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sexta-feira, 13 de junho de 2025

A AÇÃO DE SATANÁS NA BÍBLIA

 


A palavra Satã ou Satanás quer dizer Inimigo, Adversário. A primeira vez que esta aparece na Bíblia é no livro de Jó.

A segunda vez que a palavra Satã ou Satanás aparece na Bíblia é no livro de Crônicas. Lembrando que este livro foi escrito depois do exílio orquestrado por Nabucodonosor.

E vemos Satã ou Satanás em ação: ¹ Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel. 1 Crônicas 21:1

Mas o interessante é que esta palavra também aparece no livro de Samuel, que é anterior ao livro de Cônicas, e olha o que está escrito: ¹ E a ira do Senhor se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá.  2 Samuel 24:1

E agora? Foi Satã ou Deus quem mandou Davi fazer o censo?

Acontece que a palavra Satã ou Satanás não é nome do cramunhão, não é nome do tinhoso, ele nem existia nesse período. A figura de Satã vai nascer somente na Idade Média, quando a Igreja Católica fabrica essa figura que os crentes creem hoje. 

A palavra Satã ou Satanás neste contexto bíblico é usada como adversário, inimigo, opositor, não tendo nenhuma relação com a figura imaginativa, fabricada e inventada pela Igreja Católica Romana no período Medieval.


Vamos ver mais casos interessantes da Ação do Satã na Bíblia

01) Segundo a Bíblia, Deus lança o Diabo na terra

⁹ E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele. 

Apocalipse 12:9. 

Não seria melhor ele derrotá-lo? Enfim...


02) Se o ser humano peca por conta da influência do Diabo, não seria o diabo o responsável por induzir o ser humano a pecar?

Em valor de comparação, seria como o vigarista te induzir a perder seu dinheiro, ou seja, ele rouba seu dinheiro, e ao invés de o vigarista ser preso, é você quem vai preso.


03) Se Deus pode destruir Satã e não o destrói, o que acontece? Ele irá destruí-lo no último dia, não poderia destruí-lo antes?

¹⁰ E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre. 

Apocalipse 20:10


04) Satanás endureceu o Coração de Faraó?

Endurecerei o coração de Faraó, e ele os perseguirá; então serei glorificado sobre Faraó e sobre todo o seu exército; e os egípcios saberão que eu sou o Senhor. Êxodo 14:4

O Senhor endureceu o coração de Faraó, rei do Egito, e ele perseguiu os filhos de Israel, enquanto estes saíam desafiadoramente. Êxodo 14:8

Segundo o que está escrito, é Deus quem endurece o coração de Faraó.


05) Foi Deus e não Satanás quem enviou Espíritos Maus para atormentar o rei Abimeleue

²³ Enviou Deus um mau espírito entre Abimeleque e os homens de Siquém; e os homens de Siquém se houveram aleivosamente contra Abimeleque;

²⁴ Para que a violência feita aos setenta filhos de Jerubaal viesse, e o seu sangue caísse sobre Abimeleque, seu irmão, que os matara, e sobre os cidadãos de Siquém, que fortaleceram as mãos dele para matar a seus irmãos  Juízes 9:23,24


06) Foi Deus e não Satanás quem enviou Espíritos Maus de Mentira contra os Profetas

²⁰ E disse o Senhor: Quem induzirá Acabe, para que suba, e caia em Ramote de Gileade? E um dizia desta maneira e outro de outra.

²¹ Então saiu um espírito, e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o induzirei. E o Senhor lhe disse: Com quê?

²² E disse ele: Eu sairei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse: Tu o induzirás, e ainda prevalecerás; sai e faze assim.

²³ Agora, pois, eis que o Senhor pôs o espírito de mentira na boca de todos estes teus profetas, e o Senhor falou o mal contra ti. 1 Reis 22:20-23


07) Um Espírito Mau se apossa de Saul

¹⁴ E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do Senhor.

¹⁵ Então os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora o espírito mau da parte de Deus te atormenta;

¹⁶ Diga, pois, nosso senhor a seus servos, que estão na tua presença, que busquem um homem que saiba tocar harpa, e será que, quando o espírito mau da parte de Deus vier sobre ti, então ele tocará com a sua mão, e te acharás melhor. 1 Samuel 16:14-16

²³ E sucedia que, quando o espírito mau da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a tocava com a sua mão; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito mau se retirava dele. 1 Samuel 16:23

Esse espírito mau vem da parte de Deus e não do Satanás.


08) Será Deus e não o Diabo que mandará a Operação do Erro

¹¹ E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira;

¹² Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade. 2 Tessalonicenses 2:11,12


09) Foi Deus e não o Diabo quem entregou os Homossexuais as paixões infames

²⁸ E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm;  Romanos 1:28


10) Deus tentado por Satanás?

⁶ E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles.

⁷ Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela.

⁸ E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal. Jó 1:6-8


¹ E, vindo outro dia, em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles, apresentar-se perante o Senhor.

² Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E respondeu Satanás ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela. Jó 2:1,2

¹³ Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Tiago 1:13


11) Foi Deus quem enviou o Mal para Jó

¹¹ Então vieram a ele todos os seus irmãos, e todas as suas irmãs, e todos quantos dantes o conheceram, e comeram com ele pão em sua casa, e se condoeram dele, e o consolaram acerca de todo o mal que o Senhor lhe havia enviado; e cada um deles lhe deu uma peça de dinheiro, e um pendente de ouro.  Jó 42:11


12) Satanás faz o Mal?

⁷ Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas. Isaías 45:7


13) O Bem e o Mal vem de Deus

³⁷ Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande?

³⁸ Porventura da boca do Altíssimo não sai tanto o mal como o bem?

³⁹ De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados. Lamentações 3:37-39


14) Deus enviou Satanás (um anjo) para se opor a Balaão

²² E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia; e o anjo do Senhor pôs-se-lhe no caminho por adversário; e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos com ele. 

Números 22:22

Não se esqueça que as palavras: opositor, adversário, inimigo e etc., em hebraico se diz, Satã ou Satanás. 


15) Deus e não Satã, levanta um adversário contra Salomão

¹⁴ Levantou, pois, o Senhor contra Salomão um adversário, Hadade, o edomeu; ele era da descendência do rei em Edom. 1 Reis 11:14

²³ Também Deus lhe levantou outro adversário, a Rezom, filho de Eliada, que tinha fugido de seu senhor Hadadezer, rei de Zobá, 1 Reis 11:23


16) Jesus diz a Pedro que ele é seu Satã ou Satanás (Inimigo)

²³ Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens. Mateus 16:23


17) Jesus chama um dos Doze de Diabo

⁷⁰ Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? E um de vós é um diabo.

⁷¹ E isto dizia ele de Judas Iscariotes, filho de Simão; porque este o havia de entregar, sendo um dos doze. João 6:70,71




quarta-feira, 4 de junho de 2025

A REDEMOCRATIZAÇÃO

 


Redemocratização do Brasil, também chamada abertura política, foi o processo de redemocratização nacional após a ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Esse processo teve início em 1974, durante os governos Geisel (1974-1979) e Figueiredo (1979-1985), terminando em 1988 com a promulgação da nova Constituição.

Tão logo o general Ernesto Geisel assumiu o poder, e se deparou com a deterioração da economia e o descontentamento da sociedade, propôs mudanças no poder e abrandamento nas formas de repressão, sinalizando com declarações e discursos que iniciaria a abertura política de forma "lenta, gradual e segura".

A abertura assim se contrapõe ao fechamento do regime, durante os governos de Costa e Silva e Médici.


A Pressão da Economia

Segundo analistas econômicos, o crescimento da dívida externa, mais a alta dos juros internacionais, associadas à alta dos preços do petróleo, somaram-se e desequilibraram o balanço de pagamentos brasileiro. Consequentemente houve o aumento da inflação e da dívida interna.

Com estes fatores, o crescimento econômico que era baseado no endividamento externo, começou a ficar cada vez mais caro para a Nação brasileira. Apesar dos sinais de crise, o ciclo de expansão econômica iniciado na segunda metade dos anos 1960 não foi interrompido. Os incentivos à projetos e programas oficiais permaneceram, e as grandes obras continuaram alimentadas pelo crescimento do endividamento.

Com a crise econômica veio a crise política, nas fábricas, comércio e repartições públicas o povo começou um lento e gradual descontentamento. Iniciou-se uma crise silenciosa onde todos reclamavam do governo (em voz baixa) e de suas atitudes. Apesar da censura e das manipulações executadas pela máquina estatal numa tentativa de manter o moral da população, a onda de descontentamento crescia inclusive dentro dos quadros das próprias Forças Armadas, pois os militares de baixo escalão sentiam na mesa de suas casas a alta da inflação.

