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domingo, 26 de outubro de 2025

MOISÉS NUNCA EXISTIU

 


Diz a Bíblia: “E em Israel nunca mais surgiu um profeta como Moisés, a quem o Senhor conhecia face a face”. Esta frase está no último capítulo do livro do Deuteronômio, logo após a narrativa da morte do herói. Tamanha intimidade com Deus teria permitido que o líder israelita visse o próprio Criador (ainda que não o rosto divino, que não podia ser vislumbrado) e recebesse das mãos dele as tábuas com os Dez Mandamentos, a base da legislação sagrada que judeus e cristãos veneram até hoje. De quebra, segundo a tradição judaica, os cinco primeiros livros da Bíblia, que compõem a parte mais sagrada do Velho Testamento, seriam obra de Moisés.

Só tem um problema: descobertas de historiadores e arqueólogos têm lentamente desmontado a saga de Moisés. O libertador dos israelitas talvez seja uma figura quase tão mitológica quanto Daenerys Targaryen, a heroína de Guerra dos Tronos. É verdade que um líder tribal chamado Moisés, ou algo parecido, pode até ter existido há 3 mil anos, mas basicamente nenhum feito atribuído a ele passa pela peneira do escrutínio histórico.

Por outro lado, a saga que está na Bíblia não surgiu do nada. Ela é fruto de um longo processo histórico, que culminou na criação do monoteísmo. Essa saga, embora não contenha milagres e talvez seja complexa demais para virar novela, é tão fascinante quanto a narrada pelo Livro Sagrado.


O Nome

A primeira pista para dissecar a origem de Moisés está no nome dele e de seus parentes. Apesar de, segundo a Bíblia, todos eles serem israelitas, seus nomes não são em hebraico, a língua desse povo. As denominações “Moisés”, “Aarão” (seu irmão) e “Fineias” (seu sobrinho-neto) são derivadas do idioma egípcio.

“Moisés”, por exemplo, tem a mesma origem que as terminações dos nomes dos faraós Ramsés e Tutmósis. Os três derivam do egípcio antigo “msézs”, que significa “filhos de” – Ramsés, portanto, quer dizer “filho do deus Ra” (faraós não eram modestos). “No caso de Moisés, falta o nome da divindade da qual ele seria considerado filho”, destaca o teólogo Leonardo Agostini Fernandes, especialista em Antigo Testamento da PUC-RJ.

Ou seja: o nome “Moisés” estaria para “Tutmósis” assim como “son” está para “Anderson”. Não é um nome, mas um sufixo, que nem faz sentido sem o devido prefixo. Isso pode significar, primeiro, que o herói é completamente lendário. Segundo, que seus criadores queriam dar ao personagem um nome que soasse egípcio (já que o Egito era a grande potência da época), mas erraram a mão por não conhecerem bem a língua estrangeira. Mais ou menos como acontece hoje com quem batiza o filho como “Maicon”.

Mas por que inventar um personagem de nome “egipciado”, e não israelita (como seria se ele se chamasse “Saul” ou “Isaías”)? Provavelmente por causa do domínio que o Egito exerceu sobre vastas áreas do Oriente Médio no período final da Idade do Bronze (de 1500 a.C. até uns 1200 a.C.). Nessa época, boa parte dos territórios atuais de Israel, Palestina, Jordânia, Líbano e Síria não passavam de províncias egípcias, controladas pelos faraós com o auxílio de nobres vassalos das cidades-Estado da região.

Entre 1200 a.C. e 1100 a.C., porém, o império egípcio desmoronou – o motivo mais provável é que uma mudança climática tenha causado um período de fome, desestabilizando o Estado. E olha só: exatamente nessa época, como  arqueólogos do século 20 descobririam, surgiu uma nova onda de assentamentos nas montanhas de Canaã: seriam os primeiros vilarejos israelitas, levantados no vácuo de poder que instalou-se em Canaã com o fim do domínio dos faraós.

Essa comunidade, como qualquer agrupamento humano, tinha suas histórias – lendas para serem contadas em volta da fogueira. Uma dessas lendas provavelmente envolvia rebeldes egípcios que ajudaram a fundar a própria comunidade na periferia dos domínios faraônicos, conforme o governo se desmantelava. As  figuras lendárias de Moisés (e de Aarão, e de Fineias) teriam nascido nesse momento de transição, como personagens de histórias orais, que cresciam e se multiplicavam de fogueira em fogueira, enquanto a comunidade israelita se firmava numa Canaã agora livre do jugo egípcio.

Quem conhece a Bíblia sabe que essa é uma realidade bem diferente da registrada ali. Só para recapitular: no Livro Sagrado, a comunidade israelita começou como uma família, por volta de 1900 a.C., cujo patriarca era justamente um homem chamado Israel (e nascido com o nome de Jacó). No fim da vida, Jacó/Israel sai de Canaã com seus filhos e netos. Sai para morar no Egito, onde José, outro de seus 12 filhos, é uma espécie de primeiro-ministro. A família cresce nos séculos seguintes até se tonar uma nação de mais de 1 mihão de indivíduos, encravada em pleno Delta do Nilo, bem longe de Canaã.

Essa nova nação, diz o texto bíblico, acaba escravizada pelos egípcios. Então surge Moisés, um descendente de Jacó que crescera como príncipe na corte egípcia. Ele liberta seu povo e termina guiando-o para Canaã, a terra que Jacó e seus filhos tinham deixado para trás 400 anos antes – a mesma terra que, lá atrás, tinha sido prometida por Deus a Abraão, avô de Jacó.


Os israelitas jamais moraram no Egito

Na vida real, como a arqueologia deixa claro, não foi bem isso: a nação de Israel surgiu a partir de tribos que sempre haviam morado em Canaã mesmo. Eles eram cananeus da gema. Nunca, jamais, moraram no Egito. Muitos cananeus proto-israelitas (cujos netos e bisnetos formariam o povo de Israel lá na frente) certamente foram escravos de egípcios – inclusive dentro de Canaã, já que esse era o destino de vários habitantes de regiões dominadas. Daí teria surgido a história de que toda a comunidade israelita formou-se como nação enquanto era escrava.

Mario Liverani, arqueólogo da Universidade La Sapienza, em Roma, é um dos pesquisadores que defendem essa tese. Seu ponto de vista é o seguinte: com o passar dos séculos, as sagas sobre a libertação do jugo egípcio dentro da Terra Prometida passaram a ser contadas como uma fuga épica do Egito para a Terra Prometida. Simples assim.


Moisés não escreveu a Torah

Outra certeza dos historiadores é que Moisés não escreveu o quinteto inicial de livros bíblicos – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

As pistas a esse respeito são diversas, a começar pela presença de várias narrativas diferentes, e muitas vezes contraditórias, do mesmo evento nos livros supostamente mosaicos. Há, por exemplo, três versões diferentes dos Dez Mandamentos. Como ninguém imagina que Moisés andava se esquecendo das coisas e escrevendo a mesma história diversas vezes, com variações, a hipótese dominante desde o século 19 é que vários textos antigos foram costurados e editados para produzir o Pentateuco, os “cinco livros de Moisés”, que os judeus chamam de Torá.

Mais: todos os textos do Livro Sagrado foram escritos séculos depois do suposto Êxodo do Egito, que teria começado em 1446 a.C., segundo a cronologia bíblica. A redação dos primeiros textos data de, no mínimo, 800 a.C., época em que os israelitas já formavam uma sociedade próspera e organizada – ou seja, com exércitos, sacerdotes, escribas, burocratas; o único tipo de ambiente capaz de produzir obras literárias complexas. Essa fase teria começado quando uma dúzia de tribos se uniu nas montanhas de Canaã para formar um Estado propriamente dito, o reino de Israel. Em poucas gerações, porém, essa nação acabou dividida em duas: as rivais Judá, no sul de Canaã, e outra, ao norte, que manteve o nome antigo (Israel). A capital de Judá era Jerusalém, a cidade mais importante do reino original. Já os monarcas de Israel ( “Israel 2”, no caso) viviam na luxuosa Samaria.

Seja como for, os habitantes dos dois reinos podem ser chamados de “israelitas”. E foram os reis, sacerdotes e escribas israelitas, tanto de Judá como de Israel, que colocaram no papiro as histórias de beira de fogueira que seu povo contava desde 1200 a.C., 1100 a.C. Essas histórias, diga-se, se tornariam a coluna vertebral do maior best-seller de todos os tempos, a Bíblia.

Mas não foram só lendas que entraram ali. Os textos da Bíblia, afinal, também funcionavam como uma Constituição para os israelitas. Segundo o que foi escrito no Livro Sagrado, Moisés recebeu das mãos de Deus a parte mais importante dessa Constituição – os Dez Mandamentos. Mas, se Moisés provavelmente é um personagem fictício, e a hipótese de que Deus escreveu Ele mesmo os Mandamentos, como está na Bíblia, é questão de fé, não de história com “H” maiúsculo, nos resta uma pergunta: Quem escreveu os Dez Mandamentos?

Boa parte da lista dos Dez Mandamentos – “Não matarás”, “Não cometerás adultério”, “Não roubarás” – provavelmente é bem mais antiga que a Bíblia, já que nenhuma sociedade consegue funcionar sem esse tipo de regra. Mas a forma definitiva das leis é bem mais recente.

Quase todos os especialistas concordam hoje que a versão mais antiga dos Dez Mandamentos é a que consta no capítulo 5 do Deuteronômio, livro bíblico “publicado” pela primeira vez em 622 a.C. Nesse ano, segundo o Antigo Testamento, um texto conhecido simplesmente como o “Livro da Lei” ou “Livro da Aliança” foi descoberto dentro do Templo de Jerusalém e levado até Josias, rei de Judá.

De acordo com a Bíblia, essa obra seria a compilação original das leis dadas por Deus a Moisés, que teria ficado esquecida por séculos. De acordo com a maior parte dos pesquisadores, essa obra é o livro bíblico hoje conhecido como Deuteronômio.

Trata-se de um livro que contém vários discursos atribuídos a Moisés. Ali, o líder lendário do passado recita as centenas de leis tradicionais da comunidade israelita; as Leis de Moisés, entre as quais estão os Dez Mandamentos.

