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domingo, 30 de novembro de 2025

ASSEMBLÉIA DOS DEUSES

 


Um Conselho Divino é uma assembleia de várias divindades, presidida por uma divindade de nível superior.

O conceito de uma assembleia divina (ou conselho) é atestado nos panteões arcaicos sumério, acádio, babilônico antigo, egípcio antigo, babilônico, cananeu, israelita, celta, grego antigo, romano antigo e nórdico. A literatura egípcia antiga revela a existência de um" sínodo dos deuses". Algumas das nossas descrições mais completas das atividades da assembleia divina encontram-se na literatura da Mesopotâmia. A sua assembleia dos deuses, liderada pelo deus supremo Anu, reunia-se para tratar de várias questões. O termo usado em sumério para descrever este conceito era Ukkin, e em acádio e aramaico posteriores era puhru.


Sumério 

Um dos primeiros registros de um conselho divino aparece no Lamento por Ur, onde o panteão dos Anunnaki é liderado por An, com Ninhursag e Enlil também aparecendo como membros proeminentes.


Acádio

O conselho divino é liderado por Anu, Enlil e Ninlil.


Babilônia Antiga

No panteão babilônico antigo, Samas (ou Shamash) e Adad presidem as reuniões do conselho divino.


Amorita - Cassita - Caldeu (Babilônico)

Marduk aparece no Enûma Eliš babilônico como presidente de um conselho divino, decidindo destinos e administrando a justiça divina. 


Egito Antigo

O líder do panteão do Antigo Egito é considerado Thoth ou Ra, que eram conhecidos por realizar reuniões em Heliópolis (On).


Cananeu

Textos de Ugarit fornecem uma descrição detalhada da estrutura do Conselho Divino, do qual El e Baal são deuses presidentes.


Chinês

Na teologia chinesa, as divindades subordinadas ao Imperador de Jade eram por vezes referidas como a burocracia celestial, porque eram retratadas como organizadas à semelhança de um governo terreno.


Céltico

Na mitologia celta, a maioria das divindades é considerada membro da mesma família – os Tuatha Dé Danann. Entre os membros dessa família estão as deusas Danu, Brigid, Airmid, Morrígan e outras. Entre os deuses da família, destacam-se Ogma, Dagda, Lugh e Goibniu, entre muitos outros. Os celtas veneravam diversas divindades tribais e tutelares, além de espíritos da natureza e espíritos ancestrais. Por vezes, uma divindade era vista como ancestral de um clã e linhagem familiar. A liderança da família variava ao longo do tempo e de acordo com a situação. As divindades celtas não se encaixam na maioria das concepções clássicas de um "Conselho Divino" ou panteão.


Grécia Antiga

Zeus e Hera presidem o conselho divino na mitologia grega. O conselho auxilia Odisseu na Odisseia de Homero. 


Roma Antiga

Júpiter preside sobre o panteão romano que prescreve punição a Licaão nas Metamorfoses de Ovídio, bem como punindo Argos e Tebas em Tebaida por Estácio. 


Nórdico

Há menções na saga de Gautrek e na obra euhemerizada de Saxo Grammaticus dos deuses nórdicos reunidos em conselho. Os deuses sentados em conselho em seus assentos de julgamento ou "tronos do destino" é um dos refrões no poema édico "Völuspá"; uma "coisa" dos deuses também é mencionada em "Baldrs draumar", "Þrymskviða" e no escáldico "Haustlöng", nesses poemas sempre no contexto de alguma calamidade.  Snorri Sturluson, em sua Edda em Prosa, referiu-se a um conselho diário dos deuses no poço de Urð, citando um verso de "Grímnismál" sobre Thor sendo forçado a atravessar rios para chegar lá. No entanto, embora a palavra regin geralmente se refira aos deuses, em algumas ocorrências de reginþing pode ser simplesmente um intensificador que significa "grande", como é no islandês moderno, em vez de indicar uma reunião do conselho divino.


Hebreu/Israelita

Na Bíblia Hebraica, existem diversas descrições de Javé presidindo uma grande assembleia de Hostes Celestiais. Alguns interpretam essas assembleias como exemplos de um Conselho Divino: As descrições do Antigo Testamento sobre a "assembleia divina" sugerem que essa metáfora para a organização do mundo divino era consistente com a da Mesopotâmia e de Canaã. Uma diferença, no entanto, deve ser observada. No Antigo Testamento, as identidades dos membros da assembleia são muito mais obscuras do que aquelas encontradas em outras descrições desses grupos, como em seu ambiente politeísta. Os escritores israelitas buscavam expressar tanto a singularidade quanto a superioridade de seu Deus, Javé. 

O Salmo 82 afirma "Deus (אֱלֹהִ֔ים Elohim ) está na assembleia divina (בַּעֲדַת-אֵל 'ăḏaṯ-'êl); Ele julga entre os deuses (אֱלֹהִ֔ים elohim )" (אֱלֹהִים נִצָּב בַּעֲדַת־אֵל בְּקֶרֶב אֱלֹהִים יִשְׁפֹּט). O significado das duas ocorrências de "elohim" tem sido debatido por estudiosos, com alguns sugerindo que ambas as palavras se referem a Javé, enquanto outros propõem que o Deus de Israel reina sobre uma assembleia divina de outros deuses ou anjos. Algumas traduções desta passagem traduzem como "Deus (elohim) está na congregação dos poderosos para julgar o coração como Deus (elohim)" o hebraico é "beqerev elohim", "no meio dos deuses", e a palavra "qerev", se estivesse no plural, significaria "órgãos internos". Mais adiante neste Salmo, a palavra "deuses" é usada (na versão King James): Salmo 82:6 – "Eu disse: Vós sois deuses; e todos vós sois filhos do Altíssimo." Em vez de "deuses", outra versão tem "seres semelhantes a deuses", mas aqui novamente, a palavra é elohim/elohiym (Strong's H430).  Esta passagem é citada no Novo Testamento em João 10:34. 

Nos livros de Reis 22:19, o profeta Micaías tem uma visão de Yahweh sentado entre “todo o exército do céu”, de pé à sua direita e à sua esquerda. Ele pergunta quem irá seduzir Acabe e um espírito se oferece. Isso foi interpretado como um exemplo de um conselho divino.

Os dois primeiros capítulos do Livro de Jó descrevem os " Filhos de Deus " reunidos na presença de Javé. Assim como "multidões celestiais", o termo "Filhos de Deus" desafia certas interpretações. Essa assembleia foi interpretada por alguns como mais um exemplo de conselho divino. Outros traduzem "Filhos de Deus" como "anjos" e, portanto, argumentam que não se trata de um conselho divino, pois os anjos são criação de Deus e não divindades.

“O papel da assembleia divina como parte conceitual do pano de fundo da profecia hebraica é claramente demonstrado em duas descrições do envolvimento profético no conselho celestial. Em 1 Reis 22:19–23... Micaías tem permissão para ver Deus (elohim) em ação na decisão celestial a respeito do destino de Acabe. Isaías 6 descreve uma situação na qual o próprio profeta assume o papel de mensageiro da assembleia e a mensagem do profeta é, portanto, comissionada por Javé. A descrição aqui ilustra esse importante aspecto do pano de fundo conceitual da autoridade profética.”


LEGENDÁRIOS

 


O movimento Legendários foi criado por Chepe Putzu, um pastor guatemalteco, em 2015 na Guatemala. O objetivo é proporcionar uma transformação para homens através de atividades que os conectam com a fé, família e a natureza, como o desafio de quatro dias que mistura elementos religiosos com atividades físicas ao ar livre. O movimento chegou ao Brasil em 2017. 

É um evento exclusivo para homens, que foca em resgatar valores tradicionais, mira em temas como masculinidade, paternidade e família e, de quebra, inclui estética e símbolos que remetem ao militarismo (como gritos de guerra, uniformes e insígnias). O Brasil, aliás, registra o maior número de legendários – alcunha dada a homens que completam o desafio. 

Comumente, o grupo realiza eventos que combinam pregações religiosas e atividades físicas intensas, buscando resgatar casamentos e impactar vidas.  Uma das principais mensagens do movimento é a ideia de devolver aos homens seu papel heroico dentro das famílias.

Os acampamentos organizados pelo grupo são caracterizados pela desconexão com o mundo exterior. Os participantes são instruídos a levar barracas, sacos de dormir e itens essenciais como uma “Bíblia”, cuja presença é obrigatória.

É um movimento de cunho religioso evangélico com orientação política de direita.