Vendo que não havia mais saída para a crise, os militares liderados por Geisel resolveram iniciar uma abertura política institucional “lenta, gradual e segura”, segundo as palavras do próprio presidente.

Em 1974, os militares permitem a propaganda eleitoral gratuita na televisão e no rádio. O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que era o partido de oposição, acaba ganhando as eleições contra a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o partido do governo. Contudo, a chamada “linha dura” (militares e civis contrários à redemocratização) inicia um processo de aperto violento contra a oposição ao regime militar. Casos de tortura, espancamentos, assassinatos e esquadrões da morte aumentam exponencialmente.

Em 25 de outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog morre numa cela do DOI-Codi, órgão do 2º Exército, em São Paulo. Este evento gerou uma onda de protestos de toda a imprensa mundial, mobilizando e iniciando um processo internacional em prol dos direitos humanos na América Latina, em especial no Brasil.

Em 17 de janeiro de 1976, o metalúrgico Manuel Fiel Filho também é assassinado no DOI-Codi, gerando nova onda de protestos internacionais, aumentando a antipatia de organismos direitos humanos contra o Brasil novamente. Numa tentativa de demonstrar que o governo militar é intolerante contra este tipo de atitude, Geisel manda destituir o general Ednardo D'Ávila Mello do comando do 2º Exército.

O Pacote de Abril é baixado por Geisel em um movimento aparentemente contraditório com a abertura política defendida por ele.

Em função da pressão internacional e do crescimento da oposição da maioria da população brasileira, os militares não vêem outra saída senão terminar com a censura prévia a publicações e espetáculos. Os Atos Institucionais que forçaram a imposição militar sobre a Nação são revogados. A oposição começa a ganhar força nas eleições, acelerando a abertura política.


Governo Figueiredo

Em 15 de março de 1979, Figueiredo, o último dos generais no poder, assume a Presidência da República. Assumiu jurando fazer do Brasil uma democracia.

Ficou famoso pela sua frase, ao ser questionado sobre a abertura política: "É pra abrir mesmo. Quem não quiser que abra, eu prendo e arrebento!"

Em 28 de agosto de 1979 é sancionada a lei 6683, que concede Anistia aos cassados pelo regime militar. A lei também concedia anistia aos membros do governo acusados de tortura.

No dia 22 de novembro de 1979 é aprovada a reforma política que restabelece o pluripartidarismo, com extinção do MDB e da ARENA. A medida foi vista por críticos como uma manobra do governo para dividir a oposição e impedir grandes vitórias de um MDB unido.

No campo ideológico, de janeiro a agosto de 1980, começaram a explodir bombas em todo o país.


O Atentado do Riocentro

O mais famoso atentado foi o do Riocentro, ocorrido na noite de 30 de abril de 1981, véspera do Dia do Trabalhador, no Pavilhão do Riocentro, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Nesta noite, cerca de 20 mil pessoas assistiam a um show em comemoração ao Dia do Trabalhador, organizado pelo CEBRADE (Centro Brasil Democrático), e que contou com a presença de diversos expoentes da MPB, entre os quais Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Elba Ramalho, Gonzaguinha, Alceu Valença e Gal Costa.

Uma bomba explodiu no estacionamento, dentro de um automóvel Puma, matando o sargento Guilherme Ferreira do Rosário e ferindo gravemente o capitão Wilson Luís Chaves Machado (proprietário do Puma), ambos ligados ao DOI-CODI do Exército, que estavam no carro.

A bomba explodiu enquanto era manipulada, e preparada para ser detonada junto à caixa de força e luz do estacionamento do Riocentro, a fim de cortar a energia e gerar pânico entre os frequentadores do show.

Uma segunda bomba explodiu na caixa de energia, mas sem conseguir cortar a luz no local do show. Uma terceira bomba teria sido encontrada, intacta, no carro das vítimas. Um Inquérito Policial Militar foi aberto para apurar o caso, e a versão oficial foi de que as bombas foram implantadas no carro para matar os militares.

O objetivo dos militares da linha-dura era atribuir o atentado à extrema esquerda. Para dar respaldo a esta versão, os agentes providenciaram, juntamente com o atentado, para que diversas placas de trânsito nas vias de acesso ao Riocentro fossem pichadas com a sigla VPR, do grupo Vanguarda Popular Revolucionária, que fora comandado pelo Capitão Carlos Lamarca nos anos 70. O que eles ignoravam é que a VPR já havia sido extinta e desmantelada pelas próprias forças da repressão.

Em virtude dessas investigações, que não se empenhavam em punir os culpados, o General Golbery do Couto e Silva se desliga de seu cargo, de chefe do gabinete civil e diz que havia criado um monstro, o SNI, em 1964.

O atentado ao Riocentro repercutiu na opinião pública mundial, inclusive na americana que se manifestou rapidamente. Havia muitos repórteres estrangeiros cobrindo o espetáculo, portanto tornando impossível para a censura acobertá-lo. O fiasco do atentado causou o início do fim do regime militar, em sequência ao processo desencadeado pela Lei da Anistia (1979).


Primeiras Eleições e Diretas Já

As eleições municipais e estaduais em 1982, mostram o quanto a população rejeita o governo militar, representado pelo Partido Democrático Social (PDS), o sucessor à ARENA. Em São Paulo, vence Franco Montoro, do PMDB, e no Rio de Janeiro, Leonel Brizola, do PDT, iniciando governos que serão fundamentais pelo apoio que darão à Campanha pelas eleições diretas.

Em 1984, ainda com extremistas da “linha dura” manobrando contra, se iniciou a campanha chamada de "Diretas já". Esta tinha como mote a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional do Deputado Dante de Oliveira. Apesar da intensa mobilização popular, com comícios em todo o país, faltaram 22 votos para atingir a maioria de 2/3 necessária e a proposta não foi aprovada na Câmara dos Deputados em 25 de abril de 1984.

Em junho de 1984, o governo enviou ao congresso uma nova proposta de emenda constitucional, a emenda Leitão, também conhecida como emenda Figueiredo. A proposta definia as eleições diretas em 1988, mantidas as eleições pelo colégio eleitoral em 1984. A oposição então fez uma manobra contrária, apresentando uma sub emenda, mudando a data do pleito, colocando novamente as eleições diretas imediatamente. O governo então retirou a emenda.

A primeira sucessão presidencial civil pós ditadura.


A Frente Liberal

Passado o movimento pelas diretas, as atenções se voltaram para as definições pré-colégio eleitoral. O PDS apresentava quatro pré-candidatos Marco Maciel, Paulo Maluf, o então vice-presidente Aureliano Chaves e Mario Andreazza. Para resolver a situação, o presidente do PDS, José Sarney, com o apoio do presidente Figueiredo, propõe que antes da convenção, sejam feitas eleições primárias em todos os diretórios do PDS, visando indicar para a convenção o candidato mais popular no partido. Paulo Maluf reage a isso e se manifesta contrário às prévias, dizendo que seria mero casuísmo de seus adversários no partido. Figueiredo então apóia Maluf e a proposta é derrotada na reunião do partido convocada para deliberar sobre as prévias. Sarney então se desliga da presidência do PDS e forma, com outros descontentes, a Frente Liberal. Enquanto Tancredo buscava acordo com Aureliano Chaves, que se via sem chances, Sarney se reunia com o deputado Ulysses Guimarães e o então senador Fernando Henrique Cardoso e deu mostras de que seu grupo poderia apoiar um candidato da oposição.

No dia 29 de junho os governadores do PMDB reuniram-se em Brasília e lançaram Tancredo Neves como pré-candidato. No dia 3 de julho a bancada do PDS ligada a Sarney rompeu com o governo e passa a atuar no congresso como bloco parlamentar de oposição. Aureliano Chaves e Marco Maciel desistem, então de disputar a vaga de candidato do PDS na convenção do partido.


A Disputa Presidencial

No dia 14 de julho foi realizada uma reunião no palácio Jaburu, sede da vice-presidência da República, entre representantes do PMDB e da Frente Liberal do PDS, em que ficou acertada a composição da chapa Aliança Democrática para enfrentar o PDS no colégio eleitoral. No dia 7 de agosto, nova reunião definiu que caberia à Frente Liberal indicar o vice-presidente na chapa. José Sarney foi o escolhido. Ulysses Guimarães ficou com a coordenação da campanha.

No dia 10 de agosto, policiais da 1ª Delegacia Policial em Brasília prenderam quatro pessoas por colar cartazes do PC do B, então ilegal, apoiando Tancredo. De madrugada, foi à delegacia o tenente-coronel Arídio Mário de Sousa Filho para exigir a libertação dos detentos, que na verdade eram um major, um capitão e dois sargentos do Centro de Informações do Exército.