Ao tomar conhecimento do conteúdo do “Livro da Aliança”, diz a Bíblia, Josias ficou transtornado por perceber que seu povo não estava seguindo as leis divinas escritas ali. Não que Judá tivesse se convertido numa terra de adúlteros, ladrões e assassinos. Mas uma coisa era fato: enquanto o Livro da Lei falava o tempo todo que só existe UM Deus, Iahweh, e que cultuar outras divindades era um crime mortal, Judá era uma nação politeísta. Iahweh até era o deus principal. Mas tratava-se de apenas uma divindade em meio a tantas outras.


Mandamentos

Josias, segue a versão bíblica da história, iniciou então um projeto ambicioso de reforma religiosa. Primeiro, fez uma leitura pública do livro sagrado para todos os moradores de Jerusalém, para mostrar que Moisés em pessoa, o maior personagem das lendas israelitas, repudiava o politeísmo. Depois destruiu as estátuas de deuses pagãos, que existiam no próprio Templo de Jerusalém, o santuário de Iahweh.

Ele ainda eliminou os altares tradicionais na zona rural, onde sacrifícios costumavam ser feitos a Iahweh. Dali por diante, a adoração ao deus dos judeus, aquele que séculos mais tarde se tornaria o Deus com “D” maiúsculo dos cristãos e muçulmanos, ficaria totalmente centralizada no Templo em Jerusalém. A Bíblia, por fim, elogia esse conjunto de medidas com toda a pompa: “Não houve antes dele rei algum que se tivesse voltado, como ele, para Iahweh, de todo o seu coração, de toda a sua alma e com toda a sua força, em toda a fidelidade à Lei de Moisés; nem depois dele houve algum que se lhe pudesse comparar.”

Só para lembrar: a história de Josias até aqui é a que está na Bíblia. Mas a verdade histórica sobre ele, ao que tudo indica, é outra, a que vamos ver daqui em diante. Para começar, a semelhança desse elogio bíblico com o que o Deuteronômio diz sobre Moisés no início desta matéria não é mera coincidência. É que, justamente na época de Josias, o Egito voltava a fincar garras em Canaã, coisa que não acontecia desde a fundação das primeiras comunidades israelitas, aquelas que contavam histórias sobre rebeldes libertadores em volta da fogueira, 600 anos antes de Josias.

De volta para o futuro. Os egípcios começam a avançar sobre Canaã na condição de aliados do Império Assírio, uma potência da Mesopotâmia (atual Iraque) que há séculos infernizava a vida dos israelitas. Em 722 a.C., os assírios haviam destruído o reino de Israel e anexado seu território. Nas décadas seguintes, chegaram perto de destruir Judá. O  reino acabou poupado.

Mas Josias agora temia pelo futuro de Judá. Sob a pressão de egípcios e assírios, seu reino poderia ter o mesmo destino daquele reino de Israel original, que acabou dividido. Sem falar que Judá era pequena até para os padrões da Antiguidade. Com área um pouco maior que a da região metropolitana de São Paulo, o reino não resistiria se perdesse a unidade política. Viraria parte do Egito, ou da Assíria, e terminaria sua odisseia na Terra, como já tinha acontecido com tantos povos e culturas do Oriente Médio.

Mas Josias tinha um plano. Para dar a unidade que ele imaginava necessária ao seu reino, o soberano adotou uma ferramenta inédita: proibir o culto a deuses estrangeiros. Só Iahweh, o deus nacional, poderia (e deveria) ser cultuado. Era uma forma eficaz de evitar influências de fora, que eventualmente poderiam rachar a nação.

Até porque, pelo que a arqueologia revela, os israelitas sempre tinham acreditado em vários deuses. É o contrário do que diz a Bíblia, já que ali o monoteísmo começa bem antes, com Abraão, o avô de Jacó, e sofre apenas alguns “soluços” de politeísmo. Mas não: além de Iahweh, os israelitas cultuavam Baal, Asherah, El… – deuses que faziam parte da mitologia de Canaã desde mais ou menos 2000 a.C.

Josias, então, decide banir essa democracia ritualística com o propósito de fortalecer a unidade nacional. Como? Anunciando que encontrou um certo “Livro da Lei” perdido no Templo, um documento com quase mil anos de idade, contendo a palavra de Moisés, em pessoa. Um documento com o líder mais legendário ditando as leis “originais” dos Filhos de Israel. Na prática, aquilo servia como se fosse a Bíblia inteira, já que o Livro Sagrado, até onde se sabe, ainda não existia na forma como o conhecemos.

Na opinião de boa parte dos historiadores, essa forma final começava a nascer ali, sob a pena de Josias. O rei teria escrito ele mesmo (com a ajuda de sacerdotes e escribas) o “Livro da Lei”. Ele seria, então, o autor dos Dez Mandamentos. Ele teria criado a história na qual Moisés recebe as tábuas das mãos de Iahweh.

Agora, vamos convir: se você fosse um israelita típico, ficaria muito, muito tentado a obedecer essas leis. Nada podia ser mais fenomenal, mais sagrado, do que palavras escritas pelo deus nacional e entregues para o herói nacional, o homem que libertara seu povo da escravidão séculos atrás.

E, se você decidisse seguir mesmo essas leis, estaria fazendo exatamente o que Josias tinha imaginado: abandonaria seu politeísmo. Sim, porque, dos Dez Mandamentos, nada menos que três são ordens para desistir de uma vez por todas de venerar outros deuses. Tudo para não deixar a menor dúvida sobre o que significava ser um morador de Judá. Para aglutinar ainda mais a população, Josias implementou outra medida: o culto a Iahweh só poderia acontecer no Templo de Jerusalém. E uma nova religião nascia ali, em Judá: o judaísmo.

O “Livro da Lei” de Josias acabaria dando novas cores à história de Moisés. Agora o líder do passado não seria tratado apenas como libertador, mas também como legislador. O Pentateuco terminaria de ser escrito no século seguinte. E trechos do “Livro da Lei” iriam parar no futuro livro do Êxodo, que contaria a história de Moisés do jeito que ela é conhecida hoje – com a cestinha no Nilo, a abertura do Mar Vermelho (que provavelmente já era a lenda oral mais antiga dos israelitas) e, para fechar com chave de ouro, os Dez Mandamentos.

A continuação da saga também ganharia sua forma final, com Josué, sucessor de Moisés, finalmente guiando o povo de Deus para dentro da Terra Prometida. Tudo numa grande ofensiva militar contra as cidades cananeias (e politeístas) da região. O ápice cênico, aliás, é a conquista da cidade murada de Jericó – outra história bíblica desmentida pela arqueologia, já que não havia uma cidade grande com muralhas na região quando Josué teria vivido.

Outro episódio marcante que a historiografia ajuda a descortinar é aquele que envolve um certo bezerro de ouro. A narrativa bíblica diz que Moisés passou 40 dias e 40 noites recebendo instruções de Deus no alto do Monte Sinai. Cansados de esperar o profeta, os israelitas teriam pedido a Aarão, o sacerdote do Êxodo: “Faze-nos um deus que vá à nossa frente”. Usando milhares de brincos de ouro, Aarão forjou então a estátua de um bezerro e construiu um altar diante dela, no qual foram oferecidos sacrifícios.


Bezerro de Ouro

Essa história também teve uma inspiração clara na vida real. É que outra figura do passado israelita era fã de bezerros de ouro. Trata-se de Jeroboão, primeiro monarca de Israel, o reino do norte, que mandou construir duas dessas estátuas, uma em Betel outra em Dan, uma em cada ponta de seus domínios. A ideia era rivalizar com o Templo de Jerusalém, em Judá.

É óbvio que o reino do sul não gostou da ideia. Tanto que, durante sua reforma religiosa, Josias fez questão de visitar Betel (que a essa altura pertencia oficialmente à Assíria, após o fim do reino de Israel) e destruir o altar-bezerro construído por Jeroboão.

Mais. Ao testemunhar o episódio de adoração ao bezerro de ouro, Moisés perde a cabeça e quebra as tábuas onde estão gravados os Dez Mandamentos, diz o capítulo 34 do Êxodo. Iahweh repõe o material destroçado, produzindo uma segunda versão. Só que esta surge bem diferente da primeira, como você pode ver neste adendo aqui. Ou seja: na vida real, cada lista provavelmente foi escrita por um autor distinto, com décadas, ou séculos, de intervalo.

Moral da história: a narrativa sobre o bezerro no Êxodo também teria sido retrojetada – ou seja, inserida no passado – para justificar uma ação que Josias tomou na vida real.

Só tem um problema: a Judá forte e unida forjada por Josias não se mostrou um projeto bem-sucedido. A Assíria tinha sido ela própria dominada por outro reino da Mesopotâmia, por volta do ano 600 a.C.: o da Babilônia. Judá, então, virou um mero peão no jogo de xadrez entre a agora poderosa Babilônia e sua eterna pedra no sapato, o Egito. Josias morreu com Judá ainda de pé. Mas seus sucessores, sem grande habilidade diplomática, tomaram decisões que levaram à destruição do reino – e à deportação de milhares de membros da elite judaica para a Babilônia, em 586 a.C.

O que a história de Moisés tem a ver com isso tudo? Bem, 50 anos após o fim do reino de Judá, as famílias dos deportados foram autorizadas a voltar para casa e reconstruir Jerusalém. Como os israelitas do Êxodo, tiveram de atravessar o deserto no caminho para a terra natal.


Talvez seja por isso que, no Deuteronômio, Moisés morra pouco antes de seu povo adentrar a Terra Prometida. Na versão final do livro, redigida pelos exilados que estavam voltando, Moisés sai de cena sem o prêmio de colocar os pés em Canaã. E fica a mensagem: a vida do libertador não precisava disso para fazer sentido. Tudo já tinha valido a pena.

Essa característica inspiradora, de certa forma, ajuda a explicar o poder que a saga tem até hoje. A jornada árdua pelo deserto rumo à liberdade motivaria vários outros povos a enfrentar seus próprios “faraós”. É o caso dos responsáveis pela declaração de independência dos EUA, no século 18, que construíram a primeira democracia depois da Grécia Antiga. Os revolucionários ali quase transformaram a imagem de Moisés abrindo o Mar Vermelho no brasão de seu país.

É isso. Acredite você ou não que a história de Moisés foi escrita sob inspiração divina, o fato é que isso não muda em nada a força da mensagem que está ali. Uma mensagem de superação e de luta por liberdade que moldaria a história do mundo séculos mais tarde. E que continua viva e influente, milênios depois de todos os impérios da Antiguidade que oprimiam a pequena Judá terem virado pó. 