MACHONARIA

 


A Machonaria foi criada em 2018 pelo líder religioso Anderson Silva com a intenção de incentivar ações como resgate da masculinidade bíblica, liderança familiar, generosidade, combate à pornografia e envolvimento em projetos sociais. É uma confraria Homens, onde o homem é o dominador Alfa, ou seja, o macho Alpha, que nasceu para liderar e dominar.

Anderson Silva tem polêmicas relacionadas a declarações consideradas machistas e a gestão do movimento "Machonaria", que enfrenta acusações de má gestão financeira, segundo o site Metrópoles. Anderson Silva é o líder da Igreja em Movimento em Brasília, fundada por ele e sua esposa Keila Silva.

A Machonaria é um movimento religioso evangélico de orientação política de direita conservadora.

Machonaria propõe uma leitura do homem como “rei, profeta e sacerdote”. No entanto, essa retomada de papéis bíblicos é filtrada por valores modernos de empreendedorismo, produtividade e domínio econômico.

A evocação do “homem guerreiro”, como figura central do resgate, alinha-se a mitologias patriarcais que emergem da transição das sociedades nômades para a agricultura, com a consequente acumulação de bens e estratificação social. O patriarcado, nesse sentido, não é intrínseco à humanidade, mas resultado histórico de sistemas de poder.

 A ascensão de deuses guerreiros, simboliza a institucionalização masculina como força divina. Essa lógica, reiterada por leituras teológicas enviesadas e por tradições filosóficas como a aristotélica, contribuiu para a invisibilização da mulher e sua subjugação.

Os movimentos Red Pill, Machonaria e Legendário nesse contexto, pode ser lido como parte do movimento mito-poético masculino, surgido nos EUA com Robert Bly, que buscava restaurar uma suposta essência masculina em resposta ao declínio do patriarcado. Esses grupos oscilam entre a sensibilidade e o sexismo, muitas vezes utilizando a linguagem da crise masculina para justificar práticas excludentes. Ao mesmo tempo, emergem movimentos antipatriarcais e pró-feministas, que tentam ressignificar a masculinidade de modo inclusivo.

Robert Bly (1926-2021) foi um poeta, ensaísta e ativista americano, conhecido por sua atuação no movimento de poesia pacifista e por ser um líder do movimento mitopoético masculino. Seu livro mais famoso foi João de Ferro: Um Livro Sobre Homens (1990), que se tornou um texto fundamental do movimento, com análises sobre a masculinidade. Com o livro João de Ferro, ele buscou promover uma visão mais positiva e profunda da masculinidade, explorando a psicologia e a espiritualidade. 


MOVIMENTO RED PILL

 


O Movimento Red Pill nasceu no ano 2000 por conta do filme Matrix de 1999. O termo vem do próprio filme, sendo usado nas redes sociais dos anos 2000.  As redes sociais dos anos 2000 mais populares incluíam o Orkut, MSN Messenger e Fotolog e  MySpace, tinham outras redes, como ICQ, Flogão e o site de bate-papo mIRC também foram muito populares.

Pois bem, este termo "Red Pill" foi muito usado nestas redes sociais do começo do século XXI, fóruns on lines e comunidades de bate papos, foram o chamariz para o crescimento e popularização do movimento Red Pill.

O nome Red Pill quer dizer, Pílula Vermelha, que faz alusão à cena emd que Neo (personagem de Keanu Reeves) é perguntado por Morpheus (personagem de Laurence Fishburne) qual pílula ele escolhe, a pílula azul (permanecer na zona de conforto e ficar preso no mundo da ilusão e no sistema do engano) ou tomar a pílula vermelha (despertar para a verdadeira realidade, se libertando das amarras da enganação).

No contexto do movimento, existe uma certa realidade, em que há uma dominação feminina na sociedade, as relações humanas seriam um jogo de poder onde as mulheres são vistas como "vítimas" de um imperativo domínio feminino. Os adeptos deste movimento, acreditam ter despertados para a verdade de que a sociedade é tendenciosa contra os homens e controlada por mulheres e pelo feminismo comunista de esquerda.

A crença fundamental é que os homens, e não as mulheres, são o gênero oprimido na sociedade moderna, o feminismo é visto como uma ideologia tóxica criada para controlar os homens e minar os papéis de gênero naturais.

É pregado que existe um princípio central é a ideia de que as mulheres são inerentemente "hipergâmicas", o que significa que estão principalmente interessadas em homens com alto status, riqueza e atratividade física.  O movimento categoriza os homens em uma hierarquia, com os homens "alfa" sendo dominantes e desejáveis ​​para as mulheres, enquanto os homens "beta" são vistos como submissos e ignorados, os seguidores frequentemente discutem estratégias para manipular mulheres e levá-las a relacionamentos ou sexo, com base em sua compreensão da natureza feminina.

A ideologia também foi apropriada por alguns em círculos políticos de extrema-direita e supremacistas brancos, onde se cruza com teorias da conspiração e sentimentos anti-imigração.

O Movimento Red Pil é um movimento de direita capitalista, formado "geralmente" por homens brancos, católicos ou evangélicos que tem a Bíblia como manual de instrução e de orientação política de direita.

O movimento Red Pill é composto por homens que se segmentam nas seguintes categorias: Machosferas ou Manosfera, Puas e Incels.


Machosferas ou Manosfera: Refere-se a homens que usam espaços on lines (redes sociais) para promoverem os ideais do movimento. 

O termo Machosfera refere-se a bolha (esfera) fechada feita exclusivamente por homens que se referem-se a si próprios como Machos Alpha.

O termo Manosfera é a mesma coisa, neste caso, os Manos (irmãos) estão dentro desta bolha (esfera) interagindo seus ideais com seus irmãos (manos) de causa.


Puas: Significa Artista da sedução, uma subcultura que possui sobreposição significativa e conexões históricas com o movimento "Red Pill" e a "manosfera" online em geral. 

A comunidade PUA, concentra-se principalmente em ensinar aos homens estratégias e técnicas (frequentemente chamadas de "jogo") para "seduzir" mulheres. Os principais aspectos incluem: 

Técnicas e "Jogo": Os PUAs defendem táticas específicas, frequentemente envolvendo manipulação psicológica, quebra da "barreira do toque" e condução de conversas para alcançar o sucesso sexual.

Objetificação: As mulheres são frequentemente objetificadas e reduzidas a alvos previsíveis (às vezes referidas com termos pejorativos como "femoides") a serem conquistadas.

Autoaperfeiçoamento (Condicional): Embora alguns cursos de PUA prometam autoaperfeiçoamento, o objetivo principal é aumentar a atratividade sexual e a conquista, levando a um foco obsessivo em "vaidades" externas em vez de um desenvolvimento pessoal genuíno. 


Incels: Involuntary Celibacy ou Celibato Involuntário. Se refere a uma subcultura online de indivíduos, predominantemente homens heterossexuais, que se definem como incapazes de encontrar mulheres para serem parceiras românticas ou sexuais, para namorar ou casar, apesar de desejá-las. O movimento evoluiu para uma comunidade conhecida por misoginia profundamente enraizada, um sentimento de vitimização e uma visão de mundo niilista, e tem sido associado a diversos atos de violência e extremismo.


O principal problema do movimento "red pill" é a disseminação de discursos misóginos e machistas que promovem a inferioridade da mulher e a superioridade masculina. Essas ideias, frequentemente mascaradas como "treinamento de masculinidade" ou busca pela "verdade" sobre relacionamentos, têm consequências sociais e individuais graves, incluindo o incentivo à violência doméstica e a formação de redes de ódio online.  O movimento ataca e deslegitima o feminismo e outras iniciativas de igualdade de gênero, vendo-os como ameaças ao papel "natural" do homem na sociedade.

sábado, 29 de novembro de 2025

Dyēus

 


Dyḗus lit. 'luz do dia', também *Dyḗus ph₂tḗr lit. 'pai luz do dia', é o nome reconstruído do deus do céu diurno na mitologia protoindo-europeia. *Dyēus era concebido como uma personificação divina do céu brilhante do dia e a morada dos deuses, os *deywṓs. Associado ao vasto céu diurno e às chuvas férteis, *Dyēus era frequentemente emparelhado com *Dʰéǵʰōm, a Mãe Terra, numa relação de união e contraste.   

Embora sua existência não seja atestada diretamente por materiais arqueológicos ou escritos, *Dieu é considerado pelos estudiosos a divindade mais seguramente reconstruída do panteão indo-europeu, já que fórmulas idênticas referentes a ele podem ser encontradas entre as línguas indo-europeias subsequentes e os mitos dos indo-arianos védicos, latinos, gregos, frígios, messápios, trácios, ilírios, albaneses e hititas.