No dia 11 de agosto, o PDS realizou sua convenção e Paulo Maluf derrotou Mario Andreazza. No dia seguinte, o PMDB homologou a chapa Tancredo/Sarney. Sarney havia se filiado ao PMDB por exigência da lei eleitoral, pois a Frente Liberal não era um partido. No dia 14, Tancredo renunciou ao cargo de governador de Minas Gerais, entrando no seu lugar o vice Hélio Garcia, que politicamente reformou o secretariado, incluindo membros da Frente Liberal.

No dia 21 de setembro, os altos comandos das forças armadas se reuniram para analisar a disputa presidencial. Exército e Aeronáutica lançaram notas oficiais alertando para possíveis riscos de radicalização e consequente ruptura do processo democrático, enquanto a Marinha simplesmente reafirmava sua posição de cumprimento de suas atribuições constitucionais.

No dia 21 de outubro, uma explosão ocorreu em um comitê da Aliança Democrática, em Porto Alegre. Tancredo minimizou o fato e não quis buscar culpados. O mesmo ocorreu com um comitê em Brasília, em 26 de novembro. Novamente, Tancredo amenizou.

No dia 21 de novembro a direção do PDS se reuniu e decidiu pela fidelidade partidária, ou seja, todos os seus membros deveriam votar no candidato do PDS. O PMDB recorreu ao TSE no dia 23 e no dia 4 de dezembro, o TSE decidiu não registrar a ata da reunião do PDS, o que desobrigou seus membros de seguirem as determinações.


A Eleição

No dia 15 de janeiro de 1985, Tancredo foi eleito com 480 votos contra 180 de Paulo Maluf, com dezessete abstenções e 9 ausências. Tancredo recebeu os votos do PMDB, da Frente Liberal, do PDT e de dissidentes do PDS e do PT. O PT não participava da aliança e se recusou a legitimar o colégio eleitoral.

No dia 14 de março, véspera da posse, Tancredo Neves foi internado às pressas, sob o diagnóstico de apendicite. Tancredo foi operado no Hospital de Base do Distrito Federal pelos médicos Renault Matos Ribeiro e Pinheiro da Rocha aos 37 minutos do dia 15. O diagnóstico passou a ser diverticulite. Discutiu-se se deveria assumir Sarney, o vice, ou o presidente da câmara, Ulysses Guimarães. O próprio Ulysses defendeu que Sarney deveria assumir, o que de fato aconteceu. José Sarney assumiu o cargo interinamente. Figueiredo, desafeto de Sarney, se recusou a passar a faixa presidencial.


A Morte de Tancredo

No dia 20 de março Tancredo foi operado pela segunda vez. Houve desentendimentos entre os médicos sobre os resultados da cirurgia. Tancredo foi conduzido ao Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde, em 26 de março, sofreu a terceira cirurgia, realizada pela equipe do doutor Henrique Pinotti.

O país todo ficou acompanhando o quadro médico de Tancredo, dia a dia. Os boletins médicos eram lidos pelo jornalista Antônio Brito, porta-voz da presidência.

Novo diagnóstico: infecção hospitalar contraída durante a internação no Hospital de Base do Distrito Federal. Para combater, usaram um antibiótico não comercializado, por ser novo. No dia 2 de abril Tancredo sofreu sua quarta cirurgia, para corrigir uma "hérnia inguinal encarcerada no lado esquerdo do abdome". A quinta operação foi realizada no mesmo dia. No dia 9, uma sexta operação, uma traqueostomia. No dia 12, a sétima cirurgia. Os médicos anunciaram que Tancredo estava com quadro grave, sobrevivendo com aparelhos.

Os políticos do PMDB e da Frente Liberal começaram então a se reunir para organizar em caráter definitivo o governo Sarney e sustentar a transição democrática.

Convocou-se o especialista norte-americano Warren Zapol, que no dia 20 de abril diagnosticou que não havia mais nada a fazer.

Finalmente, no dia 21 de abril a morte de Tancredo foi anunciada. No dia 22 de abril o Congresso Nacional se reuniu e anunciou a vacância da presidência e seu preenchimento automático pelo vice-presidente José Sarney. Sarney falou em rede de rádio e tv e decretou feriado nacional e luto oficial por 8 dias.

Até hoje se discute a real causa da morte de Tancredo. Há quem fale em assassinato e golpe. Todos os acontecimentos são considerados muito estranhos e diversas versões para os fatos são apresentadas.


DITADURA MILITAR - PRESIDENTES DITADORES

 


1964-1967: Humberto Castello Branco - Cearense, foi um dos líderes do golpe. General, foi transferido para a reserva no posto de marechal. Durante seu governo, de 1964 a 1967, instituiu o Serviço Nacional de Informações (SNI). Criou o Banco Central e o Banco Nacional de Habitação (BNH).

Os partidos que existiam na época foram fechados. Passaram a ser permitidas apenas duas legendas: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), governista; e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição. Castello Branco aprovou o regulamento geral do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA) e promulgou a Constituição de 24 de novembro de 1967, que institucionalizava a ditadura.

No seu governo, foram cassados os direitos políticos de deputados, governadores, ex-presidentes e lideranças de entidades civis. Em 1967, foi aprovada a Lei de Imprensa, que limitava a liberdade de pensamento e informação e era uma expressão do caráter arbitrário do regime.


1967-1969: Marechal Costa e Silva - Gaúcho, assumiu o poder com planos de restabelecer a democracia, mas passou a ser visto como inimigo pela linha-dura ultranacionalista e decretou o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que lhe deu poderes para fechar o Congresso, cassar políticos e institucionalizar a repressão

Costa e Silva havia exercido o cargo de ministro da Guerra no governo anterior. Em agosto de 1969, ele ficou doente e uma junta militar permaneceu no poder de 31 de agosto de 1969 a 30 de outubro de 1969, com os seguintes integrantes: o brigadeiro Márcio de Souza e Mello; o almirante Augusto Rademaker; e o general Aurélio Lyra Tavares.


1969-1974: General Emílio Médici - Gaúcho, foi presidente durante o período de maior repressão da ditadura militar, com tortura e morte dos opositores, censura à imprensa e cerceamento das liberdades individuais e de pensamento. Adotou os slogans "este é um País que vai pra frente" e "Brasil: ame-o ou deixe-o". Seu mandato foi marcado por um "milagre econômico" que mais tarde se revelaria uma ilusão.

Médici havia apoiado a Revolução de 1930, mas se manifestou contra a posse de João Goulart em 1961. Em abril de 1964, comandava a Academia Militar de Agulhas Negras. Depois, foi nomeado adido militar nos Estados Unidos e, em 1967, sucedeu a Golbery do Couto e Silva na chefia do poderoso SNI, cargo que ocupou por dois anos. Apoiou com entusiasmo o AI-5. Em 1969, foi nomeado comandante do 3º Exército.


1974-1979: General Ernesto Geisel - Gaúcho, trouxe de volta ao poder o general Golbery do Couto e Silva. Juntos, articularam um projeto de abertura "lenta, gradual e segura" rumo a uma indefinida "democracia relativa". Mas a crise econômica e a reação da "linha dura" do Exército colocariam permanentemente em cheque os planos de "distensão" imaginados por Geisel e Golbery. O presidente fechou o Congresso em abril de 1977.

Geisel foi um entusiasta da extração petrolífera no Brasil. Dirigiu a refinaria de Cubatão em 1956 e a Petrobras (1969 a 1973). Em sua gestão na presidência da Petrobras, concentrou esforços na exploração da plataforma submarina. Conseguiu acordos no exterior para a pesquisa e firmou convênios com o Iraque, o Egito e o Equador. Após o golpe de 1964, foi nomeado chefe da Casa Militar pelo presidente Castello Branco, que o encarregou de investigar denúncias de torturas em unidades militares do Nordeste.

Castello o promoveu a general-de-exército em 1966 e o nomeou ministro do Supremo Tribunal Federal em 1967. Geisel foi lançado candidato à Presidência pela Arena, em 1973, e derrotou no Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1974, Ulysses Guimarães - que era o candidato do único partido legal de oposição, o MDB. Na política externa, procurou ampliar a presença brasileira na África e na Europa, evitando o alinhamento incondicional à política dos Estados Unidos.


1979-1985: General João Baptista Figueiredo - Carioca, chegou ao poder depois de chefiar o SNI. Foi o último presidente do regime militar. Figueiredo teve a missão de concretizar a abertura iniciada por Ernesto Geisel, e assinou a Lei da Anistia, em agosto de 1979 - o que permitiu a volta, ao país, de políticos exilados pelo governo militar.

No seu governo, também foi permitido o retorno do multipartidarismo. A Arena e o MDB desapareceram, sendo transformadas no PDS e no PMDB, respectivamente. Também surgiram legendas como o PDT de Leonel Brizola e o PT.