Fonte:

https://super.abril.com.br/historia/os-dez-mandamentos-a-verdadeira-historia-de-moises/

HERÓIS COLOCADOS EM UM CESTO E EM UM RIO

 


Sargão da Akadia

A mãe de Sargão, cujo nome é desconhecido, colocou Sargão em um cesto no rio Eufrates, o nome do pai de Sargão é La'ibum, mas eles não eram próximos. Sargão da Acádia foi encontrado no rio Eufrates por um jardineiro, chamado Akki. 

Sargão se orgulha de ser filho de um carregador de água, reconhecendo Akki como seu pai adotivo, contudo, ele sabe de sua origem, pois ele diz ser cidadão da antiga cidade de Azupiranu. 

Azupiranu é um nome acadiano que significa "cidade do açafrão.


Um texto neoassírio do século VII a.C., que alega ser a autobiografia de Sargão, afirma que o grande rei seria o filho ilegítimo de uma sacerdotisa. No relato neoassírio o nascimento e a infância de Sargão são descritos:


Minha mãe foi uma alta sacerdotisa, meu pai eu não conheci. Os irmãos de meus pais amavam as montanhas. Minha cidade é Azupiranu, que se situa às margens do Eufrates. Minha mãe, alta sacerdotisa, me concebeu, em segredo me pariu. Colocou-me numa cesta de juncos, e selou-o com betume. Colocou-me no rio, que se elevou sobre mim, e me carregou a Akki, o carregador de água. Akki, o carregador de água, me aceitou como seu filho e me criou. Akki, o carregador de água, me nomeou como seu jardineiro. Enquanto eu era um jardineiro, Istar me concedeu seu amor, e por quatro e [...] anos eu exerci o reinado.


Karna Herói do Épico MAHABHARARATA 

Karna  é filho de Surya (a divindade do Sol) e da princesa Kunti (mais tarde a rainha Pandava). Kunti recebeu a bênção de ter um filho com as qualidades divinas desejadas pelos deuses e, sem muito conhecimento, Kunti invocou o deus sol para confirmar se era realmente verdade.

Karna foi colocado no rio Aswa  por sua mãe, Kunti, e descoberto mais tarde pelo cocheiro Adhiratha e sua esposa Radha. A história é contada no épico hindu Mahabharata. 

Em seguida, chegou ao rio Yamuna. Finalmente, flutuou até o rio Ganges, onde foi encontrado. 

No mito, o cocheiro  Adhiratha e sua esposa Radha, acham Karna no rio Ganges.

Duryodhana filho do Rei Dhritarashtra e da Rainha Gandhari foi quem nomeou Karna rei de Anga. 


Karna também foi chamado por muitos nomes. Alguns deles são:

Vasusena – Nome original de Karna, significa “nascido com riqueza”, pois ele nasceu com armadura natural e brincos. 

Suryaputra – Filho de Surya

Radheya – filho de Radha (mãe adotiva de Karna).

Sutaputra – filho do cocheiro.

Angaraja – rei de Anga .

Daanaveera – alguém de natureza caridosa ou alguém que é excepcionalmente munificente (generoso) 

Vijayadhari – portador de um arco chamado Vijaya que foi presenteado pelo Senhor Parashurama.

Vaikartana – aquele que pertence à raça solar (relacionado a Surya).

Vrisha – aquele que é verdadeiro no discurso e mantém seus votos.


Karna é o filho mais velho de Kunti, concebido com o deus-sol Surya antes de seu casamento. Os seus meio-irmãos são os cinco irmãos Pandavas, filhos do Rei Pandu.

Os cinco filhos de Kunti, também conhecidos como os Pandavas, são: 

Yudhishthira: O mais velho dos irmãos, conhecido por sua retidão e justiça.

Bhima: Famoso por sua imensa força e bravura.

Arjuna: Considerado o maior arqueiro de seu tempo.

Nakula: Especialista em esgrima e com uma beleza incomparável.

Sahadeva: Conhecido por sua sabedoria e conhecimento.


Os irmãos adotivos de Karna eram os filhos de seus pais adotivos, Adhiratha e Radha. Embora suas vidas não sejam tão detalhadas quanto as de outros personagens no épico Mahabharata, algumas fontes mencionam seus nomes: 

Sangramajit

Shatrunjaya

Vipatha

Vrikaratha

Chitrasena 


Moisés

Filho de Jokebede e de Amrão (Anrão).  Joquebede e Anrão eram da Tribo de Levi.

Amram, cujo significado é Amigo do mais alto/ou "amigo do Altíssimo". Conforme Êxodo 6:20, Anrão é o pai de Moisés (da tribo de Levi, descendente dos Coatitas).

Yōḵeḇeḏ quer dizer Glória de Yahweh. Eles foram os pais de  Aarão, Moisés e Miriã.

Moisés foi colocado em um cesto no rio Nilo por sua mãe. 


sexta-feira, 24 de outubro de 2025

PAPIRO DE MERER

 


O Diário de Merer (também conhecido como Papiro Jarf) é o nome dado a registros em papiro escritos há mais de 4.500 anos por Merer, um oficial de nível médio. São os papiros mais antigos conhecidos com texto, datando do 27º ano do reinado do faraó Quéops (c. 2589–2566 a.C.) durante a 4ª dinastia.

Situado na costa egípcia do Mar Vermelho, Wadi al-Jarf é hoje um local sossegado e despretensioso. As areias secas do deserto e a água azul e plácida estendem-se até onde a vista alcança. Do outro lado do mar, é possível avistar a Península do Sinai. Esta aparente tranquilidade disfarça o movimentado centro que aqui existiu há mais de 4.000 anos. A importância histórica de Wadi al-Jarf foi consolidada em 2013 quando 30 papiros, os mais velhos do mundo, foram descobertos escondidos em grutas escavadas pelo homem em pedra calcária.

Além da sua idade, os chamados Manuscritos do Mar Vermelho são notáveis devido ao seu conteúdo. Não só revelam o passado distante de Wadi al-Jarf enquanto porto cheio de vida como contêm relatos na primeira pessoa de um homem chamado Merer, que participou na construção da Grande Pirâmide do faraó Khufu.

O sítio de Wadi al-Jarf foi descoberto em 1823 por um antiquário e viajante inglês chamado John Gardner Wilkinson, que pensou que as ruínas pertenciam a uma necrópole greco-romana.

Mais tarde, na década de 1950, dois pilotos franceses apaixonados por arqueologia, François Bissey e René Chabot-Morisseau, voltaram a tropeçar no sítio. Sugeriram que tivesse outrora sido um centro de produção metalúrgica. No entanto, a crise do Suez, ocorrida em 1956, atrasou investigações mais aprofundadas.

Os trabalhos só foram retomados em 2008. O egiptólogo francês Pierre Tallet liderou uma série de escavações que identificaram definitivamente Wadi al-Jarf como um importante porto com cerca de 4.500 anos, remontando ao reinado de Khufu e contemporâneo da construção da Grande Pirâmide. As equipas de Tallet revelaram que Wadi al-Jarf era um pólo económico vibrante situado no centro do comércio dos materiais utilizados para construir as pirâmides, a cerca de 241 quilómetros de distância. Comprovando as evidências arqueológicas, o fabuloso diário de Merer foi encontrado entre os papiros. 

O sítio de Wadi al-Jarf é composto por várias zonas diferentes, abrangendo vários quilómetros entre o Nilo e o Mar Vermelho. Partindo do rio Nilo, a primeira zona, situada a cerca de cinco quilómetros da costa, contém cerca de 30 grandes câmaras de armazenamento escavadas no calcário. Foi aí que os papiros foram descobertos.

Avançando cerca de 460 metros para leste, em direcção ao mar, surge uma série de campos e, depois destes, um grande edifício em pedra dividido em 13 secções paralelas. Os arqueólogos supuseram que o edifício fosse utilizado como residência. Por fim, na costa, encontra-se o porto propriamente dito, com habitações e mais espaços de armazenamento. Utilizando a cerâmica e as inscrições existentes no sítio, os arqueólogos conseguiram enquadrar cronologicamente o complexo portuário na quarta dinastia do Egipto, há cerca de 4.500 anos.

Eles acham que o porto foi inaugurado no tempo do faraó Seneferu e abandonado por volta do fim do reinado do seu filho Khufu. Funcionou durante pouco tempo, mas nesse período, o porto esteve dedicado à construção do túmulo de Khufu, conhecido na altura como Akhet-Khufu, o “Horizonte de Khufu”.

Para além dos papiros, muitas outras descobertas arqueológicas importantes revelaram a importância do porto. Estruturas de grande dimensão, como o pontão em pedra com 180 metros de cumprimento, mostram um grande investimento na zona. Tallet e a sua equipa descobriram mais de 130 âncoras, cuja presença implica um porto movimentado.

Zarpando do porto, apelidado de “O Mato” pelos antigos egípcios, os navios do faraó atravessavam o Mar Vermelho até à Península do Sinai, rica em cobre. O cobre era o metal mais duro disponível na altura e os egípcios precisavam dele para cortar as pedras para a gigantesca pirâmide do seu faraó. Quando regressavam ao porto, os navios egípcios vinham carregados de cobre. Entre viagens, os navios ficavam guardados nas câmaras de calcário.

Quando o porto de Wadi al-Jarf foi encerrado, por volta da altura da morte de Khufu, os registos mostram que uma equipa veio de Gizé para fechar os espaços de armazenamento escavados no calcário. Esta equipa era conhecida pelo nome de Equipa de Acompanhantes do “Ureu de Khufu e a Sua Proa”, numa muito provável referência a um navio com o Ureu (serpente protectora) na proa. Durante o processo de encerramento das grutas calcárias, os documentos em papiro de Merer, entretanto obsoletos, ficaram entre os blocos de pedra.

Permaneceram expostos ao ar do deserto durante cerca de quatro milénios e meio até serem descobertos, numa escavação liderada por Tallet, em 2013. O primeiro conjunto de Manuscritos do Mar Vermelho fora encontrado no dia 24 de Março desse ano, junto à entrada do espaço de armazenamento designado como G2. O segundo e maior conjunto de documentos foi descoberto dez dias mais tarde, enfiado entre blocos no espaço de armazenamento.