O nome divino *Dyēus deriva do radical *dyeu-, que denota o "céu diurno" ou o "brilho do dia" (em contraste com a escuridão da noite), uma forma expandida da raiz *di ou dey- ("brilhar, ser brilhante"). Cognatos em línguas indo-europeias que giram em torno dos conceitos de "dia", "céu" e "divindade" e compartilham a raiz *dyeu- como étimo, como o sânscrito dyumán-'celestial, brilhante, radiante', sugerem que Dyēus se referia ao vasto e brilhante céu do dia concebido como uma entidade divina entre os falantes do protoindo-europeu. 

Um derivado de vṛddhi aparece em deywós ("celestial"), a palavra comum para "deus" no protoindo-europeu. No indo-europeu clássico, associado à cultura Khvalynsk tardia (3900–3500),  *Dyēus também tinha o significado de "Céu", enquanto denotava "deus" em geral (ou o deus Sol em particular) na tradição anatólia. O derivado do sufixo *diwyós ("divino") também é atestado em latim, grego e sânscrito. O substantivo *deynos ("dia"), interpretado como uma retroformação de *deywós , tem cognatos descendentes em albanês din ("alvorecer do dia"), sânscrito védico dína- "dia" e divé-dive ("dia a dia"), lituano dienà e letão dìena ("dia"), eslavo dъnъ ("dia") ou eslavo Poludnitsa ("Senhora do Meio-dia"), latim Dies, deusa do dia e contraparte da grega Hemera, hitita siwat ("dia"), palaico Tīyat- ("Sol, dia"), grego antigo endios ("meio-dia"), armênio antigo tiw (տիւ, "dia brilhante"), irlandês antigo noenden ("período de nove dias"), galês heddyw ("hoje"). 

Embora a deusa grega Pandeia ou Pandia (em grego antigo: Πανδία, Πανδεία, "todo brilho") possa ter sido outro nome para a deusa da Lua Selene, seu nome ainda preserva a raiz *di *dei, que significa "brilhar, ser brilhante".

O epíteto mais constante associado a *Dyēus é "pai" (*ph₂tḗr). O termo "Pai Dyēus" foi herdado no védico Dyáuṣ Pitṛ́ ,no grego Zeus Patēr, no ilírio Dei-pátrous, no romano Júpiter (*Djous patēr), até mesmo na forma de "papai" ou "papai" no cita Papaios para Zeus , ou na expressão palaica Tiyaz papaz. O epíteto *Ph₂tḗr Ǵenh tōr ("Pai Procriador") também é atestado nas tradições rituais védicas, iranianas, gregas e talvez romanas.

*Dyēus era o Céu ou o Dia concebido como uma entidade divina e, portanto, a morada dos deuses, o Paraíso.  Como a porta de entrada para as divindades e o pai tanto dos Gêmeos Divinos quanto da deusa da Aurora (*H₂éwsōs), *Dyēus era uma divindade proeminente no panteão protoindo-europeu. No entanto, ele provavelmente não era seu governante ou detentor do poder supremo como Zeus e Júpiter.

*Dyēus era associado ao céu brilhante e vasto, mas também ao tempo nublado nas fórmulas védicas e gregas *Chuva de Dyēus. Embora vários reflexos de Dyēus sejam divindades da tempestade, como Zeus e Júpiter, acredita-se que isso seja um desenvolvimento tardio exclusivo das tradições mediterrâneas, provavelmente derivado do sincretismo com divindades cananeias e o deus protoindo-europeu *Perkʷūnos. 

Devido à sua natureza celestial, *Dyēus é frequentemente descrito como "onividente" ou "de ampla visão" nos mitos indo-europeus. É improvável, no entanto, que ele fosse responsável pela supervisão da justiça e da retidão, como era o caso de Zeus ou da dupla indo-iraniana Mitra - Varuna, mas ele era adequado para servir, pelo menos, como testemunha de juramentos e tratados. Os protoindo-europeus também visualizavam o sol como a “lâmpada de Dyēus” ou o “olho de Dyēus”, como visto em vários reflexos: “a lâmpada do deus” na Medeia de Eurípides, “a vela do céu” em Beowulf, “a terra da tocha de Hatti” (a deusa-sol de Arinna) em uma oração hitita, Hélio como o olho de Zeus, Hvare-khshaeta como o olho de Ahura Mazda e o sol como “olho de Deus” no folclore romeno.

*Dyēus é frequentemente emparelhado com *Dʰéǵʰōm, a deusa da Terra, e descrito como unindo-se a ela para garantir o crescimento e a sustentação da vida terrestre; a terra se torna fértil quando a chuva cai do céu. A relação entre o Pai Céu (*Dyēus Ph₂tḗr) e a Mãe Terra (*Dʰéǵʰōm Méh₂tēr) também é de contraste: esta última é retratada como a vasta e escura morada dos mortais, localizada abaixo do assento brilhante dos deuses. 

De acordo com Jackson, no entanto, como o deus do trovão é frequentemente associado às chuvas frutíferas, ela pode ser uma parceira mais adequada de *Perkʷūnos do que de *Dyēus. 

Embora Hausos e os Gêmeos Divinos sejam geralmente considerados descendentes apenas de *Dyēus,  alguns estudiosos propuseram uma deusa-esposa reconstruída como *Diwōnā ou *Diuōneh₂, com uma possível descendente na consorte de Zeus, Dione. Um eco temático ocorre na tradição védica, visto que a esposa de Indra, Indrānī, exibe uma disposição semelhante, ciumenta e briguenta, sob provocação. Uma segunda descendente pode ser encontrada em Dia, uma mortal que se une a Zeus em um mito grego. Após o acasalamento do marido de Dia, Íxion, com o fantasma de Hera, esposa de Zeus, a história leva, em última instância, ao nascimento dos Centauros (que podem ser vistos como uma reminiscência dos Gêmeos Divinos, filhos de *Dyēus). Outro reflexo pode ser encontrado na Diwia grega micênica, possivelmente uma contraparte feminina de Zeus atestada na segunda parte do 2º milênio a.C. e que pode ter sobrevivido no dialeto panfílico da Ásia Menor. A reconstrução, no entanto, baseia-se apenas na tradição grega e, em menor grau, na védica e, portanto, permanece incerta.

Se as deusas Hera, Juno , Frigg e Shakti compartilham uma associação comum com o casamento e a fertilidade, Mallory e Adams observam, no entanto, que "essas funções são muito genéricas para sustentar a suposição de uma 'deusa consorte' PIE distinta e muitas das 'consortes' provavelmente representam assimilações de deusas anteriores que podem não ter nada a ver com o casamento." 

Cognatos derivados do radical *dyeu- ("luz do dia, céu brilhante"), do epíteto *Dyēus Ph 2 ter ("Pai Céu"), do derivado vṛddhi *deiwós ("celestial", um "deus"), do derivado *diwyós ("divino") ou da retroformação *deynos (um "dia") estão entre os mais amplamente atestados nas línguas indo-europeias.

À medida que os panteões das mitologias individuais relacionadas à religião protoindo-europeia evoluíram, os atributos de *Dyēus parecem ter sido redistribuídos para outras divindades. Na mitologia grega e romana, *Dyēus era o deus principal, enquanto o continuante etimológico de Dyēus tornou-se um deus muito abstrato na mitologia védica , e sua proeminência original sobre outros deuses foi amplamente diluída.


• Na tradição albanesa

Após o primeiro acesso dos ancestrais dos albaneses à religião cristã na antiguidade, o termo albanês presumido para Pai-Céu – Zot foi usado para Deus, o Pai e o Filho (Cristo). Nas crenças populares albanesas, o pico das montanhas mais altas, como Tomorr, na Albânia central, tem sido associado ao deus-do-céu Zojz. A santidade duradoura da montanha, a peregrinação anual ao seu cume e o sacrifício solene de um touro branco pela população local fornecem ampla evidência de que o antigo culto ao deus-do-céu no Monte Tomorr continua através das gerações quase intocado pelo curso dos eventos políticos e mudanças religiosas.


• Na tradição eslava

Em certo momento, os primeiros eslavos, assim como alguns povos iranianos após a reforma religiosa zoroastriana, demonizaram o sucessor eslavo de *Dyēus (abandonando esta palavra no sentido de "céu" ao mesmo tempo, mantendo, no entanto, a palavra para dia, e abandonando muitos dos nomes dos outros deuses protoindo-europeus, substituindo-os por novos nomes eslavos ou iranianos), sem, contudo, substituí-lo por qualquer outro deus específico, como resultado dos contatos culturais com os povos iranianos no primeiro milênio a.C. Portanto, após o processo de demonização pelos eslavos, considera-se que *Dyēus tenha originado duas continuações: *divo ("coisa estranha, esquisita") e *divъ ("demônio"). O resultado dessa demonização pode ser demônios pan-eslavos, como o dziwożona polonês e tcheco, ou Div, que aparece em O Conto da Campanha de Igor. 

