqzEytY4Bc