Os arqueólogos encontraram centenas de fragmentos de papiro nas grutas de Wadi al-Jarf. Escritos com tinta preta e vermelha, os textos mencionam o faraó Khufu. Muitos destes fragmentos foram reconstruídos de modo a formar documentos – alguns com cerca de meio metro!

Há vários tipos de documentos entre os Manuscritos do Mar Vermelho, mas foram os escritos de Merer que mais excitação causaram. Líder de uma equipa de operários, Merer registava as suas actividades num diário. É um relato diário do trabalho executado pela sua equipa ao longo de um período de três meses, durante a construção da Grande Pirâmide.

A equipa de Merer era composta por cerca de 200 trabalhadores que viajavam por todo o Egipto e eram responsáveis por executar todo o tipo de tarefas relacionadas com a construção da Grande Pirâmide. Uma das mais interessantes foi a extracção dos blocos de calcário utilizados para revestir a pirâmide. Merer registou com grande pormenor a forma como a equipa os removeu das pedreiras de Tura e os transportou de barco até Gizé.

Os homens de Merer colocavam os blocos de calcárioem barcos, transportavam-nos rio acima, e assistiam à sua contagem numa zona administrativa antes de serem despachados para Gizé. Um fragmento do diário relata a viagem de três dias desde a pedreira até ao local de construção da pirâmide.


Dia 25: O Inspector Merer passa o dia com a sua za [equipa] a transportar pedras no sul de Tura; passa a noite no sul de Tura.

Dia 26: O Inspector Merer zarpa do sul de Tura com a sua za, com uma carga de blocos de pedra, dirigindo-se a Akhet-Khufu [Grande Pirâmide]; passa a noite em She-Khufu [zona administrativa com espaço de armazenamento para a cantaria, mesmo antes de Gizé].

Dia 27: Embarque em She-Khufu, viagem até Akhet-Khufu com a carga de pedras, pernoita em Akhet-Khufu.

No dia seguinte, Merer e os seus trabalhadores regressaram à pedreira para buscar um novo carregamento de pedras:

Dia 28: Partida de Akhet-Khufu de manhã; navegando rio acima até ao sul de Tura.

Dia 29: O Inspector Merer passa o dia com a sua za a carregar pedras no sul de Tura; passa a noite no sul de Tura.

Dia 30: O Inspector Merer passa o dia com a sua za a carregar pedras no sul de Tura; passa a noite no sul de Tura.


O diário de Merer até fornece um vislumbre de um dos arquitectos da pirâmide. Ankhhaf, meio-irmão de Khufu, detinha a posição de “chefe de todas as obras do rei”. Um dos fragmentos de papiro diz: “Dia 24: O Inspector Merer passa o dia com a sua za a carregar [falta texto] com pessoas com cargos de elite, equipas de seguidores e o nobre Ankh-haf, director de Ro-She Khufu.”

Os materiais utilizados na construção da Grande Pirâmide vieram de todo o Egipto: calcário das pedreiras de Tura, junto ao Cairo, basalto de Fayyum, granito de Assuão e cobre da Península do Sinai. Para transportar estes materiais rápida e eficazmente, foram construídas vias aquáticas em Gizé para que que pudessem viajar de barco durante o máximo de tempo possível. Estes corpos de água transbordavam com as cheias de Verão e incluíam “A Foz do Lago de Khufu”, que servia de acesso a dois lagos interiores, próximos do local de construção da pirâmide: o “Lago de Khufu”, na ponta oposta do local de construção principal e o “Lago do Horizonte de Khufu”, uma lagoa mais pequena que era provavelmente utilizada por embarcações mais pequenas. Para facilitar ainda mais os trabalhos, foi construída uma pedreira para cortar os blocos de pedra utilizados na estrutura interior junto ao local de construção da pirâmide.

Merer também acompanhou cuidadosamente os pagamentos da sua equipa. Como não havia moeda corrente no Egipto faraónico, os salários costumavam ser pagos em medidas de cereal. Havia uma unidade básica, a “ração” e o trabalhador recebia mais ou menos consoante a sua categoria na hierarquia administrativa. Segundo os papiros, a alimentação básica dos trabalhadores consistia em hedj (pão levedado), pesem(pão ázimo), carnes diversas, tâmaras, mel e leguminosas, tudo acompanhado com cerveja.

Há muito que se chegou a consenso quanto ao facto de uma grande força laboral ter construído a Grande Pirâmide, mas os historiadores discutiram durante muito tempo sobre o estatuto dessa mão-de-obra. Muitos diziam que os trabalhadores deveriam ser pessoas escravizadas, mas os Manuscritos do Mar Vermelho contradizem essa ideia. Os registos de pagamento pormenorizados de Merer demonstram que os construtores das pirâmides eram trabalhadores hábeis que eram remunerados pelos seus serviços.

Existe algo ainda mais extraordinário nas linhas dos frágeis papiros. As palavras de Merer são um relato na primeira pessoa de alguém que não só testemunhou a construção das pirâmides, mas cujo trabalho foi uma parte essencial da obra no dia a dia. Devido a esta descoberta, os egípcios têm agora uma imagem pormenorizada (e um pouco prosaica) das etapas finais da construção da Grande Pirâmide.


https://www.nationalgeographic.pt/historia/merer-diario-antigo-revela-como-egipcios-construiram-grandes-piramides_4785



quarta-feira, 22 de outubro de 2025

A MATEMÁTICA É A MÃE DA CIÊNCIA?

 


A frase "A matemática é a rainha das ciências" foi cunhado pelo matemático alemão Carl Friedrich Gauss porque a matemática é essencial para a compreensão do mundo natural e serve como linguagem fundamental para outras disciplinas científicas. É considerada a "rainha" por fornecer a estrutura e as ferramentas básicas necessárias para todas as outras ciências, como física, química, engenharia, biologia, economia, administração de empresas, logística, etc.

Gauss também declarou: "a teoria dos números é a rainha da matemática", destacando a importância desse ramo específico dentro de um campo maior. 


"A matemática é a rainha das ciências e a teoria dos números é a rainha da matemática. Ela frequentemente se digna a prestar serviços à astronomia e outras ciências naturais, mas em todos os aspectos ela tem direito ao primeiro lugar.

~Carl Friedrich Gauss~


A matemática fornece a linguagem e as ferramentas para descrever e entender os padrões e leis do mundo físico.  Áreas como física, engenharia e biologia dependem fortemente de modelos e técnicas matemáticas para analisar dados, testar teorias e fazer previsões. 

Há grande mérito na afirmação de que a matemática é a rainha de todas as ciências. Agora, vamos à segunda parte, sobre a teoria dos números ser a rainha de toda a matemática. A matemática é normalmente dividida em duas seções: pura e aplicada. Gauss trabalhou intensamente em matemática pura, um campo em que o conhecimento matemático é buscado por seu próprio valor. As principais subcategorias em matemática pura incluem álgebra, geometria, combinatória, topologia, análise, teoria dos conjuntos e lógica e teoria dos números .

Agora que entendemos as distinções, por que Gauss considerava a teoria dos números o cerne da matemática? No cerne da teoria dos números está o estudo dos números inteiros e suas propriedades. Os números inteiros são absolutamente fundamentais para a matemática, seja na época de Gauss ou nos dias de hoje. Entre esses números inteiros estão os primos, um tópico extremamente fascinante para matemáticos e não matemáticos.

O próprio Gauss revolucionou a teoria dos números com seu trabalho com números complexos e aritmética modular. Alguns de seus trabalhos sobre primos podem ser vistos na aritmética modular, como, por exemplo, a lei da reciprocidade quadrática.


Título Controverso

Mas este título é controverso, para alguns, a matemática não é a Mãe da ciência, e sim a Filosofia. Para estes, a Mãe ou se você preferir, a rainha de todas as ciências é a filosofia. Foi a partir dela que todas as outras ciências foram se desenvolvendo. A filosofia nasceu na antiguidade e através dela foram geradas as primeiras hipóteses e soluções para o mundo.

As perguntas filosóficas sobre o mundo e a realidade levaram ao desenvolvimento de novas tecnologias que ajudaram a resolver problemas e melhorar a vida humana. Eu poderia até mesmo dizer que é através dela que você está aqui indagando se a matemática pode reger ou ajudar outras ciências.

O objetivo da filosofia na matemática é fornecer um relato da natureza e metodologia da matemática e entender o lugar da matemática na vida das pessoas, ou seja, é ela que diz como, onde e os porquês. Ela dá os motivos de como empregar a matemática em qualquer outra ciência.

Uma vez que foi através da Filosofia que vieram a Psicologia, Psiquiatria e a Teologia.

Enfim, o que rege todas as ciências são as abstrações filosóficas, a matemática é a ferramenta pelo qual você consegue organizar e gerar provas para embasar essas abstrações (mas não todas).

Eles dizem que a Matemática NÃO é uma ciência. Não é uma ciência porque não há uma conexão necessária com o universo físico. Não há nenhum aspecto experimental ou empírico. De fato, parece fundamentar a ciência, assim como a filosofia, mas NÃO é ciência. Aliás, não entendemos por que a matemática funciona tão bem como suporte à ciência.


CONCÍLIO DE JAMNIA - O CONCÍLIO QUE NÃO FOI?

 


A crença popular de que o Concílio de Jâmnia (Yavne), realizado por volta de 90 d.C., estabeleceu formalmente o cânon da Bíblia Hebraica é amplamente contestada por estudiosos modernos. Em vez de ser um concílio para determinar quais livros seriam incluídos, foi uma série de discussões entre líderes rabínicos sobre o status de alguns livros já aceitos. 

As reuniões em Jâmnia ocorreram após a destruição do Segundo Templo de Jerusalém em 70 d.C., um evento que levou à necessidade de reorganizar a vida religiosa judaica. O judaísmo rabínico se concentrou em questões de prática litúrgica, interpretação de textos e na preservação da identidade judaica. As discussões sobre certos livros bíblicos faziam parte desse processo, mas não significaram que o cânon estava em aberto. 

Hoje, a maioria dos estudiosos sugere que o cânon hebraico (o Tanakh) já estava amplamente estabelecido antes de Jâmnia. As discussões rabínicas serviram para confirmar a canonicidade de livros sobre os quais havia alguma dúvida entre os círculos de estudiosos, e não para determinar o cânon do zero. As decisões tomadas em Jâmnia também não eram obrigatórias para todo o judaísmo da época, que era descentralizado. 