Segundo alguns pesquisadores, pelo menos algumas das características de *Dyēus poderiam ter sido assumidas por Svarog (Urbańczyk: Sun- Dažbóg – fogo celestial, Svarožič – fogo terrestre, Svarog – céu, relâmpago). Helmold lembra que os eslavos também deveriam acreditar em um deus no céu, que lida apenas com assuntos celestiais e comanda outros deuses. 


• Em tradições não indo-europeias

Vários empréstimos de *deiwós foram introduzidos em línguas não indo-europeias, como o estoniano taevas ou o finlandês taivas ("céu"), emprestados do proto-indo-iraniano para essas línguas urálicas.

Apesar de derivar do PIE *diēu- '(luz do céu)', a palavra foi reinterpretada em anatólio para nomear um deus do sol, como o luvita Tiwaz e o palaico Tiyaz 


• Descendentes

PIE: *d(e)i -, 'brilhar, ser brilhante', 

PIE: *dyēus, o deus do céu diurno, 

Indo-iraniano: *dyauš , 

Sânscrito: Dyáuṣ (द्यौष्), o deus do Céu, e dyú (द्यु), a palavra comum para "céu", 

Avéstico antigo: dyaoš (𐬛𐬫𐬀𐬊𐬱), "céu", mencionado em um único verso do Avestá; Avéstico jovem: diiaoš, "inferno", como resultado da reforma religiosa zoroastriana.

Grego micênico: di-we (𐀇𐀸 /diwei/), caso dativo de um nome pouco atestado, 

Silabário cipriota: ti-wo, interpretado como pertencente a Zeus, e o possível genitivo Diwoi, 

Grego: Zeus (Ζεύς; gen. Diós ), o deus do Céu; também Lac Boeotian. , Corinto., Rod. dialetos: Deús (Δεύς), 

Itálico: * d(i)jous, Latim antigo : Dioue (ou loue ), Dijovis ( diovis )

Latim: Jove (Iove ; gen. Iovis ), o deus do Céu; 

Latim: Diūs , o deus dos juramentos (de * dijous  *diyēus )

Oscan: Diúvei (Διουϝει), genitivo singular, 

Umbriano: Di ou Dei (Grabouie / Graboue), atestado nas Tábuas Iguvinas 

Paelignian: Ioviois (Pvclois) e Ioveis (Pvcles), interpretados como um decalque do teônimo grego Diós-kouroi, 

Anatólia : *diéu-, *diu-, um "deus", 

Hitita : šīuš (𒅆𒍑), um "deus" ou o Deus Sol;  Šiwat  de, personificação hitita do dia; a ​​outra divindade chamada Šiušummiš é mencionada no texto de Anitta. 

Palaico: tiuna, "divino, um deus", 

Lídio: ciw- , um “deus;  Lefs ou Lévs, o Zeus lídio. 

Proto-armênio: *Tiw, o deus do céu ou do trovão, 

Armênio: tiw (Տիւ), "dia, diurno, manhã" e ti, "dia" (apenas em erk-ti "dois dias"); e possivelmente também ciacan "arco-íris" (de acordo com Martirosyan, de *Ti(w)-a- anexado a *can - "sinal, presságio", portanto "o sinal do Deus do Céu/Trovão"), 

Ilírio: dei-, que significa "céu" ou "Deus", como em Dei-pátrous, o "pai-céu", 

Proto-messápico: *dyēs, 

Messápico: Zis ou Dis , o deus do céu,

Albanês: Zojz , um deus do céu e do relâmpago;  a raiz *d(e)i - também pode ser encontrada em Perën-di "Céu", "Deus" (com um sufixo -di anexado a per-en-, uma extensão do PIE *per- "golpear"), 

Trácio: Zi -, Diu -, e Dias - (em nomes pessoais), 

Frígio: Tiy -, 

Bitínia: Tiyes e o nome do lugar Tium (Τιεῖον).


 "Pai do Céu"

Expressões rituais e formulaicas derivadas da forma * Dyēus Ph 2 ter ("Pai Dyēus") foram herdadas nas seguintes tradições litúrgicas e poéticas :


PIE: *dyēus ph 2 tḗr, 'Pai Céu' ( voc. *dyeu ph 2 ter , "Ó Pai Céu"), 

Grego: Zeus Patēr (Ζεῦς πατήρ; voc. Ζεῦ πάτερ), 

Indo-iraniano: *Dyauš-pHtar, 

Védico: Dyáuṣ-pitā́ (voc. Dyáuṣ-pitṛ́ , द्यौष्पितृ), 

Itálico*: *Djous-patēr > *Dijēs-patēr ( voc. * Djow-patēr ), 

Latim antigo: Dies Pater,

Latim: Diespiter (de *Dijēs-patēr); Iūpiter (de *Dlow-patēr ), arcaico Iovispater , mais tarde Iuppiter, 

Oscan: Dípatír, Úmbria: Iupater (dat. Iuve patre),  Piceno do Sul: dipater (gen. dipoteres ),

Ilírio: Deipaturos, registrado por Hesíquio como Δειπάτυροϛ (Deipáturos), um deus adorado em Tymphaea. 

Outros reflexos são variantes que conservaram tanto os descendentes linguísticos do radical *dyeu- ("céu") quanto a estrutura original "Deus Pai". Algumas tradições substituíram o epíteto *ph2ter pela palavra infantil papa ("papai, papai").

Luwian: Tātis tiwaz, "Papai Tiwaz", o deus do Sol, 

Palaico: Tiyaz papaz, "Papa Tiyaz ", o deus-Sol, 

Cita: Papa ios ( Papa Zios ), "pai Zeus", o deus do Céu, 

Irlandês antigo: in Dag dae Oll-athair, "Grande Pai o Dagda "(da fórmula proto-celta *sindos dago- dēwos ollo fātir, "Grande Pai o Bom Deus").


• Outras variantes são menos seguras:

Hitita: attas Isanus, "Pai Deus Sol"; o nome do deus do céu foi substituído por um empréstimo de um deus sol hático , mas a estrutura original da fórmula permaneceu intacta,

Letão: Debess tēvs, "Pai do Céu",

Nórdico antigo: Óðinn Alföðr, " Odin, Pai de Todos" ou "Odin Pai de Todos", 

Russo: Stribogŭ, "Pai Deus ",

Albanês: Zot, "senhor" ou "Deus", epíteto de Zojz, o pai do céu (geralmente considerado derivado do proto-albanês *dźie̅ů a(t)t- , "pai celestial"; embora a etimologia *w(i)tš- pati-, "senhor da casa", também tenha sido proposta), 

Tokharian B: kauṃ-ñäkte, 'sol, deus-sol'. 


• Derivações "celestiais"

Cognatos derivados de *deywós , uma derivação vṛddhi de *dyēus (o deus do céu), são atestados nas seguintes tradições: 

PIE: *deywós (lit. skyling, pl. *deywṓs), que significa "celestial, celestial", portanto um "deus",

Indo-iraniano: *daivá (daiu), um "deus", 

Sânscrito : devá (देव) , que significa "celestial, divino, qualquer coisa de excelência",  e devi , título feminino que significa "deusa"; 

Avestan: daēva (𐬛𐬀𐬉𐬎𐬎𐬀, daēuua), um termo para "demônios" no Zoroastrismo, como resultado de uma reforma religiosa que degradou o status das divindades anteriores, 

Persa antigo: daiva significa "falsas divindades, demônios", 

Balto-eslavo: *deiwas, 

Báltico: *deivas, 

Lituano antigo: Deivas, 

Lituano: Diēvas, deus supremo do céu, 

Prussiano antigo: Dìews (ou Deywis), letão: Dievs, e o báltico Dievaitis ("Pequeno Deus" ou "Príncipe"), um nome usado para se referir ao Deus do Trovão Perkūnas,  ou ao Deus da Lua Mėnuo. 