Figueiredo foi eleito pela Arena, por escolha indireta no Colégio Eleitoral, em 1978. No discurso de posse, prometeu a "mão estendida em conciliação" e jurou "fazer do Brasil uma democracia". Causou polêmica ao dizer que iria "prender, matar e arrebentar" os opositores da abertura política, e ao dar a entender que gostava "mais do cheiro dos cavalos do que do cheiro do povo".

No seu mandato, foram realizadas as primeiras eleições diretas para governador de estado, que haviam sido interrompidas em 1965. Sua gestão ficou marcada por uma grave crise econômica que gerou altos índices recessivos e inflacionários e pela dívida externa crescente. Figueiredo também enfrentou a segunda crise internacional do petróleo.

A crise econômica reforçou os argumentos da oposição e gerou greves no ABC paulista. Essa situação ajudou a deflagrar em 1984 a campanha pelas Diretas-Já - que mobilizou milhares de pessoas, nas maiores cidades do País, em comícios pelo direito de eleger o presidente da República pelo voto popular.

Figueiredo implementou o programa de incentivo à agricultura, que tinha como slogan "plante que o João garante".


Fonte: Agência Câmara de Notícias

DITADURA MILITAR 1964 - 1985

 


A ditadura militar no Brasil, ocasionalmente chamada de Quinta República Brasileira, foi estabelecida em 1º de abril de 1964, após um golpe de estado das Forças Armadas Brasileiras, com o apoio do governo dos Estados Unidos, contra o presidente João Goulart. A ditadura brasileira durou 21 anos, até 15 de março de 1985.

O golpe foi planejado e executado pelos comandantes mais graduados do Exército Brasileiro e recebeu o apoio de quase todos os membros de alta patente das Forças Armadas, juntamente com setores conservadores da sociedade, como a Igreja Católica e movimentos civis anticomunistas entre as classes média e alta brasileiras. O regime militar, particularmente após o Ato Institucional nº 5 de 1968, praticou extensa censura e cometeu abusos de direitos humanos. Esses abusos incluíram tortura institucionalizada, execuções extrajudiciais e desaparecimentos forçados. Apesar das promessas iniciais em contrário, o regime militar promulgou uma nova Constituição restritiva em 1967 e sufocou a liberdade de expressão e a oposição política. O regime adotou o nacionalismo, o desenvolvimento econômico e o anticomunismo como suas diretrizes.

O golpe militar de 1964 foi apoiado por José de Magalhães Pinto, Adhemar de Barros e Carlos Lacerda (que já haviam participado da conspiração para depor Getúlio Vargas em 1945), então governadores dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Guanabara , respectivamente. O Departamento de Estado dos EUA apoiou o golpe por meio da Operação Irmão Sam e, posteriormente, apoiou o regime por meio de sua embaixada em Brasília.

A ditadura atingiu o auge de sua popularidade no início da década de 1970 com o chamado "Milagre Brasileiro ",mesmo com o regime censurando toda a mídia e torturando, matando e exilando dissidentes. João Figueiredo tornou-se presidente em março de 1979; no mesmo ano, ele aprovou a Lei de Anistia para crimes políticos cometidos a favor e contra o regime. Enquanto combatia os "linha-dura" dentro do governo e apoiava uma política de redemocratização, Figueiredo não conseguiu controlar a economia em ruínas, a inflação crônica e a queda simultânea de outras ditaduras militares na América do Sul. Em meio a grandes manifestações populares nas ruas das principais cidades do país, as primeiras eleições livres em 20 anos foram realizadas para o legislativo nacional em 1982. Em 1985, outra eleição foi realizada, desta vez para eleger indiretamente um novo presidente, sendo disputada entre candidatos civis pela primeira vez desde a década de 1960 e vencida pela oposição. Em 1988, uma nova Constituição foi aprovada e o Brasil retornou oficialmente à democracia.

O governo militar do Brasil forneceu um modelo para outros regimes militares e ditaduras em toda a América Latina, sendo sistematizado pela chamada "Doutrina de Segurança Nacional", que foi usada para justificar as ações dos militares como operando no interesse da segurança nacional em um momento de crise, criando uma base intelectual na qual outros regimes militares se basearam. Em 2014, quase 30 anos após o colapso do regime, os militares brasileiros reconheceram pela primeira vez os excessos cometidos por seus agentes durante a ditadura, incluindo a tortura e o assassinato de dissidentes políticos. Em maio de 2018, o governo dos Estados Unidos divulgou um memorando, escrito para Henry Kissinger, datado de abril de 1974 (quando ele servia como Secretário de Estado), confirmando que a liderança do regime militar brasileiro estava totalmente ciente do assassinato de dissidentes. Estima-se que 434 pessoas foram confirmadas mortas ou desaparecidas e que 20.000 pessoas foram torturadas durante a ditadura militar no Brasil. Embora alguns activistas dos direitos humanos e outros afirmem que o número real pode ser muito mais elevado, e deveria incluir milhares de indígenas que morreram devido à negligência do regime, as forças armadas sempre contestaram isso.


Antecedentes

A crise política do Brasil decorreu da forma como as tensões políticas foram controladas nas décadas de 1930 e 1940, durante a Era Vargas. A ditadura de Vargas e as presidências de seus sucessores democráticos marcaram diferentes estágios do populismo brasileiro (1930-1964), uma era de nacionalismo econômico, modernização orientada pelo Estado e políticas comerciais de substituição de importações. As políticas de Vargas visavam promover um desenvolvimento capitalista autônomo no Brasil, vinculando a industrialização ao nacionalismo, uma fórmula baseada em uma estratégia de reconciliação dos interesses conflitantes da classe média, do capital estrangeiro, da classe trabalhadora e da oligarquia fundiária.

Essencialmente, este foi o épico da ascensão e queda do populismo brasileiro de 1930 a 1964: o Brasil testemunhou, ao longo desse período, a mudança da orientação exportadora da Primeira República Brasileira (1889-1930) para a substituição de importações da era populista (1930-1964) e, em seguida, para um estruturalismo moderado de 1964-1980. Cada uma dessas mudanças estruturais forçou um realinhamento na sociedade e causou um período de crise política. Um período de ditadura militar de direita marcou a transição entre a era populista e o atual período de democratização.

As Forças Armadas brasileiras adquiriram grande influência política após a Guerra do Paraguai. A politização das Forças Armadas foi evidenciada pela Proclamação da República, que derrubou o Império Brasileiro, ou dentro do tenentismo (movimento dos tenentes) e da Revolução de 1930. As tensões escalaram novamente na década de 1950, quando importantes círculos militares (os "linha-dura", velhos positivistas cujas origens podiam ser rastreadas até a Ação Integralista Brasileira e o Estado Novo) se juntaram à elite e às classes médias e ativistas de direita nas tentativas de impedir que os presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart tomassem posse devido ao seu suposto apoio ao comunismo. Enquanto Kubitschek se mostrou amigável às instituições capitalistas, Goulart prometeu reformas de longo alcance, expropriou interesses empresariais e promoveu a neutralidade econômico-política com os Estados Unidos.

Depois que Goulart assumiu repentinamente o poder em 1961, a sociedade ficou profundamente polarizada, com as elites temendo que o Brasil, como Cuba, se juntasse ao Bloco Comunista, enquanto muitos pensavam que as reformas impulsionariam muito o crescimento do Brasil e acabariam com sua subserviência econômica aos EUA, ou mesmo que Goulart poderia ser usado para aumentar a popularidade da agenda comunista. Políticos influentes, como Carlos Lacerda e até mesmo Kubitschek, magnatas da mídia ( Roberto Marinho, Octávio Frias, Júlio de Mesquita Filho), a Igreja, proprietários de terras, empresários e a classe média pediram um golpe de estado pelas Forças Armadas para remover o governo. Os velhos oficiais do exército "linha dura", vendo uma chance de impor seu programa econômico, convenceram os legalistas de que Goulart era uma ameaça comunista.


A Queda de João Goulart e da Quarte República

Após a presidência de Juscelino Kubitschek, a oposição de direita elegeu Jânio Quadros, que baseou sua campanha eleitoral em críticas a Kubitschek e à corrupção governamental. O símbolo da campanha de Quadros era uma vassoura, com a qual ele "varria a corrupção". Em seu breve mandato como presidente, Quadros fez movimentos para retomar as relações com os países socialistas e aprovou leis controversas, mas sem apoio legislativo, ele não conseguiu seguir sua agenda.