Em suma, não se trata de uma lista de livros que foram usados para formar o cânon, mas de alguns livros já reconhecidos cuja validade foi debatida ou confirmada pelos rabinos.

Não há evidências sólidas de que um concílio formal em Jamnia (ou Jâmnia) tenha definido o cânone do Antigo Testamento. A teoria popular de que rabinos se reuniram em Jamnia por volta de 90 d.C. para decidir quais livros seriam incluídos na Bíblia hebraica é amplamente contestada pela maioria dos estudiosos modernos. 

Em vez disso, os estudiosos sugerem que os rabinos de Jamnia discutiram a interpretação, e não a canonicidade, de certos livros que já eram reconhecidos, principalmente Eclesiastes e o Cânticos de Salomão (Cântico dos Cânticos). O cânone hebraico já havia se estabelecido progressivamente antes do século I, com a Torá (a Lei) e os Nevi'im (os Profetas) sendo aceitos há muito tempo. 


Os livros especificamente discutidos em Jâmnia incluem: 

Eclesiastes

Cântico dos Cânticos (ou Cantares)

Ester

Ezequiel

Provérbios 


A grande maioria dos judeus nos primeiros séculos a.C. e d.C. vivia fora de Israel. Eram chamados de  diáspora , aqueles dispersos por todo o Império Romano. Muitos se helenizaram — isto é, adotaram a cultura greco-romana, incluindo a língua grega. A Septuaginta, contendo os livros deuterocanônicos, era a principal Bíblia usada por esses judeus da diáspora.

A maioria dos judeus não cristãos do primeiro século d.C. considerava a Igreja uma seita judaica herética e desinformada, provavelmente semelhante à forma como os cristãos veem os mórmons ou as Testemunhas de Jeová de hoje. No primeiro século, várias décadas após a vida de Cristo, a maioria dos primeiros cristãos eram gentios e usavam a Septuaginta grega como seu Antigo Testamento, seguindo o exemplo dos judeus de língua grega, incluindo Jesus e os apóstolos (nota 1, barra lateral, página 25).

Quando os cristãos começaram a usar essa tradução grega para converter os judeus à fé, os judeus começaram a detestá-la. Alguém se surpreende com a condenação do cânon e da tradução que os cristãos usaram, mesmo que tenham sido originalmente traduzidos, aprovados e colocados em circulação pelos próprios judeus trezentos e cinquenta anos antes (c. 250 a.C.)? A Igreja primitiva, seguindo a Septuaginta grega e o amplo uso que os apóstolos fizeram dela (Paulo extraiu dela a maioria de suas citações do Antigo Testamento), aceitou os livros deuterocanônicos. Quando o cânon foi finalmente encerrado pelos concílios da Igreja Católica, esses livros foram incluídos.

O chamado "Concílio de Jabné" era um grupo de estudiosos judeus que, por volta do ano 90, recebeu permissão de Roma para se reunir na Palestina, perto do Mar Mediterrâneo, em Jabné (ou Jâmnia). Lá, eles estabeleceram um Sinédrio "reconstituído" e não autoritativo. Entre os assuntos discutidos estava o status de vários escritos questionáveis ​​na Bíblia judaica. Eles também rejeitaram os escritos cristãos e fizeram uma nova tradução da Septuaginta grega.

Como muitos autores protestantes apelaram ao “Concílio de Jabneh” em seus casos contra os livros deuterocanônicos contidos na Bíblia Católica, será útil analisarmos alguns exemplos.

Em seu popular livro  Roman Catholics and Evangelicals: Agreements and Differences  (coautoria de Ralph MacKenzie [Baker Books, 1995]), Norman Geisler, reitor do Southern Evangelical Seminary, nega o cânone católico do Antigo Testamento, alegando que os rabinos judeus em Jabneh excluíram os livros deuterocanônicos recebidos pelos católicos e que o cânone foi fixado (ou seja, finalizado) em Jabneh.

Geisler escreve: “Os estudiosos judeus de Jabné (c. 90 d.C.) não aceitavam os apócrifos como parte do cânone judaico divinamente inspirado. Visto que o Novo Testamento afirma explicitamente que Israel foi incumbido dos oráculos de Deus e foi o destinatário das alianças e da Lei (Rm 3:2), os judeus devem ser considerados os guardiões dos limites de seu próprio cânone. E eles sempre rejeitaram os apócrifos” (169). E embora Geisler pareça negar a autoridade dos rabinos de Jabné em um ponto de sua  Introdução Geral à Bíblia  (com W.E. Nix [Moody Press, 1996]), ele posteriormente relata em um gráfico: “Concílio de Jabné (90 d.C.), Cânon do Antigo Testamento fixado” (286).

Geisler não está sozinho em sua afirmação de que os Apócrifos foram rejeitados e que o cânone final do Antigo Testamento foi fixado em Jabné. Parece ser uma lenda comum usada como "prova" para sustentar uma suposição a-histórica e incorreta. Antes de analisarmos o mito, demonstraremos como ele é frequentemente invocado. Mais alguns exemplos rápidos dessa falsa confiança no "Concílio de Jabné" serão suficientes:

“No final do primeiro século cristão, os rabinos judeus, no Concílio de Gâmnia [Jamnia], fecharam o cânon do livro hebraico (aqueles considerados autoritativos)” (Jimmy Swaggart,  Catholicism & Christianity  [Jimmy Swaggart Ministries, 1986], 129).

Após a destruição de Jerusalém, Jâmnia tornou-se a sede do Grande Sinédrio. Por volta do ano 100, um conselho de rabinos ali estabeleceu o cânon final do Antigo Testamento (Ed. Martin, Ralph P. e Peter H. Davids,  Dictionary of the Later New Testament and Its Developments  [InterVarsity Press, 2000, c1997], 185).

Embora muitos agora reconheçam que Jabne não excluiu os livros deuterocanônicos nem encerrou com autoridade o cânon do Antigo Testamento, ainda há muitas fontes que afirmam e presumem que isso aconteceu.


Jabneh tinha Autoridade?

De acordo com o  Dicionário Oxford da Igreja Cristã , o “conselho” em Jabneh em 90 não era nem mesmo um conselho “oficial” com autoridade vinculativa para  tomar  tal decisão:

“Após a queda de Jerusalém (70 d.C.), uma assembleia de professores religiosos foi estabelecida em Jabneh; este corpo foi considerado como, até certo ponto, substituindo o Sinédrio,  embora não possuísse o mesmo caráter representativo ou autoridade nacional . Parece que um dos assuntos discutidos entre os rabinos era o status de certos livros bíblicos (por exemplo, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos)  cuja canonicidade ainda estava aberta a questionamentos no século I d.C.  A sugestão de que um sínodo particular de Jabneh, realizado por volta de 100 d.C., finalmente estabelecendo os limites do cânon do Antigo Testamento, foi feita por HE Ryle; embora tenha tido ampla aceitação,  não há evidências para comprová-lo ” (ed. por FL Cross e EA Livingston [Oxford Univ. Press, 861], ênfase adicionada).

Não é interessante que os judeus não tivessem um "cânone fechado" das Escrituras durante a época de Cristo, antes do ano 100, ou mesmo depois de Jabné? Mesmo na época de Cristo, havia opiniões conflitantes sobre quais livros realmente pertenciam à Bíblia judaica. Havia várias coleções. Saduceus e samaritanos aceitavam apenas o Pentateuco, os cinco primeiros livros, enquanto os fariseus aceitavam um cânone mais completo, incluindo os Salmos e os profetas. O texto massorético não continha os deuterocanônicos, enquanto a amplamente utilizada Septuaginta grega continha.

Essa incerteza continuou até o século II. A discussão sobre os livros do cânon do Antigo Testamento continuou entre os judeus muito depois de Jabné, o que demonstra que o cânon ainda estava em discussão no século III — muito além do período apostólico. Os questionamentos à canonicidade em Jabné envolveram apenas Eclesiastes e o Cântico dos Cânticos, mas o debate sobre o cânon continuou além de Jabné, chegando até os séculos II e III. Até mesmo o cânon hebraico aceito pelos protestantes hoje foi contestado pelos judeus por duzentos anos  depois de  Cristo.


Alguns pontos de advertência devem ser observados aqui:

Embora autores cristãos pareçam pensar em termos de um concílio formal em Jabné, tal coisa não existiu. Havia uma escola para estudar a Lei em Jabné, e os rabinos ali exerciam funções legais na comunidade judaica.

Não só não houve um concílio formal, como também não há evidências de que alguma  lista de livros tenha sido elaborada em Jabneh.

Uma discussão específica sobre a aceitação em Jabné é atestada apenas para os livros de Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Mesmo assim, discussões sobre esses livros persistiram no judaísmo séculos após o período de Jabné. Houve também debates subsequentes sobre Ester.

Não temos conhecimento de nenhum livro que tenha sido excluído em Jabné. De fato, o Eclesiástico, que foi lido e copiado pelos judeus após o período de Jabné, não se tornou parte da Bíblia hebraica padrão (cf. Raymond Edward Brown, Joseph A. Fitzmyer e Roland Edmund Murphy, The Jerome Biblical Commentary  [Prentice-Hall, 1996, c. 1968], vol. 2, 522).

Por que a Igreja rejeita o cânone judaico

Mesmo que os rabinos de Jabné  tivessem  autoridade para fazer tal determinação canônica e  tivessem  encerrado o cânone, quem diz que eles tinham a autoridade de Deus para fazer tal determinação vinculativa? Por que os cristãos deveriam aceitar a determinação deles? Deus havia se afastado publicamente dos judeus como sua "voz profética" vinte anos antes, quando Jerusalém foi destruída e arrasada pelo fogo. Deus os julgou e rejeitou seus odres velhos. O vinho e o odre velhos (judaísmo) foram agora substituídos por vinho novo (o evangelho) e odres novos (a Igreja). Por que aceitar a determinação dos rabinos sem autoridade em vez da da Igreja?

Há ainda uma razão pela qual não devemos confiar nos judeus do primeiro século para a determinação do cânon, mesmo que eles  a tivessem  feito: os rabinos de Jabné acabaram fornecendo uma nova tradução em grego para substituir a tradução anterior da Septuaginta. Por quê? Porque os cristãos gentios estavam usando a Septuaginta para fins apologéticos e evangelísticos — em outras palavras, eles estavam convertendo os judeus usando suas próprias Escrituras Gregas!