Germânico: *tīwaz (pl. *tīwōz), uma palavra para "deus" que provavelmente também serviu como título (*Tīwaz, "Deus") que passou a ser associado a uma divindade específica cujo nome original agora está perdido, 

Proto-germânico tardio *Tiwasdag, um decalque do latim dies Martis que deu a palavra para 'terça-feira' em nórdico antigo Týs-dagr, inglês antigo Tīwes-dæg, frísio antigo Tīesdi e alto alemão antigo Zies-tag;  interpretado como um remanescente das funções de céu e guerra de *Tīwaz por G. Kroonen, embora ML West o considere improvável, 

Nórdico antigo: Týr, associado à justiça;  o plural tívar sobreviveu como uma palavra poética para 'os deuses', e týr aparece em kennings para Odin e Thor,  como nos nomes de Odin Sigtýr ("deus da vitória"), Gautatýr ("deus dos Geats "), Fimbultýr ("deus poderoso") ou Hertýr ("deus do exército"), 

Inglês antigo: Tīw (ou Tīg ), Alto alemão antigo: Zio (ou *Ziu), um deus, 

Gótico: *Teiws, uma divindade reconstruída a partir da runa associada ᛏ ( Tyz), 

Itálico: *deiwos, um "deus, uma divindade", 

Latim antigo: deivos (deiuos), os "deuses", 

Latim: deus, nome comum para um "deus, uma divindade"; e Dea ("deusa"), um título atribuído a várias deusas romanas como Dea Tacita, Bona Dea ou Dea Dia ("Deusa da Luz do Dia" ou "Deusa Brilhante"). 

Latim vulgar: Deus, o deus do cristianismo no Vetus Latina e na Vulgata, 

Oscan: deivas, venético: deivos, "deuses", 

Volsciano: deue Decluna, atestado em uma inscrição de Velitrae, possivelmente do século III a.C. 

Celta: *dēwos, um "deus, uma divindade",  e *dago-dēwos, o "bom deus", antigo nome do Dagda, 

Celtiberiano: teiuo, um "deus", 

Gaulês: dēuos, um "deus", 

Gaulês: Devona (deuona) ou Divona diuona), uma divindade das águas sagradas , nascentes e rios cujo nome significa "Divina", 

Galês antigo: Dubr Duiu ("Água da Divindade"), evoluindo para o galês moderno Dyfrdwy (Rio Dee, País de Gales). A forma deva, diva ("deusa") também aparece em nomes de rios celtas em toda a Europa Ocidental,  como nos rios escoceses Dēoúa (atual Dee, Galloway),  e Dēouana (Δηουανα; atual Don, Aberdeenshire ),

Irlandês antigo: día, um "deus", e An Dag-da, o deus druida da sabedoria,

Irlandês: Dhe ("deus"), atestado na moderna oração Sùil Dhé mhóir ("O olho do grande Deus", em referência ao Sol), presente em Carmina Gadelica. 

Messápico: deiva , diva , "deusa", 

Frígio: devos.


• Outros cognatos são menos seguros:

Eslavo: *diva (*dîvo), talvez uma palavra para uma "boa divindade" que progressivamente assumiu o significado de "milagre", portanto "ser maligno", 

Eslavo eclesiástico antigo: divo, polonês antigo: dziwo, russo: dívo, servo-croata: dîvo , "milagre(s)", 

OCS: divŭ, "demônio", eslavo meridional: div, "ser gigante e demoníaco", tcheco: divo-žena, "feiticeira, bruxa", eslovaco: divo, "monstro", embora a raiz proto-eslava *divŭ(jĭ) ("selvagem") também tenha sido proposta, 

Polonês: Dziewanna, Sorbiano: Dživica, equivalente eslavo de Diana, no entanto, outras etimologias foram propostas.

Lusitano: Reo, uma divindade desconhecida. 

Lusitanos: Deiba e Deibo, atestados em inscrições votivas de altares;  entendido como significando as pronúncias "locais" ou "indígenas" de Deae e Deo. 

Derivações "divinas"

Outros cognatos derivados do adjetivo *diwyós (*dyeu "céu" + yós , um sufixo temático) são atestados nas seguintes tradições: 

PIE: *diwyós, que significa "divino, celestial, semelhante a Deus", 

Grego micênico: di-wi-jo (/diwjos/), di-wi-ja ( /diwja/), 

Grego: dîos (δῖος), "pertencente ao céu, divino", também "pertencente a Zeus" em tragédias;  feminino Día (Δῖα *Díw-ya), uma deusa venerada nos tempos clássicos em Fliu e Sicião, e possivelmente identificada com Hebe, a copeira dos deuses, 

Indo-iraniano: * diuiHa- / diuiia- ,

Sânscrito: divyá , "celestial", 

Avestan: daeuuiia, "diabólico, diabólico", 

Proto-itálico: * dīwī (dat. abl. pl. dīwīs)

Latim: dīvus, dīvī, "divino, celestial, semelhante a Deus",

Latim: Dīs Pater, de dīves (gen. dītis ), que significa "rico, abastado", provavelmente derivado de *dīwīs  dīvus através da forma intermediária *dīw-(o)t- ou *dīw-(e)t- ("aquele que é como os deuses, protegido pelos deuses"), com contração *īwi- ī. De acordo com de Vaan, "a ocorrência da divindade Dīs junto com pater pode ser devido à associação com Di(e)spiter." 

Latim: dīus, dīā, outro adjetivo com o mesmo significado, provavelmente baseado em * dīwī > diī (dat.abl.pl. dīs), 

Latim: Diāna (de uma Dīāna mais antiga), deusa da lua e do campo. 

Outros cognatos são menos seguros:


Paleo-Balcânicos:

Albanês: zana “ninfa, deusa”. 

Romeno: zână "fada, deusa"




Dyēus Phter: O Pai-Céu Original da Religião Hindu

 


Os deuses celestiais gregos, romanos, irlandeses, eslavos, bálticos, nórdicos, anglo-saxões e hindus estão (provavelmente) todos conectados e descendem de um antigo deus celeste adorado há12000 anos, onde hoje é a Índia.

Bem, talvez "O Pai Celestial Original" seja um pouco exagerado. Deuses patriarcais do céu são encontrados em religiões de todo o mundo, e os humanos provavelmente associam o céu ao líder e/ou pai dos deuses desde que a religião existe. Mas quase todas as religiões pagãs europeias (e o hinduísmo) têm um pai celestial, e todos esses pais celestes parecem descender do pai celestial protoindo-europeu. Observando seus nomes e outras palavras relacionadas, podemos reconstruir seu nome como algo como "Dyḗus ph₂tḗr", literalmente "Pai Celestial" na língua protoindo-europeia (PIE), que era falada há cerca de 6.000 anos no leste da Europa e oeste da Ásia.

Assim, os nomes dos deuses celestiais em muitas religiões pagãs europeias descendem diretamente de *Dyḗus ph₂tḗr, como Zeus e Júpiter, ou da palavra relacionada “*deywós”, que simplesmente significava “deus”. Os asteriscos ao lado dessas palavras indicam que elas foram reconstruídas com base em palavras que delas derivam, em vez de terem sido de fato registradas em qualquer documento escrito.

Assim como podemos deduzir o nome deste deus a partir dos nomes dos deuses descendentes, também podemos ter uma vaga ideia de como ele era com base nas qualidades que esses deuses compartilham. Ele certamente era associado ao céu iluminado pelo dia, onde provavelmente habitava. Era casado com uma deusa que personificava a Terra, o casamento e a maternidade, e possivelmente podia assumir a forma de uma vaca branca. Era pai de outros deuses importantes, como Hausos, a deusa da aurora ( leia meu post sobre ela aqui ), e tinha dois filhos gêmeos, os cavaleiros que puxavam o sol em uma carruagem. Era um deus muito poderoso e sábio, com a capacidade de zelar pelo mundo. Provavelmente, era capaz de mudar de forma à vontade.

Aqui estão todos os deuses indo-europeus que provavelmente estão relacionados a ele:


O Pai Celeste Grego: Zeus

Nome: Zeus também era chamado de “Zeus Pater” (Zeus Pai), e seu nome claramente descende de Dyḗus ph₂tḗr. No entanto, Zeus também parece ter absorvido muitos aspectos do deus do trovão indo-europeu Perkwunos, como as associações com trovões, águias e carvalhos, e uma história em que ele lutou contra uma serpente gigante. Muitos estudiosos, portanto, acreditam que Zeus representa uma fusão do deus do céu e do trovão indo-europeus. Veja meu post sobre Perkwunos para mais informações sobre isso.

Descrição: Zeus é o chefe dos deuses gregos e pai de muitos deles. Ele é um metamorfo, mas geralmente assume a forma de um homem barbudo e musculoso. Frequentemente é representado em pé, segurando um raio, ou sentado em seu trono.