Nos últimos dias de agosto de 1961, Quadros tentou romper o impasse com o Congresso renunciando à presidência, aparentemente com a intenção de ser reintegrado a pedido do público. O vice-presidente de Quadros, João Goulart, era membro do Partido Trabalhista Brasileiro e atuava na política desde a Era Vargas. Naquela época, o presidente e o vice-presidente do Brasil eram eleitos por partidos diferentes. Com a renúncia de Quadros, os ministros militares de alto escalão tentaram impedir Goulart, que estava em viagem à China, de assumir a presidência, acusando-o de ser comunista. As ações dos militares desencadearam a Campanha da Legalidade em apoio a Goulart. A crise foi resolvida pela "solução parlamentar", um compromisso político em que Goulart tomaria posse, mas com poderes reduzidos, transformando o Brasil em uma república parlamentar com um primeiro-ministro, que foi preenchido por Tancredo Neves.

O Brasil retornou ao governo presidencial em 1963, após um referendo, e, à medida que os poderes de Goulart cresciam, tornou-se evidente que ele buscaria implementar suas "reformas de base", como a reforma agrária e a nacionalização de empresas em diversos setores econômicos. As reformas foram consideradas comunistas, e Goulart buscou implementá-las independentemente do consentimento de instituições estabelecidas, como o Congresso.

Goulart tinha baixo apoio parlamentar, devido ao fato de que suas tentativas centristas de ganhar apoio de ambos os lados do espectro gradualmente acabaram alienando ambos. Com o tempo, o presidente foi forçado a mudar para a esquerda de seu mentor Getúlio Vargas e foi forçado a mobilizar a classe trabalhadora e até mesmo o campesinato em meio à queda do apoio da burguesia urbana.

Em 1º de abril de 1964, após uma noite de conspiração, tropas rebeldes lideradas pelo general Olímpio Mourão Filho dirigiram-se ao Rio de Janeiro, considerado um bastião legalista. Os generais de São Paulo e do Rio de Janeiro foram convencidos a aderir ao golpe. Para evitar uma guerra civil e sabendo que os Estados Unidos apoiariam abertamente os rebeldes, Goulart fugiu para o Rio Grande do Sul e, em seguida, exilou-se no Uruguai, onde sua família possuía grandes propriedades.


Envolvimento dos Estados Unidos

O embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, admitiu mais tarde que a embaixada havia dado dinheiro a candidatos anti-Goulart nas eleições municipais de 1962 e havia encorajado os conspiradores; muitos militares e agentes de inteligência extras dos EUA estavam operando em quatro petroleiros da Marinha dos EUA e no porta-aviões USS Forrestal, em uma operação de codinome Brother Sam. Esses navios haviam se posicionado na costa do Rio de Janeiro caso as tropas rebeldes brasileiras precisassem de assistência militar durante o golpe de 1964. Um documento de Gordon em 1963 para o presidente dos EUA John F. Kennedy também descreve as maneiras pelas quais João Goulart deveria ser reprimido e seus medos de uma intervenção comunista apoiada pelos soviéticos ou por Cuba. Washington reconheceu imediatamente o novo governo em 1964 e saudou o golpe como uma das "forças democráticas" que supostamente haviam impedido a mão do comunismo internacional. Os meios de comunicação de massa americanos, como a revista Time, de Henry Luce, também fizeram comentários positivos sobre a dissolução de partidos políticos e controles salariais no início do mandato de Castelo Branco. De acordo com Vincent Bevins, a ditadura militar estabelecida no Brasil, a quinta nação mais populosa do mundo, "desempenhou um papel crucial em empurrar o resto da América do Sul para o grupo de nações pró-Washington e anticomunistas". 

O Brasil participou ativamente na campanha de terror estatal apoiada pela CIA contra dissidentes de esquerda, conhecida como Operação Condor. 


Ameaça Comunista?

O argumento utilizado para justificar a instauração de uma ditadura militar no Brasil foi a iminência de uma “ameaça comunista” em 1964. O historiador Rodrigo Patto Sá Motta  [pt] contesta a afirmação de que o comunismo tinha força suficiente no Brasil para ameaçar o sistema democrático em 1964. Em entrevista, Motta afirmou que:

Se o regime político estabelecido em 1964 era popular e contava com o apoio da maioria da população, por que raios precisou de mecanismos autoritários para se manter no poder?". E acrescenta: "Consideremos por um instante, apenas para construir um raciocínio hipotético, que havia uma grave ameaça comunista e a intervenção militar visava defender a democracia contra o totalitarismo (reitero que considero tais argumentos infundados). Se sim, qual a justificativa, então, para terem instalado uma ditadura e terminado no poder por duas décadas? Por que não entregaram o poder aos civis depois que a "ameaça" foi derrotada?

—  Rodrigo Patto Sá Motta, 1964: "O Brasil não estava à beira do comunismo"

Em vez disso, Motta argumentou que a afirmação de uma "ameaça comunista" foi fabricada para unificar as forças armadas brasileiras e aumentar seu apoio entre a população em geral. 

...a grande imprensa e outras instituições construíram um forte represamento discursivo em favor da queda de Goulart, mobilizando à exaustão o tema do perigo vermelho (comunistas) para aumentar o clima de pânico. O certo é que, ao deixar os quartéis-generais, as Forças Armadas desequilibraram a situação e promoveram a derrubada de Goulart, de modo que seu papel foi essencial no golpe.

O Intercept noticiou que a alegada ameaça das “guerrilhas” de Jango, as armas em posse das Ligas Camponesas e as infiltrações comunistas nas Forças Armadas não passavam de fantasia, e que o golpe de 1964 ocorreu sem resistência, pois “não houve resistência”. Além disso, as lutas armadas comunistas só surgiram depois da implementação da ditadura, e não antes dela, e de fato nunca colocaram em risco a democracia brasileira. 


Divisões

O corpo de oficiais das Forças Armadas estava dividido entre aqueles que acreditavam que deveriam se confinar em seus quartéis e os linha-dura, que consideravam os políticos dispostos a levar o Brasil ao comunismo. A vitória dos linha-dura arrastou o Brasil para o que o cientista político JuanJ. Linz chamou de "uma situação autoritária". No entanto, como os linha-dura não podiam ignorar as opiniões contrárias de seus colegas ou a resistência na sociedade, eles foram incapazes de institucionalizar sua agenda politicamente. Além disso, eles não tentaram eliminar o constitucionalismo liberal porque temiam a desaprovação da opinião internacional e prejudicar seu alinhamento com os Estados Unidos. Os Estados Unidos, como bastião do anticomunismo durante a Guerra Fria, forneceram a ideologia que os autoritários usaram para justificar sua permanência no poder. Washington também pregou a democracia liberal, o que forçou os autoritários a assumir a posição contraditória de defender a democracia, enquanto a destruía. Sua preocupação com as aparências os levou a se absterem de uma ditadura pessoal, exigindo que cada general-presidente sucessivo entregasse o poder a um sucessor. 


A Resistência

A queda de Goulart preocupou muitos cidadãos. Muitos estudantes, marxistas e trabalhadores formaram grupos que se opunham ao regime militar. Uma minoria deles adotou a luta armada direta, enquanto a maioria apoiou soluções políticas para reverter a suspensão em massa dos direitos humanos no país. 

Nos primeiros meses após o golpe, milhares de pessoas foram detidas, enquanto milhares de outras foram removidas de seus cargos no serviço público ou na universidade. 

Em 1968, houve um breve relaxamento das políticas repressivas do país. Artistas e músicos experimentais formaram o movimento Tropicália durante esse período. No entanto, alguns dos principais músicos populares, como Gilberto Gil e Caetano Veloso , por exemplo, foram presos, encarcerados e exilados. Chico Buarque também deixou o país, exilado, para a Itália.

Em 1969, o Movimento Revolucionário de 8 de Outubro sequestrou Charles Burke Elbrick , o embaixador dos EUA no Brasil. Os combatentes da resistência exigiram a libertação de dissidentes presos que estavam sendo torturados em troca de Elbrick. O governo respondeu adotando medidas mais brutais de contra-insurgência , levando ao assassinato de Carlos Marighella , um líder guerrilheiro, dois meses após o sequestro de Elbrick. Isso marcou o início do declínio da oposição armada. Em 1970, Nobuo Okuchi, o cônsul-geral japonês em São Paulo , foi sequestrado, enquanto Curtis C. Cutter, o cônsul dos EUA em Porto Alegre , foi ferido no ombro, mas escapou de ser sequestrado. Também em 1970, Ehrenfried von Holleben, o embaixador da Alemanha Ocidental, foi sequestrado no Rio de Janeiro e um de seus guarda-costas foi morto. 


Repressão e Censura

pós o golpe militar, o novo governo apresentou uma série de medidas para fortalecer seu poder e enfraquecer a oposição. A complexa estrutura de repressão estatal atingiu diversos setores da sociedade brasileira e envolveu a implementação de medidas de censura, perseguições e violações de direitos humanos. 