Por exemplo, eles estavam usando isso para provar o nascimento virginal de Jesus. Na Bíblia Hebraica, Isaías 7:14 é traduzido como "Uma jovem conceberá e dará à luz um filho", enquanto a Septuaginta grega, citada por Mateus (1:23), traduz como "Uma  virgem  conceberá e dará à luz um filho" (ênfase adicionada). Os rabinos que supostamente "determinaram" o cânone protestante final também autorizaram uma nova tradução grega especificamente para dificultar o evangelho. Áquila, o tradutor judeu da nova versão, negou o nascimento virginal e mudou a palavra grega de  virgem  para  jovem mulher .

Uma das principais questões na mentalidade judaica do primeiro século em relação ao cânon não era necessariamente a inspiração, mas a resistência à evangelização cristã de judeus e gentios. Era uma questão de judeu versus o novo ensinamento cristão e o uso que os cristãos faziam das Escrituras Gregas Judaicas. Pareceria bastante estranho que um protestante escolhesse o cânon truncado escolhido pelos líderes judeus e, assim, caísse do lado do judeu anticristão e marginalizado nessa questão.

Não sabemos muito sobre as deliberações em Jabné, mas sabemos que mencionaram os Evangelhos do Novo Testamento. Mencionaram-nos especificamente para rejeitá-los. FF Bruce escreve: “Alguns disputantes também questionaram se a Sabedoria de Jesus, filho de Sira (Eclesiástico), os  gilyonim  (escritos evangélicos aramaicos) e outros livros dos  mínimos  (hereges, incluindo cristãos judeus) deveriam ser admitidos, mas aqui a resposta foi inflexivelmente negativa” ( The Books and the Parchments  [Fleming H. Revell, 1984], 88).

Muitos protestantes aceitam a oposição judaica ao cânone católico das Escrituras porque isso os apoia em seu anticatolicismo. Os católicos, por outro lado, aceitaram a determinação e o cânone do  novo  povo da aliança de Deus, aqueles que são o novo sacerdócio (cf. 1 Pedro 2:9), o novo odre. Como observamos anteriormente, Geisler comenta: “Uma vez que o Novo Testamento declara explicitamente que Israel foi incumbido dos oráculos de Deus e foi o destinatário das alianças e da Lei, os judeus devem ser considerados os guardiões dos limites de seu próprio cânone” ( Católicos Romanos e Evangélicos , 169).

Devo aceitar a suposta determinação dos rabinos como autoritativa e vinculativa para minha alma, quando o manto da autoridade foi passado à Igreja por um ato do Espírito Santo? Geisler fornece aos seus leitores essas informações históricas e cronológicas, lembrando-os de que Deus se afastou do povo judeu e destruiu seu templo antes que seu "concílio" sem autoridade rejeitasse os Evangelhos e "todo o cânone cristão", incluindo o Novo Testamento?

O povo judeu não tinha um cânone fechado antes de 300, e eles "construíram um muro ao redor dele" para manter os cristãos afastados. Por que confiar neles? Eu aceito o cânone dos apóstolos e da Igreja primitiva, que foi determinado pelos bispos da Igreja. E, como eles, não aceito o cânone dos líderes judeus anticristãos.

(Vários Padres, como Jerônimo, aceitaram o cânone massorético judaico, mas nunca foi um Padre individual que tomou decisões vinculativas para a Igreja; somente os concílios podiam fazê-lo.)

O cânon do Antigo Testamento não foi encerrado em Jabné, nem os deuterocanônicos foram excluídos do Antigo Testamento ali. Quem tem a autoridade de Deus para determinar e encerrar o cânon das Escrituras? Em termos simples, a Igreja. A hierarquia judaica na época de Cristo reivindicava autoridade para ligar e desligar, o que era um termo técnico claramente compreendido, mas Jesus nomeou especificamente uma nova hierarquia sobre o "novo Israel" — a Igreja — e transferiu a esse novo magistério o poder de ligar e desligar (Mt 16:19; 18:18). A Igreja foi, portanto, designada para falar em nome de Deus, e o cânon final das Escrituras estaria, portanto, sob sua autoridade.

O autor protestante Paul Achtemeier nos diz: “A tradição oriental e católica romana geralmente considerava os livros 'apócrifos' do Antigo Testamento como canônicos. Foi somente com a Reforma Protestante que esses livros foram claramente negados o status canônico (nos círculos protestantes). A Igreja Romana, no entanto, continua a afirmar seu lugar no cânon das Escrituras” ( Harper's Bible Dictionary , 1ª ed. [Harper & Row, c1985], 69).

No Concílio de Trento, a Igreja encerrou a questão listando definitivamente os livros aceitos, incluindo os deuterocanônicos, e o  Catecismo da Igreja Católica  confirma essa lista (CIC 120). Esta é a Bíblia Católica que temos hoje.

Não é interessante que Martinho Lutero tenha reconhecido a Igreja Católica como a guardiã das Sagradas Escrituras quando escreveu: “Admitimos — como devemos — que muito do que eles [a Igreja Católica] dizem é verdade: que o papado possui a palavra de Deus e o ofício dos apóstolos, e que recebemos deles as Sagradas Escrituras, o batismo, o sacramento e o púlpito. O que saberíamos deles se não fosse por eles?”



segunda-feira, 20 de outubro de 2025

BRUXAS

 


As caças às bruxas foi um dos capítulos cruéis da Idade Média, mulheres solitárias, simples camponesas inofensivas, foram caçadas, torturadas e assassinadas com requintes de crueldade,tudo por causa do fanatismo religioso, um dos momentos tristes do Catolicismo.

Como toda religião, o sistema religioso Católico é envolto de crendices populares, superstições, tradições e usos e costumes, não tem a aplicação da Bíblia, é um mix de sincretismo religioso e mitológico de várias vertentes religiosas do mundo antigo, com isso, a instituição Católica Romana, consegue agregar várias culturas diferentes no seu panteão religioso, e assim cria-se suas heresias que vem ao longo dos tempos enganando a muitos.

Eles alegavam que pessoas estranhas adoravam o diabo secretamente, faziam feitiços e jogavam maldições nas pessoas de bem, na calada da noite, roubavam bebês que ainda não foram batizados para oferecer ao demônio, essas pessoas esquartejavam os bebês e cozinhavam em um caldeirão, fazendo assim suas poções mágicas diabólicas. A imaginação do povo era tanto, que dizia que estas tais pessoas podiam rogar pragas, miséria, invocar tempestades, raios, trovões, chuvas e até mesmo secas, podiam até transformar suas vítimas em cobras, lagartos, sapos, aranhas, etc. 

O pior ainda está por vir! Diziam ainda que estes indivíduos (mulheres no caso) nas noites de sexta feira, faziam orgia com Satanás, elas montavam em suas vassouras e voavam para lugares longínquos para realizarem o Sabbath, que no imaginário medieval era um tipo de Missa Negra ou Missa Satânica que era realizada nas florestas, lá, além de orgias, tinham festas luciferianas onde havia canibalismo, sodomia, bebidas, eram pronunciados todos os tipos de blasfêmias, etc. 

 Para provarem que esta mentira era verdadeira, forjaram até livros que na época fez sucesso. Um desses livros se chama Martelo das Feiticeiras 1487 e o nome do outro livro é Anjos Malvados e Demônios 1612 e estes tais livros hereges e mentirosos eram levados à sério, chegaram a ser na época mais importante que a Bíblia. 

Em um triste período de mais de 400 anos, homens e principalmente mulheres eram caçado como animais, presos, torturados e assassinados pelo crime de feitiçaria e bruxaria. Infelizmente às vítimas em maior número eram mulheres pobres que viviam nas aldeias, eram no geram viúvas, idosas, deficientes, mulheres indefesas que viviam da agricultura, ou seja, eram camponesas que moravam em vilas paupérrimas e longínquas que não sabiam ler. 

Estas mulheres eram as vítimas certas para a perseguição e como sabemos, elas foram brutalmente perseguidas sem piedade. 


Por quê elas eram Perseguidas?

Elas eram perseguidas por causa de uma série de fatores;

Os seres humanos do mundo antigo praticavam as artes medicinais através de curas pelas plantas, naquela época da Idade Média, quem detinha os segredos das artes de cura pelas plantas eram na sua maioria mulheres, pois os homens viviam em guerras ou eram sacerdotes católicos ou eram trabalhadores, etc. 

Com o domínio da instituição da Religião Católica foi proibido para a maioria das pessoas o manejo de medicamentos através das plantas, pois era ato de heresia, motivo pelo qual a peste negra varreu à Europa.

A superstição e a crendice popular sempre existiu e jamais parará de existir, a Igreja Católica Apostólica Romana condenava veementemente tais práticas, mas as pessoas comuns praticavam em larga escala, principalmente as mulheres, pois mais de 96% da população medieval não sabiam ler, então ficava difícil brecar esse tipo de ritual popular milenar entre a população.

Antes da ascensão do catolicismo romano, os sacerdotes religiosos praticavam a magia, no mundo romano a palavra Mageia, designava uma espécie de religião milenar que era baseada ao culto dos deuses ligados à escuridão ou a noite, como por exemplo os deuses Plutão e Hécate, este tipo de rito não era oficializado no mundo romano, ou seja, não era reconhecido, era uma religião marginal. Com o advento da Religião Católica Romana, foi largamente proibido pelos sacerdotes, mas as pessoas comuns, o povão, continuou praticando tais cultos. 

Esta religião marginal era uma religião que trabalhava muito com ervas medicinais e muitos dos seus praticantes eram pessoas versadas em curas pela plantas, fazendo poções e remédios medicinais. Como foram proibidas pela religião católica e o povo, principalmente mulheres continuaram com tais práticas, estas foram brutalmente perseguidas. 

Nesse período negro da história, no período medieval quase não existiam médicos, pois com o monopólio intelectual do catolicismo, superstição e guerras, era raro ver médicos naquele período. Portanto, em um mundo quase sem médicos, estas mulheres eram mulheres versadas em curas, e elas serviam par tudo, eram parteiras, curandeiras, terapeutas, socorristas, etc. 

O conhecimento era passado de mãe para filha, de avô para neta, de tia para sobrinha, de prima para prima, amiga para amiga, e assim por diante. 