Consorte e filhos: Ele era casado com Hera, deusa do casamento, da maternidade e do parto. Hera era frequentemente associada às vacas e às vezes era chamada de "Deusa das Vacas", "de olhos de vaca" ou "de braços brancos". Ele teve muitos ( muitos) filhos, incluindo os gêmeos divinos chamados Diós-kouroi ("os meninos de Zeus"), Castor e Pólux, que eram frequentemente representados como cavaleiros. Nas obras de Homero, Zeus também é o pai da deusa da aurora, Eos.


Associado a: O céu, fertilidade, força, guerra, águias, touros, trovões, tempestades, carvalhos.

O Pai Celestial Romano: Júpiter

Nome: Júpiter é chamado de Iūpiter em latim. No antigo itálico, seu nome provavelmente era algo como “*djous patēr”, e é evidente que seu nome deriva do deus original indo-europeu.

Descrição: Júpiter é o chefe e figura paterna dos deuses romanos e, assim como Zeus, geralmente assume a forma de um homem barbudo e musculoso. Ele é frequentemente representado em pé, segurando um raio, ou sentado em seu trono. Devido às suas origens comuns e ao contato entre as duas civilizações, Júpiter e Zeus são tão semelhantes que às vezes são considerados nomes diferentes para praticamente o mesmo deus (inclusive pelos próprios romanos). É por isso que eles recebem apenas uma imagem aqui.

Assim como Zeus, Júpiter compartilha muitos simbolismos com os deuses do trovão de outras religiões indo-europeias, sugerindo que ele absorveu elementos do deus do trovão do protoindo-europeu, Perkwunos. Leia mais sobre Perkwunos aqui.

A imagem ocidental do deus cristão, como um homem de barba branca vivendo nas nuvens, provavelmente foi influenciada (pelo menos em parte) por representações de Júpiter e Zeus.

Consorte e filhos : Ele era casado com Juno, deusa do casamento, da maternidade e do parto. Ele teve muitos, muitos filhos.

Associado a: O céu, fertilidade, força, guerra, águias, touros, trovões, tempestades e carvalhos.


O Pai-Céu Védico: Dyáuṣ Pitṛ́

Nome: Dyáuṣ Pitṛ́ é um nome sânscrito e é um descendente bastante claro de Dyḗus ph₂tḗr.

Descrição: Dyáuṣ Pitṛ́ era o deus pai celeste da religião védica, que eventualmente evoluiu para o hinduísmo. Ao contrário dos outros deuses aqui mencionados, Dyáuṣ Pitṛ́ não parece ter sido um deus particularmente importante, pelo menos na época em que a religião védica foi registrada pela primeira vez: ele é mencionado apenas em alguns hinos. Não tenho uma ideia suficientemente precisa de sua aparência para ilustrá-lo, então, sinto muito, Dyáuṣ, você não terá uma imagem.

Consorte e filhos: Como muitos desses deuses, ele é casado com uma deusa-mãe complementar, que em sânscrito é chamada de Prithvi Mata (Mãe Terra). Ela frequentemente assume a forma de uma vaca branca. Ele é o pai de vários outros deuses, incluindo, às vezes, Indra, o deus do trovão , e Ushas, ​​a deusa da aurora . Ele também é, por vezes, o pai dos “Aśvins”, os gêmeos divinos, também chamados de “Divó nápātā” (“filhos de Dyaús”), os cavaleiros que puxam o sol pelo céu em uma carruagem.


Associado a: O céu iluminado pelo sol e vacas.

O Pai Celeste Eslavo: Deiwos (Rod)

Nome: O deus celeste eslavo é chamado de "Rod", que vem de uma palavra eslava que significa algo como "nascimento" ou "origem". No entanto, o nome mais antigo de Rod era Deiwos, que vem da palavra indo-europeia para deus, deywós.

Descrição: Rod é a divindade celestial primordial da religião eslava e ancestral de todos os outros deuses. Geralmente é visto como divino demais e incompreensível para ser representado, mas às vezes é antropomorfizado como um velho barbudo em um trono. Na arte eslava antiga, no entanto, ele é mostrado governando os quatro elementos, em pé sobre um peixe (água), segurando a roda solar (fogo) e um balde de flores (terra), com seu cinto de linho esvoaçando ao vento (ar).

Consorte: Rod é um ser supremo sem esposa. No entanto, ele tem companheiras: um grupo de semideusas chamadas Rozhanitsy, que estavam relacionadas ao casamento, à maternidade e ao parto.


Associado a: O céu, rodas, círculos, redemoinhos.

O Pai Celeste Báltico: Diēvas

Nome: Assim como o Deivos eslavo, com quem tem estreita relação, o deus lituano “Diēvas” deriva da palavra indo-europeia para deus, deywós. Outras línguas bálticas têm nomes semelhantes para o mesmo deus: em letão, o deus é “Dievs”, e em prussiano antigo, “Dēiwas”.

Descrição: Dievas era um dos deuses mais importantes das religiões bálticas. Ele é o criador do universo e a personificação do céu diurno. Sua forma física não foi bem documentada, embora, como muitos desses pais celestes, ele provavelmente assumisse formas variadas. Suas manifestações mais frequentemente mencionadas são a de um mendigo ou um sábio errante, o que lembra o deus nórdico Odin, que assumia a forma de um mago errante. Ele é o pai dos gêmeos divinos, chamados de “Dieva dēli” (filhos de Deus) em letão, ou “Ašvieniai” em lituano, os cavaleiros que puxam o sol pelo céu em uma carruagem.


Associado a: O céu, rodas, círculos, redemoinhos.

O Pai de Todos Irlandês: O Dagda

Nome: O Dagda era chamado de Dagdae em irlandês antigo, e acredita-se que seu nome venha do proto-celta “*Dago-deiwos”, que significa “deus brilhante”, derivado da palavra indo-europeia “deiwos” (que significa “deus”), tornando o nome um parente dos pais celestes eslavos e bálticos, bem como do nórdico Tyr.

Descrição: O Dagda assume a forma de um enorme homem barbudo com um manto com capuz. Ele carrega um cajado com o poder de conceder vida e morte, uma harpa que controla as estações do ano e um caldeirão de ensopado que nunca se esgota. Ele é um deus da força, da magia, do conhecimento e da fertilidade. O Dagda é o pai e chefe do panteão irlandês, e outro nome para ele é Eochaid Ollathair, literalmente "Cavaleiro Pai de Todos".

Consorte: Sua amante é a deusa do rio Boann, cujo nome pode significar literalmente "vaca branca". Isso me lembra de como Prithvi, esposa de Dyáuṣ Pitṛ́, assume a forma de uma vaca branca, e Hera, esposa de Zeus, é chamada de "deusa vaca", então possivelmente existe alguma relação aí.

Associado a: Seu cajado, caldeirão e harpa; força, fertilidade, magia e conhecimento.


Os deuses germânicos Odin e Týr

A relação dos deuses germânicos com esses outros deuses é um pouco mais complexa, e há dois deuses que se conectam a Dyḗus ph₂tḗr de maneiras diferentes.

Odin é o pai e chefe da religião nórdica e, em muitos aspectos, é bastante semelhante aos outros deuses aqui mencionados: ele é o patriarca de barba branca do panteão, deus da força, do conhecimento e da magia, e pode voar pelos céus (com a ajuda de um cavalo mágico). Ele é chamado de Pai de Todos, assim como o deus irlandês Dagda, e, como Dagda, veste um manto, carrega um cajado e é patrono das artes (Dagda toca harpa enquanto Odin escreve poesia). Assim como Zeus e Júpiter, ele é casado com Frigg, deusa do casamento e da maternidade. Na religião anglo-saxônica, ele é o ancestral dos cavaleiros gêmeos Hengist e Horsa (literalmente "Garanhão" e "Cavalo").

“Mas espere!”, ouço você exclamar, “O nome de Odin não se parece em nada com o dos outros deuses aqui!” E você tem razão: seu nome não tem relação com Dyḗus ph₂tḗr. Em proto-germânico, ele era algo como “Wōdanaz”, e seu nome pode estar relacionado a “*wōdaz”, que significa “furioso”.

Por outro lado, o deus da guerra maneta Týr tem um nome que claramente deriva do protoindo-europeu "deywós". Seu pai é Odin ou Hymir, que, segundo a lenda, possui um caldeirão sem fundo que lembra bastante o de Dagda. Em proto-germânico, Týr é chamado de Tīwaz. Em inglês antigo, Odin e Týr eram chamados de Woden e Tíw, e é a partir desses nomes que se originam as palavras "quarta-feira" e "terça-feira". A versão em alto alemão antigo de Týr era Zio, enquanto em gótico era *Teiws.