A repressão sistemática durante esse período da história brasileira foi dependente e alternada entre os chamados "moderados" ("moderados") e "linha dura" ("linha dura") no poder.  O conjunto mais agressivo de medidas repressivas ocorreu durante o período entre 1968 e 1978, chamado de "Anos de Chumbo ". A característica repressiva do regime, no entanto, esteve presente na sociedade brasileira durante todo o regime militar.

A grande mídia, inicialmente cooperando com a intervenção militar na véspera do golpe, mais tarde se opôs ao governo e, portanto, caiu sob forte censura. A gestão de todos os setores da comunicação do país era supervisionada pela Assessoria Especial de Relações Públicas, criada no início de 1968, enquanto a censura foi institucionalizada pelo Conselho Superior de Censura, mais tarde naquele mesmo ano. 

O Conselho Superior de Censura era supervisionado pelo Ministério da Justiça, que era responsável por analisar e revisar as decisões apresentadas pelo diretor do departamento de Polícia Federal. O ministério também era responsável por estabelecer diretrizes e normas para implementar a censura em níveis locais. A censura institucionalizada afetava todas as áreas da comunicação na sociedade brasileira: jornal, televisão, música, teatro e todas as indústrias relacionadas às atividades de comunicação de massa, incluindo empresas de marketing.

Apesar dos esforços do regime para censurar toda e qualquer mídia que pudesse prejudicar o governo, a população encontrou maneiras de contornar isso o máximo possível. Embora artistas e jornalistas precisassem da permissão do conselho para publicar qualquer comunicação, às vezes conseguiam ultrapassar as barreiras da censura por meios não convencionais. Músicos recorriam a jogos de palavras para publicar músicas com críticas veladas ao governo, enquanto jornais famosos preenchiam os espaços vazios deixados em branco devido a artigos censurados com receitas aleatórias de bolo, uma forma de indicar à população que o conteúdo havia sido censurado pelo governo.


Direitos Humanos Violados?

Já em 1964, o governo militar utilizava sistematicamente as diversas formas de tortura que havia criado, não apenas para obter informações que utilizava para reprimir grupos de oposição, mas também para intimidar e silenciar quaisquer outros potenciais oponentes. Esse número aumentou radicalmente após 1968. 

Enquanto outras ditaduras na região na época matavam mais pessoas, o Brasil viu o uso generalizado da tortura, como também durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. O executor de Vargas, Filinto Müller, foi nomeado o "patrono dos torturadores" no Brasil. Conselheiros dos Estados Unidos e do Reino Unido treinaram as forças brasileiras em interrogatório e tortura. Para extinguir seus oponentes de esquerda, a ditadura usou prisões arbitrárias, prisões sem julgamento, sequestros e, acima de tudo, tortura, que incluía estupro e castração. O livro Tortura no Brasil fornece relatos de apenas uma fração das atrocidades cometidas pelo governo. 

O governo militar assassinou centenas de outros, embora isso tenha sido feito principalmente em segredo e a causa da morte frequentemente relatada falsamente como acidental. O governo ocasionalmente desmembrou e escondeu os corpos. O general francês Paul Aussaresses , um veterano da Guerra da Argélia , veio ao Brasil em 1973. Aussaresses usou métodos de " guerra contrarrevolucionária " durante a Batalha de Argel , incluindo o uso sistemático de tortura, execuções e voos da morte . Mais tarde, ele treinou oficiais dos EUA e ministrou cursos militares para a inteligência militar do Brasil. Mais tarde, ele reconheceu manter laços estreitos com os militares. 

Apesar da queda da ditadura, nenhum indivíduo foi punido pelas violações de direitos humanos, devido à Lei de Anistia de 1979, elaborada pelos membros do governo que permaneceram no poder durante a transição para a democracia. A lei concedeu anistia e impunidade a qualquer funcionário público ou cidadão acusado de crimes políticos durante a ditadura. Devido a uma certa "amnésia cultural" no Brasil, as vítimas nunca conquistaram muita simpatia, respeito ou reconhecimento de seu sofrimento.

Estão em curso trabalhos para alterar a Lei de Anistia, que foi condenada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. A Comissão Nacional da Verdade foi criada em 2011 com o objetivo de ajudar a nação a enfrentar o seu passado e homenagear aqueles que lutaram pela democracia, bem como a indemnizar os familiares dos mortos ou desaparecidos. O seu trabalho foi concluído em 2014. Relatou que, sob o regime militar, pelo menos 191 pessoas foram mortas e 243 "desapareceram". 

O número total de mortes ronda provavelmente as centenas, não chegando, mas podendo aproximar-se, de mil, enquanto mais de 50 000 pessoas foram detidas e 10 000 forçadas a exilar-se.

De acordo com a Comissão de Direitos Humanos e Assistência Jurídica da Ordem dos Advogados do Brasil , o "número de mortos no Brasil por tortura, assassinato e 'desaparecimentos' do governo entre 1964 e 1981 foi 333, incluindo 67 mortos na frente de guerrilha do Araguaia entre 1972 e 1974". De acordo com o Exército Brasileiro, 97 militares e civis foram mortos por ações terroristas e de guerrilha realizadas por grupos de esquerda durante o mesmo período. Em um relatório de 2014 da Comissão Nacional da Verdade do Brasil, que documentou os abusos dos direitos humanos do governo militar, foi observado que os Estados Unidos "passaram anos ensinando técnicas de tortura aos militares brasileiros durante esse período".



RANIERI MAZZILLI - 2 de Abril de 1964 a 15 de Abril de 1964

 


Era o primeiro dia de abril de 1964. Os militares haviam tomado conta do poder no Rio de Janeiro. De acordo com a Constituição vigente, caberia ao presidente da Câmara dos Deputados, Paschoal Ranieri Mazzilli, assumir temporariamente a Presidência da República, o que foi feito na madrugada de 2 de abril desse ano. Mazzilli era um jornalista e advogado. Em 1950, elegeu-se deputado federal pelo PSD de São Paulo. Foi reeleito em outubro de 1954, candidatou-se à presidência da Câmara, mas foi derrotado. Novamente reeleito em 1958, conquistou a presidência da Câmara. Desde então, foi reeleito para o mesmo cargo até 1965. Ocupou a Presidência da República pela primeira vez em 1960, uma vez que o presidente Juscelino Kubitschek estava em Portugal e Goulart estava impedido de de assumir por ter se candidatado à vice-presidente. Naquela época, os brasileiros votavam em separado para Presidente e para Vice-Presidente. Foram apenas 13 dias de governo Mazzilli. O argumento era de que tinha de evitar derramamento de sangue.

O governo de Jango Goulart se desmanchara. Às quatro da tarde do primeiro dia de abril, os cinco tanques que guardavam seu Palácio, fizeram o percurso emblemático das derrotas e indecisões que caracterizaram o governo Goulart. Jango voara para Brasília. Fugira da ratoeira que se convertera o Rio de Janeiro. Em Brasília passou apenas o tempo necessário para notar que trocara de ratoeira. O Presidente do Senado, Auro Moura Andrade, percebera o fim do governo. O Congresso começava a apoiar os militares. Às 22:30 horas o presidente abandonou a Granja do Torto, residência do mandatário, e voou para Porto Alegre em um avião da FAB. Nem sequer passou pelo Palácio do Planalto para limpar a mesa ou o cofre. Deixou à mulher, Maria Thereza, a tarefa de tirar os filhos da cama, juntar algumas malas e segui-lo para o Sul.

Enquanto o presidente voava para o Rio Grande do Sul, Auro Moura Andrade, baseado "nos fatos e no regimento", declarou vaga a Presidência da República e organizou uma cerimônia bizarra. No meio da madrugada, acompanhado pelo presidente do STF, rumou para o Palácio do Planalto. Levava o deputado Ranieri Mazzilli, que como presidente da Câmara, seria o sucessor de Jango. Formaram a menor comitiva de posse de um presidente da história. Atravessaram a Praça dos Três Poderes em poucos automóveis e encontraram o Planalto às escuras. O deputado Luiz Viana Filho subiu as escadas com a ajuda de fósforos acesos. Chegaram ao terceiro andar onde se daria a posse de Mazzili. Novamente assumiria o poder por 13 dias para "evitar derramamento de sangue". Enquanto isso, no quarto andar do mesmo prédio, Darcy Ribeiro e Waldir Pires pretendiam resistir em nome do governo deposto. Opositores e governistas encontraram-se na escuridão. Deu-se uma discussão em torno da lealdade. Darcy Ribeiro chamou o general Nicolau Fico, que acabara de trocar de lado, de "macaco traidor" e foi-se embora. Mazzilli era o novo presidente.