Quais os Fatores que Levaram a Caça às Bruxas?

Fatores como o clima por exemplo em 1315 as colheitas da Europa foram prejudicadas por causa de catástrofes climáticas, para ajudar em 1343 ocorreu a Peste Negra, tendo seu auge em 1353, guerras como a Guerra dos Cem Anos 1337 até 1453, Guerra das Duas Rosas 1454 até 1466, etc.

A alta taxa de mortalidade infantil devido às péssimas condições sanitárias e de higiene.

Sempre que havia uma crise, uma guerra, uma catástrofe ou algum tipo de infortúnio, todos culpavam às mulheres pobres do campo, depois veio outro ingrediente para piorar ainda mais a situação, a Reforma Protestante, pois todos que eram contra a chamada Santa Igreja Católica Apostólica Romana era brutalmente perseguido.

Nesse caldeirão de eventos infelizes, mulheres que eram solteiras, sozinhas que não tinham maridos ou filhos ou alguém que as protegessem, eram os bodes expiatórios perfeitos para a chacina e feminicídio em escalas avassaladoras. E todo tipo de sabedoria popular que não tinham respaldo da Santa Madre Católica Romana era coisa do demônio e era evitado com violência. 


Algumas curiosidades deste mundo supersticioso das Bruxas

Por quê às Bruxas tinham Verrugas?

Muitas destas vítimas que eram assassinadas pela religião católica eram mulheres que não tinham o padrão de beleza estabelecido pela sociedade, algumas mulheres tinham cicatrizes de machucados, pois a vida no campo é realmente puxada e difícil, como também algumas tinham algum tipo de espinhas que é normal de se ter, mas que para muitos era considerado verrugas, e é normal de se ter verrugas, como antigamente, como hoje em dia.


Por quê as Bruxas tinham Caldeirão?

O caldeirão era um utensílio doméstico comum, era uma panela grande para fazer grandes refeições, como também remédios e outros preparos. O caldeirão também servia para guardar algum tipo de alimento ou louça, isso dependia da utilização, nem todos tinham dinheiro para ter um caldeirão devido o custo, mas fazia alimentos ou preparo de remédios em outras panelas, como nos dias de hoje.


Por quê as Bruxas usavam Vassouras?

As vassouras que vemos comum nas personagens modernas de Bruxas é real, as vassouras eram realmente assim, mas ao contrário do que pensam, elas não voavam nelas, as vassouras que no imaginário popular medieval eram os veículos das Bruxas, não passavam de vassouras comuns que toda pessoa limpa e higiênica tinha que ter em casa, e elas eram usadas somente para varrer, como todas as vassouras.


Porquê as Bruxas faziam Poções?

As mulheres que eram acusadas de bruxara ou feitiçaria, não passavam de mulheres mestras nas artes de curandeirismo pelas plantas, algumas poções medicinais eram estranhas mesmo, isto na época como nos dias de hoje. Ratos assados, aranhas em pedaços, sapos, cobras, etc, eram usada para os mais diversos tipos de remédios, e ao contrário do se pensa, eles eram eficazes, muitos funcionavam realmente, o que causava mais fantasia no mundo da bruxaria. 


Por quê as Bruxas tinham aquele Chapéu Pontudo?

A maioria das mulheres não tinham dinheiro para comprar ou ter os famosos chapéus pontudos, a maioria usava toucas mesmo, era o que se podia ter. As que por um acaso podia ter os famosos chapéus, usavam para se proteger do calor do sol, usavam para se proteger das chuvas, para que não caíssem águas chuvosas em suas cabeças e rostos, e para se proteger da neve, para que a mesma não caíssem em suas cabeças. 

Mas uma vez que estes ficavam velhos, dificilmente se tinha dinheiro para comprar outro chapéu.


NEW HARMONY

 


Não muito longe do Rio Wabash, no sudoeste de Indiana, fica uma pequena cidade chamada New Harmony. Sua população de cerca de mil habitantes não varia muito há décadas. Ela é vista há muitos anos como um centro cultural em uma região predominantemente agrícola.

A cidade de New Harmony tem considerável importância histórica. Foi um marco na evolução do pensamento socialista e manteve algumas características de reforma social que têm significado político prático, mesmo hoje.

O que diferencia Nova Harmonia? Há mais de 150 anos, quando ainda era uma cidade de fronteira, tentou-se construir ali uma sociedade comunista. Houve muitos empreendimentos semelhantes naquela época, mas este é notável porque foi organizado e inspirado por uma das grandes figuras do século XIX, um galês chamado Robert Owen.

Owen era diferente das grandes figuras do século XVIII, como, por exemplo, aqueles que assinaram a Declaração de Independência. Nesse documento, eles comprometeram "nossas vidas, nossas fortunas e nossa sagrada honra" à causa da independência. Mas, na prática, nunca colocaram em prática o que pregavam. Não só lucraram com a manutenção da escravidão, como quase todos conquistaram grandes fortunas pessoais com a separação do domínio inglês. Isso não visa denegri-los, mas sim mostrar como eles diferiam de alguém como Owen.

Robert Owen se destaca como um gigante por ter investido sua considerável fortuna na causa da melhoria de vida dos trabalhadores. Ele fundou diversas sociedades comunistas na Escócia e nos Estados Unidos e dedicou a maior parte de sua vida à defesa incansável dos interesses da classe trabalhadora.


Robert Owen: Comunista Pioneiro

Em seu livro Socialismo: Utópico e Científico, Frederick Engels, colega de Karl Marx, descreveu como o trabalho de Owen começou numa época em que as condições da classe trabalhadora nas grandes cidades industriais da Grã-Bretanha se tornaram assustadoras.

Nessa conjuntura, apresentou-se como reformador um fabricante de 29 anos — um homem de simplicidade de caráter quase sublime e infantil, e ao mesmo tempo um dos poucos líderes natos. Robert Owen adotou o ensinamento dos filósofos materialistas de que o caráter do homem é o produto, por um lado, da hereditariedade e, por outro, do ambiente do indivíduo durante sua vida, e especialmente durante seu período de desenvolvimento.

Na Revolução Industrial, a maioria de sua classe via apenas caos e confusão, e a oportunidade de pescar nessas águas turbulentas e fazer grandes fortunas rapidamente. Ele viu nisso a oportunidade de colocar em prática sua teoria favorita e, assim, trazer ordem ao caos.

Ele já havia tentado com sucesso, como superintendente de mais de 500 homens em uma fábrica de Manchester. De 1800 a 1829, dirigiu a grande fábrica de algodão em New Lanark, na Escócia, como sócio-gerente, seguindo as mesmas linhas, mas com maior liberdade de ação e com um sucesso que lhe rendeu uma reputação europeia.

Uma população, originalmente composta pelos elementos mais diversos e, em sua maioria, muito desmoralizados, uma população que gradualmente cresceu para 2.500, ele transformou em uma colônia modelo, na qual a embriaguez, a polícia, os magistrados, os processos judiciais, as leis dos pobres e a caridade eram desconhecidos. E tudo isso simplesmente colocando as pessoas em condições dignas de seres humanos e, principalmente, educando cuidadosamente a nova geração.

Quão diferente isso era dos serviços sociais mal concebidos e subfinanciados de hoje, que contribuem para o declínio do espírito das pessoas! Engels continuou:

Ele foi o fundador das escolas infantis e as introduziu pela primeira vez em New Lanark. Aos dois anos de idade, as crianças chegavam à escola, onde se divertiam tanto que mal conseguiam voltar para casa.

Enquanto seus concorrentes faziam seus funcionários trabalharem 13 ou 14 horas por dia, em New Lanark a jornada de trabalho era de apenas dez horas e meia. Quando uma crise no algodão interrompeu o trabalho por quatro meses, seus trabalhadores receberam seus salários integrais o tempo todo. E com tudo isso, o negócio mais que dobrou de valor e, até o fim, rendeu grandes lucros aos seus proprietários.

Apesar de tudo isso, Owen não estava satisfeito. A existência que ele assegurava para seus trabalhadores estava, aos seus olhos, ainda longe de ser digna de seres humanos. "O povo era escravo à minha mercê." As condições relativamente favoráveis ​​em que ele os havia colocado ainda estavam longe de permitir um desenvolvimento racional do caráter e do intelecto em todas as direções, muito menos o livre exercício de todas as suas faculdades. 'E, no entanto, a parte trabalhadora dessa população de 2.500 pessoas produzia diariamente tanta riqueza real para a sociedade quanto, menos de meio século antes, seria necessária para a parte trabalhadora de uma população de 600.000. Perguntei a mim mesmo: o que aconteceu com a diferença entre a riqueza consumida por 2.500 pessoas e aquela que teria sido consumida por 600.000?'

A resposta foi clara. Ela havia sido usada para pagar aos proprietários do estabelecimento 5% sobre o capital investido, além de mais de £ 300.000 de lucro líquido. ... As gigantescas forças produtivas recém-criadas, até então usadas apenas para enriquecer indivíduos e escravizar as massas, ofereceram a Owen as bases para uma reconstrução da sociedade; elas estavam destinadas, como propriedade comum de todos, a serem exploradas para o bem comum de todos. ...

Seu avanço em direção ao comunismo foi o ponto de virada na vida de Owen. Enquanto foi apenas um filantropo, foi recompensado apenas com riqueza, aplausos, honra e glória. Era o homem mais popular da Europa. Não apenas homens de sua própria classe, mas também estadistas e príncipes o ouviam com aprovação. Mas quando ele apresentou suas teorias comunistas, a história foi bem diferente.

Banido da sociedade oficial, com uma conspiração de silêncio contra ele na imprensa, arruinado por suas experiências comunistas malsucedidas na América, nas quais sacrificou toda a sua fortuna, ele se voltou diretamente para a classe trabalhadora e continuou trabalhando em seu meio por trinta anos. Todo movimento social, todo avanço real na Inglaterra em prol dos trabalhadores se vincula ao nome de Robert Owen. Ele forçou a aprovação, em 1819, após cinco anos de luta, da primeira lei que limitava as horas de trabalho de mulheres e crianças nas fábricas. Foi presidente do primeiro congresso em que todos os sindicatos da Inglaterra se uniram em uma única grande associação comercial.