Parece-me possível que, na religião germânica primitiva, o deus pai do céu tenha sido renomeado para Wōdanaz, enquanto o deus da guerra tenha sido renomeado para “Tīwaz”, uma palavra que anteriormente significava apenas “deus”.


Outros deuses relacionados

A Itália antiga foi ocupada por diversos grupos itálicos relacionados aos povos latinos, com religiões semelhantes à romana e figuras paternas semelhantes a Júpiter. Os oscos tinham "dípatír", a versão úmbria era "Iupater", enquanto no sul de Piceno era "Dipater".

No paganismo albanês, o deus celeste era chamado de Zjoz, cujo nome deriva do protoindo-europeu *Dyḗus.

Entretanto, na Turquia antiga, um ramo extinto das línguas indo-europeias possuía seus próprios deuses relacionados. Em protoanatólico, a palavra para deus era “*diéu-“, da primeira parte do nome de Dyēus Ph₂ter. Isso evoluiu para o nome do deus sol hitita, Šīuš. Além do nome, não sabemos muito sobre ele. O povo luvita, vizinho, chamava seu deus sol de “Tiwaz” ou “Tātis Tiwaz” (como “Papai Tiwaz”), um nome claramente aparentado ao deus protogermânico de nome quase idêntico. Outra língua anatólia, o palaico, chama seu deus de “Tiyaz papaz”, que significa “Papai Tiyaz”.

Outro grupo indo-europeu menos conhecido eram os ilírios, que viviam nos Balcãs. Seu ancestral divino era Dei-pátrous (literalmente "pai celeste"), provavelmente um descendente de Dyēus Ph₂ter.


DYAUS - O NOME DE DEUS ORIGINAL HINDU

 



Dyaus (Sânscrito Védico: द्यौस्, IAST: Dyáus) ou Dyauspitr (Sânscrito Védico: द्यौष्पितृ, IAST: Dyáuṣpitṛ́) é a divindade celeste do Rigveda. Sua consorte é Prthvi , a deusa da terra, e juntos eles são os pais arquetípicos no Rigveda.

Dyauṣ deriva do protoindo-iraniano *dyā́wš, do deus protoindo-europeu (PIE) do céu diurno *Dyēus , e é cognato do grego Διας – Zeus Patēr, ou Dei-pátrous , e do latim Júpiter (do latim antigo Dies piter Djous patēr ), derivado do PIE Dyḗus ph₂tḗr ("Pai do céu diurno"). 

O substantivo dyaús (quando usado sem o pitṛ́ 'pai') refere-se ao céu diurno e ocorre frequentemente no Rigveda como uma entidade. O céu na escrita védica era descrito como surgindo em três níveis: avamá, madhyamá e uttamá ou tṛtī́ya.

Dyáuṣ Pitṛ́ aparece em hinos com Prithvi Mata, 'Mãe Terra' nas antigas escrituras védicas do hinduísmo

No Ṛg·veda, Dyáuṣ Pitṛ́ aparece nos versos 1.89.4, 1.90.7, 1.164.33, 1.191.6, 4.1.10 e 4.17.4.

Ele também é referido sob diferentes teônimos: Dyavaprithvi, por exemplo, é um composto dvandva que combina 'céu' e 'terra' como Dyauṣ e Prithvi .

A característica mais marcante de Dyauṣ é seu papel paterno. Sua filha, Uṣas, personifica o amanhecer. Os deuses, especialmente Sūrya, são considerados filhos de Dyauṣ e Prithvi. Outros filhos de Dyauṣ incluem Agni, Parjanya , os Ādityas, os Maruts e os Angirases. Os Ashvins são chamados de " divó nápāt ", que significa descendentes/netos de Dyauṣ. Dyauṣ é frequentemente visualizado como um animal rugindo, geralmente um touro, que fertiliza a terra. Dyauṣ também é conhecido pelo estupro de sua própria filha, que, de acordo com Jamison e Brereton (2014), é mencionado vagamente, mas vividamente, no Rigveda.

Dyauṣ também é descrito como um garanhão negro cravejado de pérolas, numa comparação com o céu noturno.

A separação de Dyauṣ e Prithvi por Indra é celebrada no Rigveda como um importante mito da criação.

Dyēus Phter o nome original do deus do céu iluminado e o deus principal do panteão Hindu. No  grego Zeus (caso genitivo Diòs), no latim Júpiter, no sânscrito Dyauṣ Pitar, no báltico Dievas, no germânico Tiwaz (norueguês antigo Tyr, alto alemão antigo Ziu), no armênio Astwatz e no gaulês Dispater (também Deus pater na Vulgata).

Dyáuṣ Pitṛ́ é um nome sânscrito e é um descendente bastante claro de Dyḗus Phter. Dyáuṣ Pitṛ́ era o deus pai celeste da religião védica, que eventualmente evoluiu para o hinduísmo.



YHWH SUBSTITUI EL

 


De uma perspectiva histórica e arqueológica, Yahweh não era o mesmo que El em origem, mas tornou-se a figura central ao assimilar e, finalmente, substituir as funções e a posição de El no panteão israelita. De acordo com a erudição bíblica e histórica, Yahweh (ou YHWH) foi originalmente uma divindade distinta que mais tarde se fundiu e substituiu o papel de El como o deus principal no panteão israelita e cananeu.

El era o deus supremo, o criador e patriarca do panteão cananeu (o termo em si significa simplesmente "deus" ou "divindade" em línguas semíticas antigas). Nomes como Israel ("El luta/governa") refletem sua importância original.

Inicialmente, Yahweh parece ter sido uma divindade de segunda linha, possivelmente um deus da tempestade ou da guerra, e em algumas tradições antigas, ele era considerado um dos filhos de El, a quem foi atribuída a nação de Israel (conforme Deuteronômio 32:8-9 em manuscritos mais antigos).

Com o tempo, na religião israelita, Yahweh foi elevado ao status de deus principal. Os atributos e títulos de El, como El Shaddai ("Deus Todo-Poderoso"), foram aplicados a Yahweh. A Bíblia hebraica, em textos como Êxodo 6:2-3, reflete essa fusão ao afirmar que o El dos patriarcas é o mesmo YHWH que aparece a Moisés.

Eventualmente, o culto a Yahweh evoluiu do politeísmo/monolatria (adoração de um deus, mas aceitação da existência de outros) para o monoteísmo estrito, negando a existência de outras divindades e absorvendo seus atributos.


YHWH E EL SÃO DEUSES DIFERENTES

 


O Deus do monoteísmo não é só grande. Ele é dois.  A prova disso está bem no comecinho da Bíblia.  O Gênesis deixa claro: o primeiro homem do  Bíblia não foi Adão, mas outro sujeito, com outra mulher.

Sim, o deus YHWH eventualmente substituiu e absorveu El, o deus supremo cananeu. Originalmente, YHWH e El eram divindades distintas: El era o deus-pai do panteão cananeu, enquanto YHWH era um deus-guerreiro do sul (talvez de Midiã ou Edom). Com o tempo, os israelitas integraram YHWH ao seu panteão, e ele gradualmente absorveu as características de El e de outras divindades, tornando-se o único deus a ser adorado.

Inicialmente, El era o deus principal, e YHWH era uma divindade menos proeminente, que foi integrada ao panteão israelita. Alguns textos bíblicos, como Deuteronômio 32:8-9, descrevem El como o deus que deu a terra de Israel a YHWH.

A fusão de YHWH e El ocorreu ao longo do tempo. Os israelitas começaram a aplicar os epítetos e características de El a YHWH, como ʾĒl Šadday (El Todo-Poderoso).

Além de El, YHWH também absorveu características de outras divindades, como Aserá.

À medida que o yahwismo se desenvolveu no monoteísmo, a existência de outras divindades foi negada, e YHWH foi proclamado o único deus criador e a divindade suprema.

Na tradição judaico-cristã, YHWH (o nome pessoal de Deus) e El são considerados a mesma divindade, o único Deus verdadeiro. "El" funciona como uma palavra genérica para "deus" ou como um título (como em El Shaddai - Deus Todo-Poderoso, ou El Elyon - Deus Altíssimo), enquanto YHWH é o nome próprio e imutável dessa divindade. A Bíblia hebraica, em passagens como Êxodo 6:2-3, sugere explicitamente que El e YHWH são o mesmo Deus, conhecido por nomes diferentes em épocas diferentes.