Os militares precisavam de um desfecho rápido. Os Estados Unidos haviam sinalizado que reconheceriam de imediato o novo governo, mandaram Robert Bentley, um jovem secretário da Embaixada dos EUA à posse de Mazzilli. Apesar de toda a tensão provocada, um empurrão dado no Rio de Janeiro por um coronel em um sentinela, e um insulto humilhante, imposto em Brasília por Darcy, um professor, a um general, simbolizaram a "violência" dos combates. Mas o povo na perdeu o momento. Em uma daquelas brincadeiras pejorativas que ainda são costumeiras, aproveitando a entrada de um novíssimo absorvente íntimo feminino no mercado, comparou Mazzilli, o presidente interino, ao Modess, pois ambos "sempre estavam no melhor lugar, nos piores dias, para evitar derramamento de sangue". Mazzilli era homem de poucas falas ou opiniões. É pouco citado. Em consequência, está sendo esquecido pela história.



JOÃO GOULART 1961 - 1964

 


Quem escutava rádio na tarde de 25 de agosto de 1961 foi surpreendido, de repente, com um boletim fora de hora do Repórter Esso, principal noticiário do país à época.

Não era trivial, dada a importância do acontecimento: "o senhor Jânio Quadros acaba de renunciar à Presidência da República!".

Seu vice-presidente, João Goulart, de quem, aliás, era adversário político, só saberia da notícia no dia seguinte, em Cingapura, aonde chegara após uma longa viagem pela China.

Começaria ali um périplo de 12 dias até que João Goulart – ou Jango, como era chamado desde a infância – saísse do país asiático e fosse empossado presidente do Brasil. Nesse intervalo de duas semanas, enquanto o cargo máximo da República titubeava na capital do país, Jango girou parte do mundo esperando uma definição.

João Belchior Marques Goulart, conhecido também pelo apelido de Jango, foi presidente do Brasil entre os anos de 1961 e 1964, quando foi deposto pelo Golpe Militar de 1964. João Goulart nasceu na cidade gaúcha de São Borja, em 1º de março de 1919, e faleceu na cidade argentina de Mercedes, em 6 de dezembro de 1976.

"A relação de Jânio Quadros e João Goulart nunca foi das melhores, sobretudo pela divergência de posições ideológicas entre eles. No final de julho de 1961, essa relação era tensa, e Jango recebeu o convite do presidente de ingressar em uma viagem diplomática à República Popular da China.

João Goulart viajou até a China, e lá soube que uma crise sem precedentes se iniciava: Jânio Quadros havia renunciado e João Goulart deveria retornar imediatamente para o Brasil, pois assumiria a presidência do país. A sucessão de Jânio resultou em uma das crises mais intensas da política brasileira e iniciou a Campanha da Legalidade.

A crise se iniciou porque os ministros militares não aceitavam a posse de João Goulart como presidente. Pela Constituição de 1946, a posse era legal, uma vez que Quadros havia renunciado. Assim, uma luta política se iniciou entre aqueles que pretendiam impor um golpe e impedir a posse de Jango e os que queriam cumprir a lei e garantir a posse.

Os militares ameaçaram prender João Goulart caso ele retornasse ao Brasil. A resposta veio da sociedade civil e foi liderada por Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul e cunhado de Jango. O governador do Rio Grande do Sul colocou as forças militares de seu estado em defesa de João Goulart e iniciou uma campanha para convencer a população a apoiar Jango.

Brizola criou a Rádio da Legalidade e discursava durante horas em defesa da posse de Jango e da Constituição brasileira. Ele incentivou que a população se armasse e transformou o Palácio do Piratini em um búnquer. As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling afirmam que Brizola distribuiu armas aos funcionários do palácio, instalou metralhadoras em posições estratégicas, colocou sacos de areia na frente do Piratini, e andava portando uma metralhadora.|2|

O Brasil esteve próximo de iniciar uma guerra civil, pois os militares chegaram a autorizar o bombardeio do Palácio do Piratini, mas o ataque não aconteceu. O Congresso não aceitou impedir a posse de Jango, e logo Brizola passou a ter o apoio de Mauro Borges, governador de Goiás. Ele garantiu que escoltaria Jango até Brasília se fosse necessário e colocou Goiânia como cidade rebelada.

Além disso, houve grande mobilização da população pela posse de João Goulart. Isso acuou os militares, que perceberam que o político gaúcho somente seria impedido de assumir a presidência pelo poder das armas. Assim, uma solução foi encontrada: Jango foi obrigado a assumir a presidência em um sistema parlamentarista, que limitava os seus poderes."


Seu Governo

"Com o fim da crise de sucessão e o sucesso da Campanha da Legalidade, João Goulart assumiu a presidência no dia 7 de setembro de 1961. O seu governo pode ser dividido em duas fases:

Parlamentarista: de setembro de 1961 a janeiro de 1963;

Presidencialista: de janeiro de 1963 a abril de 1964.

Durante a fase parlamentarista, os poderes políticos do presidente foram diluídos e a figura mais importante no governo era o primeiro-ministro. Isso foi a forma encontrada para que os militares aprovassem a posse de Jango, mas também não durou muito. Um plebiscito realizado em 1963 determinou o retorno do presidencialismo no Brasil."

"O governo de Jango se deu em um momento de radicalização política no Brasil e de articulações contra a democracia. Grupos conservadores, como o grande empresariado, a UDN e a grande mídia, defendiam a possibilidade de um golpe militar em nosso país desde a década de 1950, e o próprio Exército se engajou em diversas demonstrações de golpismo.

João Goulart era um quadro progressista, e a sua presença na presidência do país incomodava grupos da elite daqui e de nações poderosas, como os Estados Unidos, que, no contexto da Guerra Fria, atuavam consistentemente para derrubar lideranças progressistas em todo o continente americano, sobretudo depois do exemplo cubano.

Assim, o governo de João Goulart tornou-se alvo da atenção do governo norte-americano, que passou a atuar para desestabilizar a posição do presidente. Essa atuação norte-americana encontrou apoio nos militares e na elite econômica do país, que, como mencionado, eram fortes opositores da política de Jango.

O presidente, por sua vez, engajou-se em um programa de reformas estruturais no país que ficou conhecido como Reformas de Base. Esse programa buscava resolver gargalos históricos de nosso país, como a questão da propriedade de terra. O principal debate das Reformas foi a reforma agrária, mas essa pauta não avançou e ainda rachou a base de apoio do presidente.

A desestabilização do governo de João Goulart seguiu sendo feita pelo Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, o Ipes. Esse instituto reuniu militares e civis em uma conspiração contra o presidente. Além de enfraquecer o governo, o Ipes atuou intensamente para a organização de um golpe militar com o apoio norte-americano.

De crise em crise, a posição de João Goulart foi sendo desgastada e se ampliou quando ele radicalizou em defesa das Reformas de Base, em março de 1964. Um golpe militar se iniciou em 31 de março de 1964 e foi acompanhado por um golpe parlamentar, que derrubou o presidente em 2 de abril de 1964. Jango foi sucedido por Humberto Castello Branco, militar eleito por via indireta. Era o início da Ditadura Militar."

"Depois do golpe civil-militar, Jango fugiu do Brasil e exilou-se no Uruguai. Passou a dedicar-se aos trabalhos na fazenda que adquiriu no país vizinho. Enquanto isso, os militares iniciavam as primeiras perseguições em nosso país, dando uma amostra de todo o autoritarismo que se instalaria no Brasil por 21 anos.

Em 1966, ele ingressou na Frente Ampla, um movimento político de oposição criado por Carlos Lacerda, o jornalista udenista que apoiou o golpe e foi um ferrenho crítico de Jango durante a República de 1946. Carlos Lacerda se desiludiu com os militares depois que a eleição presidencial de 1965 fora cancelada.

Depois de exilar-se no Uruguai, Jango se mudou para Buenos Aires, na Argentina. Seu período de exílio coincidiu com a piora de sua saúde. O ex-presidente se tornou depressivo e passou a ter vários episódios com seu coração. João Goulart era um homem cardíaco e tinha um estilo de vida sedentário, o que agravava sua condição.

Em 6 de dezembro de 1976, ele faleceu vítima de um ataque cardíaco. Na época, não foi realizada uma autópsia do seu corpo, e isso deu espaço para uma série de especulações acerca da sua morte. Muitos passaram a defender que João Goulart teria sido envenenado por agentes da ditadura, mas inúmeras investigações feitas não conseguiram provar isso."


JÂNIO DA SILVA QUADROS - 31 de Janeiro de 1961 a 25 de Agosto de 1961

 


Ao tomar posse em 31 de janeiro de 1961, os milhões de cidadãos que elegeram o presidente Jânio Quadros não poderiam imaginar que, em menos de sete meses, ele renunciaria a seu cargo.