Nova Harmonia

Nova Harmonia foi um dos "experimentos comunistas malsucedidos" de Owen na América. Em 1824, ele pagou US$ 150.000 por 20.000 acres de terra e edifícios originalmente ocupados por um grupo luterano chamado Rappites. Eles também acreditavam na cooperação e na propriedade comunitária, mas queriam mudar seu assentamento para um local mais próximo dos mercados.

De 1825 a 1827, Nova Harmonia, agora sob o comando de Owen, atraiu muitos dos reformadores mais idealistas e criativos da época, bem como mulheres e homens das ciências naturais. Além disso, muitos desempregados encontraram seu caminho para lá, inspirados pelas palestras públicas que Owen proferiu em muitas cidades do Leste.

Os princípios da comunidade eram explicados da seguinte forma: "Dentro da comunidade, todo trabalho deveria ser igual. Cada um deveria receber o que lhe fosse necessário. O trabalho dos professores deveria ser igual ao do trabalhador, e o do fazendeiro, igual a ambos. Todos deveriam dar o melhor de si e receber a mesma remuneração." ( The New Harmony Story, por Don Blair)

Em seus poucos anos de existência, a sociedade comunista de New Harmony inovou. Introduziu nos Estados Unidos o primeiro jardim de infância, a primeira escola infantil, a primeira escola profissionalizante, o primeiro sistema escolar público gratuito, o primeiro clube feminino, a primeira biblioteca gratuita, o primeiro clube de teatro cívico e foi a sede do primeiro levantamento geológico.

As conquistas progressistas desta pequena colônia utópica inevitavelmente se tornaram a base para importantes reivindicações assumidas posteriormente pelo movimento da classe trabalhadora. Os patrões ainda lutam com unhas e dentes contra tais benefícios, cortando-os onde podem. Se hoje estão mais amplamente disponíveis aos trabalhadores, isso se deve a duras lutas de classe em todo o país. É interessante que o que antes era considerado utópico tenha se tornado muito prático e, de fato, necessário.

Muito depois de deixar de ser uma colônia comunista, Nova Harmonia era um oásis social e cultural. Tornou-se um centro tanto do movimento abolicionista quanto do movimento feminista.


Por que se Desintegrou

Por que se desintegrou? A explicação comum dada pelos críticos burgueses a essas primeiras experiências comunistas é que elas falharam em recompensar a "iniciativa pessoal" e o "individualismo rigoroso" pelos quais o imperialismo capitalista é tão famoso.

No entanto, a razão mais importante para o seu fracasso foi a competição com o modo de produção capitalista e a dependência dele para a compra e venda de materiais. Até mesmo os Rappites, que eram bastante prósperos, tiveram que mudar sua sociedade comunal de Indiana para Pittsburgh para ficarem mais próximos do mercado.

Owen baseou sua concepção de comunismo na visão de que o sucesso de suas colônias contaria com a cooperação da burguesia, que se juntaria a ela ao perceber a superioridade dessas sociedades. Ele e outros grandes utopistas, como Claude Henri Saint-Simon e Charles Fourier, ignoraram a característica marcante dos capitalistas: sua ganância e avareza ilimitadas, movidas pela busca do lucro. Isso não apenas os impede de se converterem à ideia de uma sociedade utópica, como também não podem ser persuadidos a atender nem mesmo às mais ínfimas reivindicações dos trabalhadores sem luta.

Como disse um dos contemporâneos mais realistas de Owen: "Com lucro adequado, o capital é muito ousado. Certos 10% garantirão seu emprego em qualquer lugar; 20% certamente produzirão entusiasmo; 50%, audácia positiva; 100% o deixarão pronto para atropelar todas as leis humanas; 300%, e não há crime que o impeça de cometer, nem risco que não corra, mesmo que seja a chance de seu dono ser enforcado. Se turbulência e conflito trouxerem lucro, ele encorajará ambos livremente. O contrabando e o tráfico de escravos provaram amplamente tudo o que é afirmado aqui." (TJ Dunning, citado por Karl Marx em O Capital. )

Para que ninguém pense que a luta diminuiu desde que isto foi escrito, recomendamos dois livros recentes: True Greed, de Hope Lampert (New American Library [uma divisão da Penguin Books], 1990) e Barbarians at the Gate, de Brian Burrough e John Helyar (Nova York: Harper & Row, 1990).

Ambos descrevem com grande riqueza de detalhes a luta pelo controle da RJR Nabisco. Foi uma disputa absolutamente implacável, feroz e feroz para unir diferentes divisões da estrutura corporativa da RJR Nabisco. A luta foi travada com abundância de fraude, engano, conluio, conspiração, traição e manobras. Todos os artifícios que a mente humana poderia conceber foram usados ​​para conquistar o domínio desta megacorporação.

Os tentáculos deste colosso supranacional estendem-se de uma ponta a outra do globo. Emprega dezenas de milhares de pessoas em praticamente todos os continentes. Obtém lucros exorbitantes com os baixos salários de trabalhadores no exterior e vende seus produtos em praticamente todos os países do planeta.

Agora que essa megabatalha acabou, a crise econômica está destruindo os pontos vitais da RJR Nabisco, assim como acontece com todas as outras empresas capitalistas, grandes e pequenas.

Apelar para a bondade inerente desses capitalistas revela-se um exercício de futilidade. Quando Marx e Engels escreveram o Manifesto Comunista , a burguesia já havia revelado todas as suas tendências sociais e políticas básicas.

Owen não foi um acidente da história, com sua simplicidade infantil, até mesmo ingenuidade. A burguesia, então, ainda era relativamente nova e pouco desenvolvida. Travava uma luta contra a aristocracia. Os escritores e filósofos democratas que atacaram o feudalismo com sua grande sagacidade e críticas mordazes tendiam a ver a burguesia sob uma luz benevolente e mais humana do que a aristocracia feudal. Isso os levou à conclusão de que a burguesia poderia ser pacificamente absorvida pela massa do povo.

Outros grandes intelectos além de Owen tinham a mesma concepção. Saint Simon e Fourier, embora suas teorias variassem, também tinham a visão utópica de que a burguesia, não menos que os outros, poderia se tornar parte de uma sociedade nova e mais racional, onde todos viveriam em felicidade e prosperidade.

A burguesia ainda não havia demonstrado plenamente seu caráter predatório. Nem os filósofos nem os teóricos do idealismo utópico da época conseguiam prever o caráter de classe devastador da sociedade que emergia sob o domínio total da burguesia.

Somente com a chegada de Marx e Engels foi possível analisar a dinâmica do sistema capitalista. Como eles posteriormente demonstrariam, Owen não conseguia reconhecer, em sua época, que seu plano ignorava completamente as leis objetivas que governavam a sociedade capitalista: a sociedade capitalista estava dilacerada por contradições de classe, que são a força motriz da história. A luta pelo socialismo só poderia ser conduzida com sucesso se fosse abraçada pela classe trabalhadora em uma luta irreconciliável contra a classe capitalista, que eventualmente surgiria como resultado do desenvolvimento posterior do capitalismo e dos meios de produção.

A luta de classes acirrada tornou impossível qualquer tentativa de igualdade social e abolição dos horrores do capitalismo. O socialismo só pode surgir como produto da luta resoluta da própria classe trabalhadora em conflito irreconciliável com a burguesia.

Acima de tudo, Owen não conseguia prever, em sua época, a anarquia emergente da produção capitalista. A força destrutiva desencadeada pelos paroxismos periódicos da crise capitalista não permitiria que nem mesmo um pequeno oásis realizasse o planejamento sistemático necessário para construir sua sociedade igualitária. De fato, esses empreendimentos cooperativos, com seus recursos mais limitados, estão entre os primeiros a serem varridos, como a história posterior demonstrou. Muitas das empresas cooperativas, construídas por anos de trabalho árduo e autossacrifício, foram vítimas das crises que o modo de produção capitalista inevitavelmente traz. Essas crises podem, eventualmente, varrer até mesmo as maiores corporações e bancos.

Na crise atual, bancos como o BCCI estão praticamente insolventes. Até mesmo o maior, o Citicorp, depende do apoio do Federal Reserve, o banco central do governo.

Owen iniciou seu primeiro empreendimento cooperativo em 1800. Em 1825, quando ele tentou desenvolver Nova Harmonia como uma ilha de cooperação em um mundo dilacerado por antagonismos de classe, a primeira crise econômica capitalista mundial estava em andamento.

Mesmo a crise capitalista de 1825, embora de curta duração, teve caráter universal. Afetou profundamente Nova Harmonia, pois nenhuma comunidade consegue se manter sozinha diante de tamanha devastação. Centenas de cooperativas em todo o mundo, mesmo aquelas que desfrutavam de relativa estabilidade e prosperidade, pereceram. Elas são mais fracas em relação aos trustes e monopólios capitalistas, tornando-se vítimas de uma crise capitalista como a que agora assola.

O comunismo como ideia existe há séculos. Sociedades comunistas como Nova Harmonia e Nova Lanark e centenas de outras não foram um acidente da história, mas uma resposta à mesquinharia, desigualdade, pobreza, etc., da sociedade de classes.

As raízes do comunismo, no entanto, remontam a tempos muito mais remotos. Elas se encontram profundamente no estágio primário ou primitivo do desenvolvimento da sociedade humana. O comunismo primário foi a primeira forma de existência social da espécie humana.

Os escritos de Lewis Henry Morgan sobre a vida comunitária dos iroqueses na América do Norte confirmaram o que o movimento socialista na Europa havia deduzido sobre as sociedades primitivas em outros lugares, antes mesmo da história escrita: que houve um período universal em que a propriedade era comunal, não havia Estado e os produtos do trabalho humano eram compartilhados equitativamente. Essas conclusões foram posteriormente reforçadas pelo estudo de povos nativos em todas as Américas, Ásia e África.

O comunismo primário, baseado na coleta de alimentos e na caça, sucumbiu à propriedade privada por falta da concentração e do desenvolvimento necessários dos meios de produção. Mas a propriedade privada, embora mais produtiva, também trouxe subjugação e degradação, principalmente das mulheres.

A descoberta das primeiras sociedades comunistas refutou a falácia assiduamente cultivada pelos apologistas da burguesia: a de que uma sociedade planejada é utópica, a de que a humanidade não pode planejar sua própria sociedade com base na propriedade comum dos meios de produção e na distribuição equitativa dos produtos do trabalho. Era exatamente isso que as pessoas faziam há centenas de milhares de anos.