Muitos estudiosos sugerem que, nas origens do antigo Israel, YHWH e El eram, de facto, duas divindades distintas dentro do panteão cananeu-israelita da Idade do Ferro. El era o deus supremo dos cananeus, o deus criador e patriarca, enquanto YHWH era uma divindade guerreira, possivelmente da região de Midiã/Edom, que se tornou o deus nacional dos reinos de Israel e Judá. Com o tempo, através de um processo de sincretismo e evolução para o monoteísmo (ou monolatria, a adoração de um único deus sem negar a existência de outros), os atributos de El foram assimilados por YHWH, resultando na crença em um único Deus que incorporava as características de ambos.

Em resumo, a resposta depende se a análise é feita a partir de uma perspetiva de fé e teologia bíblica (onde são o mesmo Deus) ou de uma perspetiva acadêmica e histórica (onde eram originalmente deuses distintos que se fundiram numa única divindade ao longo do tempo).


AS 12 TRIBOS DE ISRAEL NUNCA EXISTIRAM

 


As doze tribos de Israel são, em resumo, a forma como as narrativas históricas da Bíblia Hebraica definem Israel. Mesmo hoje, as tribos são o fio condutor fundamental, o símbolo duradouro, o que eu chamei em outro lugar de “a visão permanente e inabalável de quem Israel é e sempre será”. A centralidade da tradição das doze tribos para a visão de Israel é indiscutível. Mas será que as doze tribos realmente existiram? Bem, é complicado.

Supõe-se que as doze tribos descendam dos doze filhos de Jacó, Raquel, Lia, Bila e Zilpa, conforme descrito em Gênesis 29-30 e Gênesis 35, que viajaram com ele para o Egito e se tornaram uma grande nação. Isso é muito mais do que uma mera questão de laços familiares. Em Números — durante o êxodo, quando Israel já era uma grande nação — o povo de Israel é repetidamente retratado organizado por tribos, tanto no acampamento israelita quanto na ordem de marcha (Números 1, 2, 7, 10, 13, 26, 34). Em Josué, quando a terra prometida é conquistada, ela é dividida entre as tribos em patrimônios tribais (Josué 13:15-19:48). São “todas as tribos de Israel” que se unem para fazer de Davi rei (2 Samuel 5:1), e quando a Monarquia Unida dele e de Salomão se divide em duas, isso acontece segundo linhas tribais — geralmente dez para Israel, duas para Judá (1 Reis 11:31-35, 12:21, 23).

Quando Israel — e não Judá — foi conquistado pelos assírios, todas as suas tribos foram supostamente levadas para um exílio do qual nunca retornaram, o que dá origem à famosa tradição das “tribos perdidas de Israel”. De fato, neste texto, lemos que “nenhuma permaneceu, senão a tribo de Judá” (2 Reis 17:18). Mesmo assim, muitos anos depois, quando a própria Judá já havia sido conquistada, exilada e retornado da maneira usual, a dedicação do Segundo Templo teria sido acompanhada por um grande sacrifício, incluindo “doze bodes, segundo o número das tribos de Israel” (Esdras 6:17).

Fora da Bíblia Hebraica, pode haver uma única referência a uma tribo de Israel: a estela de Mesa, de meados do século IX a.C., talvez se refira à tribo de Gade. Por outro lado, temos inúmeros nomes registrados em inscrições epigráficas ao longo do primeiro milênio a.C., particularmente nos séculos posteriores, e ninguém parece se descrever como membro de uma tribo. A melhor evidência de que o Israel primitivo era organizado em tribos provavelmente é Juízes 5, que muitos estudiosos consideram o texto mais antigo de toda a Bíblia Hebraica, e que descreve uma batalha entre as tribos e (provavelmente) Jabim, rei de Canaã – a história é contada em Juízes 4, mas apenas o general Sísera é mencionado em Juízes 5. Contudo, como evidência, sua interpretação é mais complexa do que muitos estudiosos reconhecem. Não inclui Judá, Levi, Simeão ou Gade, e menciona outros grupos que normalmente não são considerados tribos plenas de Israel, como Maquir, Gileade e Meroz, sem indicar que devam ser entendidos de forma diferente das tribos mais conhecidas. Além disso, não sabemos ao certo como o texto foi editado ao longo do tempo.

Enquanto isso, o Pentateuco e o livro de Josué são geralmente meticulosos na descrição de detalhes tribais, até o último centímetro. Mas mesmo livros posteriores que contam a mesma história são, na melhor das hipóteses, vagos sobre o tema das estruturas tribais, e muitos outros livros não demonstram nenhum interesse no assunto. Os livros proféticos são especialmente notáveis ​​aqui, já que frequentemente nos fornecem um contexto histórico adicional, mesmo que incidental, para episódios bíblicos que, de outra forma, apareceriam em apenas um relato. Mas poucos profetas demonstram sequer consciência da importância da identidade tribal. Às vezes, pode ser difícil perceber – Efraim, Judá e são usados ​​também como nomes de lugares geográficos, e os levitas aparecem com bastante frequência ao longo dos livros. Mas os fatos básicos são que há uma lista completa de tribos em Ezequiel 48, que muitas vezes é considerado uma edição do texto do período persa; Zebulom, Naftali, Efraim, Manassés e Judá são mencionados em Isaías 9; e a maioria das tribos nunca é mencionada nesses livros.

Então, onde isso nos leva? Bem, na minha opinião, a duas conclusões. Primeiro, é bastante provável que o Israel primitivo estivesse organizado em tribos de alguma forma. Juízes 5 é presumivelmente uma prova disso, pelo menos. No entanto, o quanto se assemelhava à visão familiar das doze tribos é uma questão muito mais difícil de responder. Em particular, nos últimos anos, vários estudiosos começaram a questionar se os primeiros judeus sequer se consideravam israelitas — por uma ampla gama de razões — e uma leitura direta de Juízes 5, na verdade, alimentaria essa discussão. O livro não inclui nenhuma das tribos mais consistentemente associadas a Judá do que a Israel, incluindo a própria Judá — e Simeão e Levi. Portanto, é possível que tenha existido um sistema tribal primitivo, mas apenas em Israel, enquanto Judá tinha algo diferente acontecendo. Talvez, em Judá, houvesse um sistema indígena, mas agora em grande parte esquecido, que incluísse vários grupos mencionados aqui e ali nas tradições referentes a Davi, mas não de forma consistente — os calebitas, os jerameilitas e assim por diante.

A segunda e mais importante conclusão, no entanto, é a seguinte: seja qual for a história real das doze tribos de Israel, essa história não explica o papel que a tradição das doze tribos desempenha na narrativa bíblica. Em vez disso, foi claramente o interesse dos autores exilados e pós-exilados no sistema tribal que lhe conferiu esse papel. Em primeiro lugar, a vasta maioria dos textos que descrevem as tribos é amplamente reconhecida como sendo desse período, e sua grande quantidade atesta a força desse interesse. Em segundo lugar, existe a tensão entre a forma completa e meticulosa como os arranjos tribais são descritos nos livros que correspondem à era heroica de Israel (Gênesis a Josué) e a forma vaga como os textos historicamente mais plausíveis dos livros de Reis tratam do assunto, o que sugere que estamos lidando com uma visão idealizada da identidade israelita. Existem, por exemplo, quinze listas tribais diferentes no Pentateuco, mas nem mesmo uma descrição completa de quais tribos faziam parte de qual reino e em que época. Provavelmente, o paradigma idealizado das doze tribos foi retroprojetado para o período das origens míticas porque era possível, enquanto as eras mais recentes da experiência israelita e judaíta resistiram com mais obstinação à centralização de um conceito que, no mínimo, não parece ter sido consistentemente importante. E, nesse aspecto, a tradição das doze tribos não difere de nenhuma outra tradição.

A ideia de que qualquer tipo de tradição simplesmente destila a memória de uma nação e a mantém estável por séculos pertence (ou deveria pertencer) a outra era acadêmica. Hoje, devemos reconhecer que tudo o que sobrevive, sobrevive porque aqueles que o escreveram encontraram significado nele, e que esse significado moldou a forma como a história foi contada. De maneira mais ampla, em qualquer geração, as visões de identidade estão sempre sendo remodeladas pelo tempo e pelas circunstâncias, e as tradições de identidade são remodeladas para se adequarem a elas. Assim, a tradição das doze tribos pode muito bem ter raízes em realidades mais antigas, embora o quão diferentes estas eram do paradigma permaneça uma questão em aberto. Como a temos, no entanto, a tradição é principalmente um reflexo de como os autores desses textos viam a si mesmos e ao seu mundo.

Fonte: Livro "O Mito das Doze Tribos de Israel: Novas Identidades Através do Tempo e do Espaço" Autor Andrew Tobolowsky é professor associado do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade William & Mary.