Eleito sob o slogan “varre, varre, vassourinha”, em que pregava que iria “varrer” a corrupção do país, Jânio Quadros se envolveu em diversas polêmicas que desencadearam em sua renúncia.

Jânio Quadros já era uma figura de destaque na política brasileira antes de se tornar presidente da República. Ele começou sua carreira como vereador em São Paulo em 1947.

Em seguida, foi eleito deputado estadual, prefeito da cidade e governador do estado em 1954. Ou seja, em apenas sete anos após sua eleição como vereador, ele chegou ao cargo de governador de São Paulo.

Em 1958, Jânio Quadros foi eleito deputado federal pelo estado do Paraná. No entanto, já estava de olho na presidência, cujas eleições ocorreriam em 1960. Durante esse período, ele viajou com sua família e não participou de nenhuma sessão do Congresso.

Entre os destinos de sua viagem estavam países comunistas, como a China, que na época era liderada por Mao Tsé-Tung. Iniciavam aí as polêmicas, dentre as diversas que Quadros enfrentará.

Quando Jânio Quadros retorna de sua viagem, se depara com um momento oportuno para empreender sua campanha à presidência. Juscelino Kubitschek, então presidente, estava no fim de seu mandato.

Devido a inúmeros fatores, entre eles os gastos com a criação de Brasília, JK deixou o país com uma forte crise econômica. Jânio Quadros iria usar isso à seu favor e ser eleito.

Em 3 de outubro de 1960, com o apoio da União Democrática Nacional (UDN) e de outros pequenos partidos, sob o jingle “varre, varre, vassourinha”, Jânio Quadros derrotou o candidato Marechal Lott nas urnas.

Jânio recebeu 5.636.623 votos, enquanto o Marechal Lott, 3.846.825, quase dois milhões de votos a mais que o derrotado. O vice-presidente eleito foi João Goulart, o Jango, outra figura que entraria mais tarde na história do Brasil por sofrer um golpe de Estado pelos militares.

A ascensão de Quadros ao poder se deve, sobretudo, por conta de sua postura populista, que demonstrava ser apartidário, acima dos partidos e uma imagem associada à um tipo inimigo número um da corrupção (daí o jingle “varre, varre, vassourinha”), além de se opor à política do ex-presidente Juscelino Kubitschek (JK), que já estava gerando insatisfação em uma parcela da população, devido o aumento do custo de vida.

Uma característica marcante de Jânio era sua maneira de falar e expressar-se. Foi professor de Português e de Geografia. Utilizava frequentemente as normas da língua portuguesa com construções eruditas, para manter sua imagem de pessoa culta, instruída e literata. Fazia isso em declarações, cartas, documentos, em tudo o que dizia e escrevia.

Em seu discurso de posse em 31 de janeiro de 1961, o presidente eleito proferiu que o Brasil enfrentava uma crise moral:

“Tão graves como a situação econômica e financeira se me afigura a crise moral, administrativa e político-social em que mergulhamos.”

Deste modo, inicia a criação de uma série de medidas impopulares, tanto no âmbito econômico quanto no âmbito do lazer e cultura. Vamos conhecer algumas delas?


Medidas Impopulares

Corridas de Cavalo: O presidente Jânio Quadros, por meio de um decreto, começa suas medidas nada populares: a partir daquele momento, corridas de cavalos e jóqueis durante os dias de semana ficaram proibidas, sendo permitido apenas aos domingos e feriados. Além disso, o acesso a estas corridas só poderia ser para pessoas acima de 21 anos.


Maiôs e Biquinis: Outra medida surpreendente de Quadros foi a proibição do uso de biquínis nas praias brasileiras. Ademais, nos desfiles de concursos de belezas também estava vetado a utilização de maiôs muito cavados. No decreto lançado por ele dizia que as competidoras não poderiam “apresentar-se ou desfilar em trajes de banho sendo tolerado o uso de saiote.”


Lança-Perfume: Continuando sua demonstração de conservadorismo, Jânio Quadros proibiu tanto a fabricação quanto a distribuição e o uso do lança-perfume em todo o território nacional. O lança-perfume é uma substância de consumo pelas vias respiratórias à base de clorofórmio e cloreto de etila, normalmente com éter e algum aroma. Era muito comum o seu uso em festas brasileiras, como o carnaval, desde o início do século XX, e a sua proibição também desagradou boa parcela da população acostumada às farras de carnaval.


Rinhas de Galo: As rinhas de galo eram muito populares no Brasil na época em que Jânio Quadros era presidente. Essas rinhas envolviam apostas em dinheiro e incomodava o chefe do executivo. Em 18 de maio de 1961, um decreto lançado pelo presidente proibiu as brigas de galo no país, incluindo outros espetáculos em que a atração principal era a briga entre animais.


Flertando com o Comunismo

Jânio Quadros já havia feito uma viagem que trouxe polêmicas à sua imagem, pois alguns dos países que visitou eram comunistas. Em um contexto mundial denominado como guerra fria, apresentar afeição aos líderes dessas nações era um risco para o sistema capitalista, mesmo que isso não fosse o caso de Quadros.

Em 1960, por exemplo, Jânio Quadros foi à Cuba, país que um ano antes realizou a Revolução Cubana, que colocou Fidel Castro no poder, além da própria China já citada mais acima.

Jânio também condecorou duas personas non gratas para o sistema capitalista, agora já como presidente: em 2 de agosto de 1961, o astronauta da URSS, Yuri Gagarin, que havia sido o primeiro homem a viajar pelo espaço, e o mais polêmico de todos: o líder da Revolução Cubana, Ernesto Che Guevara, em 19 de agosto.

Apesar de não haver nesse gesto, segundo o historiador Boris Fausto (2010), nenhuma demonstração de apoio ao comunismo e sim de simbolizar para o grande público a política externa independente que Jânio começara por em prática, essa condecoração a Che Guevara não agradou em nada os seus aliados da UDN, principalmente os militares e os setores mais conservadores.


A Renúncia

Jânio Quadros estava governando sem uma base política de apoio. Carlos Lacerda, governador da Guanabara e um jornalista de grande destaque no cenário brasileiro, passou para a oposição e começou a realizar ferrenhas críticas ao presidente.

Além disso, a própria UDN estava se queixando da postura do presidente, pois o mesmo agia sem consultar a liderança udenista no Congresso, sem contar ainda o fato de que a política externa independente do Quadros causava preocupações, assim como a simpatia presencial pela reforma agrária.

Em 24 de agosto de 1961, Carlos Lacerda transmitiu pela rádio um discurso no qual acusava o presidente de tramitar um golpe, articulado pelo então ministro da Justiça Oscar Pedroso Horta. O ministro negou a acusação, mas o burburinho pelo país já era dado como certo: o fato culminou na renúncia do presidente, no dia seguinte.

Pode-se supor que todas as medidas impopulares feitas por Jânio Quadros ajudaram em sua decisão de renunciar seu cargo de chefe do Estado. Porém, segundo o historiador Boris Fausto (2010), a renúncia não chegou a ser esclarecida em sua totalidade.

Na sua carta de renúncia enviada ao congresso, seguido de um bilhete (ele adorava trocar bilhetes internos), o presidente justificou a atitude. Sem ser muito claro, ele escreveu que tentou combater a corrupção, mas fora “vencido pela reação” e “esmagado” por “forças terríveis”:

“Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo (…). Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou me infamam, até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade”. (…).

Uma hipótese que pode auxiliar na elucidação da sua renúncia, de acordo com Bóris Fausto, combina informações de uma personalidade de Jânio Quadros um tanto quanto instável, com um cálculo político equivocado, pois o presidente esperava conseguir a partir desta renúncia uma volta ao poder com muito mais poderes para governar.

Apesar dessa hipótese, não se sabe ao certo o que pretendia Jânio Quadros com esta renúncia. Os fatos indicam que seu gesto objetivava causar uma comoção nacional que o recolocasse na cadeira da presidência de forma triunfal e que, de preferência, o congresso não o importunasse.

Com sua renúncia, a constituição deixava claro que quem deveria assumir era o vice-presidente, no caso, João Goulart, porém, esta posse ficou temporariamente suspensa, pois setores militares viam na figura de Jango um perigo à democracia e uma brecha aos comunistas chegarem ao poder.

Em seu lugar, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, ficou no cargo de modo temporário, até que Jango tomasse posse apenas em 7 de setembro de 1961, com um sistema parlamentarista aprovado pela Câmara, ou seja, seus poderes estavam limitados.

Já era um caminho para a instauração da Ditadura Militar que viria quase três anos depois, mas esta é uma outra história.